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André Rocha

Concentrado e alternando ritmos, City não dá chance ao United "Balboa"

André Rocha

11/11/2018 16h56

Pep Guardiola certamente conferiu a virada do Manchester United sobre a Juventus em Turim pela Liga dos Campeões na quarta-feira. Impossível esquecer dos 3 a 2 no Etihad Stadium que adiaram a confirmação do título inglês do Manchester City na temporada passada.

O plano de jogo do catalão para o dérbi da 12ª rodada deu a impressão de que levou muito em consideração essa capacidade de reação da equipe de José Mourinho. Quase como um "Rocky Balboa", apanhando e sendo castigado para arrancar uma remontada improvável na pura força mental.

A ausência de Pogba, o grande talento dos Red Devils e protagonista das duas viradas citadas, certamente pesou. Mas os méritos do City foram inquestionáveis.

Início avassalador nos dois tempos. Pressão, movimentação e posse de bola objetiva. Com Fernandinho distribuindo passes magistrais, Mahrez e Sterling abrindo bem pelos flancos e deixando espaços para Bernardo Silva, Aguero e David Silva por dentro. Mas nada estático. Longe disso.

Na inversão de Sterling para Bernardo Silva, o toque do português para trás e o gol de David Silva. A posse chegou a 88% no período de domínio – 69% no final. Para em seguida recuar um pouco as linhas, diminuir a intensidade da pressão logo após a perda e administrar a posse com cuidado.

Ato contínuo, o United avançou as linhas, aproximou Fellaini do trio Lingard-Rashford-Martial e rondou a área de Enderson. Os visitantes, porém, finalizaram apenas três vezes em 45 minutos. Nenhuma no alvo. Contra nove dos citizens. Só o gol foi na direção da meta do goleiro De Gea.

Volta do intervalo no mesmo ritmo e gol de Aguero em tabela com Mahrez logo aos dois minutos. Novamente a expectativa de repetir goleada – a equipe havia marcado 12 gols nas últimas duas partidas, no Inglês e pela Champions – foi frustrada por conta do pragmatismo do time de Guardiola.

Também da entrada de Lukaku na vaga de Lingard. Na primeira intervenção, o centroavante belga sofreu pênalti de Ederson que Martial converteu. Parecia que o filme se repetiria. Mourinho acreditou e trocou Rashford e Herrera por Sánchez e Juan Mata. Desfez o 4-1-4-1 e se repaginou num 4-2-3-1, como aconteceu contra a Juventus.

Mas Guardiola respondeu com mudanças para seu time não sofrer fisica e mentalmente. Primeiro Sané entrou no lugar de Mahrez. Bernardo Silva abriu à direita e Sterling seguiu por dentro. Depois o ponteiro inglês foi adiantado para ser a referência dos contragolpes quando Gundogan substituiu Aguero.

Como meio encorpado e velocidade na frente, o City seguiu concentrado e sem deixar o rival se impor na força física e mental. Pelo contrário, o United é que foi definhando, sem vigor na pressão e cedendo espaços. Até a obra prima: sequência de quase dois minutos de 44 passes com todos os jogadores de azul tocando na bola e, por fim, Bernardo Silva encontrando Gundogan às costas de Matic.

Um golaço coletivo para matar o clássico nos 3 a 1 e não dar chances ao United traiçoeiro. No total, um massacre de 64% de posse de bola e 17 finalizações contra seis. Controle absoluto por alternar ritmos. Ao comando de Fernandinho, o melhor em campo.

Confirmando a liderança do City que vai aprimorando processos, entendendo as necessidades de cada partida e adaptando o modelo de jogo às demandas. Tudo sem perder a beleza, sempre fundamental.

(Estatísticas: BBC)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.