arthur – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Bruno Guimarães é o melhor projeto de meio-campo completo dos últimos anos http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/28/bruno-guimaraes-e-o-melhor-projeto-de-meio-campo-completo-dos-ultimos-anos/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/28/bruno-guimaraes-e-o-melhor-projeto-de-meio-campo-completo-dos-ultimos-anos/#respond Sun, 28 Jul 2019 12:27:50 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6954

Foto: Albari Rosa/Tribuna do Paraná

Quando a seleção brasileira perdeu a Copa de 2010 com Gilberto Silva, Felipe Melo, Elano (Ramires ou Daniel Alves improvisado no jogo da eliminação contra a Holanda) e Kaká no meio-campo e viu Busquets, Xavi e Iniesta terminarem campeões mundiais a constatação era dura: o país que produziu Didi e Gerson não entregava há tempos um meio-campista organizador, de área a área, jogando no mais alto nível.

Consequência da divisão, desde as categorias de base na virada dos anos 1980 para os 1990, do meio-campo entre volantes e meias no 4-2-2-2 tipicamente brasileiro. Normalmente um marcador, quase terceiro zagueiro, outro mais infiltrador se juntando a um meia organizador e o companheiro mais finalizador, no estilo “ponta-de-lança”.

Em 1990 e 1994, Dunga cumpriu a função de volante passador. Na Copa seguinte jogou mais plantado e César Sampaio saindo mais para o ataque. Em 2002, Kléberson fez a liga entre Gilberto Silva e o trio desequilibrante Ronaldinho-Rivaldo-Ronaldo. Quatro anos depois, Juninho Pernambucano virou reserva com a efetivação do “quarteto mágico” de Carlos Alberto Parreira e na Alemanha o mundo viu uma seleção desconjuntada com Zé Roberto tentando cobrir os buracos entre as intermediárias. Correndo mais que pensando.

Essa carência só não virou fatalismo em 2014 depois dos 7 a 1, com Toni Kroos desfilando sua classe no Mineirão, porque havia uma esperança que vinha justamente de Belo Horizonte: Lucas Silva, que seria bicampeão brasileiro com o Cruzeiro aos 21 anos. Passes curtos e longos, estilo elegante, visão de jogo e bom chute de fora da área.

Em 2015, porém, o volante teve transferência precoce para o gigante Real Madrid e precisou jogar por conta de uma séria lesão de Luka Modric. Virou “flop” com o empréstimo ao Olympique de Marseille e a volta ao Cruzeiro. Um tanto frustrante, apesar de outro bicampeonato nacional, mas da Copa do Brasil. Agora volta ao Real Madrid e pode ser negociado com um time italiano ou português.

Renato Augusto surgiu como meia no Flamengo. Estreou pelo profissional aos 18 anos como atacante e nesta função viveu seu melhor momento no clube, em 2007 com Joel Santana no comando. Foi para a Europa e recuou como meio-campista. Na volta ao Corinthians foi o organizador e melhor jogador, junto com Jadson, do título brasileiro de 2015. No ano seguinte foi parar na seleção brasileira, também com Tite no comando. Mas a descoberta de um novo posicionamento em campo acabou sendo um tanto tardia e a decisão (legítima) de ganhar dinheiro no futebol chinês em uma reta final de carreira tornaram os efeitos menos duradouros.

Nos últimos tempos, a esperança é Arthur. Depois de um ano mágico no Grêmio com titularidade absoluta e a conquista da Libertadores em 2017 foi parar no Barcelona com o rótulo de sucessor de Xavi Hernández. Meio-campista de passe mais curto, controla o jogo com toques e deslocamentos. Segue com carreira vencedora por conta dos títulos espanhol do time catalão e da Copa América pela seleção, mas ainda há dúvidas quanto à sua intensidade em 90 minutos e a capacidade de entregar passes decisivos e finalizar com mais frequência. Ainda com 22 anos e jogando em um dos grandes centros da Europa tem tudo para se destacar.

Matheus Henrique, seu substituto no Grêmio, parece seguir o mesmo caminho. Com Maicon forma uma dupla de controle e visão de jogo alimentando o quarteto ofensivo do 4-2-3-1 quase imutável de Renato Gaúcho. As características são fundamentais para a preservação do modelo de jogo da equipe gaúcho.

Mas é no Paraná que parece florescer o projeto mais bem acabado de meio-campista completo: Bruno Guimarães, do Athletico. Carioca, surgiu no Audax Rio e foi para Curitiba em 2017, aos 19 anos. Em 2018 virou titular após brilhar na campanha do título paranaense com a equipe sub-23 comandada por Tiago Nunes. Com a efetivação do treinador virou destaque na conquista da Sul-Americana.

Em termos de características é a evolução de Lucas Silva e Arthur, porque inicia bem a construção de jogo buscando a bola com os zagueiros, tem intensidade para jogar de área a área, finaliza de longe como Lucas, mas entra mais na área que os seus antecessores (ou pares). Como na bela jogada trabalhada com toques de primeira que terminou na assistência de Marcelo Cirino e finalização do meio-campista nos 2 a 0 sobre os reservas do Cruzeiro no Mineirão.

Segundo goll no Brasileiro. Também contabiliza um passe para gol e 95,6% de acerto nos passes. Tem média inferior a um desarme por jogo (0,8), mas acerta 2,4 lançamentos por partida e finalizou sete vezes em oito jogos. Apenas duas no alvo. Os números melhoram substancialmente na Libertadores, prioridade do clube na temporada: dois gols, duas assistências, média de quase três desarmes por partida e nove finalizações em seis jogos.

Bruno pode jogar em trio com um volante mais plantado (Wellington) e alinhado a Lucho González num 4-1-4-1 ou atrás de um quarteto bastante ofensivo, como quando Tiago Nunes manda a campo Cirino, Nikão, Rony e Marco Rúben no 4-2-3-1. Das duas formas, o jovem meio-campista consegue render e manter a regularidade. Mesmo quando o trabalho coletivo não vai tão bem, como na derrota para o Boca Juniors na Arena da Baixada que complica a vida do Furacão na Liberadores.

Tite já está de olho e pode surgir com a novidade na lista de convocados do dia 16 de agosto para os amistosos contra Colômbia e Peru em setembro. Athletico e Bruno tentam resistir às propostas, da Europa ou a milionária da China que chegou e foi recusada nos últimos dias. A torcida é sempre para que possamos contar com os talentos por mais tempo em nossos campos, mas a ida ao Velho Continente parece ser inevitável.

Se Bruno Guimarães mantiver o foco na carreira e seguir evoluindo em todos os aspectos do jogo, inclusive o mental, é jogador para três ciclos de Copa do Mundo e trajetória bem sucedida em grandes centros. Para alívio de quem não via luz no fim do túnel em 2014 e agora encontra alternativas para acabar com um dos grandes gargalos do futebol brasileiro nos últimos anos.

(Estatísticas: Footstats)

 

 

 

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Por que Tite não resgata o futebol das Eliminatórias? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/01/por-que-tite-nao-resgata-o-futebol-das-eliminatorias/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/01/por-que-tite-nao-resgata-o-futebol-das-eliminatorias/#respond Mon, 01 Jul 2019 09:32:04 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6785

Foto: Thomás Santos/Mowa Press

A queda de produção na Copa do Mundo na Rússia e a sequência de trabalho pouco consistente de Tite na seleção brasileira provocam com relativa frequência um questionamento: por que o Brasil não consegue resgatar o futebol das Eliminatórias, quando partiu da sexta colocação para a liderança absoluta e a vaga antecipada no Mundial?

A resposta é simples, mas considerando a complexidade do futebol: não há como reproduzir aquele modelo de jogo dentro do que treinador e jogadores já viveram desde meados de 2016. O tempo passou, novas necessidades surgiram. Alguns atletas caíram de produção e saíram do radar, outros precisam entrar por conta da necessária renovação.

O 4-1-4-1 inicial tinha Neymar como atacante no Barcelona, partindo para o drible, buscando as infiltrações em diagonal e fazendo parceria desequilibrante com Marcelo pela esquerda. Philippe Coutinho era o ponta articulador partindo da direita, com Gabriel Jesus entrando nas costas da defesa adversária e Paulinho pisando na área. Renato Augusto era o contraponto de raciocínio no meio, ajudando na saída de bola e compensando os problemas de Casemiro no início da construção dos ataques.

Inspirado no Corinthians campeão brasileiro de 2015, depois do ano “sabático” de Tite viajando, estudando e se espelhando no Real Madrid de Carlo Ancelotti que conquistou “La Décima”. Adicionando criatividade e conceitos atuais nas ações ofensivas, especialmente as triangulações, e mantendo a organização defensiva com marcação por zona.

O 4-1-4-1 das Eliminatórias, com Philippe Coutinho saindo da direita como ponta articulador para circular às costas dos volantes adversários, Gabriel Jesus abrindo espaços, Paulinho infiltrando, Renato Augusto organizando e liberando Marcelo e Neymar mais atacante, buscando as diagonais (Tactical Pad).

Características bem casadas, encaixe rápido e confiança pelas nove vitórias consecutivas. O ponto de corte foi o empate sem gols com a Inglaterra repleta de reservas em Wembley no final de 2017. Porque Renato Augusto estava em queda técnica e física e Neymar, já no PSG, mudou a maneira de jogar, buscando a bola e mais conduzindo e afunilando que atacando espaços. O Brasil tentou um jogo mais intuitivo, conduzindo e driblando, e bateu no muro inglês com cinco na defesa.

Com o sorteio colocando Suíça, Costa Rica e Sérvia no caminho do Brasil na fase de grupos da Copa e a possibilidade de encarar pelo menos duas retrancas com linha de cinco atrás, o que acabou não se confirmando pelas circunstâncias, Tite percebeu a necessidade de acrescentar soluções ao repertório ofensivo. Se não o jogo de posição, ou localização, que se popularizou com Pep Guardiola, ao menos elementos de um ataque posicional.

Nas viagens para monitorar os atletas, viu o Manchester City e também o Napoli de Sarri. Trabalhando amplitude, profundidade, apoio, busca do homem livre. Mais a rápida pressão depois da perda da bola. Era uma necessidade urgente se organizar para atacar e criar espaços nas retrancas com linhas de handebol. Ideias novas. A pouco mais de seis meses da Copa, Tite precisava trocar o pneu do carro da seleção e o seu também, com ambos em movimento.

O resultado prático foi um 2-3-5 na fase ofensiva com Daniel Alves e Marcelo apoiando mais por dentro, Willian herdando a vaga do então lesionado Renato Augusto, mas aberto pela direita, trazendo Coutinho para o centro da linha de meio-campistas com Paulinho. E Neymar recebendo a bola na ponta, mas com liberdade de movimentação.

O desempenho não foi o mesmo na Rússia, apesar do bom segundo tempo na eliminação para a Bélgica. Não por acaso com Renato Augusto em campo – autor do gol único, porém desperdiçando chance cristalina à frente de Courtois entre as muitas finalizações brasileiros.

O novo ciclo exige renovação, que  parte da presença de Arthur no meio-campo. Titular do Barcelona e, em tese, a peça que daria um norte à maneira de jogar baseada em posse de bola e trabalho de criar espaços no campo de ataque. Ditando o ritmo e qualificando o passe em todas as etapas de construção. Porque apesar dos 17 anos sem títulos mundiais, a camisa verde e amarela ainda é respeitada e poucos adversários saem de peito aberto para encarar.

Ainda não deu liga, também porque Arthur dá opção e faz a bola girar, mas cria e finaliza pouco no último terço. E Casemiro segue com seu paradoxo: é pilar defensivo, porém contribui pouco com a bola. Mas é a escolha de Tite dentro do contexto, pensando em um projeto a longo prazo, no ciclo completo até o Catar.

Questionável pelo que não jogou até agora, com o time estático, confundindo organização com previsibilidade. Encontrando dificuldades para a leitura dos espaços deixados pela movimentação de Firmino no centro do ataque. Mas é um caminho que pode entregar resultados ainda na Copa América, em caso de título. E desempenho mais tarde, ajustando a proposta às características dos jogadores. Também contando com a sorte de reunir atletas em melhores momentos – a queda de Coutinho foi brusca, Marcelo virou reserva no Real Madrid e a nova lesão de Neymar um problema grave.

Mas há avanços. Por incrível que pareça, no “abafa” final contra o Paraguai com dez homens, a melhor alternativa para atacar era a mais posicional: Willian bem aberto pela direita, dando amplitude aos ataques, mas também fechando em diagonal para finalizar na trave. A ponto de Tite abrir mão de Daniel Alves e colocar Paquetá para se juntar a Coutinho, Gabriel Jesus e Firmino por dentro.

Nos dois cenários, a melhor solução continua a mesma. Aliás, desde a equipe de Luiz Felipe Scolari em 2013 na Copa das Confederações ou mesmo antes, nos tempos de Dunga e Mano Menezes: com jogadores acostumados a ter espaços para acelerar, o gol no início das partidas descomplica tudo abrindo o campo rival. Por isso a necessidade da pressão nos primeiros minutos e jogadas de bola parada bem ensaiadas. Os 5 a 0 no Peru escancararam esta necessidade.

O que passou não volta mais. O “arrasa-quarteirão” de 2016/17 faz parte da história. Agora é virar a página e escrever outras. A mais importante até aqui, neste segundo ciclo de Tite, será na terça, contra a Argentina no Mineirão.

A seleção na Copa América, com laterais construtores, Arthur organizando, pontas abertos, Firmino abrindo espaços e Casemiro fundamental defensivamente, mas contribuindo pouco na construção das jogadas. O pecado até aqui é a previsibilidade (Tactical Pad).

 

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Um pouco de Leovegildo Júnior para falar de Arthur e laterais por dentro http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/20/um-pouco-de-leovegildo-junior-para-falar-de-arthur-e-laterais-por-dentro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/20/um-pouco-de-leovegildo-junior-para-falar-de-arthur-e-laterais-por-dentro/#respond Thu, 20 Jun 2019 11:10:01 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6728

Bastou a seleção brasileira empatar com a Venezuela em Salvador para as cornetas do apocalipse começarem a ecoar e, como sempre, o resultado gerar uma caça às bruxas na procura de culpados. Um pouco mais de eficiência nas finalizações ou o VAR deixando passar um dos gols anulados e talvez, até pela fase terrível da Argentina, o desempenho, de fato, insuficiente fosse relativizado.

Mas entre as muitas críticas é possível detectar uma justa e outra nem tanto. A primeira é a falta de meio-campistas de área a área com perfil organizador para qualificar a saída de bola, acionar as peças mais ofensivas e eventualmente aparecer na área para concluir. Falta intensidade a Arthur. Também momentos de um jogo mais vertical. Fernandinho se adaptou bem à função de primeiro volante e Allan tem características mais parecidas com as de Paulinho. O fato é que Renato Augusto, por incrível que pareça, está fazendo falta. O camisa oito autêntico da melhor fase recente da seleção.

A outra é sobre os laterais atuando por dentro, como construtores. Na inquisição da falta de vitória que quase sempre se mistura com saudosismo, muitos que observaram Daniel Alves e Filipe Luís “afunilando” o jogo apontaram para o passado, dizendo que nos “bons tempos” do futebol brasileiro o lateral abria o campo e chegava ao fundo para cruzar. Recordações de Cafu, Roberto Carlos, Jorginho, Leandro, Júnior…

Opa! Aí está um equívoco no resgate histórico que vale ser pinçado para abordar as duas questões propostas acima. Leovegildo Júnior era fã de Marinho Chagas. Ambos laterais esquerdos destros que atacavam, sim, por dentro. Com pés de meio-campistas e criando superioridade numérica no trabalho entre as intermediárias. Na Copa de 1982, Júnior se juntava a Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico e tinha Éder para abrir o campo pela esquerda. Leandro à direita.

Entrando em diagonal, Júnior marcou um golaço contra a Argentina, completando passe primoroso de Zico. Da esquerda para dentro iniciou a jogada que terminaria no gol de Falcão contra a Itália, o último brasileiro na campanha do Mundial na Espanha. O problema do  camisa seis não era atacar pelo meio, mas os erros de posicionamento defensivo que, inclusive, ocasionaram dois gols de Paolo Rossi no fatídico 5 de julho – o primeiro permitindo o centroavante italiano infiltrar entre ele o zagueiro Luisinho, o derradeiro errando na tática do impedimento.

O problema de Daniel Alves e Filipe Luís é infiltrar pouco, não aparecer como elemento surpresa por dentro quando os ponteiros Richarlison, David Neres, Everton e até Gabriel Jesus voltando a atuar pelo lado abrem o campo. Questão de sincronia na proposta nova de Tite que ainda tem os movimentos de Firmino saindo do centro do ataque para abrir espaços que não estão sendo preenchidos pelos companheiros de ataque, incluindo Philippe Coutinho.

Voltando ao Júnior, a mudança de função na segunda metade da carreira, de 1984 a 1993, também vale a lembrança para retornarmos ao tema Arthur e a carência de articuladores mais recuados. No futebol italiano e na seleção brasileira, incluindo a Copa de 1986, Júnior era um “regista”. Coordenava todas as etapas de construção de jogo e ainda tinha o “plus” da bola parada. Cobrava escanteios da direita com pé esquerdo e da esquerda com o destro.

Retornou ao Brasil em meados de 1989. Justamente o período da virada no conceito de meio-campistas no Brasil. Dividindo a função entre volantes protetores da defesa e meias ofensivos. Necessidade criada por ele mesmo quando lateral no Flamengo, que primeiro teve Andrade e Carpegiani em 1980 e depois Vítor entrando no lugar do meio-campista que virou treinador em 1981. Tudo para dar liberdade aos “alas”.

O “elo perdido” tinha sido Geovani, no Vasco. Craque e artilheiro do titulo mundial de juniores (sub-20) em 1983, famoso pelas cobranças de pênaltis impecáveis e personalíssimas. Mas que deve ser lembrado como o último camisa oito inspirado em Gérson e Didi. Com os lançamentos longos e precisos como a grande marca de seu estilo.

O melhor jogador do país em 1988, ajudado por uma boa sacada de Sebastião Lazaroni no Vasco: Geovani não precisava se sacrificar no auxílio ao volante Zé do Carmo na marcação. Henrique, outro volante, fazia o “serviço sujo”. Quando o time cruzmaltino recuperava a bola, Geovani recuava para armar e Henrique o “ultrapassava”, se juntando a Bismarck, Vivinho e Romário na frente.

Geovani e Lazaroni foram para a seleção e o novo mapa do meio-campo excluiu naturalmente o meia. Na virada para o sistema 3-5-2, o meia não tinha pegada para jogar à frente da defesa, nem dinâmica para auxiliar os alas e ainda entrar na área se juntando à dupla de ataque. Silas, depois Alemão, e Valdo foram os titulares no ciclo que terminou no fracasso da Copa na Itália.

O meio-campista ainda viveria bons momentos no próprio Vasco no início dos anos 1990, porém dentro de outras configurações: em 1992, na boa campanha do clube no Brasileiro, como um meia à frente do volante Luisinho e depois ainda mais adiantado com a entrada de Leandro Ávila na proteção da retaguarda.  Mas sempre neste conflito entre ser volante ou meia no típico 4-2-2-2 da época no país.

Mesmo problema de Júnior no Flamengo. No título da Copa do Brasil de 1990 com Jair Pereira ele era uma espécie de “carrillero”, ou volante pela direita num losango: Uidemar plantado, Junior e Zinho pelos lados e Bobô ou Djalminha fazendo a ligação com Renato Portaluppi e Gaúcho. Mas foi no ano seguinte que veio a ideia que encaixaria perfeitamente o “Maestro” para o fecho de ouro de sua carreira.

O 4-1-4-1 montado por Vanderlei Luxemburgo em 1991 que serviu de base para Carlinhos organizar a equipe campeã carioca daquele ano e do Brasileiro na temporada seguinte. A chave era o recuo dos pontas Paulo Nunes e Nélio acompanhando os laterais adversários. Isso permitia que os laterais rubro-negros, Charles Guerreiro e Piá, marcassem mais por dentro e ajudassem o volante Uidemar na proteção dos zagueiros Júnior Baiano e Wilson Gottardo.

Júnior, então, ficava livre para conduzir a equipe. Recuava atrás de Uidemar para organizar a saída de bola, acionava os ponteiros em velocidade ou o próprio camisa cinco fazia os cruzamentos para o centroavante Gaúcho. Com bola parada ou rolando. Quando não aparecia na frente para concluir, como nos gols marcados nas finais das conquistas estadual e nacional. Meio-campista completo.

Exatamente o que vem faltando ao futebol brasileiro. Por incrível que pareça o último organizador foi Dunga, já em 1990 e também nas duas Copas seguintes. Volante marcador, porém com bom passe. Na sequência os grandes armadores eram meias típicos: Djalminha, Ricardinho, Juninho Pernambucano…Kléberson foi a solução em 2002 porque era dinâmico, tinha bom passe e não precisava ser tão cerebral porque o jogo fluía mais com Cafu e Roberto Carlos abertos e Ronaldinho Gaúcho armando para Rivaldo e Ronaldo.

Agora há um vazio, que ainda pode ser preenchido por Arthur se houver evolução no Barcelona. Lucas Silva, hoje no Cruzeiro, foi uma esperança até “flopar” na Europa. O Grêmio tenta afirmar Matheus Henrique na mesma função.  Talvez o erro seja usar como referência o espanhol Xavi Hernández. Gênio do jogo de posição do Barcelona e da Espanha, mas com características muito específicas, que combinavam com as de Iniesta formando uma dupla quase perfeita de armadores. Na cultura brasileira acaba sendo visto como “armandinho” ou “pica-couve”.

Melhor mirar o que foi Geovani. Ou Leovegildo Júnior, antes lateral que jogava por dentro e depois o meio-campista de área a área. Mas pensando nas necessidades e no contexto de 2019. Sem superestimar o passado e demonizar o presente que é só mais complexo e o futebol brasileiro precisa, enfim, se adequar no mais alto nível para voltar a vencer.

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O melhor Brasil possível sem Neymar “cai no colo” de Tite para Copa América http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/10/o-melhor-brasil-possivel-cai-no-colo-de-tite-para-copa-america/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/10/o-melhor-brasil-possivel-cai-no-colo-de-tite-para-copa-america/#respond Mon, 10 Jun 2019 09:42:42 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6678

Foto: Pedro Tesch/AGIF

Alisson; Daniel Alves, Marquinhos, Thiago Silva e Filipe Luís; Casemiro; Richarlison, Arthur, Philippe Coutinho e David Neres; Roberto Firmino.

Deve ser a formação inicial da seleção brasileira na estreia da Copa América contra a Bolívia na sexta-feira. É também a melhor possível dentro do grupo que Tite convocou, sem juízo de valor sobre a lista de escolhidos pelo treinador.

Porque combina melhor as características dos jogadores em todas as etapas do jogo. Na saída de bola qualificando o passe com Daniel Alves e Filipe Luís, laterais construtores e mais veteranos, uma dupla de zaga entrosada e ainda Arthur se apresentando como opção, passando curto e fazendo a bola circular com rapidez.

Na etapa da criação há o movimento de Roberto Firmino por dentro recuando às costas dos volantes procurando as combinações com Coutinho, revivendo a dupla no Liverpool, e abrindo espaços para as infiltrações em diagonal dos pontas rápidos e intensos: Richarlison partindo da direita e David Neres, o substituto de Neymar, do lado oposto.

O jovem ponteiro está habituado a atuar no Ajax com Tadic, um “falso nove” com movimentos parecidos com os de Firmino. Ainda supre outra necessidade da equipe: canhoto, dribla e acelera buscando também a linha de fundo. Algo que faltava com Neymar cortando para dentro e sem um lateral rápido e intenso para fazer a ultrapassagem. O jogo fica mais coletivo e menos centralizado no talento, mas também no individualismo, do camisa dez cortado por lesão no tornozelo direito.

Os 7 a 0 sobre Honduras que teve um jogador expulso ainda no primeiro tempo não são parâmetro para uma avaliação real sobre as possibilidades do Brasil na Copa América. O Beira-Rio vazio para os padrões da seleção brasileira viu um treino de intensidade média, mas que serviu para alguns exercícios interessantes, como a pressão no campo de ataque que gerou alguns desarmes. O perde-pressiona na transição defensiva parece ajustado.

A recomposição no 4-1-4-1, com Casemiro entre as linhas de quatro protegendo a retaguarda, ainda precisa ser testada de fato, principalmente a sempre complicada participação de Coutinho sem bola. A estreia contra a Bolívia no Morumbi não deve oferecer maiores resistências. Mas a vitória será importante para aumentar a confiança, tirar as questões de Neymar definitivamente da pauta e reforçar o foco na competição. Importante para quem precisa do título ou de uma boa campanha para ter paz até a Copa do Mundo de 2022.

Tite tinha poucas certezas quando divulgou os 23 convocados no dia 17 de maio. Agora, por força das circunstâncias, um time forte praticamente “cai no colo” do técnico junto com boas opções como Allan, Gabriel Jesus e Everton. Com mais sorte que juízo, a seleção segue como a grande favorita à conquista da Copa América que não vem desde 2007.

O 4-1-4-1 de Tite com a formação que deve estar em campo na estreia da Copa América: laterais construtores, Casemiro na proteção da defesa, Arthur fazendo a bola circular, Coutinho procurando Firmino por dentro e pontas abrindo o campo, mas também infiltrando em diagonal (Tactical Pad).

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Valencia campeão no centenário. Barcelona em clima de fim de festa http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/25/valencia-campeao-no-centenario-barcelona-em-clima-de-fim-de-festa/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/25/valencia-campeao-no-centenario-barcelona-em-clima-de-fim-de-festa/#respond Sat, 25 May 2019 21:19:13 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6591 O Barcelona tinha a bola no primeiro tempo da final da Copa do Rei no Benito Villamarín. Rodando, tocando, mas sem infiltração. Porque com as ausências de Dembelé e Luís Suárez, lesionados, o ataque perdeu presença de área e profundidade com Messi como “falso nove” e Sergi Roberto e Philippe Coutinho nas pontas.

O Valencia fazia o simples para a ocasião: compactava duas linhas de quatro, recuava Rodrigo Moreno no cerco a Busquets e estreitava a marcação. Jogadores muito concentrados sem a bola e atento às oportunidades para acelerar os contragolpes pelos flancos: à esquerda, Gayá recebeu passe longo de Gabriel Paulista e serviu Gameiro em um golaço. Depois Soler às costas de Jordi Alba servindo Rodrigo. 2 a 0 com menos de 30% de posse de bola.

Messi lutava sozinho porque Arthur e Rakitic não contribuíam por dentro e o time não encontrava o melhor espaço para acionar o gênio argentino. Melhorou com Vidal na vaga de Arthur, que vai precisar de um trabalho de resgate técnico e de confiança na seleção brasileira com Tite. E Malcom na vaga de Semedo, com Sergi Roberto recuando para a lateral.

Com o passar do tempo, a solução do “modo emergência” do Barça desde o lendário confronto com a Internazionale em 2010: Piqué abandona a zaga e vira centroavante. Apenas reforçando a carência tática e também de melhores opções que Kevin-Prince Boateng no ataque. Acabou diminuindo a desvantagem em finalização de Piqué defendida pelo goleiro e Messi conferindo no rebote. Gols do camisa dez em seis finais do torneio, mais um recorde na carreira. Mas não deu o penta ao Barça.

O clima é de fim de festa. O elenco deve ser reformulado e, de fato, é preciso. Mas Valverde precisa repensar algumas ideias e não depender tanto de Messi. Nem sacrificar Alba correndo de uma linha de fundo à outra durante toda a temporada. O time precisa de mais intensidade e vigor físico. Também força mental para jogos decisivos.

Para o Valencia, uma festa espetacular. Conquista improvável no ano do centenário, primeiro título da carreira e primeira vitória sobre o Barça do treinador Marcelino Toral. Todo simbolismo com o ídolo Parejo levantando a taça. Apesar dos problemas do time catalão, o feito é histórico.

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Tite deve cair na cilada de preferir Neymar e deixar de lado a coerência http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/16/tite-deve-cair-na-cilada-de-preferir-neymar-e-deixar-de-lado-a-coerencia/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/16/tite-deve-cair-na-cilada-de-preferir-neymar-e-deixar-de-lado-a-coerencia/#respond Thu, 16 May 2019 18:21:47 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6536

Foto: Divulgação/CBF

No final de março de 2018, logo depois da seleção brasileira vencer a Alemanha por 1 a 0 em Berlim, com gol de Gabriel Jesus, Tite chegou ao auge de sua popularidade. Considerado exemplo de ética, responsabilidade e coerência, virou garoto-propaganda às vésperas da Copa do Mundo na Rússia vendendo produtos, mas também uma espécie de ideal de retidão de caráter através de frases simples, mas de efeito imediato em um país sem grandes referências.

O treinador da seleção brasileira virou exemplo de coerência, ainda que sempre pese sobre ele a decisão de trabalhar para a CBF mesmo depois de um posicionamento público contra a entidade e seu mandatário à época. E ainda aceitar um beijo de Marco Polo Del Nero na primeira coletiva em 2016.

Mas tudo no futebol brasileiro é esquecido com resultados. E volta à tona com força triplicada contra quando as vitórias desaparecem. Ou são negadas mesmo em um jogo igual, como na eliminação para a Bélgica nas quartas de final do Mundial. Tite virou alvo, mesmo dentro de um consenso que o mantinha no cargo e com o status de melhor treinador brasileiro.

É óbvio que a relação com Neymar – administrada na ponta dos dedos com o máximo de cuidado para fazer concessões públicas e cobranças internas, como a mudança de comportamento nos últimos jogos da Copa para evitar o segundo cartão amarelo – também seria alvo de cobranças e questionamentos. Justos pelos exageros e encenações durante os jogos. Dentro de uma estratégia pouco inteligente de tentar cavar faltas e cartões para os adversários, mas “pendurando” o próprio craque perante a arbitragem e o mundo.

Só que Tite precisa de Neymar. Agora ainda mais, com Philippe Coutinho em baixa e uma seleção que não consegue combinar características dos jogadores. Arthur, o meio-campista que poderia dar a liga à ideia de Tite de protagonizar os jogos com posse de bola, também oscila no Barcelona. Não há laterais afirmados para abrir o campo e chegar ao fundo em velocidade como requer a proposta de jogo. É bem provável que Daniel Alves volte a ser solução pela direita aos 36 anos.

Neymar agrediu um torcedor no caminho para receber na tribuna do Stade de France a medalha de vice-campeão da Copa da França. Um ato intempestivo e, de novo, pouco inteligente de quem parece ser mal assessorado e não entender a sua posição de atleta-celebridade, nem o déficit de imagem ainda da Copa do Mundo. “Não tenho sangue de barata”, afirmou. Nem bom senso para compreender que precisa desconstruir a pecha de mimado e infantil.

Douglas Costa ganhou uma “geladeira” de Tite por ter cuspido em um adversário na Itália. Agora é mais grave porque trata-se do capitão da seleção. Braçadeira que Neymar ganhou não por mérito, mas para “assumir responsabilidades”, segundo Tite. Pelo visto, o atleta nem sabe do que se trata.

E agora, o que Tite vai fazer? Não convocar o craque parece fora de questão, até porque ele precisa do título ou de uma ótima campanha na Copa América em casa para se tranquilizar no cargo até 2022. A solução mais óbvia e que deve se confirmar amanhã na convocação será tirar a faixa de capitão com explicações repletas de eufemismos para suavizar o impacto e não melindrar a “prima donna” do futebol brasileiro. Ou não.

Tite vai escorregar na coerência novamente. Uma cilada criada por ele mesmo. Porque é humano, imperfeito. Com idiossincrasias, indecisões. Não há como controlar tudo. Muito menos Neymar. Mas, sem querer ou não, ele vendeu essa ilusão que agora cobra alto. E se tudo der errado não é a estrela da seleção quem vai pagar com o emprego.

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Ajustar seleção com Arthur, Coutinho e Neymar é o desafio de Tite para 2019 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/11/21/ajustar-selecao-com-arthur-coutinho-e-neymar-e-o-desafio-de-tite-para-2019/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/11/21/ajustar-selecao-com-arthur-coutinho-e-neymar-e-o-desafio-de-tite-para-2019/#respond Wed, 21 Nov 2018 08:42:40 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5547

Há um mito no Brasil de que basta escalar os melhores de cada posição que eles se entendem em campo. Vem dos tempos das “Feras do Saldanha” ou, pouco tempo depois, da Copa do Mundo de 1970. Com outra lenda, a dos “cinco camisas dez” – leia mais AQUI.

Mesmo há quase meio século não fazia muito sentido, já que no México o lateral Marco Antonio foi reserva de Everaldo, este menos qualificado tecnicamente, mas que defendia melhor e dava liberdade para Carlos Alberto Torres apoiar do lado oposto e os canhotos Gérson, Rivelino e Tostão podiam trabalhar ofensivamente pela esquerda.

Equilibrar setores e combinar características são justamente os grandes desafios de Tite na remontagem da seleção brasileira no novo ciclo até 2022. Mas que tem uma etapa decisiva no ano que vem com a disputa da Copa América em casa. Como sempre, tudo fica condicionado ao resultado final, sem avaliar evolução e potencial de crescimento.

Mas parece claro que o desempenho pós-Copa não foi dos mais empolgantes. Talvez em resultados: seis vitórias, 12 gols marcados, nenhum sofrido. 50% na bola parada, nove com participação direta de Neymar – seis assistências e três gols.

Em campo, porém, fica nítido que o encaixe das peças não é tão simples. Começando pelo novo titular do meio-campo: Arthur vai ganhando cancha internacional atuando pelo Barcelona e também minutos com a camisa verde e amarela para se soltar. É o jogador que dá o ritmo e o tempo do jogo, muitas vezes com passes para o lado e para trás. Faz sua equipe controlar pela posse, desde o período vitorioso no Grêmio.

Mas para completar o trio do setor com Casemiro é necessário um companheiro de estilo mais direto, com infiltração. Não é Renato Augusto, nem Paulinho. Fred tem características parecidas com as deArthur. Talvez Allan, novidade da última lista e que atuou assim contra Camarões. Perdeu duas boas chances, mas vai se soltando.

E Philippe Coutinho? Bem, este é mais um problema de ter atletas talentosos, porém com características parecidas e ocupando o mesmo espaço. No Barcelona se acertou justamente abrindo vaga para Arthur no meio e formando o ataque com Messi e Suárez. Exatamente na faixa deixada por Neymar que Dembelé não conseguiu ocupar.

Na seleção, Coutinho atuando por dentro oscila muito. É capaz de ajudar a equipe com um belo passe para gol, mas também deixar espaços às costas e sobrecarregar Casemiro, como aconteceu na Copa. Não parece à vontade, também por causa de Neymar.

O camisa dez e estrela máxima da seleção deixou de ser o atacante no Barça que recebia os passes e inversões de Messi e infiltrava em diagonal para se juntar a Suárez. No PSG essa função é de Mbappé. Neymar agora faz a do gênio argentino no ex-clube: ponta articulador. Recebe, conduz, dribla e aciona um companheiro em velocidade.

Com Tomas Tuchel na maioria das partidas da atual temporada se transforma mesmo em um camisa dez, com liberdade de ação e chegando de trás. Tite prefere Neymar partindo da esquerda, mas os movimentos são praticamente os mesmos. Agora ele procura mais a bola, não ataca tanto os espaços às costas da última linha de defesa do adversário. Carrega e passa ou corta para dentro e finaliza. Assim como Coutinho.

Soluções? Talvez mudar o desenho tático para o 4-2-3-1 e dar mais liberdade a um dos dois. Melhor Neymar, deixando Coutinho pela esquerda. Ou voltar à ideia do início do trabalho, deslocando Coutinho para o lado direito como ponta articulador, circulando e procurando as costas dos volantes do oponente. Só que agora seriam dois extremos cortando para dentro, afunilando a jogada. O mesmo se a opção for pelo canhoto Douglas Costa à direita.

Para compensar, só com profundidade dos laterais. A má notícia é que Danilo, Fabinho e Filipe Luís não têm como características a intensidade e a rapidez para fazer a ultrapassagem e cruzar do fundo. Nem Marcelo. Só Alex Sandro dos últimos convocados.

Então o Brasil roda a bola no ritmo de Arthur, toca, toca, toca…e dificilmente encontra o passe que clareia tudo, quebra as linhas de marcação e encontra o homem livre para servir ou concluir. É um time travado na maior parte do tempo. Lógico que há a questão mental, de ressaca da derrota para a Bélgica na Rússia, do desgaste da imagem da seleção, do treinador e do craque. Mas não é só isso que vem tornando os jogos enfadonhos, sonolentos.

A boa notícia é Richarlison. Atacante rápido, móvel e finalizador. Assim como Gabriel Jesus, procura os espaços para infiltrar, porém vivendo um melhor momento que o jogador do Manchester City. Firmino é mais um jogador de passe e que procura a bola para só depois acelerar. Como Neymar, Coutinho, Douglas Costa, Willian…

Defensivamente os problemas parecem bem menores. Tite organiza e compacta bem os setores, a resposta com pressão depois da perda da bola é positiva e opções para goleiro e zaga não faltam. Para ficar ainda mais tranquilo só falta um reserva confiável para Casemiro. Por mais que Fernandinho renda no City de Guardiola o histórico na seleção joga contra.

Há qualidade, como quase sempre nas gerações brasileiras. O desafio de Tite é seguir com seu trabalho de estudo e observação, vendo partidas e treinos dos atletas nos clubes e fazendo experiências nos jogos. Esquentar o cérebro até montar o quebra-cabeças. Cada peça em seu lugar e todas funcionando para o time. Em função de Arthur, Coutinho e Neymar, os diferentes.

Sem fórmula mágica,  mas precisando de um “click” para fazer tudo fluir melhor a partir do ano que vem.

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Sai Paulinho, entra Arthur: seleção deve seguir mudança do Barcelona http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/23/sai-paulinho-entra-arthur-selecao-deve-seguir-mudanca-do-barcelona/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/23/sai-paulinho-entra-arthur-selecao-deve-seguir-mudanca-do-barcelona/#respond Mon, 23 Jul 2018 05:44:26 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4973

Foto: Divulgação/Barcelona

Arthur já recebe elogios pelos primeiros treinamentos no Barcelona. A impressão geral é de que o meio-campista brasileiro de 21 anos contratado por cerca de 31 milhões de euros parece ter sido formado em La Masia e já surgem até comparações com Xavi e Iniesta. Apesar de algum exagero e da precocidade no paralelo com os dois maiores jogadores da história do futebol espanhol, não é nada absurdo para quem acompanhava sua evolução no Grêmio. Saiu como o melhor passador do país, disparado.

A tendência é que Arthur alterne com Busquets e Rakitic nas duas funções por dentro na segunda linha de quatro do 4-4-2 que foi a marca da equipe campeã espanhola e da Copa do Rei na última temporada. Pela direita, Willian pode ser a novidade, já que Dembelé não se afirmou, também por problemas físicos, e a perda da titularidade na França que ganhou corpo para ser campeã mundial fez com que diminuísse ainda mais seu prestígio no clube catalão. O atacante pode sair para a Internazionale.

O brasileiro, ainda definindo sua vida no Chelsea agora comandado por Maurizio Sarri, se juntaria a Messi, Suárez e Philippe Coutinho, este herdando definitivamente a vaga de Iniesta pela esquerda. Um quarteto de intensidade e rapidez que dentro da filosofia do Barça pede mais controle, precisão nos passes e variações no ritmo dos meio-campistas pelo centro.

Esta é a correção de rota do Barça que se completa com a volta de Paulinho para o Guangzhou Evergrande. Contratado a pedido de Messi e com o aval do novo treinador, o volante era uma opção de infiltração, imposição física e jogo aéreo num time que pecava pela previsibilidade e por insistir numa posse muitas vezes inócua.

Ao longo da temporada, porém, o brasileiro se mostrou com muitas dificuldades para participar da construção das jogadas, contrastando demais com o estilo de seus companheiros. A provável conclusão do treinador Ernesto Valverde: com Messi recuando para articular é melhor que a infiltração parta dos ponteiros em diagonal ou de Suárez. O meio-campo é para pensar o jogo e circular a bola. Por isso a “troca” de Paulinho por Arthur é tão marcante.

Lógica que deve ser também a da seleção brasileira, com ou sem Tite. Já que Casemiro se mostrou tão fundamental na proteção da defesa, a presença de Arthur se torna ainda mais necessária. Para este que escreve cabia já no grupo de 23 que disputou o Mundial na Rússia, mais ainda com a lesão de Fred e sua injustificável permanência entre os convocados. Porque ficou clara a dificuldade na articulação das jogadas a partir da intermediária, obrigando Coutinho a recuar muito para auxiliar. Mesmo defensivamente a tendência é que o posicionamento se ajuste pelas características de volante do agora jogador do Barcelona.

O futuro da seleção no ciclo até a Copa de 2022 depende demais da adaptação de Arthur ao novo clube. Uma decepção como foi, por exemplo, a passagem de Lucas Silva pelo Real Madrid manterá o nosso futebol estacionado, com seu maior “gargalo”: a ausência de um jogador de meio-campo que atue de área a área. Defendendo, organizando, acionando os atacantes e até aparecendo para finalizar.

O que Paulinho nunca foi e Renato Augusto tentou ser, mas no mais alto nível ficou devendo, até pelo abismo entre a principais ligas do mundo e a chinesa. O nome é Arthur e, ao menos por enquanto, não há um “plano B”. Oremos!

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Tite merece as críticas justas e um ciclo completo até 2022 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/07/tite-merece-as-criticas-justas-e-um-ciclo-completo-ate-2022/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/07/tite-merece-as-criticas-justas-e-um-ciclo-completo-ate-2022/#respond Sat, 07 Jul 2018 10:42:41 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4862

Foto: Luis Acosta/AFP

Todo mundo já encontrou pela vida uma pessoa da qual se podia discordar e até se aborrecer com suas palavras e atos. Mas o respeito era obrigatório pela certeza de que, acertando ou errando, ela sabia o que estava fazendo.

Assim é Tite na seleção brasileira. Talvez o treinador mais preparado e bem informado a prestar serviços à camisa verde e amarela cinco vezes campeã do mundo. Também o mais atuante, criando uma rotina de observação e planejamento com sua comissão técnica nunca antes vista na CBF. Necessária pelo equilíbrio que o futebol no universo das seleções vem apresentando nesta Copa.

De 1970 para cá, o comando técnico sempre pareceu algo mais ligado à intuição, que também é importante. De Zagallo a Felipão e Parreira. Com ideias mais assentadas no futebol brasileiro, sem abrir muito os horizontes. Mas que atrelada ao conhecimento ficam bem mais sólidas. Inclusive para convencer os jogadores. As serpentes que precisam ser encantadas.

Como sempre acontece, Tite chamou atenção mais pela forma do que pelo conteúdo. A maneira quase messiânica de se comportar e comunicar foi vista por muitos como uma liderança que poderia até se arriscar na política. Foi bem aproveitada pela publicidade, inclusive. Para outros não passou de um discurso enfadonho, requentando estratégias de autoajuda, coaching e misturando com termos complexos.

De fato, em alguns momentos a linguagem poderia ter sido mais simples. Mas os jogadores, que, a rigor, são os que precisavam entender o que era dito por Tite sempre foram só elogios.

Escolhas são muito particulares. Sempre. Envolvem questões que vão muito além do desempenho puro e simples. Numa Copa do Mundo, fazer mudanças constantes pode gerar instabilidade na gestão do grupo. Desconfiança. A linha é muito tênue. Pegue qualquer documentário sobre um time campeão e sempre haverá aquele jogador contestado, mas que ganhou um voto de confiança e reescreveu sua história e a da equipe. Quando perde vira teimosia.

É óbvio que cada um pensa de um jeito. Este que escreve, para começar, não teria aceitado o convite e, consequentemente, a presença na coletiva de apresentação e muito menos o beijo de Marco Polo Del Nero em 2016. Sem escorregar na coerência.

Uma vez lá, teria convocado Arthur, do Grêmio. Potencialmente nosso melhor jogador em um setor crucial e carente no futebol brasileiro. Não teria mantido Fred no grupo com uma contusão grave e sem poder contribuir em campo. Talvez retornasse ao time da Eliminatória, com Renato Augusto no meio-campo dando maior suporte a Marcelo, Coutinho com liberdade de movimentação e o espaço para Gabriel Jesus se movimentar e Paulinho infiltrar. Uma voz mais firme com Neymar seria bem-vinda no processo.

Faltou um pouco de sorte também. Quando Tite sinalizou que faria a mudança que poderia ajustar a seleção, como Mazinho na vaga de Raí em 1994 e Kléberson no lugar de Juninho Paulista em 2002, Douglas Costa se lesionou e fez o técnico recuar e manter Willian.

Trocar Gabriel Jesus por Firmino pura e simplesmente nunca se mostrou uma opção tão segura. No segundo tempo da derrota para a Bélgica, o atacante do Liverpool também teve erros técnicos e chegou atrasado na hora de finalizar. A jogada desequilibrante foi de Jesus, pouco antes de ser substituído: caneta em Vertonghen e uma disputa com Kompany que a arbitragem poderia ter interpretado como pênalti.

Não era para ser. Mas pode ser melhor no Qatar. Desta vez com um ciclo completo de quatro anos. Mais habituado à tarefa de selecionar e com mais vivência, inclusive de Copa do Mundo. Mas principalmente porque Tite é disparado o melhor treinador brasileiro. Abaixo dele há uma grande névoa de profissionais ainda buscando afirmação. Sem a combinação de conteúdo e experiência, inclusive como jogador. Domina a prancheta e o vestiário. É atualizado e acompanha obsessivamente a bola jogada no país e no mundo. Não há “plano B”.

A crítica pela crítica é bem fácil. Em qualquer tempo, porque a chance de ser derrotado é sempre maior do que vencer. Então basta procurar defeitos até onde não existem, insistir para marcar território e no momento do revés capitalizar vendendo a imagem do isento em meio ao “oba oba”. No Brasil do pensamento binário, o que não for pancada é “passar pano”.

Difícil é ser justo no tom para discordar, mas reconhecendo o valor quando desmerecer é mais simples por conta de um resultado. A CBF tem a oportunidade de fazer a coisa certa e dar sequência ao trabalho. Com os devidos ajustes e a “casca” e o aprendizado de uma derrota doída. Ela deve isso a Tite, inclusive. Afinal, roubou dois anos de trabalho com a aventura de resgatar Dunga.

Tite é humano e carrega suas falhas e idiossincrasias. Pode e deve ser questionado. Mas lança um desafio que só acrescenta: para discordar é preciso conhecer. O simplismo de “falta um camisa dez”, “centroavante só é bom quando faz gol” e outros clichês não cabe mais. Que sejamos todos melhores no próximo ciclo até 2022.

 

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Vitória em jogaço traz a resposta para o Palmeiras: faltava confiança http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/06/07/vitoria-em-jogaco-traz-a-resposta-para-o-palmeiras-faltava-confianca/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/06/07/vitoria-em-jogaco-traz-a-resposta-para-o-palmeiras-faltava-confianca/#respond Thu, 07 Jun 2018 11:44:28 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4677 Foi o melhor jogo do Brasileirão 2018 até aqui. Mesmo com a queda de qualidade na segunda etapa com a saída de Maicon. O Grêmio, que vem sofrendo sem Ramiro, perdeu ainda mais força no meio-campo. E Arthur também deixou o campo, restando ao time de Renato Gaúcho partir para o “abafa” nos minutos finais.

Nada que tire o mérito da vitória do Palmeiras por 2 a 0, no reencontro de Roger Machado com a Arena do tricolor. Com sua equipe em nenhum momento se limitando a defender. Apostando nos movimentos de Hyoran e Dudu cortando da ponta para dentro e Willian se movimentando e finalizando muito. Além dos dois gols, duas finalizações nas traves de Marcelo Grohe no primeiro tempo. Agora tem seis e é artilheiro da competição junto com Roger Guedes.

O grande destaque da segunda vitória seguida do alviverde, depois da virada por 3 a 1 sobre o São Paulo. Trazendo a resposta para a dúvida que persistia. Time mal treinado ou falta de confiança? A pressão sobre Maicon e Arthur prejudicando a fluência gremista e a velocidade nas ações ofensivas, desde os passes no meio com Felipe Melo e Bruno Henrique, mostraram claramente a estratégia para o duelo. Ainda que 29 faltas, nove sobre Luan, tenha sido um exagero. O desempenho coletivo, porém, foi consistente.

Foram oito finalizações, mas cinco no alvo. Posse dividida e acertou apenas vinte passes a menos que o adversário. Desarmou, interceptou e driblou mais. Jogando de igual para igual contra uma equipe que mesmo desfalcada seguia intimidando em seus domínios.

Resgatando a força mental para se impor e encerrar uma sequência de 15 partidas sem derrotas em casa do campeão da Libertadores. Também se recolocar matematicamente na condição natural de um dos favoritos ao título. E, o mais importante, ganhar confiança e créditos para o momento de pressão absurda que vem a cada derrota. Algo desproporcional, sem propósito e que pouco ajuda na evolução do desempenho. Ainda mais no Brasileirão do perde-ganha. Que sirva de aprendizado para a sequência da temporada.

(Estatísticas: Footstats)

[Em tempo: SIM, o Palmeiras também tinha desfalques – Antonio Carlos, Edu Dracena, Diogo Barbosa, Keno, Borja… É importante deixar claro, ainda que o texto seja só elogios à atuação palmeirense e a menção às ausências gremistas tenha um contexto dentro da frase. Afinal, no Brasil do pensamento binário para muitos torcedores o que não é elogio só pode ser perseguição ou coisa de “anti”.]

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