Só o Grêmio não joga o nosso futebol fragmentado na Libertadores
Palmeiras e Internacional venceram em suas estreias na Libertadores nesta quarta-feira. O Flamengo também, na terça. Resultados importantes fora de casa, que servem também para aumentar a confiança. Mas o desempenho das equipes brasileiras ainda deixa a desejar se considerarmos o potencial de investimento e a representatividade do futebol do país no continente.
Tem a ver com a ideia pobre de jogo, mas também com a execução. Quem tem a proposta de se defender de forma organizada e compacta para acelerar os contragolpes não pode conceder 23 finalizações ao adversário como o Flamengo em Oruro. Ou efetuar 37 rebatidas e 32 lançamentos como o Colorado contra o Palestino. Ou negar a bola (38% de posse) como o Palmeiras e, com um dos elencos mais valiosos da América do Sul, permitir pressão do Junior de Barranquilla.
Os derrotados Atlético e Athletico não ficaram atrás. O time paranaense, mesmo com 58% de posse, rebateu 44 vezes e lançou 29 vezes, a grande maioria em ligação direta. Já o mineiro apresentou números até equilibrados, mas falhou na pontaria: quatro no alvo de um total de 16. A atuação no geral também não foi boa.
Problemas que são frutos do jogo fragmentado que impera no futebol brasileiro. Não há unidade nas ações integradas de ataque e defesa. O excesso de lançamentos e rebatidas significa afastar perigo e não arriscar, mas quase sempre entrega a bola para o adversário. A impressão de que pelo menos anulou o perigo de ser desarmado ou errar o passe em uma região perigosa é ilusória, porque vai minando física e mentalmente ao permitir que o oponente tenha volume de jogo.
As ações de ataque quase sempre se resumem a espasmos e lampejos. Normalmente com espaço para atacar em velocidade, como o passe em profundidade de Dudu para Scarpa ou de Bruno Henrique para Gabriel Barbosa. O primeiro em falha de marcação do Junior, o segundo em contra-ataque veloz. A bola parada também pode descomplicar ou mesmo resolver, como a cobrança de falta de Rafael Sóbis contra o Palestino.
Difícil ver um time brasileiro atacar com volume e um plano claro para envolver o adversário. Normalmente há um enfoque exagerado na "guerra" da Libertadores ou no "atalho" para obter o resultado. Sem domínio pela construção das jogadas. Não é ditadura da posse de bola, mas se organizar para atacar sem entregar tanto ao aleatório.
A exceção é o Grêmio. Não por acaso o trabalho mais longevo entre os que jogaram na quarta – o Cruzeiro de Mano Menezes, o treinador há mais tempo no cargo entre os times da Série A, estreia nesta quinta fora de casa diante do Huracán.
O time de Renato Gaúcho não venceu o Rosário Central, argentino em grave crise. Foi o único a empatar. Poderia ter tido Geromel expulso ainda no primeiro tempo por cotovelada desleal. Mas jogou futebol dentro da sua proposta no Gigante de Arroyito. Mesmo com as entradas de Rômulo, Marinho e Filipe Vizeu que mexem um pouco nas características, porém não alteram a estrutura.
Curiosa a declaração de Renato em entrevista recente ao nosso PVC no Fox Sports sobre a necessidade do técnico "dar liberdade ao jogador brasileiro", já que seu time é o mais fiel ao modelo de jogo e o que mais evita o caos em campo. Ainda que muitas vezes a última linha de retaguarda seja quebrada por perseguições descoordenadas dos defensores, especialmente do impulsivo Kannemann, que compensa com fibra e liderança.
O improviso e o talento estão lá, como no golaço de Everton. Mas os movimentos têm coordenação, como o ponteiro abrindo para dar amplitude quando Cortez apoia por dentro. Faltou precisão, especialmente de Filipe Vizeu. Quatro finalizações erradas das 16 no total, em boas oportunidades que o atacante de referência não pode desperdiçar.
O 1 a 1 no final decepciona pelo contexto, mas não deve ser a referência única da avaliação. O Grêmio jogou bem e parece mais próximo de resultados positivos na sequência da competição e da temporada. Porque foge do nosso futebol fragmentado, sem controle e entregue ao acaso.
(Estatísticas: Footstats)
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