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André Rocha

Só o acaso pode proteger Tite na Copa América

André Rocha

17/05/2019 13h51

Tite admitiu que dormiu mal até fechar a lista de convocação para a Copa América. Competição chave para a manutenção do trabalho até 2022. Seguindo a lógica simplista do resultado, a seleção brasileira tem obrigação de vencer em casa depois de atropelar os rivais sul-americanos nas Eliminatórias. Sabemos que não é assim que funciona, mas explicar o óbvio às vezes dá trabalho.

Só que o treinador não se ajuda muito preferindo, por exemplo, Fernandinho a Fabinho. O volante do Manchester City é sempre chamado pelo desempenho no clube, mas não vem com Pep Guardiola "acoplado". Com a camisa verde e amarela acumula atuações ruins em jogos decisivos, o que só aumenta a pressão sobre o atleta. Deveria ser preservado. Agora é contar que Casemiro não se lesione ou oscile demais no desempenho. Com o volante do Liverpool, o mesmo que fechou os caminhos de Messi em Anfield e seria opção também para a lateral direita, o grupo ficaria mais consistente. Tite preferiu Fagner…

O acaso é o que pode proteger em meio a tantas incertezas. Como Arthur, que seria o meio-campista controlador, o "ritmista" a qualificar a ideia de controlar o jogo através da posse de bola. Neymar é uma incógnita no aspecto emocional. Lucas Moura seria uma convocação incoerente, mas é jogador com a confiança no topo. Às vezes é preciso deixar a intuição fluir e o momento pesar mais que a lealdade. Afinal, o que Gabriel Jesus fez de especial nesta temporada europeia para merecer ser incluído entre os 23?

Com a lista fechada, o time deste que escreve seria: Alisson; Daniel Alves, Marquinhos, Miranda e Alex Sandro; Casemiro, Arthur e Paquetá; Richarlison, Roberto Firmino e Neymar. Sem a bola, duas linhas de quatro. Richarlison volta pela direita, Paquetá abre pela esquerda e deixa Neymar solto com Firmino.

Atacando, o craque da seleção circula, Alex Sandro passa rápido pelo corredor, Daniel Alves auxilia Arthur na saída de bola e na construção das jogadas e Richarlison dá profundidade nas infiltrações em diagonal pela direita, entrando no espaço deixado pelo recuo natural de Firmino para articular.

Não ter uma equipe definida pode ser um trunfo. Na Copa do Mundo da Rússia, Tite tinha um time na cabeça com mudanças pontuais em relação ás eliminatórias. As características não casaram – difícil entender a insistência com Philippe Coutinho no meio-campo, já que sem bola é praticamente um a menos.

Agora a sorte precisa ajudar. Porque Tite é um bom treinador, mas a cada lista aumenta a impressão de que selecionar não é muito a sua praia. Talvez por isso as noites insones.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.