Flamengo atropela Goiás com a fome que vinha faltando há muito tempo
Em sua estreia no Maracanã com 65 mil presentes, Jorge Jesus começa a sinalizar como pretende fazer o Flamengo atuar em casa para abrir sistemas defensivos bem fechados: reunindo o máximo de qualidade técnica possível e colocando intensidade, principalmente na pressão logo após a perda da bola. Mesmo no sol de inverno carioca às 11h.
A goleada por 6 a 1 sobre o Goiás, com 4 a 1 ainda no primeiro tempo, não indicam uma exibição próxima da perfeição. O time rubro-negro teve problemas naturais para uma mudança tão radical na formação e no modelo de jogo. Com Rafinha estreando pela direita e Trauco à esquerda colocando Renê no banco. No meio, Willian Arão sendo o titular como volante à frente da defesa no 4-1-3-2.
Duas dificuldades chamaram a atenção: no momento de tensão depois que o Goiás empatou com Kayke após falha de Rodrigo Caio, o time afunilou demais as jogadas. Porque Rafinha e Trauco têm características de laterais construtores, sem rapidez e intensidade para chegar ao fundo. Sem espaços acabavam cruzando da intermediária ofensiva e facilitando a marcação.
Também a transição defensiva ainda descoordenada quando o Goiás saía da pressão inicial e achava o rápido e habilidoso Michael pela esquerda. Ponteiro que acertou a trave de Diego Alves. Arão também vai se adaptando à tamanha responsabilidade defensiva, já que Everton Ribeiro, Diego, Arrascaeta, Gabriel Barbosa e Bruno Henrique, por mais que se esforcem, não conseguem uma compactação perfeita quando a equipe recua linhas.
De Arrascaeta foi o fator de desequilíbrio em sua melhor atuação pelo novo clube. Abriu o placar completando jogada que iniciou com a ação individual de Everton Ribeiro e passou por Gabriel. Depois descomplicou o 1 a 1 com lindo passe para Trauco enfim chegar rapidamente ao fundo e servir Bruno Henrique em um lance de presença de área e sorte.
Com vantagem no placar e o Goiás zonzo, o Flamengo mostrou uma força que já tinha nos tempos de Abel, mesmo sem organização. Tendo campo para acelerar e muita gente para chegar na área adversária, o final do primeiro tempo foi de um vendaval que terminou em mais dois de Arrascaeta: aparecendo na área completando passe rasteiro para trás de Gabriel e depois um cruzamento da esquerda que encobriu o goleiro Tadeu.
O uruguaio ainda encontraria Gabriel solto no quinto gol aos 10 minutos do segundo tempo. Para o Goiás desistir de vez de buscar qualquer recuperação e Jorge Jesus pensar no jogo da volta pelas quartas da Copa do Brasil contra o Athletico. Descansou Rafinha, Arão e Bruno Henrique e colocou Rodinei, Cuéllar e Vitinho para manter a intensidade e seguir atacando, mantendo a comunhão com a torcida. Até o passe de Everton Ribeiro, a segunda assistência de Arrascaeta e outro gol de Gabriel.
Festa na arquibancada e um otimismo com razão de ser. Afinal, a fome mostrada em campo era o que vinha faltando há muito tempo. A posse de bola rondou entre 65% e 70% (67% no final) e foram 28 finalizações. 17 no alvo, o que mostra evolução também na contundência da equipe que sofreu tantas vezes com o "arame liso" – cercar sem furar a defesa do oponente.
Mas é nítido e até lógico que ajustes precisam de tempo e também da colaboração das novidades já anunciadas, como Gerson e o zagueiro Pablo Marí, e quem mais chegar – apesar dos três gols de Gabriel em dois jogos, o centroavante típico continua sendo necessidade.
É preciso reforçar o óbvio: nem sempre será assim, nem no Maracanã. Até porque o desgaste pela sequência de jogos deve reduzir o ritmo alucinante dessas duas primeiras partidas depois de 20 dias de treinamentos. Mas não há como recolher o elogio à atuação mais que promissora na maior goleada do Brasileiro. É um novo Flamengo se desenhando.
(Estatísticas: Footstats)
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