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André Rocha

Flamengo veta limite de troca de técnicos. Devia ser o primeiro a aprovar

André Rocha

23/02/2019 12h17

1995. Ano do centenário do Clube de Regatas do Flamengo. O empresário e radialista Kléber Leite assume como presidente com planos ambiciosos. Contrata Romário e também o técnico bicampeão brasileiro pelo Palmeiras, Vanderlei Luxemburgo.

O novo mandatário arrotava projetos a longo prazo, mas bastou perder o Carioca para o Fluminense e o então melhor jogador do mundo bater de frente com o treinador para este ser demitido. O lado mais fraco, no caso. Na impossibilidade de contratar o campeão estadual Joel Santana, amigo de Romário, o clube trouxe Edinho, hoje comentarista e treinador sem um grande trabalho na carreira. E terminar um ano histórico com o radialista Washington Rodrigues, o "Apolinho", improvisado no comando técnico. Sem conquistas.

Voltemos para 2019 e a reunião em que a CBF propunha aos clubes da Série A mudanças para a disputa do Campeonato Brasileiro. Entre elas o limite na troca de treinadores. Pois foi justamente o Flamengo que liderou o veto e foi seguido pelos demais, exceto o Atlético Mineiro.

Nos últimos 30 anos, o Flamengo teve 66 trocas de treinadores, sem contar os interinos. Média superior a dois por ano. Em 2005, o clube chegou ao recorde de ter cinco em 365 dias: Júlio César Leal, Cuca, Celso Roth, Andrade – entre indas e vindas como interino e depois efetivado – para se salvar do rebaixamento com Joel Santana.

Em três décadas o Flamengo venceu dois Brasileiros, três Copas do Brasil, uma Copa Mercosul e a Copa dos Campeões em 2001. Os 12 títulos estaduais engrossam a lista de conquistas, mas justamente no período em que eles perderam a relevância de outrora. Pouco para o time mais popular do país.

Entre os torcedores há uma crença de que o Fla só dá certo com "bombeiros", interinos efetivados em meio às crises. Carlinhos, Andrade e Jayme de Almeida são os personagens citados na defesa desta "tese" que não conta quantas vezes eles assumiram e não foram tão bem sucedidos – total de 16 tentativas do trio, como temporários ou não. Ou não conseguiram dar sequência aos trabalhos com qualidade e foram demitidos em seguida.

Ainda assim, o trabalho mais longo foi o de Carlinhos, de 1991 a 1993. Graças às conquistas do Carioca no primeiro ano e do Brasileiro no segundo. Mantendo uma linha de trabalho iniciada por Vanderlei Luxemburgo e preservando boa parte do elenco que tinha Júnior como grande líder e a melhor geração formada no clube depois da Era Zico – Marcelinho, Djalminha, Paulo Nunes, Marquinhos, Nélio, entre outros. Uma continuidade meio ao acaso que gerou frutos.

Deveria servir de lição, mas o clube quer ser livre para seguir demitindo e contratando a esmo, ou efetivando interinos em busca da "mágica" de outros tempos. Abel Braga já é questionado pela primeira derrota em 2019, para o Fluminense. Na semifinal da Taça Guanabara, primeiro turno do estadual que devia ser tratado como sequência da pré-temporada. Independentemente da qualidade do trabalho do treinador, não é um pouco demais?

No Flamengo, todo excesso parece um copo meio vazio.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.