É de Jürgen Klopp a última lição para o futebol brasileiro em 2019
Foi um ano importante para o futebol brasileiro. De aprendizado na marra. E pode-se incluir aí até o próprio Flamengo, campeão brasileiro quebrando recorde de pontos e também da Libertadores, feito inédito desde o Santos de Pelé.
Porque a contratação de Jorge Jesus foi meio ao acaso, questão de oportunidade. E sem nenhum convicção de que poderia dar certo, tanto que havia cláusula de quebra unilateral, do clube ou do treinador, no final do ano. Objetivamente, este time histórico ainda deve ser considerado um "meteoro", só que com feitos maiores do que o Santos de 2010 ou o Palmeiras de 1996. Foram pouco mais de cinco meses de trabalho.
Juntando isso ao hábito muito nosso de colocar tudo na conta dos jogadores, muitos dirão que a jornada fantástica dos rubro-negros se deve única e exclusivamente à qualidade dos oito contratados – quatro no início do ano, quatro na metade da temporada. Impossível negar a relevância, até porque são eles que decidem em campo. Mas basta olhar para o campo com atenção para ver que há conceitos, um modelo de jogo bem claro. E bem parecido com o que se faz nos principais centros.
Eis o ponto para reflexão, deixando clubismos e rivalidades de lado: é possível fazer mais e melhor. O Santos de Sampaoli é uma prova ainda maior, mesmo sem títulos e com eliminações precoces que comprometeram, sim, o trabalho como um todo. Com elenco menos farto e caro, o treinador argentino fez com que os jogadores evoluíssem e proporcionou momentos de espetáculo em 2019.
Pressão, posse, profundidade, amplitude, mobilidade, variações táticas, intensidade. Tudo que costumamos ver pela TV dos grandes times do planeta. Aqui, nos nossos campos. Menção honrosa também ao Athletico, com e depois sem Tiago Nunes. Não só pela conquista da Copa do Brasil, mas por se esforçar, com elenco inferior até ao do Santos, para entregar um jogo atual. O Corinthians de Tiago é, até agora, o que mais desperta curiosidade para 2020.
Bem mais do que os que ainda resistem e optam por mais do mesmo. Preocupados em contratar escudos e não profissionais de futebol. Por mais que a desgraça do Cruzeiro deixe tantos alertas, convicções não se mudam do dia para noite. Nossa cultura é de achar que no campo tudo se resolve no talento respaldado pela raça, por gestão de vestiário e ambiente político apaziguado fora das quatro linhas.
Não é mais suficiente. Ou tomara que não seja mais. Que o sarrafo tenha subido mesmo e a "recaída" não venha no ano que vem. Para isso fica a lição de Jürgen Klopp, treinador do Liverpool campeão europeu e agora mundial. Na coletiva pós-jogo ele enfim falou sobre o futebol brasileiro com um pouco mais de propriedade:
– Vimos o Flamengo jogar muito futebol, analisamos muito bem, especialmente o jogo contra o Santos. Demos trabalho para eles e esperávamos terminar o jogo nos 90 minutos. Os nossos jogadores fizeram um bom trabalho, não era fácil. Não houve surpresa.
Elogios ao Flamengo de Jorge Jesus, o valoroso adversário na final do torneio da FIFA, e ao Santos de Sampaoli, que tirou a invencibilidade de 29 jogos do campeão brasileiro e sul-americano. Ambos jogando futebol conectado ao que se faz de melhor, mesmo com as limitações por conta dos problemas seculares do esporte no Brasil. Nem sinal dos times comandados pelos de sempre, que antes reinavam na dança das cadeiras dos treinadores muito bem remunerados para entregar algo próximo da indigência.
Um último aviso, vindo do hoje melhor técnico do mundo, de que algo precisa ser feito. Não virar "moda" a contratação de estrangeiros para comandar as equipes daqui – difícil prever, por exemplo, o que será de Jesualdo Ferreira na sucessão de Sampaoli no Santos. Só um pouco mais de cuidado com o jogo. A proposta, o modelo, as ideias. Olhar com carinho para o campo, que é o que pauta o resto. Para todos sermos mais felizes no ano que vem. Ao menos com o futebol.
Feliz Natal!
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