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André Rocha

Cinco pontos importantes sobre a estreia de Jorge Jesus no Flamengo

André Rocha

11/07/2019 00h56

O primeiro aprendizado prático de Jorge Jesus em sua estreia pelo Flamengo é óbvia: o Athletico na Arena da Baixada é um adversário complicadíssimo. Mesmo com Lucho González no banco e deixando apenas Bruno Guimarães no meio para controlar o ritmo e sem Renan Lodi, negociado com o Atlético de Madrid, para atacar pela esquerda com mais qualidade que Marcio Azevedo. Em casa, a equipe de Tiago Nunes impõe muito volume de jogo.

Marcou três gols bem anulados, finalizou 16 vezes em 90 minutos e ainda teve um pênalti de Renê sobre Cirino também invalidado por uma falta anterior de Marco Rúben sobre Rodrigo Caio. O VAR foi preciso mais uma vez, apesar da demora nas decisões de Anderson Daronco que só teve um erro, mas gravíssimo:  Diego Alves pegando a bola com as mãos fora da área em disputa com Marcelo Cirino. Lance para cartão vermelho e que, em tese, seria tranquilo para a arbitragem do campo.

A segunda é que o time, dentro do 4-1-3-2 planejado pelo treinador português, precisa contratar um meio-campista para a função que seria de Diego Ribas e caiu no colo de Willian Arão. O camisa dez não parece ter condições físicas para auxiliar Cuéllar, colaborar com a saída de bola, acionar os atacantes e ainda chegar à frente para finalizar. Já Arão está acostumado a atuar ao lado de um volante no 4-2-3-1, como no breve período com o interino Marcelo Salles, ou de um meia no 4-1-4-1 de Abel Braga.

No primeiro tempo em Curitiba, o camisa cinco deu a impressão de que não entendia o espaço que precisava cobrir. E também confundiu Cuéllar, que treinou pouco com Jesus e parecia fora de sintonia. Por isso o sofrimento no primeiro tempo, com domínio do time da casa. De positivo nos primeiros 45 minutos, a coragem para adiantar a marcação e o esforço dos atletas para se adaptar ao novo modelo de jogo, suportando os berros de Jesus à beira do campo. No final frenético se livrou de sofrer o gol. No ataque, o Fla só acertou uma conclusão no alvo: de Gabriel Barbosa em infiltração pela esquerda.

"Gabigol" é a terceira observação que cabe ao novo técnico. Apesar do gol do empate completando cobrança de lateral inteligente de Renê e aproveitando falha de Léo Pereira, o camisa nove teve mais companhia e só aproveitou uma das quatro chances claras que teve. Entre as dez do time carioca, metade na direção da meta de Santos. Gabriel não é o centroavante do estilo pivô, nem o minimalista que coloca uma nas redes se tiver duas. Na maioria das vezes se afoba e tem problemas na tomada de decisão. Pode seguir na equipe, mas o clube necessita ir ao mercado atrás de um nove típico.

A quarta lição é que não sacrificar Rafinha na grama sintética foi inteligente, mas agora o lateral precisa jogar e será complicado quando for necessário poupá-lo. Rodinei não tem condições de atuar em uma linha de quatro da defesa, mesmo tentando manter a concentração no trabalho sem bola. Foi o "mapa da mina" do Athletico na maior parte do jogo. Pior ainda com Vitinho sofrendo na recomposição pelo setor.

O que chama a quinta e última: Everton Ribeiro é fundamental saindo da direita para articular por dentro. Mesmo sem treinar como os companheiros e não jogando tão bem. Mas a boa leitura de jogo e a capacidade de reter a bola fazem a diferença e contribuíram para o breve período de superioridade do Fla, que teve até a chance de virar o jogo. No momento a execução do plano de jogo precisa do camisa sete, que entrou na vaga de Cuéllar, deixando Arão sozinho à frente da defesa.

Arrojo para buscar o empate, cautela para se fechar no final em duas linhas de quatro com Piris da Motta na vaga de Bruno Henrique, que não foi bem desta vez. Oscilações naturais em um cenário hostil para qualquer equipe no país e até no continente – basta lembrar que Boca Juniors e River Plate sucumbiram na casa do Athletico em 2019. Disputa intensa e com momentos de bom nível técnico.

Mas, a rigor, o resultado foi melhor que o desempenho. Mas a disputa da vaga na semifinal da Copa do Brasil no Maracanã não será fácil, como quase nada é tranquilo no equilíbrio do futebol brasileiro. O curso intensivo de Flamengo e futebol brasileiro segue no domingo contra o Goiás pelo Brasileiro. Jorge Jesus vai aprendendo.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.