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André Rocha

Peso da estreia e altitude são "álibis" do Flamengo. E depois?

André Rocha

06/03/2019 00h30

O triunfo do Flamengo em Oruro tem o simbolismo da primeira estreia do clube na Libertadores com vitória fora de casa. Também uma mudança de postura e o fato de, apesar de tudo, não ter sofrido gol pela segunda vez na temporada. Mas Diego Alves trabalhou demais e o time ficou com a bola de menos na altitude. Preocupante.

Com espaços para acelerar, Bruno Henrique e Gabriel Barbosa fazem diferença no futebol jogado no Brasil e no continente. Ainda mais com o entrosamento adquirido no Santos. Passe do ponteiro, gol do centroavante infiltrando em velocidade. Cada um tem quatro gols, metade com assistência do companheiro de ataque no 4-1-4-1 que, pelas características de meia do ponteiro do outro lado, Everton Ribeiro ou De Arrascaeta, acaba virando na prática um 4-4-2.

No entanto, Diego continua desperdiçando contragolpes por não levantar a cabeça e observar os "sprints" dos companheiros mais rápidos. Um giro, um toque a mais, a cabeça baixa e, neste jogo, a ideia de cadenciar o jogo. Mas na hora errada, quando a chance de atacar com vantagem numérica era real. Continua faltando um articulador.

Defensivamente, as brechas cedidas entre os setores e o sofrimento dos laterais Pará e Renê contra Jair Torrico e Segovia, respectivamente, foram problemas sérios. O centroavante Saucedo teve grande chance, mesmo contra a eficiência de Léo Duarte e Rodrigo Caio na zaga. Diego Alves salvou esta e outras cinco oportunidades do San José. Demais para o fraco nível técnico do time boliviano, que só tinha os 3.735 metros acima do nível do mar como trunfo.

De Arrascaeta pela direita continua sendo um desperdício. Difícil entender o altíssimo investimento no jogador se Abel não vê espaço para o uruguaio nas funções em que rende mais – pela esquerda ou centralizado. Quando inverte de lado a confiança já muito abalada prejudica o desempenho. Everton Ribeiro entrou e mostrou que neste contexto tem que ser titular.

Para o torcedor rubro-negro sofrido com tantas decepções na Libertadores, os três pontos são um alento. Mais ainda a entrega e a força mental que vinham faltando. É onde entra o mérito de Abel Braga, que sempre foi mais vestiário e menos campo. A garra e o talento individual foram suficientes na Bolívia, mas e depois?

Coletivamente a equipe piorou bastante. Ainda que antes a posse de bola fosse inócua em muitas partidas e o time "arame liso" perdesse pontos em partidas dominadas, a troca por um estilo mais direto e "sanguíneo" foi radical demais. Devastou o que existia e poderia ser uma vantagem em termos de entrosamento. A base é a mesma, porém a capacidade de jogar com volume e intensidade ficou pelo caminho. Hoje vive de espasmos.

O desempenho decepciona pela expectativa gerada. Desta vez o resultado veio, o peso da estreia e a altitude funcionam como "álibis", mas o futuro parece bem duvidoso para o Flamengo de grandes ambições na temporada.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.