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André Rocha

Um passeio para marcar a distância atual entre Flamengo e Palmeiras

André Rocha

01/09/2019 18h04

Os dois gols bem anulados do Palmeiras, de Matheus Fernandes e Willian, podem dar a impressão de algum equilíbrio do primeiro tempo no Maracanã lotado. Mas a atuação do Flamengo foi muito sólida, a melhor da equipe na temporada, e os 2 a 0 antes do intervalo saíram barato para o atual campeão brasileiro. Os cariocas fariam mais um no segundo tempo, fechando o placar em 3 a 0.

O time de Luiz Felipe Scolari foi sendo acuado pelo volume de jogo sufocante dos comandados de Jorge Jesus. Todos os onze atletas, inclusive Diego Alves nas reposições, geram jogo. Não há um ponto fraco tecnicamente que facilite a pressão e o bote. Ainda mais com Willian Arão e Gerson à frente da defesa.

Destaque para o herdeiro da camisa oito de Cuéllar. Gerson foi o melhor em campo honrando o número e a função com um desempenho de manual para o meio-campista do século 21. Leitura perfeita de espaços, passes precisos, inteligência para pressionar e ainda aparecendo na frente para pressionar.

Pressão logo após a perda da bola que foi a marca da equipe carioca. Gerando a saída rápida de Bruno Henrique para Arrascaeta e a assistência para Gabriel tocar por cima de Weverton. Golaço suficiente para o Palmeiras baixar a guarda e demonstrar nitidamente em campo o medo de levar uma goleada.

Porque é difícil marcar uma equipe que se mexe demais em campo. O 4-4-2 foi a base do desenho tático, mas os jogadores trocam o posicionamento frequentemente. Sempre dando opção de passe e criando espaços. Muito jogo entrelinhas e rapidez na definição das jogadas. Nem sinal do "arame liso".

Só a inteligência de Bruno Henrique para aproveitar o buraco pela direita deixado pelo recuo lento e por dentro de Diogo Barbosa para arrancar até colocar na cabeça de Arrascaeta no segundo gol. E ainda houve outras chances para ampliar no espetáculo que foi o primeiro tempo do líder do Brasileiro.

Segunda etapa de pressão até o pênalti de Diogo Barbosa sobre Rafinha que Gabriel converteu com categoria, chegando ao 14º gol na competição. Depois foi administrar, trocar Rodrigo Caio, com cartão amarelo, por Thuler. Piris da Motta entrou na vaga de Arrascaeta. Arão e Gerson adiantaram por dentro. Bruno Henrique foi para o lado esquerdo, depois saiu para a entrada de Berrío, que foi para o lado direito, invertendo Everton Ribeiro.

Time mutante, mas mantendo a proposta: pressão, posse, movimentação, inteligência e qualidade técnica. 60% de posse, onze finalizações contra apenas duas, nenhuma no alvo. Trocou 586 passes e permitiu apenas 272 do rival que não viu a bola.

O Palmeiras completa sete jogos sem vitória no Brasileiro. Mas não perdia para o Flamengo há nove e na temporada não havia sofrido três gols em um jogo. Mesmo considerando a má fase dos paulistas, nenhum time brasileiro poderia impor tamanha superioridade. Só o Flamengo de Jorge Jesus. Os 3 a 0 com direito a passeio marcam bem a distância atual entre os maiores orçamentos do país.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.