Topo

André Rocha

Estratégia de Jesus contra River e Al Hilal para em Muriel e Flu guerreiro

André Rocha

09/07/2020 09h10

Imagem: Divulgação / Fluminense

"No intervalo conversamos, o 'mister' falou para não baixar a intensidade, porque o time deles iria cansar. E foi o que aconteceu. Aí a gente, com a nossa qualidade, conseguiu virar o jogo."

Palavras de Bruno Henrique após a virada sobre o Al Hilal em Doha, no Catar, pela semifinal do Mundial de Clubes. Depois de terminar o primeiro tempo perdendo por 1 a 0, o Flamengo se impôs, inclusive fisicamente, e virou para 3 a 1.

Algumas declarações depois do triunfo histórico sobre o River Plate em Lima que valeu o título da Libertadores foram na mesma direção. O time argentino correu muito, dobrou a aposta na pressão sobre o adversário com a bola e a conta veio na metade final do segundo tempo e os dois gols de Gabriel Barbosa nos minutos derradeiros.

Na decisão da Taça Rio no Maracanã havia ainda mais motivos para acreditar no desgaste do oponente. O Fluminense teve um período menor de treinamentos na volta e Jorge Jesus agora conta com elenco mais robusto e cinco substituições para renovar as forças e atropelar.

Talvez por isso o treinador português tenha insistido tanto em focar no segundo tempo na análise do jogo em entrevista à Fla TV. Ele apenas se equivocou ao dizer que o time tricolor jogou só para não perder, ou ser derrotado por um placar magro.

Porque o time de Odair Hellmann tinha uma proposta clara de jogo: fechar espaços à frente da própria área com quatro defensores e os três volantes – Hudson, Yago Felipe e Dodi. Também recuando Nenê e Marcos Paulo pelas pontas e Evanilson para negar o passe fácil de Willian Arão, a opção de retorno ou desafogo do Fla.

Bola roubada, toques práticos e rápidos para sair da pressão e explorar os espaços às costas da última linha do rival. Deu trabalho, tanto que, dos quatro defensores do Fla, só Rodrigo Caio não levou cartão amarelo. O Flu valorizou também as bolas paradas, que permitiam que o time ocupasse o campo de ataque com mais jogadores. Assim fez Diego Alves trabalhar com Gilberto e depois o lateral aproveitou a falha coletiva rubro-negra no cruzamento de Egídio para abrir o placar.

Valeu-se também de um primeiro tempo muito abaixo do padrão do Flamengo. Não só pela boa marcação, mas por conta da assustadora lentidão e imprecisão na circulação da bola, mesmo sem pressão do adversário. Ainda que a estratégia fosse definir no segundo tempo, a intensidade ficou comprometida e foi possível perceber também um certo preciosismo, um ar blasé nas tentativas de tabelas e triangulações.

De fato, o Fluminense foi cansando ao longo da segunda etapa, mesmo sem abdicando do ataque dentro da sua proposta. E as substituições naturalmente deixaram o Flamengo mais forte. Entraram Michael, Pedro, Diego e Vitinho. Do setor ofensivo só ficou Gabriel, na esperança do gol decisivo.

Mas foi Pedro quem empatou, completando cruzamento de Filipe Luís. E Bruno Henrique, antes de dar lugar a Vitinho nos minutos finais, teve a bola da virada completando de cabeça a boa jogada de Michael pela direita.

Só que havia Muriel no caminho. O irmão de Alisson teve participação fundamental para respaldar o time aguerrido que renovou o fôlego, mas perdeu em técnica e tática com Fernando Pacheco, Caio Paulista, Yuri e Michel Araújo nas vagas de Evanilson, Marcos Paulo, Yago Felipe e Gilberto. O Flamengo teve chances para construir a virada que pretendia.

Ficou para os pênaltis e Muriel garantiu, defendendo as cobranças de Arão e Rafinha e sendo feliz no chute por cima de Léo Pereira, o pior rubro-negro em campo. Superando Diego Alves, o especialista que pegou os chutes de Dodi e Michel Araújo. Garantindo a conquista da Taça Rio e a realização das finais do Carioca.

Com o Flamengo ainda favorito. Será difícil para o Flu sustentar essa estratégia com entrega absoluta em dois jogos. A menos que os rubro-negros repitam em campo os muitos equívocos da diretoria do clube, que desrespeitou o regulamento da competição, que previa mando de campo na final do returno, e a Medida Provisória 984, que dá direito ao mandante de transmitir o jogo com exclusividade. Atropelou tudo, inclusive a ética, e a Fla TV também fez a transmissão – sem imagens, por decisão de última hora do STJD.

Uma soberba que respingou no time de Jorge Jesus e teve a resposta de quase sempre. O Fluminense foi digno e  guerreiro. Lutou com as armas possíveis e saiu vitorioso. Dentro e fora de campo.

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.