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André Rocha

Liverpool empata clássico e sofre na volta porque depende demais do ritmo

André Rocha

21/06/2020 17h27

O Liverpool de Jurgem Klopp ganhou a Europa e o mundo em 2019 depois de apurar o modelo de jogo e adicionar peças essenciais para o salto de qualidade, como Alisson na meta e Van Dijk na zaga.

Mas sempre com intensidade máxima, volume de jogo sufocante na maior parte do tempo. Mesmo aos poucos trabalhando mais a bola, controlando ritmo e dosando energias. O amadurecimento do "gegenpressing", do futebol "rock'n'roll" do treinador alemão.

A pausa de mais de 90 dias foi inesperada e tirou tudo do contexto. Virou o mundo de ponta a cabeça e a melhor equipe do planeta foi junto no turbilhão. Havia, inclusive, o temor de que a conquista da Premier League, prioridade na temporada, fosse ameaçada pelo fim precoce da competição sem um campeão.

A volta foi um alento, mas obviamente gerando um problema: como retomar a essência do modelo de jogo com tanto tempo parado e um período curto de preparação? E já no clássico de Liverpool  contra o Everton. Mesmo sem perder para o rival local desde 2010, era um desafio para os Reds. Porque depende demais do ritmo de jogo para funcionar.

Com Salah no banco e Robertson de fora, o líder absoluto da liga adiantou as linhas, ficou com a bola e investiu no perde-pressiona, virando a chave rapidamente na transição defensiva. Mas a "ferrugem" era clara, apesar do domínio. Forçando naturalmente pela direita com Alexander-Arnold e Minamino, enquanto Milner descia menos no habitual improviso pela lateral esquerda.

O Everton de Carlo Ancelotti respondia com um 4-4-2 compacto e acelerando para sair logo da pressão do rival e entrar no campo de ataque. Acionando Richarlison e Calvert-Lewin, dupla na frente que buscava as infiltrações entre zagueiros e laterais adversários.

Domínio vermelho com posse de 70% e 85% de efetividade nos passes, porém com dificuldades para desequilibrar o sistema defensivo do Everton para criar a chance cristalina. Fazendo mais força pra jogar, o desgaste foi inevitável.

Os primeiros a sentir foram Milner e Minamino. Depois Matip saiu com problemas físicos. Klopp usou as cinco substituições tirando também Keita e Firmino. Com Joe Gomez, Oxlade-Chamberlain, Lovren, Wijnaldum e Origi, o nível caiu. Em todos os aspectos.

E o Everton terminou o jogo com menos posse e finalizações – nove contra dez, três no alvo para cada lado. Mas com a impressão de que poderia ter encerrado no Goodison Park com torcida virtual um jejum de uma década. Três oportunidades seguidas, a melhor na jogada de Richarlison pela esquerda que encontrou a letra de Calvert-Lewin para grande defesa de Alisson. No rebote, chute de Davies desviado em Gomez e tocando na trave direita.

O clássico naturalmente não teve o nível habitual de um jogo deste tamanho. A boa notícia para o Liverpool é que a vantagem sobre o Manchester City que pode cair para 20 pontos se o time de Guardiola vencer em casa o Burnley amanhã, no encerramento da rodada, parece imune a oscilações. Faltando oito rodadas.

Mesmo em um anticlímax, o fim de jejum de 30 anos está cada vez mais próximo.

(Estatísticas: Whoscored.com)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.