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André Rocha

O Real Madrid protocolar e burocrático é suficiente no Mundial de Clubes

André Rocha

19/12/2018 16h23

Quando Cristiano Ronaldo e Zinedine Zidane deixaram o Real Madrid logo depois do tricampeonato da Liga dos Campeões a impressão era de que Florentino Pérez incendiaria o mercado renovando o elenco com as contratações necessárias e usando jogadores multicampeões, mas com ciclo aparentemente encerrado no clube, como moedas de troca milionárias.

Mas a constatação de que a continuidade ajudou o clube a construir a sequência de títulos fez com que a movimentação fosse tímida. Florentino foi atrás de Julen Lopetegui na seleção, e criou uma crise enorme pouco antes da Copa do Mundo, e efetivou Gareth Bale como parceiro de Benzema no ataque merengue. Na meta, a grife de Courtois no lugar de Keylor Navas.

A rigor, mais do mesmo. Tanto na formação em campo como na questão anímica. Como extrair novamente o melhor de um time que já entregou e ganhou tudo, sem o comandante que mobilizou o grupo e a máquina de gols, recordes e motivação?

Eis o calvário do Real Madrid na temporada. Ainda com muita qualidade, mas sem chama, brilho nos olhos. Um clichê que no caso dos merengues é claro demais. Por isso a campanha cheia de oscilações e derrotas vergonhosas como os 3 a 0 para CSKA e Eibar e os históricos 5 a 1 impostos pelo Barcelona. Lopetegui caiu e a escolha foi por nova solução caseira: Santiago Solari. Nada impactante.

Se no mais alto nível o Real parece estagnado, um tanto sonolento, no Mundial de Clubes o futebol protocolar é mais que suficiente para se impor. Pelo menos na semifinal contra o Kashima Antlers o time sobrou jogando em ritmo de treino.

A equipe japonesa tentou impor alguma resistência com duas linhas de quatro bem coordenadas e arriscando em contragolpes e jogadas aéreas com bola parada ou rolando. Mas desta vez não havia Shibasaki, estrela da edição do torneio em 2016 que marcou dois gols na final contra o mesmo Real e hoje atua no Getafe.

Os campeões asiáticos conseguiram um mínimo de equilíbrio até a tabela entre Marcelo e Bale concluída com precisão pelo galês, que atuou pela esquerda na variação de 4-3-3 para as duas linhas de quatro que tinha Lucas Vázquez fazendo todo o corredor pela direita.

No segundo tempo, desconcentração total dos japoneses. Duas falhas grotescas dos defensores do Kashima no mesmo lance deram o segundo a Bale. Depois nova assistência de Marcelo, triplete do galês. Como de hábito, porém, Marcelo errou no posicionamento defensivo e Shoma Doi aproveitou para marcar o gol único. Mesmo com o "guardião" Casemiro saindo do banco para ganhar minutos. Os 3 a 1 ficaram adequados para o que foi o jogo.

Favoritismo absoluto e óbvio na final contra o Al Ain. Até porque não haverá o fator surpresa que fez sangrar o River Plate. O tricampeonato inédito  – quarto no formato FIFA e o sétimo incluindo as disputas intercontinentais – deve ser uma simples formalidade, como já virou rotina. No Mundial, o Real Madrid sobra quase sem querer.

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.