Tite é um porto seguro demais para Neymar
A convocação da seleção brasileira para os amistosos contra Colômbia e Peru em setembro é a mais tranquila de Tite desde que assumiu o comando técnico. Em 2016 a missão era recolocar na zona de classificação nas eliminatórias, depois garantir vaga na Copa do Mundo na Rússia. No ano seguinte se fazer competitivo contra as principais seleções da Europa e em 2018 a preparação final para o Mundial.
Com a eliminação para a Bélgica era necessário reiniciar o ciclo com bons resultados, mesmo se o desempenho fosse oscilante. A velha aura brasileira do "campeão mundial de amistosos". Em 2019, a "obrigação" de vencer a Copa América. Com a meta cumprida é possível ousar e experimentar.
Sempre haverá questionamentos. Deste que escreve, por exemplo, a ausência de Renan Lodi na lateral esquerda. Mas é compreensível e até saudável que ele siga se adaptando ao futebol espanhol e à equipe de Diego Simeone. Melhor ser testado primeiro na seleção olímpica comandada por André Jardine.
A oportunidade dada a Jorge, do Santos, é válida e o reconhecimento ao bom trabalho no líder do Brasileiro. A grande questão de convocar jogadores atuando no país é que o calendário inchado da CBF não tem pausas nas datas FIFA e acaba prejudicando os clubes. Como sempre haverá reclamações, mesmo deixando de fora jogadores envolvidos nas semifinais da Copa do Brasil.
A grande incógnita continua sendo Neymar. Mesmo sem jogar pelo PSG e com destino indefinido em mais um capitulo de sua carreira mal conduzida, se pensarmos no potencial de extra-classe, top 3 do futebol mundial.
Tite disse que ele está feliz. E, de fato, parece. Difícil compreender o que passa pela cabeça do jogador. Treina em separado no clube em que não quer mais atuar, mas está sempre sorrindo e brincando com companheiros, especialmente Mbappé. Ainda tentou sair na foto da conquista da Supercopa da França, mesmo sem jogar, e foi empurrado para longe pela joia da seleção campeã do mundo. Zero preocupação com o futuro. Nenhum constrangimento por estar muito perto da terceira troca de clube turbulenta na carreira. Parece alienação.
E ainda assim convocado para a seleção brasileira. Aconteça o que acontecer, pelo visto. O máximo que aconteceu foi perder a faixa de capitão que nunca demonstrou fazer muita questão. Pode agredir torcedor, desprezar o clube que pagou uma fortuna na maior transação da história do esporte e aparecer mais como celebridade do que pelos feitos em campo que seu status é intocável. "Não vou prescindir nunca de um atleta como ele", diz o técnico a serviço da CBF.
Difícil prever a resposta de Neymar a tamanha lealdade do treinador. Fidelidade e "dar a vida por ele", como já disse em uma entrevista ou a acomodação da certeza da impunidade? Tite perdeu uma boa oportunidade de suscitar uma reflexão mais que necessária sobre o que o atacante talentoso quer da vida. Preferiu ser o porto seguro mais uma vez. Só que às vezes segurança demais atrapalha.
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