Fernando Diniz e o descompasso entre desempenho e resultado no Brasileiro
Vinte e sete jogos. Doze pelo Athletico-PR e quinze comandando o Fluminense. Cinco vitórias, seis empates e 16 derrotas. 21 pontos em 81 possíveis. Apenas 25% de aproveitamento. Na tabela atual do Brasileiro, algo entre o CSA e o próprio Flu. No Z-4.
Esses são os números de Fernando Diniz em suas duas experiências na Série A do Brasileiro. No Athletico saiu para Tiago Nunes fazer o mesmo time subir da zona de rebaixamento para a sétima posição nos pontos corridos e conquistar a Copa Sul-Americana. Mas até hoje é elogiado pelo treinador do time paranaense.
Já no tricolor a derrota para o CSA por 1 a 0 no Maracanã, a primeira do time alagoano como visitante desde 1986, abala as estruturas e talvez a demissão não tenha sido anunciada já na coletiva pós-jogo porque a campanha na Sul-Americana é muito boa e o time enfrenta o Corinthians pelas quartas de final em Itaquera na quinta-feira.
Mas está claro que há um descompasso entre resultado e desempenho. Não dá para culpar a falta de sorte na maioria dos jogos. Diante do penúltimo colocado foram 58% de posse e nada menos que 32 finalizações, 13 no alvo. Mas nenhum gol. Zero. É o time que mais finaliza na competição, com média de 15 por partida e seis no alvo. Líder em passes certos e só fica abaixo do Grêmio em posse de bola. É o terceiro que menos faz seu goleiro trabalhar.
Em compensação é o sexto que menos desarma. No único ataque bem engendrado pelo time visitante, agora comandado por Argel Fucks, o gol de Jonatan Gomez. A melhor das cinco finalizações, três na direção da meta de Muriel. Os adversários precisam de pouco para vazar o Flu.
Já o time de Fernando Diniz necessita de muito volume de jogo e uma enorme quantidade de chances criadas para ir às redes. Talvez insistir em um modelo de jogo voltado para o ataque sem ter uma equipe tão qualificada para isso, embora não esteja entre as mais fracas do campeonato, seja uma explicação plausível.
Na prática, o Fluminense é previsível e oferece aos adversários um pacote de soluções para enfrentá-lo: pressão na saída de bola para forçar o erro pela insistência em não apelar para a ligação direta, mesmo em apuros. Depois recolher as linhas, suportar os ataques seguidos fechando o "funil" e evitando as finalizações mais perigosas…e esperar a chance da transição ofensiva nas costas da defesa adiantada.
Fernando Diniz deu padrão rapidamente ao Flu, ainda no Carioca. Mas não consegue fazer o time evoluir e converter o desempenho em resultado. Ou melhor, nem dá para dizer que o time do Rio de Janeiro joga bem, porque sofre para alcançar o grande objetivo do esporte. Se a falta de pontaria é problema crônico, a dificuldade passa também pelo treinador. Não pode ser jogado apenas na conta do "pé torto" dos atletas.
Talvez eles não estejam sendo estimulados da melhor forma ou as jogadas criadas não ofereçam a chance cristalina. É claro que a bola de neve de resultados negativos afeta a confiança, porém não existe coincidência infeliz quase sempre.
Diniz pode se manter fiel às suas convicções, mas uma dose de pragmatismo também faz bem. Minimizando as chances de erro e buscando os pontos na bola parada, atento ao acabamento das jogadas e com mais concentração defensiva. Isolando a bola no sufoco, se for preciso. Ligado em todos os detalhes.
Em um campeonato tão parelho como o Brasileiro não dá para viver de idealismo. O percentual de pontos conquistados por Diniz é ridículo e não foi melhor na Série B pelo Oeste (37%). Há algo muito errado na execução de uma proposta interessante, promissora e até divertida para quem não torce pelo clube envolvido. Mas na frieza dos números faz sofrer.
Pior para o futebol brasileiro que uma tentativa de sair da mesmice não renda o esperado, mas é impossível recolher a crítica quando oito meses de trabalho entregam tão pouco. Uma verdade inconveniente, talvez. Mas também inevitável.
(Estatísticas: Footstats)
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