Muricy foi o melhor exemplo para a tese de Jesus sobre técnicos brasileiros
"Quando o time está jogando bem, com todos os seus jogadores em campo e não há nenhum tipo de problema, o técnico não tem nem que se meter muito, porque ele vai atrapalhar". Palavras de Muricy Ramalho em 2010, na coletiva depois da conquista do título brasileiro com o Fluminense.
Não foram poucas as vezes em que o ex-treinador e hoje comentarista do Sportv afirmou que a interferência do comandante é desnecessária quando a qualidade individual do jogador está fazendo a diferença. Nas duas últimas grandes conquistas da carreira, no próprio Fluminense e no Santos que venceu a Libertadores, Muricy foi até um pouco além.
Seus times dependiam fundamentalmente do talento. De Conca no Flu, de Neymar no alvinegro praiano. Era defesa organizada – a famosa "casinha fechada" – e bola no craque. Ou a eficiência na bola parada. Foi o suficiente para as conquistas no país e no continente, mas quando cruzou com o Barcelona de Guardiola na final do Mundial de Clubes a realidade veio dura. No mais alto nível essa estratégia já não era suficiente.
Aliás, é curioso agora ouvir Muricy dizer que quando foi a Barcelona em outubro de 2015, pouco antes de assumir o Flamengo – último trabalho da carreira encerrada por problemas de saúde -, não notou nada de especial nos métodos de treinamento da equipe catalã.
Bem diferente do que disse para este que escreve e para os colegas Mariana Fontes e Marcelo Bechler, este em Barcelona, no programa "Melhor Futebol do Mundo" do extinto canal Esporte Interativo. Na época exaltou o trabalho de integração com a base e a forma com que incutia a importância da posse de bola na equipe. Inclusive disse que pretendia aplicar tudo que observara no clube que assumisse – ainda não tinha anunciado o acerto com o time carioca. Veja mais detalhes AQUI.
Tão incoerente quanto a crítica agora à declaração de Jorge Jesus em entrevista realizada no ano passado para a revista francesa "So Foot", quando o técnico português ainda trabalhava no Al-Hilal, da Arábia Saudita: "Os treinadores brasileiros estão ultrapassados taticamente porque sempre tiveram grandes jogadores e esses resolviam os problemas táticos sozinhos. Os treinadores brasileiros tinham menos necessidade de criar ideias coletivas", explicou Jesus.
Talvez o técnico do Flamengo tenha generalizado e toda generalização pode ser bem injusta e perigosa. Mas a crítica de Jesus não se encaixa perfeitamente no perfil de Muricy? É o melhor exemplo para a tese. Se os jogadores resolvem individualmente, para que colocar a mão?
A diferença é que Jesus coloca. Por mais que Gabriel Barbosa, Bruno Henrique, De Arrascaeta, Everton Ribeiro e Gerson e até o menino Reinier desequilibrem, o treinador está sempre buscando variações no desenho tático e novas soluções para surpreender os adversários.
Justificando o bom salário com trabalho. Aliás, outra das declarações marcantes de Muricy era de que a comissão técnica tinha apenas 25% dos méritos em uma conquista. Mas o treinador aposentado nunca abriu mão de 100% dos salários altíssimos que recebeu depois que virou grife. Nada contra, era seu direito como profissional. Mas foi outra afirmação bastante controversa.
No final o que fica é o corporativismo, mesmo de um ex-técnico. Também a espera oportunista de um revés do Flamengo de Jesus para partir para o ataque. Como já fizeram na eliminação na Copa do Brasil, quando o treinador tinha menos de um mês de trabalho, e nas derrotas para o Emelec em Guayaquil pela Libertadores e para o Bahia na Fonte Nova. Com erros, sim, do português. Mas também a típica falta de paciência que se tem com os "forasteiros" que vêm para cá concorrer pelos melhores empregos no mercado.
Porque a verdade na fala de Jesus incomoda. E treinadores estrangeiros nas duas primeiras posições do Brasileiro mais ainda.
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