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André Rocha

Flamengo de Landim precisa ser competitivo no futebol, mas sem oba oba

André Rocha

09/12/2018 01h27

A Copa do Brasil de 2013 foi a única conquista nacional da gestão Bandeira de Mello no futebol. No primeiro dos seis anos nos dois mandatos, ainda sem grande capacidade de investimento. Com time limitado e, por isso, desacreditado, Jayme de Almeida como o tradicional técnico interino com raízes no clube e força no mata-mata.

No último título brasileiro, arrancada na reta final com Petkovic e Adriano como estrelas improváveis, Andrade sucedendo Cuca, sorte por enfrentar o Corinthians na penúltima rodada quando o São Paulo disputava a liderança e o Grêmio na última quando o concorrente era o Internacional. O pior aproveitamento entre os campeões nos pontos corridos com 20 clubes: apenas 67 pontos, cinco a menos que a campanha do vice em 2018.

Em 1992 e 1987 o time rubro-negro também cresceu na reta final. A campanha na Copa do Brasil de 2006 teve perfil semelhante ao de 2013. Em 1990, primeiro título do torneio, o Fla também não era favorito.

Nos últimos cinquenta anos, o Flamengo só foi campeão como grande candidato, forte financeiramente e vanguarda na gestão do clube no auge da Era Zico, de 1978 a 1983. Um time de exceção, o maior da história do clube e, para muitos, o melhor do Brasil depois do Santos de Pelé. Liderado por seu maior craque e ídolo, combinava talento, fibra e profissionalismo. Se deixando levar pela empolgação da torcida, mas sem ilusão de onipotência.

Rodolfo Landim é o novo presidente. Recebe de Bandeira de Mello para o triênio 2019-2021 um clube com saúde financeira, dívidas equacionadas e estrutura de primeiro nível para o departamento de futebol. Salários em dia e as melhores condições de trabalho para atletas, comissão técnica e demais profissionais, além de forte investimento nas divisões de base.

Falta ser competitivo no futebol profissional. Ou seja, disputar os principais títulos em igualdade de condições com as grandes equipes do país e alternar com estas nas conquistas de Libertadores, Brasileiro e Copa do Brasil.

A máxima de que "o Flamengo organizado é imbatível", defendida até por dirigentes rivais como o atleticano Alexandre Kalil, já caiu por terra há tempos. Até porque é praticamente impossível criar uma dinastia no Brasil. O que o torcedor deseja é que o time entre no ciclo de perde-ganha de Cruzeiro, Grêmio, Palmeiras e Corinthians.

Com Bandeira foi perde-perde. Por conta de uma gestão incompetente e paternalista no futebol. Contratações equivocadas, elencos montados sem a preocupação de combinar as características dos jogadores. Alguns atletas e o treinador Reinaldo Rueda vieram mais por pressão da torcida nas redes sociais do que por uma avaliação com convicção da direção.

Em termos de comportamento, o conformismo com a derrota foi o maior pecado, como se o revés fosse um rito de passagem inexorável para o triunfo. Mera consequência. Confundindo continuidade com continuismo. Aos poucos construiu uma mentalidade perdedora, com jogadores "encolhendo a perna" na hora de decidir jogos grandes e se abatendo diante da primeira dificuldade.

A ponto de criar uma visão entre muitos torcedores de que o Flamengo só funciona na bagunça. Jogador corre e luta apenas se souber que receberá os salários atrasados se conseguirem resultados e as consequentes premiações – dura realidade em muitas das conquistas em um passado recente. Uma falácia, obviamente. É possível fazer bem melhor com mais recursos.

Landim recebe o clube em seu melhor cenário administrativo dos últimos quarenta anos. Manter a austeridade e a responsabilidade na gestão financeira é obrigação. O desafio é resgatar a mentalidade vencedora dos tempos de Zico, ainda que hoje pareça impossível formar um time em casa e manter as estrelas por tanto tempo no clube. Porque a capacidade de investimento sempre fará do Flamengo um dos grandes candidatos a qualquer título que disputar. Então a possibilidade de entrar desacreditado e surpreender reduz consideravelmente.

Se conseguir montar uma equipe forte e com comando que consiga transformar as cobranças naturais num ambiente competitivo em desempenho, a missão será não entrar no oba oba da torcida. Massa que é o grande patrimônio do clube, mas muitas vezes atrapalha com a megalomania que sempre respinga no campo. Seja superestimando  jogadores medianos ou tratando como craques consagrados jovens ainda em formação e mais suscetíveis ao deslumbramento.

É preciso deixar o "cheirinho" para trás e trazer de volta o "deixou chegar". Ainda que não vença sempre que decidir. Há dinheiro e competência nos rivais também. O que se espera é que todas as chances de levantar uma taça não sejam desperdiçadas. Não combina com o Flamengo.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.