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André Rocha

Palmeiras abre vantagem sobre o Grêmio com a essência do estilo Felipão

André Rocha

21/08/2019 00h29

Foto: Pedro H. Tesch/AGIF

Não era tarefa complicada prever o duelo tático entre Luiz Felipe Scolari e Renato Gaúcho na Arena do Grêmio pela ida das quartas de final da Libertadores. O time gaúcho circulando a bola no ritmo de Maicon e Matheus Henrique e movimentando as peças para criar espaços no campo de ataque fugindo da forte marcação do Palmeiras com intensidade e muitas disputas físicas.

Trabalho defensivo baseado em encaixes, com ainda mais ênfase dentro dos sistemas táticos no 4-2-3-1. Dois duelos eram inevitáveis no meio-campo: Felipe Melo contra Jean Pyerre e Bruno Henrique negando espaços ao Matheus Henrique. Mas Renato tentou fazer os ponteiros Alisson e Everton buscarem as costas dos sobrecarregados volantes adversários, além de abrir os corredores para Leonardo Gomes e Bruno Cortez, contando com o retorno sem tanta disciplina e intensidade de Dudu e Willian.

Cortez saiu lesionado ainda no primeiro tempo para a entrada de Juninho Capixaba, no entanto a estratégia seguiu a mesma e o time gaúcho controlava o jogo. Faltava a infiltração para criar a chance cristalina, mas sem pressa, mantendo a concentração no jogo.

Grêmio e Palmeiras no 4-2-3-1 com propostas e encaixes bem claros, mas os pontas Alisson e Everton buscando os espaços às costas de Felipe Melo e Bruno Henrique, sobrecarregados contra Jean Pyerre e Matheus Henrique e abrindo os corredores para os laterais (Tactical Pad).

De novo a equipe de Felipão sofria para manter a bola no ataque. O jogo direto que batia no estreante Luiz Adriano, encaixotado entre Geromel e Kannemann, e voltava. Tudo começou a mudar na bola parada que o Palmeiras, em seus melhores momentos, costuma tirar da cartola para fugir do "abafa". Chute forte de longe de Gustavo Scarpa que desviou nas costas de Felipe Melo e saiu do alcance de Paulo Victor. Sexto gol de um dos artilheiros do torneio continental e a disputa virou do avesso, já a partir dos 30 do primeiro tempo.

Transformação que não mudou as estatísticas da primeira etapa, com 67% de posse e cinco finalizações gremistas contra duas, mas apenas uma no alvo para cada lado. A do Palmeiras entrou e fez o time visitante dominar completamente o início do segundo tempo. Um raro "barata voa" no campeão da Libertadores de 2017. Afobação, muitos erros de passes e setores descoordenados.

Dudu teve duas grandes chances para ampliar. Uma de cabeça na sobra de cobrança de lateral que Paulo Victor salvou, outra em contragolpe que poderia ter sido letal. Chute na trave completando passe de Carlos Eduardo, que entrou vaga de Luiz Adriano para acelerar as transições ofensivas. Depois isolado com a expulsão de Felipe Melo. Difícil entender o que passa na cabeça do volante experiente. Sabe que é visado, já tinha amarelo e entra em Jean Pyerre como se não houvesse amanhã em um jogo deste tamanho e fora de casa. Depois não adianta chorar…

No 4-4-1, Raphael Veiga, que substituiu Scarpa, foi para o lado esquerdo porque Willian saiu para a entrada de Thiago Santos com o objetivo de recompor a proteção da defesa por dentro. Luan e Gustavo Gómez foram precisos, por baixo e pelo alto. Renato trocou Alisson e André por Luciano e Diego Tardelli, mas só tinha as jogadas individuais de Everton para tentar desequilibrar. Baixou a posse para 65% e finalizou apenas quatro vezes na direção da meta de Weverton em um total de 16. A maioria de fora da área.

No final, pressão do Grêmio com Luciano e Tardelli no ataque, mas só Everton conseguiu criar espaços no fechado 4-4-1 do Palmeiras depois da expulsão de Felipe Melo (Tactical Pad).

O Palmeiras teve mais precisão, acertando as mesmas quatro conclusões em dez. Fundamental como visitante em um contexto com gol "qualificado". Na essência do atual campeão brasileiro: sem fazer questão da bola, apelando para 42 lançamentos e 39 rebatidas. Concentrado defensivamente, forte na bola parada com mentalidade vencedora aproveitando o desequilíbrio do oponente e a felicidade de ir às redes quando era dominado. Mais Felipão impossível.

(Estatísticas: Footstats)

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.