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André Rocha

O mea culpa necessário sobre Diego, Berrío e Dourado na vitória do Flamengo

André Rocha

15/11/2018 21h04

O goleiro César foi o personagem da vitória do Flamengo sobre o Santos no Maracanã por 1 a 0. Venceu o duelo com Gabriel Barbosa, artilheiro do Brasileiro, ao defender no segundo tempo um chute do atacante sem marcação e depois pegar o pênalti cobrado pelo camisa dez do alvinegro praiano já no final do jogo.

O triunfo não muda nada na briga pelo título, mas ajuda na luta pela vaga no G-4 e, consequentemente, na fase de grupos da Libertadores 2019. Internacional, Grêmio e São Paulo agora são os rivais, não mais o campeão Palmeiras esperando apenas a matemática para receber a taça.

Mas é dever deste blog fazer um mea culpa sobre os três jogadores rubro-negros envolvidos no gol única da partida.

Diego Ribas foi e ainda é criticado por atrasar os ataques da equipe ao prender demais a bola e quase sempre precisar dar um giro para só depois pensar no que fazer. Por aqui você já leu que era uma falácia ele ser o meia criativo do Fla. Esta crítica, no geral, continua sendo justa.

Mas é preciso reconhecer que em vários momentos não houve uma opção confiável para um passe em profundidade. Seja por falta de velocidade, erro de posicionamento ou de tomada de decisão do atacante para receber a bola às costas da defesa adversária. Muito ligado em estatísticas, Diego não gosta de errar passes, por isso costuma esperar e fazer a escolha mais segura. Nem sempre a mais produtiva.

Já Orlando Berrío, quando foi contratado em 2017, foi avaliado neste espaço como um erro da diretoria. Não pelo que o colombiano poderia produzir, mas pelas características. Zé Ricardo, treinador à época, disse a este blogueiro na virada do ano que precisava de um ponteiro de bom drible e finalizador. Vitinho já era o alvo, mas não foi possível.

Veio Berrío, ponta de velocidade espantosa, mas que não tem o drible nem a conclusão como pontos fortes – apesar da jogada espetacular e surpreendente que terminou no gol de Diego sobre o Botafogo na semifinal da Copa do Brasil do ano passado. Ou seja, o treinador pediu uma coisa e a diretoria trouxe outra.

Só que a saga rubro-negra sem grandes conquistas mostrou que Berrío, quando esteve em campo, deu à equipe a alternativa de velocidade, aceleração e capacidade de explorar as costas da retaguarda do oponente. Só inferior à de Vinicius Júnior em seus momentos mais inspirados. Uma pena que quando mostrava estar mais bem adaptado ao clube e ao futebol brasileiro teve uma contusão grave e só retornou no segundo semestre de 2018, mas ganhando confiança e ritmo de competição bem aos poucos.

Henrique Dourado chegou ao Flamengo por conta da artilharia do Brasileirão 2017 pelo rival Fluminense. Outra contratação equivocada de Rodrigo Caetano pelas características do centroavante. Jogador de último toque, não de pivô para participar de ações ofensivas mais elaboradas em um time que se propõe a se instalar no campo adversário e trabalhar. Difícil dar sequência às jogadas com bola no chão. Por isso as críticas frequentes nas análises sobre o time. Ficaram apenas os 100% de aproveitamento nas cobranças de pênalti.

No gol que decidiu a partida, um contraponto ao maior problema do Fla nos últimos anos: a difícil combinação de características dos jogadores em campo. Diego arriscou e acertou o passe longo porque Berrío apareceu às costas da linha defensiva santista. O colombiano foi preciso na assistência porque Dourado estava na área para finalizar. E a bola foi parar nas redes de Vanderlei porque o centroavante teve liberdade para concluir, justamente porque a jogada foi surpreendente e bem executada.

Lance único em um universo de 19 finalizações, apenas quatro no alvo. Domínio inócuo do Flamengo na primeira etapa, com Everton Ribeiro, Diego e Vitinho cortando da ponta para dentro em jogadas já mapeadas pelos rivais e que dificilmente terminam em uma chance cristalina. Só com as mudanças de Dorival Júnior o time voltou a sair de campo com os três pontos depois de três partidas.

É final da gestão Bandeira de Mello e os candidatos à presidência já sinalizaram uma mudança profunda no elenco para o ano que vem. É bem provável que Diego, um dos símbolos dessa fase sem conquistas, deixe o clube. Mesmo sendo exemplo de comportamento com Dorival Júnior ao aceitar a reserva e lutar no campo para recuperar a titularidade, a passividade em entrevistas depois de derrotas importantes mancharam a imagem do meia junto à torcida. O futuro de Berrío e Dourado são grandes incógnitas, vai depender do novo treinador.

De qualquer forma, fica o registro desse mea culpa. Talvez em equipes com outras propostas de jogo e elencos mais ajustados ao que o time pretende fazer em campo esse trio possa render o que se espera. No Flamengo, o gol do triunfo foi raridade. Talvez um presente tardio no aniversário dos 123 anos do clube.

(Estatísticas: Footstats)

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.