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André Rocha

Elenco forte do Flamengo não é ostentação, mas uma promessa a Jorge Jesus

André Rocha

11/01/2020 08h17

Junho de 2019. Com poucos dias de trabalho, Jorge Jesus faz a primeira avaliação interna do elenco do Flamengo depois do contato direto com os atletas: grupo forte, mas desequilibrado, com distância na qualidade entre alguns setores – meias de ótimo nível, defensores nem tanto – e poucos reservas com capacidade de suprir a ausência dos titulares apresentando desempenho semelhante.

O principal diagnóstico, porém, era de que o investimento crescente dos últimos anos não entregara um elenco homogêneo e com potencial para jogar em alto nível. Ou seja, o patamar que o treinador português queria alcançar para disputar os principais títulos. Era preciso ir além de Rodrigo Caio, De Arrascaeta, Gabriel Barbosa, Bruno Henrique e Rafinha nas contratações.

A diretoria foi atrás de Gerson e Pablo Marí e ratificou Filipe Luís, depois da ótima impressão que o lateral deixou no contato com o presidente Rodolfo Landim, que chefiou a delegação brasileira na Copa América. A promessa era de time poderoso em 2019 e elenco mais robusto no ano seguinte. O discurso público de busca de todos os títulos possíveis, mas nos corredores da Gávea e do Ninho um título nacional, Brasileiro ou Copa do Brasil, já estaria de bom tamanho para o primeiro ano do mandato de Rodolfo Landim.

Jorge Jesus arregaçou as mangas. Planejou um grupo de 16 a 17 jogadores "titulares". Ou seja, os onze que viriam a formar o time já histórico e mais Renê, Rhodolfo, Cuéllar, Diego e Vitinho. Testou algumas possibilidades, como Rafinha no meio-campo, mas o desastre desta escolha, com Rodinei na lateral, na derrota por 2 a 0 para o Emelec em Guayaquil deixou claro que não haveria muita margem de manobra.

O cenário ficou ainda mais complicado depois da lesão grave de Diego neste mesmo jogo pela Libertadores e, posteriormente, da saída intempestiva de Cuéllar para o Al-Hilal. Abriu-se um vazio no meio-campo. Jorge Jesus promoveu Reinier, mas logo percebeu que ele seria mais útil jogando adiantado. Uma opção a mais na frente além de Vitinho que Berrío, por exemplo, não conseguia ser por não render em alto nível e também pelas seguidas lesões.

A consequência desse buraco no elenco foi a prática de Jesus, especialmente no fim do primeiro turno e início do segundo, de utilizar todos os titulares disponíveis e pelo maior tempo possível. Muitas vezes fazendo as substituições nos minutos finais das partidas. O abismo entre titulares e reservas era muito nítido. Até pela irregularidade de Vitinho e o problema crônico nos passes de Piris da Motta, alçado à condição de reserva imediato no meio.

Na lateral direita, João Lucas, contratado ao Bangu, não conseguiu se colocar como uma opção confiável e Rodinei voltou a ser o substituto de Rafinha. No entanto, mesmo com orientações no campo e em vídeos, a melhora no posicionamento defensivo não foi suficiente para que a ausência de Rafinha não virasse um tormento. Basta lembrar dos "bailes" que Rodinei levou de Soteldo, nos 4 a 0 do Santos sobre o Flamengo, e de…Michael.

O atacante do Goiás, protagonista com assistência e gol na reação no Serra Dourada que levou o time esmeraldino ao empate por 2 a 2, é a terceira contratação confirmada para 2020, depois dos anúncios oficiais de Pedro Rocha e Gustavo Henrique. O clube ainda busca Thiago Maia, Pedro para ser o centroavante típico pedido por Jesus desde o início do trabalho e um lateral direito, além da contratação em definitivo de Gabriel Barbosa.

O fortalecimento do elenco não é ostentação, nem uma estratégia para enfraquecer rivais, embora seja uma consequência natural em mercado retraído até aqui para os principais concorrentes. Apenas uma promessa cumprida a Jorge Jesus. A agressividade nas contratações também é consequência da receita na iminente negociação de Reinier ao Real Madrid por cerca de 35 milhões de euros.

Mas é, acima de tudo, uma necessidade para o Flamengo buscar os títulos na temporada em que será o grande alvo, o time a ser batido. Em ano de nova Copa América e desta vez sem pausa no calendário. No melhor cenário, o elenco poderá oferecer as soluções que faltaram, por exemplo, na final do Mundial de Clubes contra o Liverpool.

Uma correção de rota, a limpeza da "herança maldita" da gestão Bandeira de Mello / Rodrigo Caetano que, definitivamente, não foi feliz nas muitas idas ao mercado. O Flamengo gastava mal, agora espera ser ainda mais certeiro em 2020 para se manter no topo.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.