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André Rocha

Recital sem gols de Benzema é destaque da volta do Real Madrid em "La Liga"

André Rocha

14/06/2020 16h33

Quando Gabriel Jesus terminou a Copa do Mundo de 2018 sem gols o mundo caiu sobre o camisa nove brasileiro. No país de Romário e Ronaldo nos dois últimos títulos é inadmissível o centroavante não ir às redes.

Mas o torneio de seleções disputado na Rússia terminou com a França campeã e Giroud, o camisa nove, também sem marcar gols. Mas com intensa participação coletiva e usando a estatura e a força física para empurrar a última linha defensiva do adversário e abrir espaços para que o talento de Mbappé, Griezmann e Pogba prevalecesse no bicampeonato dos "Bleus".

França que abriu mão da qualidade de outro centroavante por questões extra-campo, de gestão de vestiário. Mas que também teria muito a contribuir para a seleção, como costuma ser fundamental no clube.

Karim Benzema entrou para a história do Real Madrid como o grande assistente de Cristiano Ronaldo. Um facilitador pela mobilidade e inteligência para dar sequência aos ataques e permitir que a estrela desequilibrasse. Por isso o francês é tão subestimado. Onde já se viu o nove não ser o goleador máximo?

Com a saída do português, a responsabilidade de ser protagonista em uma transição complicada. Depois de um tricampeonato de Liga dos Campeões e o desgaste físico e anímico de uma geração vencedora que aos poucos é renovada. Em muitos jogos desde então faltou o craque decisivo.

Mas na volta do time merengue em "La Liga", Benzema protagonizou um recital no primeiro tempo que encaminhou a vitória ao abrir 3 a 0 sobre o Eibar no Estádio Alfredo Di Stéfano, casa do Real durante a reforma no Santiago Bernabéu.

No 4-3-3 armado por Zidane, contando com Rodrygo e Hazard pelos flancos, porém com muita movimentação na frente. Benzema caiu pela esquerda e arquitetou a ação ofensiva que encontrou Kroos para um chute no ângulo do alemão.

Com espaços cedidos pelo 4-1-4-1 do Eibar que contava com Álvarez entre as linhas de quatro e Kike García na frente, os contragolpes ficaram mais frequentes. Faltava a qualidade na saída rápida. Rodrygo tentou pela direita e falhou. Hazard também errou do lado oposto.

Mas quando caiu nos pés de Benzema pela esquerda o passe saiu redondo para Hazard, deslocado pela direita. Do camisa sete para Sergio Ramos, que iniciou tudo com um desarme no campo do Real. Em seguida, um passe do camisa nove que clareou tudo novamente para Hazard à direita. O chute e o gol de Marcelo no rebote. Na comemoração, o brasileiro homeganeou George Floyd, vítima fatal de racismo nos Estados Unidos.

A boa vantagem foi a senha para a acomodação e o clima de treino, apesar da "torcida virtual" no estádio. O Eibar incomodou mais do que o recomendável no segundo tempo. Terminou com nove finalizações, cinco no alvo. Fez Courtois trabalhar, carimbou a trave e diminuiu para 3 a 1 com Bigas.

Falha de Ferland Mendy, que entrou na vaga de Carvajal e, canhoto, ficou todo torto pela direita e ainda deu condições para o adversário finalizar e contar com a falha de Courtois. Uma das mudanças de Zidane, que mandou a campo também Gareth Bale, Vinicius Júnior, Valverde – a surpresa na reserva por estar voando antes da parada pela pandemia – e Militão.

Cinco mudanças que afetaram diretamente o desempenho do time merengue, que pode ser relativizado pela longa inatividade. Apenas três finalizações em 45 minutos, uma no alvo. Benzema caiu de rendimento com a equipe, mas ainda apareceu para acionar Vinicius Júnior, porém o brasileiro errou na tomada de decisão e desperdiçou o contragolpe. A necessidade de evolução na leitura de jogo permanece.

Assim como a importância de Benzema na luta do Real pelo título espanhol. Com a eliminação na Copa do Rei e a derrota em casa para o Manchester City pela Liga dos Campeões é a chance de conquista do gigante espanhol na conturbada temporada 2019/20. Faltam dez rodadas com dois pontos atrás do líder Barcelona.

O retorno valeu pelos três pontos. Também pelo senso coletivo de seu camisa nove. Para os puristas pode parecer pouco, mas Benzema ajudou, e muito, a definir a primeira partida da "nova realidade".

 

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.