Rogério Ceni no Cruzeiro e a balela de "identidade" no futebol brasileiro
No auge da Era Mano Menezes, com a conquista do bicampeonato da Copa do Brasil, o Cruzeiro se vangloriava por seguir o caminho do Corinthians no início da década e construir uma identidade de jogo sólida e competitiva. Consistência defensiva, priorizar mata-mata com pragmatismo. Quem ouvia dirigentes, treinador, jogadores e até parte da torcida imaginava algo consciente, planejado. Uma escolha na maneira de jogar futebol.
Bastou não colher os resultados imediatos depois de três anos para o clube não só aceitar o pedido de demissão do treinador como também escolher um profissional com perfil diametralmente diferente: Rogério Ceni é um treinador jovem, com menos de três anos de experiência e apenas dois clubes – São Paulo e Fortaleza. Acima de tudo, uma visão de futebol oposta em relação a Mano.
Ceni acredita em protagonismo pela posse de bola e vocação ofensiva. Arriscou mais no São Paulo e aprendeu a ser adaptar ao contexto no Fortaleza, com mais compactação defensiva e aceleração nos contragolpes. Mas sempre acreditando no jogo coletivo voltado para o ataque. No Cruzeiro terá elenco para ousar mais, até por necessidade: precisa pontuar no Brasileiro para sair do Z-4 e buscar reverter no Beira-Rio a desvantagem contra o Internacional para tentar a hoje improvável classificação para a final da Copa do Brasil.
Uma escolha arrojada e até saudável – questões éticas à parte, já que no mercado de treinadores não há nenhuma regulação da CBF e o Fortaleza não tem a quem recorrer. Mas o Cruzeiro é mais um clube que vai ao sabor dos ventos dos resultados. A identidade válida é a que está vencendo agora, ou ao menos a que tem algum crédito por conquistas recentes. Mano tinha a "fórmula" para se dar bem na Copa do Brasil e a virtude era superestimada, utilizada como álibi para todos os equívocos no meio do caminho, dentro e fora de campo, e blindagem para qualquer crítica mais contundente.
Agora nada mais presta, a terra está arrasada e Ceni chega como o messias para a salvação. Novas ideias, novos processos. Julgados jogo a jogo, resultado a resultado. Até nos inúteis estaduais. O eterno recomeçar do futebol brasileiro. O resto é balela.
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