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André Rocha

Barcelona x Liverpool é o duelo entre pausa e aceleração

André Rocha

30/04/2019 08h57

O Barcelona de Ernesto Valverde não é exatamente a equipe do "tiki-taka" que foi na Era Pep Guardiola. Ainda que o treinador, hoje no Manchester City, não aprecie e tente se desvincular do termo. Apesar do time catalão, segundo o site Whoscored.com, liderar em posse e acerto nos passes na liga espanhola e só ficar atrás nestas estatísticas justamente do City de Guardiola na Liga dos Campeões.

Mas contra Tottenham e Manchester United, os ingleses que enfrentou no torneio continental, o Barça utilizou a posse e a paciência para conter o volume de jogo e a intensidade características das equipes que disputam a Premier League. Passes e mais passes, mesmo entre os defensores, para tirar a velocidade até chegar ao campo de ataque e, aí sim, acelerar e definir.

Buscando o fundo com Jordi Alba pela esquerda ou procurando Lionel Messi entre a defesa e o meio-campo adversários para desequilibrar. Deve ser a aposta de Valverde novamente para enfrentar outro inglês, agora na semifinal da Champions.

O Liverpool de Jurgen Klopp. O Nigel Mansell dos treinadores. O contraponto e grande rival de Guardiola. Com o pé sempre afundado no acelerador e o som no volume máximo, já na distorção. Para o técnico alemão, controlar o jogo é seguir atacando e buscando os gols, dentro ou fora de casa.

Se o adversário hesitar pode ser amassado por um rolo compressor. Os laterais Alexander-Arnold e Robertson atacando ao mesmo tempo e dando profundidade às ações ofensivas que reúnem o trio Salah-Firmino-Mané na área do oponente. Mais um meio-campista – nos últimos jogos Naby Keita, autor de gols contra Porto e Huddersfield.

Ao perder a bola, o "Gegenpressing" de Klopp entra em ação com fúria para retomar logo e voltar ao ataque em ritmo alucinante. Em vários momentos é uma imposição sufocante. Mesmo que nesta temporada o treinador alemão venha estimulando os Reds a trabalharem um pouco mais a bola, sem definir tão rapidamente as jogadas.

Contra o Barcelona,porém, será preciso cuidar de Messi. Provavelmente com a dupla Fabinho-Henderson. Não em marcação individual, mas preenchendo os espaços preferidos do gênio argentino. Especialmente a zona partindo da meia direita para o centro. Com a bola colada no pé, o  camisa dez costuma fazer estragos, como no primeiro gol sobre o United no Camp Nou.

Barcelona na variação do 4-3-3 para duas linhas de quatro sem a bola terá que compactar bem os setores para conter o Liverpool que ataca forte com laterais e o trio de ataque, mas vai precisar cuidar de Messi (Tactical Pad).

Se Valverde mantiver a formação habitual vai necessitar de duas linhas bem compactas. A do meio com Rakitic abrindo à direita e Philippe Coutinho voltando pela esquerda para se alinhar a Arthur e Busquets, este o volante a negar as brechas para Firmino recuar e procurar as diagonais de Salah e Mané. O zagueiro Lenglet será o responsável pela cobertura de Alba contra o egípcio e Sergi Roberto cuidará do atacante senegalês que vive grande fase na temporada. Gerard Piqué, outro em momento fulgurante, será o ponto de suporte da defesa blaugrana para conter o vendaval vermelho.

O treinador do Barça pode optar também por uma formação mais específica, montada em função do adversário: Semedo entraria na lateral direita para vigiar Mané, Sergi Roberto seria adiantado para bater com Robertson e Dembelé, mais intenso que Coutinho sem a bola, faria função semelhante do lado oposto contra Arnold. Com Rakitic e Busquets no meio e Messi solto para se aproximar de Suárez. Um 4-4-1-1 mais definido e cuidadoso pelos flancos, mas sem perder força ofensiva.

Klopp também pode surpreender com um 4-2-3-1 invertendo o lado de Mané, abrindo Keita pela esquerda, adiantando Salah como referência e Firmino sendo o "dez" na articulação. Fora de casa, porém, parece um risco desnecessário. O bom senso recomenda a mudança para a volta em Anfield se necessitar reverter uma desvantagem. O Barcelona, já campeão espanhol, terá a chance de poupar titulares contra o Celta de Vigo fora de casa, enquanto o Liverpool jogará a vida no Inglês visitando o Newcastle para não ver o bi do City e seguir sonhando com o fim do jejum de quase trinta anos na liga nacional.

Outras possíveis formações: o Barcelona em um 4-4-1-1 mais conservador, com Semedo na lateral direita contando com o suporte de Sergi Roberto e Dembelé do lado oposto; Liverpool no 4-2-3-1 invertendo o lado de Mané, adiantando Keita pela esquerda e Firmino articulando para Salah na referência (Tactical Pad).

Possibilidades do grande duelo das semifinais da Champions. Nada menos que dez títulos em campo. Sem clima de "final antecipada", até porque seria uma tolice menosprezar Ajax e Tottenham. Mas, sem dúvida, a promessa de dois dos grandes jogos da temporada 2018/19. Um duelo entre pausa e aceleração. Duas escolas complementares capazes de protagonizar um grande espetáculo para o mundo ver.

Dizem que o melhor da festa é esperar por ela. Mas a ansiedade é inevitável. Que as 16h de quarta-feira chegue logo!

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.