Argentina – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Sincerão – Olimpo do futebol só tem três: o rei, o artista e o arquiteto http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/01/sincerao-olimpo-do-futebol-so-tem-tres-o-rei-o-artista-e-o-arquiteto/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/01/sincerao-olimpo-do-futebol-so-tem-tres-o-rei-o-artista-e-o-arquiteto/#respond Wed, 01 Jul 2020 14:07:37 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8707

Foto: Acervo FIFA

Este colunista participou do quadro Sincerão do UOL Esporte e muitos questionaram por que Pelé, Maradona e Cruyff não foram citados no Top 5 de meio-campistas, nem de atacantes.

Justo. Talvez tenha sido mesmo um equívoco, mas há duas razões para tal.

Primeiro porque vejo esses três gênios como pontas-de-lança, exercendo aquela função híbrida de meia e atacante. O “camisa dez” que arma e finaliza. Zico, meu ídolo de infância e outra ausência sentida por muitos, se encaixa igualmente neste perfil. Messi também, mas em campo sempre funcionou mais como atacante, partindo da direita para dentro em busca da finalização ou da assistência.

Mas também porque os três fazem parte do Olimpo do futebol. Só eles, ao menos por enquanto. Ainda que o Olimpo abrigue doze deuses do panteão grego, É claro que Messi e Cristiano Ronaldo são candidatíssimos a pleitear vagas neste grupo muito seleto, mas é preciso esperar o fim de suas carreiras para que o distanciamento histórico entregue à dimensão dos feitos da dupla dos gênios do Século 21 até aqui.

Pelé é o rei. Entregou desempenho e resultados a longo prazo como nenhum outro. Colocou o Santos no mapa da bola e foi campeão e protagonista em duas Copas do Mundo, na época o grande parâmetro para medir os maiores. Transformou o jogo sendo um atleta completo que jogava futebol. Artilheiro implacável, domínio de todos os fundamentos do esporte.

Maradona é o artista. Genial, inquieto, imperfeito, errático. Capaz de lances espetaculares no campo e comportamentos nada exemplares fora dele. Quando quis ser competitivo foi a estrela máxima em uma edição de Copa do Mundo, no México em 1986. E também colocou um time outrora minúsculo no imaginário popular. Por isso é Deus em Napoli, assim como na Argentina. O grande ídolo da história do esporte.

E Johan Cruyff é o arquiteto. Craque cerebral, treinador dentro do campo, frasista nato. Pensou e reinventou o futebol muitas vezes, ancorado em princípios inegociáveis, como ter a bola para controlar o jogo. A conexão Holanda 1974 – Barcelona de 1992 – Pep Guardiola é única e pedra fundamental para o futebol há meio século.

É claro que há outros craques e gênios, e rankings são sempre discutíveis. Mas para este que escreve só esses três merecem ocupar o topo. Por seus feitos e legados. Esclarecido?

]]>
0
As dez maiores atuações individuais em Copas do Mundo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/23/as-dez-maiores-atuacoes-individuais-em-copas-do-mundo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/23/as-dez-maiores-atuacoes-individuais-em-copas-do-mundo/#respond Thu, 23 Apr 2020 08:26:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8349

Foto: Acervo / FIFA

10º – Alcides Ghiggia (Uruguai – 1950)

É claro que eu não assisti a nenhum jogo completo da campanha uruguaia em 1950. Mas, ora bolas, o ponta direita da Celeste fez gols nas quatro partidas da campeã mundial. Mesmo descontando a bizarra primeira fase com apenas um adversário – a Bolívia, que levou de 8 a 0 no Independência, em Belo Horizonte. No jogo decisivo do quadrangular final, encarou um Maracanã abarrotado e deitou e rolou em cima do lateral Bigode. Assistência para Schiaffino e  gol da virada e do título, o do “Maracanazo”. Virou lenda e merece constar nesta lista, mesmo que na base da “licença poética”.

9º – Lotthar Matthaus (Alemanha – 1990)

A Copa na Itália não é das mais memoráveis, mas Matthaus compensou. Depois de ser o volante disciplinado que dificultou a vida de Maradona na final em 1986, foi o craque, capitão e camisa dez que liderou a Alemanha na vingança, quatro anos depois. Compensava o meio-campo esvaziado no 5-3-2 armado por Franz Beckenbauer com dinamismo e versatilidade. Quatro gols, liderança e protagonismo que lhe valeram a Bola de Ouro da “France Football” e, na carona, o primeiro prêmio de melhor da FIFA em 1991. Recordista de partidas em Copas, com 25 em cinco edições. Craque.

8º – Zinedine Zidane (França – 2006)

O primeiro não campeão da lista. Vencedor em 1998, com dois gols na final contra o Brasil, mas nem sombra do que fez o craque já veterano a partir das oitavas da Copa na Alemanha, oito anos depois: gols contra Espanha, Portugal e na final contra a Itália. Atuação majestosa, flutuando em campo nas quartas contra a então campeã, além da assistência para o gol da vitória, de Henry. Na prorrogação da decisão, uma cabeçada parou nas mãos de Buffon, outra no peito de Materazzi. Encerrando uma carreira brilhante que merecia uma última taça. Pena.

7º – Romário (Brasil – 1994)

Foram cinco gols, um pênalti sofrido contra a Rússia, um chute que Bebeto aproveitou no rebote contra Camarões, a assistência para Bebeto derrubar os Estados Unidos em casa num quatro de julho. Mais o “fingir de morto” no gol de Bebeto e o contorcionismo para deixar a bomba de Branco passar pelo seu corpo contra a Holanda nas quartas. Na final contra a Itália, o peso dos 24 anos sem título e a atuação quase perfeita de Baresi na marcação. Perdeu gol feito na prorrogação, mas assumiu a responsabilidade e converteu o pênalti na decisão. Definitivamente, foi a Copa do Baixinho.

6º – Johan Cruyff (Holanda – 1974)

O arquiteto do futebol moderno é o segundo e último sem taça da lista. Azar da Copa, embora tenha ficado bem entregue para os anfitriões Beckenbauer, Muller, Maier e Breitner. A arrancada no primeiro minuto da final desde a defesa – era o holandês mais recuado quando recebeu a bola – é a síntese do grande líder do “Carrossel” que influencia o jogo até hoje. A Holanda jogava no 4-3-Cruyff-2. Liderança, leitura de espaços, capacidade de ditar o ritmo e o tempo do jogo. Tudo isso sendo marrento, usando uniforme diferente e sendo um fumante compulsivo. Surreal.

5º – Pelé (Brasil – 1958)

Dezessete anos. Seis gols decisivos nas três partidas eliminatórias. Dois antológicos, contra País de Gales nas quartas e Suécia na final. Imagine o que isso renderia de visibilidade e milhões de euros para esses feitos hoje. A camisa verde e amarela, e a dez em particular, ganhou outro significado graças a um menino, que nem foi o melhor da seleção e da Copa. Mas brilhou intensamente na equipe de Feola que ganhou encaixe desde os primeiros segundos da estreia de Pelé, e também de Garrincha, contra a União Soviética. Começava a trajetória épica do maior de todos.

4º – Didi (Brasil – 1958)

Apenas o cidadão que tirou de Pelé, Garrincha e do francês Just Fontaine – até hoje o maior artilheiro de uma edição de Copa, com 13 gols – o prêmio de melhor jogador do Mundial na Suécia. O líder que calmamente pegou a bola no fundo das redes em uma final contra os anfitriões depois de sofrer o primeiro gol, acalmou os companheiros enquanto caminhava até o centro do campo e, logo após a saída, acertou um lançamento de quarenta metros para Garrincha acertar a trave. Meio-campista completo, de passes curtos e longos, dribles e elegância única. Um monstro de jogador!

3º – Pelé (Brasil – 1970)

Quatro gols e sete assistências. Mais três quase-gols históricos: a cabeçada para a defesa lendária de Banks, o chute do meio do campo por cobertura na estreia contra a Tchecoslováquia e a finta em Mazurkiewski sem tocar na bola e o chute para fora na semifinal diante dos uruguaios. A última Copa de Pelé foi a do atleta do século XX no esplendor da leitura de jogo e da liderança técnica. A grande referência da maior seleção de todos os tempos. Servindo Jairzinho contra a Inglaterra e Carlos Alberto no gol que consolidou o tri. Os mais simbólicos da campanha. A0s 29 anos, a consagração no México.

2º Mané Garrincha (Brasil – 1962)

Um gênio improvável decidindo o bi brasileiro no Chile que pareceu impossível com a lesão de Pelé vivendo o auge da carreira na segunda partida da Copa. Nas fases finais, um Mané impossível contra Inglaterra e na semifinal diante do anfitrião. Percebendo a necessidade da seleção envelhecida e ampliando o repertório além do famoso drible na direita em busca da linha de fundo. Marcou de cabeça e de pé esquerdo. Fez o inimaginável para alguém com problemas cognitivos e longe de levar uma vida de atleta, mesmo para os padrões dos anos 1960. Simplesmente genial.

1º Diego Maradona (Argentina – 1986)

Não foi só pelo gol mais belo, emblemático e tocante da história das Copas, representando cada cidadão argentino contra os ingleses pela derrota na Guerra das Ilhas Malvinas. Nem pela atuação magnífica na semifinal contra a Bélgica ou por causa da assistência para Burruchaga decidir a Copa contra os alemães no Estádio Azteca. Diego Armando Maradona foi o melhor da Copa de 1986 desde que tocou na bola pela primeira vez, na estreia contra os violentos sul-coreanos. Apanhou, compensou as limitações dos companheiros e desequilibrou. Ninguém jogou mais que ele em uma edição de Mundial. Ponto.

]]>
0
Cinco momentos em que o acaso protegeu o Brasil-2002 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/13/cinco-momentos-em-que-o-acaso-protegeu-o-brasil-2002/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/13/cinco-momentos-em-que-o-acaso-protegeu-o-brasil-2002/#respond Mon, 13 Apr 2020 05:45:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8296

Foto: Divulgação / FIFA

Se em 1982 não era para ser, vinte anos depois tudo conspirou a favor da seleção brasileira. Mesmo com quatro treinadores no ciclo – Vanderlei Luxemburgo, Candinho, Emerson Leão e Luiz Felipe Scolari – e muita desorganização, sem grupo nem time definido até dois meses antes da viagem para a Ásia.

É óbvio que houve muitos méritos em campo e fora dele na conquista do título mundial, o quinto e último da seleção mais vencedora do planeta, mas o acaso protegeu a “Família Scolari” em momentos cruciais até a grande final, relembrada pela TV Globo no domingo. Por isso o blog lista cinco acontecimentos que ajudaram a construir a história do campeão mundial no Japão e na Coréia do Sul.

1 – O descarte de Romário

Felipão nunca explicou com clareza a razão de ter descartado Romário bem antes da lista final para o Mundial, apesar do clamor popular, especialmente no Rio de Janeiro, sede da CBF. A cada entrevista uma versão diferente, inclusive admitindo que quase cedeu ao último apelo emocionado do craque veterano. Mas sempre sinalizou que tinha a ver com gestão de vestiário, falta de confiança no jogador.

A decisão, porém, beneficiou mais o treinador no campo. Sem o heroi do tetra, Felipão pôde encaixar o trio de R’s – Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo Fenômeno –  que o encantou nos 4 a 2 sobre a Argentina num amistoso em Porto Alegre, ainda sob o comando de Luxemburgo em 1999. Com o Baixinho, o técnico poderia ser pressionado e antecipar em quatro anos um “quarteto mágico” só no papel que dificilmente funcionaria na prática. Até pela pouca mobilidade de Romário com 36 anos.  Com o título, Felipão saiu como heroi visionário que assumiu os riscos e tinha razão.

2 – A “descoberta” de Gilberto Silva e Kléberson

Felipão virou 2002 com um time na cabeça, usando a base da equipe que venceu a Venezuela por 3 a 0 em São Luís e esperando pela incógnita Ronaldo, em recuperação de seríssima lesão no joelho direito. Mas faltavam opções para fechar os 23 convocados. O caminho até então tinha sido tortuoso, com eliminação na Copa América para Honduras e sofrimento para se classificar para o Mundial, com vaga confirmada só em novembro.

Nos primeiros amistosos do ano, Felipão resolveu fazer experiências convocando jogadores que vinham se destacando no cenário nacional. Nas goleadas sobre Bolívia por 6 a 0 no Serra Dourada e 6 a 1 na Islância em Cuiabá, além do 1 a 0 sobre a Arábia Saudita, em Riad, acabou “descobrindo” Gilberto Silva e Kléberson. A dupla dos Atléticos – Mineiro e Paranaense, este campeão brasileiro – marcou cinco gols e foi convocada para a reserva de Emerson e Juninho Paulista. Terminaram a campanha como titulares e fundamentais. Mérito do treinador, mas também muita sorte em uma escolha forçada pelas circunstâncias.

3 – As eliminações das favoritas Argentina e França

O Brasil estreou no Mundial diante da Turquia com tantas incertezas que pensar em título era utópico. Principalmente porque havia duas seleções como favoritas destacadas: a Argentina intensa de Marcelo Bielsa, líder das Eliminatórias e inspiração para o 3-4-3 de Felipão, e a França campeã mundial de 1998, da Eurocopa em 2000 e da Copa das Confederações em 2001. Disparada a melhor seleção do planeta.

Mas a Albiceleste sucumbiu em um duro grupo com Inglaterra, Nigéria e Suécia e voltou para casa. Assim como a França de jogadores desgastados e Zinedine Zidane destruído pela temporada europeia com título da Liga dos Campeões e golaço na final. Eliminada sem ir às redes uma única vez contra Uruguai, Senegal e Dinamarca. Vexames que pavimentaram o caminho para a seleção brasileira.

4 – O gol anulado da Bélgica nas oitavas

O primeiro tempo da disputa das oitavas de final foi de tensão pura para a equipe de Felipão. Totalmente desorganizada, com um buraco entre os três zagueiros, os alas Cafu e Roberto Carlos, mais Gilberto Silva à frente da defesa, e os três talentos na frente que Juninho Paulista não conseguia cobrir.

A Bélgica jogava com personalidade e muitos espaços, por dentro e nas laterais. Aos 35 minutos, uma jogada trabalhada com toda liberdade desde a ligação direta do goleiro De Vliegers foi parar no setor direito e de lá o cruzamento na cabeça de Marc Wilmots. Disputa absolutamente normal com Roque Junior, bola na rede e gol anulado. Um absurdo que tranquilizou a seleção que, na volta do intervalo, mesmo sem jogar bem, achou dois gols no talento de Rivaldo e Ronaldo e também o time da reta final com Kléberson na vaga de Juninho.

5 – A ausência de Ballack na final

A decisão em Yokohama foi tensa e equilibrada. A rigor, definida pela noite feliz de Marcos, um dos herois da conquista com grandes defesas, e a falha grotesca de Oliver Kahn, eleito o melhor da Copa antes da final, no primeiro gol de Ronaldo. Artilheiro letal ao aproveitar os erros adversários e também os lampejos de Rivaldo, que não foi bem na primeira etapa.

Clássico mundial que poderia ser ainda mais duro se o craque da Alemanha entre os dez da linha estivesse em campo. Michael Ballack foi suspenso pelo segundo amarelo na semifinal contra a Coreia do Sul. O autor do gol que colocou a desacreditada equipe de Rudi Voller na final. Liderança técnica e anímica, uma ausência que isolou Miroslav Klose no ataque e tirou volume de jogo dos alemães. O golpe derradeiro da ventura que empurrou o Brasil para o título.

]]>
0
Os dez maiores jogadores do século 21 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/05/os-dez-maiores-jogadores-do-seculo-21/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/05/os-dez-maiores-jogadores-do-seculo-21/#respond Sun, 05 Apr 2020 12:27:36 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8253

Foto: Reuters

Antes que comece a gritaria é bom lembrar: “Melhor” tem relação exclusiva com a qualidade, quem joga mais. “Maior” tem a ver com feitos, conquistas dentro de um patamar igual ou bem próximo no talento.

Dito isso, vamos à lista:

1º – Cristiano Ronaldo – Ele não é melhor que Messi, mas compensa menos talento com mais força mental, trabalho, liderança positiva e conquistas. Em clubes e seleção. Venceu no Manchester United, no Real Madrid e agora na Juventus, ainda que apenas dentro da Itália. O “Mr. Champions”, com cinco conquistas. Pela seleção portuguesa, títulos da Eurocopa e Liga das Nações. Só tem uma Bola de Ouro a menos que Messi pela escolha “política” de Luka Modric em 2018. O maior jogador nascido na Europa em toda a história.

2º – Lionel Messi – O melhor que este que escreve viu jogar em quase quarenta anos acompanhando futebol. O maior jogador do grande clube do século 21. Mas para fazer rankings é preciso ter parâmetros e a escolha é pessoal. E o futebol de seleções ainda é muito relevante e aí está o grande porém da carreira do argentino. Mesmo sendo o maior artilheiro da albiceleste e descontando a bagunça da AFA e os gols perdidos pelos companheiros nas grandes decisões, a falta de uma conquista relevante pesa na disputa já lendária com CR7.

Cabe mais um parágrafo necessário sobre a dupla:

Sim, ainda falta uma Copa do Mundo para os dois. Pela maior tradição da Argentina, essa lacuna pesa mais para Messi. Mas rivalizar jogando em altíssimo nível e quebrando recordes por mais de uma década, só eles. Uma história que certamente será tema de filmes quando os dois se aposentarem. Nem precisa de distanciamento histórico para ter a dimensão do que fizeram, inclusive aumentar relevância da Liga dos Campeões no esporte.

Seguindo:

3º – Ronaldinho Gaúcho – Campeão mundial com o Brasil, da Liga dos Campeões pelo Barcelona e da Libertadores com o Atlético Mineiro. Currículo único, trajetória particularíssima. Talento puro que enquanto conseguiu ser competitivo encantou a ponto de concorrer ao Olimpo de Pelé e Maradona. A chance era ser bicampeão em 2006 com a seleção na Copa da Alemanha como protagonista. Mas falhou miseravelmente e algo se desconectou, vivendo de espasmos de genialidade. Uma pena.

4º – Ronaldo Fenômeno – Talvez não tenha sido melhor que Rivaldo em 2002. Mas a recuperação espetacular e o título mundial com artilharia absoluta depois de ter o joelho direito praticamente condenado para jogar no mais alto nível é a grande história do futebol deste século. De um atacante que até 1999 foi o Fenômeno que mudou a rotação do jogo. Depois viveu de lampejos e briga com a balança, mas ainda um atacante genial. Sem as grandes arrancadas, aprimorou a finalização para seguir brilhando.

5º – Zinedine Zidane – Outro que teve a chance de subir à primeira prateleira da história. A partir das oitavas em 2006, uma das grandes performances individuais em Copas do Mundo. Atuação magistral contra o Brasil favorito nas quartas. A chance da consagração na final, mas uma cabeçada na bola parou em Buffon e a que acertou em Materazzi encerrou o sonho e a carreira vitoriosa, com direito a gol antológico pelo Real Madrid na final da Champions 2001/02. O grande feito do francês no século.

6º – Xavi Hernández – Craque da Eurocopa 2008 na grande virada de chave histórica da Espanha. Da “Fúria” que passava longe das conquistas para a “Roja” bi do continente e campeã mundial em 2010. Fora os muitos títulos com o Barcelona. Com Pep Guardiola deu um salto de qualidade e se tornou ainda mais líder e o grande facilitador para o talento de Messi. Controlador do jogo e da bola. Toca e desloca, tic-tac. Uma pena ter se destacado na Era Messi x CR7. Merecia ao menos uma Bola de Ouro.

7º – Andrés Iniesta – Quatro anos mais novo que Xavi, viveu seu auge na Euro de 2012, com protagonismo na conquista. Sem contar o gol do título mundial na prorrogação contra a Holanda na África do Sul dois anos antes. Outro currículo impressionante de quem também jogou para ser melhor do mundo ao menos por uma temporada. Sabia ditar o ritmo como “oito”, mas também alternar pelos lados com intensidade. O estilo que dava liga a Xavi e Messi no Barcelona histórico.

8º – Kaká – O último Bola de Ouro antes do domínio de Messi e Cristiano Ronaldo. O único inquestionável na concorrência com os dois gênios. Pela temporada espetacular de 2006/07, a melhor da carreira. Imparável nos “sprints” que podiam ser de área a área, inteligente na movimentação ofensiva do 4-3-2-1 de Carlo Ancelotti no Milan. O último grande momento de uma carreira abreviada no mais alto nível por problemas físicos. Faltou também uma grande Copa do Mundo como protagonista.

9º – Toni Kroos – Mais um grande meio-campista do século. Multicampeão por Bayern de Munique, Real Madrid e seleção alemã. Capaz de executar no mais alto nível todas as funções no meio-campo, de área a área. Outro que seria mais reconhecido se não houvesse uma dupla de protagonistas tão absoluta. Os 7 a 1 são tratados sempre como a nossa tragédia, mas aquela tarde no Mineirão foi do meia alemão, com eficiência assombrosa em tudo que executou. Cracaço!

10º Andrea Pirlo – O “regista” do Milan bicampeão da Champions e da Itália campeã mundial de 2006. Ainda levou a Azzurra nas costas até a final da Euro 2012, aos 33 anos. Três anos depois estaria em uma final de Champions pela Juventus contra o Barcelona. O camisa dez que foi recuando e influenciou no jogo ao mostrar que os espaços mais atrás para organizar e articular poderiam ser preciosos e decisivos. Passes curtos e longos, acelerando e cadenciando. Um monstro!

 

]]>
0
Saudosistas x “Geração Z”: uma briga insuportável http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/03/saudosistas-x-geracao-z-uma-briga-insuportavel/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/03/saudosistas-x-geracao-z-uma-briga-insuportavel/#respond Fri, 03 Apr 2020 12:06:16 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8249

Foto: AFA

Sem jogos e noticiário mais quente sobre futebol, as pautas e os debates se voltam um pouco para o passado e é muito comum a comparação entre passado e presente.

E como quase todo debate neste país, a polarização aparece. Se na política ela é até necessária porque o conflito está (ou deveria estar) intrínseco, no futebol muitas vezes surge para marcar território. Com todos se comunicando e produzindo conteúdo ao mesmo tempo, a radicalização é uma ferramenta para chamar atenção.

É daí que costuma emergir a guerra entre saudosistas e a “Geração Z”, ou aqueles que já nasceram dentro do mundo globalizado e conectado e acha que tudo que existia antes é jurássico e desconectado na realidade atual.

Ambos podem ser insuportáveis na discussão sobre futebol. Porque a nostalgia é mais que saudável. Se deixar transportar para momentos mais lúdicos, de proximidade com entes queridos que muitas vezes nem estão mais entre nós. A experiência infantil de ir ao estádio com o pai, de não ter preocupações no cotidiano e passar uma semana pensando naquele clássico.

Hoje o peso da responsabilidade de ganhar o dinheiro do ingresso (ou do plano de sócio-torcedor), de onde vai estacionar o carro e como vai garantir a segurança dos filhos, de fato, é capaz de tirar um pouco o prazer do programa. Sem contar o olhar adulto, que sabe do muito de podre que há por trás do esporte no campo. Não mais as retinas encantadas que só reparavam na grandiosidade do estádio, na festa das torcidas e nos movimentos dos craques.

Os agentes da época também têm suas razões para sentir saudades. Estavam no auge físico, no esplendor, na crista da onda. Eram procurados, tinham prestígio. Natural um jornalista mais experiente defender os profissionais veteranos ainda na ativa, ainda que ultrapassados. Questão de identificação.

Tudo isso é compreensível. Só não pode contaminar a observação sobre o jogo. Se aquele tempo era bom para você, indivíduo, não quer dizer que tenha visto um futebol melhor. O nosso narcisismo ajuda a colocar a época em que vivemos mais intensamente o esporte como algo superior e inalcançável para as gerações seguintes. “Quem viu, viu. Eu vi!”

Assim como os jovens que acham que o mundo começou no ano em que nasceram e tratam qualquer coisa que estejam testemunhando na TV e na internet como “maior da História”. Os craques, os jogos, as competições. Tudo é grandioso e precisa crescer ainda mais na histeria coletiva das redes. Para engajar.

E a cada semana surge um novo fenômeno sem precedentes, porque são movidos a hiperestímulos. E como precisam causar, chamar atenção, é obrigatório desafiar os ícones do passado.  E quase sempre descontextualizando e achando que a realidade atual sempre existiu.

Então se o Pelé não jogou em um grande time europeu, como ele poderia ser o melhor do mundo se hoje todos os premiados atuam no Velho Continente? Maior da história ganhando estaduais e Copa do Mundo, mas sem vencer a Liga dos Campeões? Impossível!

É aí que aparece o saudosista colocando o pé na porta e dizendo que os craques que brilham hoje no futebol europeu não conseguiriam sequer ser titulares nos times pequenos de São Paulo que enfrentaram o Pelé. Que o futebol era mais técnico e hoje é só físico. Daí para a falsa dicotomia “Raiz x Nutella” é um pulo. Cansativo…

O esporte evolui, como tudo. O que vemos como consequências que podem ser tratadas como negativas são resultados da complexidade. Se com a internet a informação está disponível e não há mais segredos nem surpresas, é natural que o jogo seja mais dinâmico e haja menos espaços. A evolução na preparação também contribui, o que gera uma reação em cadeia que influencia todo processo e cria novos problemas para resolver.

A “Geração Z” acha isso tudo natural e interessante. O saudosista até acompanha, mas como seu coração está em outro tempo a tendência é reclamar.

O fato é que nunca saberemos se Gerson, o “Canhotinha de Ouro” da Copa de 1970 que fazia aqueles lançamentos de trinta metros quase parado e com muito tempo para pensar, hoje seria um meio-campista de alto nível internacional ou um jogador anacrônico, como Paulo Henrique Ganso, por exemplo. Pela inteligência a chance de vingar seria grande, mas o atleta é um todo, cada vez mais mental. Como ele lidaria com o cenário atual?

Assim como é difícil imaginar Messi ou Cristiano Ronaldo na realidade dos anos 1960/70. Com uniformes de baixa qualidade, bola pesada, gramados maltratados, menos proteção de arbitragem agora com VAR e as múltiplas câmeras de TV em jogos transmitidos para o mundo todo. Poderiam suportar e vencer ou simplesmente desistir lá no início da trajetória.

Comparar o futebol de épocas diferentes só vale como diversão. Ou para alimentar o sonho de ver os craques juntos. Como jogariam Messi e Maradona na seleção argentina? Ou como seria uma dupla de ataque formada por Cristiano Ronaldo e Di Stéfano no Real Madrid. Ou tentar pensar na livre circulação dos talentos do passado se houvesse Lei Bosman. Ou o gostoso exercício de adivinhação sobre quem ganharia em um jogo entre um esquadrão de quarenta anos atrás e um timaço atual.

Dá para entender a irritação de quem viu muitos craques testemunhar na internet os mais jovens desprezando tudo que não conhecem. E com jogos na íntegra disponíveis essa falta de curiosidade (ou preguiça mesmo) incomoda muito. Pior ainda é outro hábito dessa geração: opinar sem conhecer. O achismo se naturalizou e tudo virou questão de opinião.

Mas o nariz permanentemente torcido e o desdém dos saudosistas também são difíceis de aturar. É de se questionar como seguem torcendo ou até trabalhando com futebol se não há mais nenhum prazer envolvido. Muitos veem apenas para ter como argumentar contra e manter seus ídolos em um pedestal. Deve ser triste viver assim…

Impossível ter respostas exatas. Ainda bem. A única certeza é que essa briga, virtual ou real, é chata demais. Fuja dela, mesmo não tendo muito o que fazer trancado em casa. É inútil e só irrita.

]]>
0
A pior atuação da seleção com Tite. Engessada e insossa http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/15/a-pior-atuacao-da-selecao-com-tite-engessada-e-insossa/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/15/a-pior-atuacao-da-selecao-com-tite-engessada-e-insossa/#respond Fri, 15 Nov 2019 18:59:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7573 Engessada e insossa. Mesmo descontando a pouca competitividade dos amistosos, incluindo o tal “Superclássico das Américas”, não dá para a seleção brasileira apresentar tão pouco, ainda que não conte com Neymar, a estrela solitária.

Com exceção da bola roubada na frente e o pênalti sofrido e perdido por Gabriel Jesus em cobrança para fora, a equipe de Tite nada criou em 90 minutos contra uma Argentina renovada, mas ainda dependente de Messi, que também sofreu e perdeu pênalti, mas o camisa dez aproveitou o rebote do goleiro Alisson.

A albiceleste compactou duas linhas de quatro atrás de Messi e Lautaro Martínez, com Ocampos acelerando pela direita nas transições ofensivas, e controlou a partida com relativa facilidade.

Porque o Brasil sofre pela pouca mobilidade. Tem Roberto Firmino, mas, ao contrário do Liverpool, aproveita pouco a movimentação do atacante que abre espaços para os ponteiros infiltrarem em diagonal – Gabriel Jesus e Willian desta vez.

Com pontas abertos, os laterais Danilo e Alex Sandro não têm espaços para atacar. Mas a carência de talentos em funções tão importantes pelos flancos também vem pesando. É torcer pela evolução de Renan Lodi, que entrou no segundo tempo, mas com a confiança geral baixa demais. Não havia como Fabinho, Rodrygo e Richarlison colaborarem. A Argentina tomou conta e teve chances para ampliar a vitória pela vantagem mínima.

O início das Eliminatórias em 2020 será a chance da competição refazer a conexão que se perdeu depois do título da Copa América. Não pelos cinco jogos sem vencer, mas pelo desempenho que já não foi brilhante no torneio continental e piorou muito na sequência. Está difícil vislumbrar soluções para Tite “reinventar” o futebol da seleção.

]]>
0
Na última lista de um ano complicado, Tite opta por renovação sem polêmica http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/25/na-ultima-lista-de-um-ano-complicado-tite-opta-por-renovacao-sem-polemica/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/25/na-ultima-lista-de-um-ano-complicado-tite-opta-por-renovacao-sem-polemica/#respond Fri, 25 Oct 2019 15:21:59 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7490 Enfim, o óbvio. Em uma reta final de temporada, se o calendário brasileiro não pára, qual a razão de convocar jogadores atuando aqui, muitas vezes apenas para treinar e sentar no banco, nenhum minuto em campo? É só para criar polêmica e teorias da conspiração. E tomar pancada, claro.

Tite parece ter entendido quando respondeu a uma pergunta sobre Gerson, do Flamengo. Na linha: “vocês pedem, aí eu convoco e depois querem me pegar”. Tão claro, não? Para que se expor por tão pouco?

Por isso a lista “estrangeira”, a última do ano, para os amistosos contra Argentina e Coreia do Sul. Sem Neymar e com o necessário toque de renovação para uma seleção estagnada e que precisa competir logo depois da “ressaca” da Copa América. Daniel Fuzato, da Roma, para treinar e se ambientar com Alisson, de volta, e Ederson.

Emerson, do Betis, para ganhar vivência e olhar, do lado oposto, o exemplo de Renan Lodi, um dos poucos que se salvaram da última data FIFA e que deve se tornar titular, mesmo jovem e com pouco tempo na Europa. Até por necessidade da equipe, que precisa de opção de ultrapassagem pela esquerda. Douglas Luiz do Aston Villa pode até ganhar alguns minutos no meio-campo. É mais um que joga de área a área para ser testado na missão de entregar dinâmica ao trabalho entre as intermediárias.

E Rodrygo na frente, além do retorno de David Neres. Ganhou chances com Zidane, por que não de Tite em um ataque também precisando de um “fato novo”? Pode contribuir com boas infiltrações em diagonal e técnica nas finalizações – melhor que Vinicius Júnior, inclusive.

O restante mantém a base, importante em qualquer processo, mesmo em momentos complicados. Sem Daniel Alves, vai Danilo. O “buraco” pela direita segue. Assim como na criação, com Philippe Coutinho já sendo questionado no Bayern de Munique. Eis o gargalo. Por que não experimentar um 4-3-3 à la Liverpool, com um volante, dois “box-to-box” alinhados, Firmino recuando para pensar e dois ponteiros se movimentando e buscando as diagonais?

É tentar melhorar o desempenho, conseguir os resultados para aliviar a pressão, especialmente contra os argentinos em ascensão e também renovando, e fechar 2019 com serenidade para, enfim, competir no ano que vem com as Eliminatórias. Ninguém aguenta mais esses jogos valendo nada em sedes “alternativas”.

Simplificar para minimizar erros e depois buscar soluções mais complexas. Para Tite respirar e seguir. Porque ele é mais um pressionado pelo sucesso de Jorge Jesus e um olhar geral mais simpático a treinadores estrangeiros. O (ainda) melhor brasileiro no ofício precisa dar respostas. E rápido.

 

]]>
0
“Briga com bêbado” é cenário mentiroso e perigoso para o Brasil no Maracanã http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/05/briga-com-bebado-e-cenario-mentiroso-e-perigoso-para-o-brasil-no-maracana/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/05/briga-com-bebado-e-cenario-mentiroso-e-perigoso-para-o-brasil-no-maracana/#respond Fri, 05 Jul 2019 11:21:48 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6814

Foto: Pedro Vilela/Getty Images

O brasileiro se acostumou a respeitar apenas uruguaios e argentinos na América do Sul. Natural pelo domínio histórico de ambos no continente, seja no universo de clubes ou seleções. A superioridade da seleção verde e amarela se dá apenas nas Copas do Mundo, com as cinco conquistas superando a soma dos dois mundiais conquistados por cada rival.

Mas Peru e Paraguai, depois Chile, Colômbia e agora a Venezuela se candidatando a entrar no grupo, sempre fizeram parte de um bloco intermediário que beliscava aqui e ali. Os dois primeiros com duas conquistas de Copa América cada e dando trabalho nas Eliminatórias. O Peru, por exemplo, tirou a Argentina da Copa de 1970 e o Uruguai da de 1982.

Contra o Brasil, um duro confronto pela vaga na Copa de 1958: empate em Lima por 1 a 1 e a “folha seca” de Didi no Maracanã lotado garantindo a seleção que venceria aquele mundial. Em 1970, duelo pelas quartas de final com a lendária equipe comandada por Zagallo superando os peruanos por 4 a 2 em um dos melhores jogos do torneio em termos de qualidade técnica.

Às vezes é preciso lembrar o óbvio: se não jogar futebol, só camisa e tradição não vão resolver. O Brasil já era o favorito natural para esta edição da Copa América por jogar em casa. Afinal, venceu todas as edições como país-sede: 1919, 1922, 1949 e 1989.

Em 2019 está na decisão novamente. A semifinal contra a Argentina já tinha ganhado ares de “final antecipada”. Com a eliminação do bicampeão Chile e por conta dos 5 a 0 sobre o Peru na fase de grupos, o jogo de domingo vem sendo tratado por muitos como uma “briga com bêbado”. Se vencer não fez mais que a obrigação e a derrota será vergonhosa.

Cenário mentiroso e perigoso. Até porque a última eliminação brasileira na Copa América se deu por uma derrota por 1  0 para os próprios peruanos em 2016. A seleção brasileira, então comandada por Dunga, ficou em terceiro lugar no grupo que teve Peru e Equador classificados para o mata-mata da edição especial de centenário no Estados Unidos.

O Peru venceu os chilenos com autoridade e estarão no Maracanã com a situação mais confortável. A campanha já é histórica e a conquista será lendária. Pode repetir a estratégia que deu certo também contra os uruguaios nas quartas de se fechar, negar espaços e acelerar contragolpes. Estão com a confiança lá em cima e sabem que se evitarem um gol do adversário no início podem transformar o clima de euforia e “já ganhou” em drama.

Para aumentar a esperanças em nova “zebra”, o clima na seleção brasileira é um perigoso misto de festa e desvio de foco. A informação do blog do Juca Kfouri de que Tite pode deixar o comando ao final da competição tomou conta do noticiário. Ainda ganhou mais holofotes com a nota confusa da CBF afirmando que a entidade confia no trabalho do treinador – mas o que se diz é que o profissional é que pensa em sair, não sobre risco de demissão.

Agora a coletiva de Tite no sábado é cercada de expectativas, mas não para falar sobre a decisão no campo. Não costuma dar muito certo. A história mostra que quase nunca há “almoço grátis” na América do Sul. Menos ainda com o equilíbrio de forças na atualidade do futebol mundial.

Sim, nas últimas eliminatórias o Brasil nadou de braçadas, mas porque entregou desempenho muito acima dos concorrentes. Agora o rendimento vem oscilando. Os 5 a 0 no primeiro confronto foram um tanto “mentirosos”, condicionados por eventos da partida que não costumam se repetir.

A final será dura no campo, ainda que fora dele insistam em um discurso arrogante – ou seria uma casca de banana para desonestamente gritar “Vexame histórico!” em caso de revés? As respostas virão no domingo.

]]>
0
Tite não para Messi, mas Gabriel Jesus se redime em sua maior atuação http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/02/tite-nao-para-messi-mas-gabriel-jesus-se-redime-em-sua-maior-atuacao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/02/tite-nao-para-messi-mas-gabriel-jesus-se-redime-em-sua-maior-atuacao/#respond Wed, 03 Jul 2019 02:31:58 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6805 Tite repetiu o plano do duelo com Messi no mesmo Mineirão pelas eliminatórias, na vitória por 3 a 0: um 4-1-4-1 com Coutinho, o meia pela esquerda, Alex Sandro na lateral esquerda e Casemiro entre as linhas de quatro negando espaços ao gênio argentino.

Deu certo no início, principalmente pela eficiência na pressão no campo de ataque que dificultava a bola chegar no camisa dez adversário. O cenário ficou ainda mais favorável com o belo gol brasileiro: jogada fantástica de Daniel Alves, assistência de Roberto Firmino pela direita e gol de Gabriel Jesus, encerrando jejum de nove jogos oficiais sem ir às redes pela seleção.

Uma das duas finalizações brasileiras, ambas na direção da meta de Armani. Foram seis argentinas, uma no alvo. Fora a cabeçada de Kun Aguero no travessão de Alisson.  Porque o Brasil recuou demais as linhas e perdeu transição ofensiva em velocidade, porque Coutinho e Firmino erravam demais quando pressionados.

Sem contar o isolamento de Everton pela esquerda, justamente por conta do posicionamento mais conservador de Alex Sandro. O ponteiro do Grêmio ainda sofria pela tensão natural em seu primeiro jogo de fato grande com a camisa verde e amarela. Não por acaso saiu na volta do intervalo, substituído por Willian.

Porque a Argentina cresceu com Messi encontrando espaços na marcação brasileira. Em bela jogada na primeira etapa limpando três, mas chutando longe. No segundo tempo infiltrando pela esquerda e chutando na trave de Alisson, depois cruzando e Aguero chegando atrasado. Fora a bela cobrança de falta que o goleiro brasileiro pegou sem rebote. A rigor, desta vez Tite não conseguiu parar Messi.

Tudo podia ter sido resolvido na primeira grande jogada de Jesus, servindo Coutinho sozinho, mas o meia, em má fase difícil de reverter, perdeu livre. Tite já tinha invertido os pontas, com Willian pela direita e Jesus do lado oposto. E foi no setor em que surgiu no Palmeiras que o camisa nove, o melhor em campo pouco acima de Daniel Alves, desequilibrou, ganhando de três em fantástica arrancada e devolvendo a assistência a Firmino. Dois a zero.

Depois foi sofrimento, com Miranda na vaga do lesionado Marquinhos. Jesus saiu ovacionado, mas também sentindo. Entrou Allan para fechar ainda mais o meio-campo. E Willian ficou em campo no sacrifício para fazer número no final sofrido. A Argentina se lançou à frente com Di María, Dybala e Lo Celso. Chegou a 14 finalizações, quatro na direção da meta de Alisson.

Cumpriu sua melhor atuação coletiva no torneio, mas está eliminada. Messi, que também fez seu melhor jogo em gramados brasileiros, perde mais uma chance de buscar o título que falta na carreira. Agora só ano que vem, na próxima Copa América. Porque Gabriel Jesus se redimiu no jogo maior da competição e manda os grandes rivais para casa.

Agora é voltar ao Maracanã para a grande final, contra Chile ou Peru. O favoritismo é inquestionável, mas será jogo duro contra qualquer um. É preciso jogar mais. Com a solidez da defesa que ainda não sofreu gol, mas a produção ofensiva que ainda pode evoluir. Com Jesus repetindo na final o que fez no Mineirão.

(Estatísticas: Footstats)

]]>
0
O “risco Messi” para o Brasil na semifinal http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/29/o-risco-messi-para-o-brasil-na-semifinal/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/29/o-risco-messi-para-o-brasil-na-semifinal/#respond Sat, 29 Jun 2019 10:48:44 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6774

Em 2014, a Alemanha encontrou a melhor escalação, com Lahm na lateral direita e Klose entrando no ataque, contra a França no Maracanã disputando as quartas de final da Copa do Mundo. Foi para a semifinal no Mineirão e sabemos o desfecho…

Quatro anos depois, a Bélgica construiu uma incrível virada nas oitavas do Mundial na Rússia sobre o Japão com Fellaini e Chadli entrando no segundo tempo e marcando os últimos gols dos 3 a 2. Viraram titulares nas quartas contra o Brasil e…

Copa América não é Mundial, mas a responsabilidade da seleção brasileira em casa é grande. Por ter vencido todas as edições em que foi sede e para garantir menos tensão para Tite e comissão técnica na sequência do trabalho pensando em 2022.

A Argentina não mostrou nada demais até agora. Como previsto, os gols no início de Lautaro Martínez condicionaram os jogos contra Catar e Venezuela, dando mais tranquilidade a uma equipe abalada por tantos reveses. Seleção bicampeã do mundo sem títulos desde 1993.

Mas resgatou confiança e sinalizou para o treinador Lionel Scaloni que o 4-3-1-2, com Messi de “enganche” atrás de dois atacantes, entrega algumas soluções ofensivas que tornaram o time mais contundente. Foram 13 finalizações nas quartas de final no Maracanã, sete no alvo, contra seis dos venezuelanos. Mais 17 contra o Catar, oito na direção da meta adversária.

Mesmo considerando a fragilidade dos adversários, foi uma evolução em relação às 12 contra a Colômbia, precisando reverter uma desvantagem, e apenas sete diante dos paraguaios no empate por 1 a 1. Mais jogadores na frente, pisando na área do oponente, e um estilo mais direto, de acionamento frequente de Aguero e Lautaro.

É impossível esperar mais da albiceleste porque não há trabalho consolidado. O treinador não é dos mais experientes e capacitados e o processo de renovação está sendo feito a toque de caixa. Mas conseguiu tirar da cartola algumas boas atuações, como do zagueiro Foyth improvisado na lateral direita, de Paredes na proteção e distribuição de jogo desde a defesa e do próprio Lautaro, decisivo. Mesmo que este seja sempre o escolhido para sair no segundo tempo. Uma questão de “hierarquia” que faz a equipe perder força na frente.

Por incrível que pareça, ainda falta Messi na Argentina. Não que sua contribuição na armação de jogadas não seja importante. Mas o rei das assistências na Europa ainda não entregou um passe para gol e só serviu os companheiros em lances que terminaram em finalizações por quatro vezes, média de um por partida. Gol só de pênalti, sobre os paraguaios. Para o padrão do camisa dez é muito pouco, mesmo considerando os problemas coletivos de sua seleção. Nem os gramados ruins justificam o baixo rendimento até agora.

O perigo para o Brasil é o craque genial despertar no torneio justamente agora. Como alemães e belgas encontraram suas melhores versões nos últimos Mundiais quando a camisa verde e amarela cruzou o caminho. Afinal, na prática faltam dois jogos para os argentinos encerrarem um jejum de conquistas que chega a 26 anos. Se a estrela maior desequilibrar, como fez nas duas últimas edições até a grande decisão, a missão que parecia improvável fica mais possível.

É melhor que Tite e seus comandados estejam atentos ao “risco Messi” da semifinal.

(Estatísticas: Footstats)

 

]]>
0