O Flamengo está mesmo pronto para a Libertadores?
"Tá pronto!"
Foi a resposta rápida de Abel Braga na coletiva pós-jogo da vitória por 3 a 1 sobre a Portuguesa em Volta Redonda. Ficou claro que a referência é apenas a estreia na Libertadores contra o San José na Bolívia e a altitude de 3.735 metros obviamente condiciona a análise.
Mas pensando no momento da temporada e o patamar de preparação do Flamengo, mesmo considerando o Grupo D – com Peñarol e LDU, além dos bolivianos – mais acessível, ao menos em tese, do que os dos últimos anos, fica a dúvida quanto ao real potencial da equipe.
Porque o time carioca dá a impressão de que trocou um pouco da estrutura que tinha no modelo de jogo que passou por Zé Ricardo, Rueda, Carpegiani, Barbieri e Dorival por mais "sangue nos olhos", uma renovação anímica com o estilo mais paternal do novo treinador. Menos campo, mais vestiário.
Pode dar certo, mas é preocupante que em um Carioca de baixo nível técnico o Flamengo apresente problemas graves, ainda que a temporada ainda esteja no início, na saída de bola e dependa tanto de jogadas aéreas e ações individuais dos atletas no ataque. Sem contar os gols sofridos em praticamente todos os jogos.
Muitas vezes o time parece dividido em dois grandes blocos: os quatro da linha de defesa e mais Cuéllar e os quatro da linha de meias e o atacante de referência – antes Uribe, agora Gabriel Barbosa. Willian Arão é volante infiltrador, não um meio-campista de organização. Diego ainda conduz demais a bola e muitas vezes perde o tempo de um passe mais objetivo, que acelere a transição ofensiva ou a troca de lado quando a equipe está no ataque.
Difícil também entender a opção de escalar De Arrascaeta pela direita depois de Abel ressaltar a dificuldade de encaixe da maior contratação da história do clube no meio porque, segundo o técnico, ele renderia melhor no setor esquerdo. Em duas bolas perdidas bem longe do flanco canhoto, o meia foi a origem de gols de Fluminense e Portuguesa e, até pelo valor investido, já vira alvo da parte mais impaciente da torcida. Culpa dele, do posicionamento em campo ou da estrutura coletiva?
Abel tem algumas atenuantes, como o clima ainda conturbado pelos desdobramentos do incêndio no CT e agora a impossibilidade de treinar no Ninho do Urubu, o que sempre é prejudicial. Mas coletivamente o Fla apresenta mais deficiências que o previsto para um time que tem, no máximo, quatro alterações em relação ao ano passado: Rodrigo Caio na zaga e o trio de ataque quando Everton Ribeiro e Vitinho não são escalados.
O treinador rubro-negro não está errado ao concentrar as atenções na estreia do torneio continental. Aliás, Abel foi o primeiro treinador no Brasil, ainda em 2012, a dar ênfase no "foco jogo a jogo" que virou discurso geral nos últimos anos. Mas pensando na temporada, o time que investiu tanto para buscar grandes títulos ainda está devendo desempenho. Na Taça Guanabara interferiu no resultado final. Como será na Libertadores?
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