atleticomineiro – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 No primeiro título nacional do Corinthians, Neto foi craque e “falso nove” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/12/no-primeiro-titulo-nacional-do-corinthians-neto-foi-craque-e-falso-nove/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/12/no-primeiro-titulo-nacional-do-corinthians-neto-foi-craque-e-falso-nove/#respond Tue, 12 May 2020 12:50:22 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8469

Foto: Acervo / Corinthians

Em 1990, o Corinthians já tinha 20 dos seus 30 títulos que o tornam o líder absoluto de troféus no Paulistão. Mas ainda faltava uma conquista nacional que não foi alcançado em 1976, perdendo a decisão para o Internacional bicampeão. Nem pelo time de Sócrates, Zenon e Casagrande no início dos anos 1980 – apenas duas semifinais, em 1982 caindo para o Grêmio e 1984, eliminado pelo Fluminense.

Coube a uma equipe desacreditada, que começou a campanha com derrotas para Grêmio (3 a 0) e Cruzeiro (1 a 0), foi irregular no desempenho durante praticamente toda a trajetória, mas que ganhou confiança e consistência na reta final até as duas vitórias por 1 a 0 no Morumbi sobre o rival São Paulo de Telê Santana na decisão.

O Corinthians de Nelsinho Baptista, treinador que vinha de um vice-campeonato paulista com o Novorizontino e assumiu o time depois da demissão de Zé Maria, o técnico das duas primeiras derrotas.

Uma equipe que sequer chegara à decisão dos dois últimos estaduais e, na edição de 1989 do Brasileiro decepcionou após um bom primeiro turno, perdendo a vaga na final para o São Paulo. Na recém fundada Copa do Brasil, eliminação nas quartas-de-final de 1989 para o Flamengo. Como na época só entravam o campeão e o vice do estadual, acabou ficando de fora da edição de 1990.

Campanha de 12 vitórias, oito empates e cinco derrotas. Apenas 23 gols marcados, média inferior a um por partida. Vinte sofridos. Fechou a primeira fase classificatória com um revés até vexatório para o Internacional por 3 a 0 no Pacaembu. Garantindo a oitava e última vaga por conta da derrota do Goiás para a Portuguesa por 2 a 0.

Nas quartas contra o Atlético Mineiro e na semifinal diante do Bahia, vitórias por 2 a 1 no Pacaembu e empates sem gols fora, sempre decidindo como visitante. Vivendo da força da torcida, das defesas do goleiro Ronaldo e do sacrifício coletivo da equipe. Mas fundamentalmente de José Ferreira Neto.

O camisa dez que chegou em 1989, vindo do Palmeiras em uma saída traumática para o jogador. Depois de se destacar em 1988 pelo Guarani vice-campeão paulista, com direito a golaço de bicicleta na ida da final contra o próprio Corinthians. Sempre enfrentando problemas físicos e a luta para não ganhar peso.

Mas muito talento em chutes, lançamentos e, especialmente, na bola parada. O problema, na época, era posicioná-lo em campo. Neto não tinha gás para fazer a ida e volta de meia no típico 4-2-2-2 daquele período. Também não tinha velocidade para ser um segundo atacante. E não gostava de jogar de costas para a defesa adversária como centroavante. Queria liberdade para circular.

A solução de Nelsinho durante a maior parte da campanha foi um 4-3-3 que sacrificava o centroavante – Paulo Sérgio, Dinei ou Tupãzinho – voltando na marcação e deixando Neto mais adiantado quando o time perdia a bola. Na retomada, o camisa nove retomava seu posicionamento e o dez ficava solto em campo para criar e finalizar. Em poucas partidas, um 4-4-2 com Tupãzinho no meio e Dinei no ataque.

Foram nove gols, cinco em cobranças de falta, e duas assistências. Participação em quase metade dos gols do Corinthians na campanha. Mas nos últimos jogos o fôlego e a força nas pernas para a bola parada pareciam no fim. A ponto de ser substituído na Fonte Nova contra o Bahia. O esforço tinha sido enorme nas duas vitórias em casa, com três gols e muita entrega.

Na final contra o São Paulo, a entrada de Wilson Mano no meio-campo ao lado de Márcio Bittencourt para proteger a defesa. Tupãzinho com a camisa nove e Fabinho e Mauro pelas pontas, mas também voltando para marcar a equipe de Telê Santana, que se destacava justamente pelo volume de jogo. Era o rascunho do time que venceria tudo nos anos seguintes.

E Neto? Totalmente liberado. Sem bola chegava a caminhar em campo, protegido por seus companheiros. Bola roubada, o mais talentoso procurava os flancos, zonas menos congestionadas, para arriscar lançamentos ou até chutes de longa distância.

Articulava e era ultrapassado pelo trio ofensivo, que preenchia a área adversária. Assim saiu a bela tabela entre Fabinho e Tupãzinho, que marcou o gol que selou a conquista. Depois da vitória também por 1 a 0 na ida, gol de Wilson Mano completando o cruzamento de Neto em cobrança de falta pela esquerda.

O termo “falso nove” obviamente não foi citado por Nelsinho, nem Neto em 1990. Só foi popularizado em 2011, com Messi no Barcelona. Mas a função era a mesma: ser o jogador mais adiantado da equipe sem a bola e ficar livre para se movimentar por todo campo e chegar à área adversária para concluir quando o time atacava.

Assim Neto viveu o grande momento de sua carreira errática e que o hoje apresentador e comentarista reconhece que poderia ter sido bem mais brilhante e vitoriosa. Ele mesmo e muitos torcedores e jornalistas cobram até hoje de Sebastião Lazaroni a presença do meia na Copa do Mundo daquele ano, mas o melhor futebol só apareceu no segundo semestre, depois do Mundial. No Brasileiro.

Destaque absoluto daquela edição e escreveu seu nome em uma das páginas mais importantes da história do Corinthians. O primeiro dos sete títulos de um gigante do futebol nacional. Não é pouco e merece ser lembrado e respeitado.

O Corinthians das vitórias sobre o São Paulo por 1 a 0 na decisão: um 4-3-3 que dava liberdade total a Neto, que ficava mais adiantado na fase defensiva e se movimentava procurando os flancos e sendo ultrapassado por Fabinho, Tupãzinho e Mauro quando o time atacava (Tactical Pad).

 

 

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Com Sampaoli, Atlético pode ter o melhor “Galo Doido” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/03/com-sampaoli-atletico-pode-ter-o-melhor-galo-doido/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/03/com-sampaoli-atletico-pode-ter-o-melhor-galo-doido/#respond Tue, 03 Mar 2020 12:26:23 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8083

Foto: Agência Estado

Jorge Sampaoli não aguentou muito tempo longe do futebol. É mesmo difícil ficar sem trabalhar com o que se gosta. Mas não foi só a paixão pelo ofício que levou o treinador argentino ao Atlético.

Depois de inviabilizar convites do próprio time mineiro e do Palmeiras com contrapropostas muito acima e rechaçar outras sondagens, agora o projeto em Belo Horizonte ficou mais interessante para ele. Paradoxalmente quando virou um problema para o clube.

Com eliminações na Sul-Americana e na Copa do Brasil, as possibilidades de receita diminuíram. Mas o que restou pode terminar com saldo positivo: o Campeonato Mineiro com boa possibilidade de título diante da profunda crise do rival Cruzeiro e, a grande prioridade, o Brasileiro. Com elenco reforçado, exigência do novo técnico, e tempo para treinar.

Sampaoli é discípulo de Marcelo Bielsa. Assim como Cuca, o pai do “Galo Doido” campeão sul-americano e que depois foi mantido pelo não menos “louco” Levir Culpi.  Todos defendendo um futebol em intensidade máxima com entrega absoluta. Mas o modelo de jogo do argentino é um pouco mais sofisticado.

Há encaixe e perseguições na transição defensiva, até para aumentar a intensidade na pressão sobre o adversário com a bola, mas sem desorganizar tanto o time. Os setores são mais guardados, com mais trocas na mesma zona do campo para não espalhar os jogadores em função da movimentação do rival.

A transição ofensiva e a construção desde a defesa não apelam tanto para as ligações diretas, como nos tempos de Cuca e Jô na referência do ataque. O alvo normalmente são os ponteiros, em inversões ou passes longos dos defensores. O meio-campo, porém, participa mais do jogo, não só vivendo da segunda bola (rebote) para organizar as ações de ataque.

O time de Cuca definia as jogadas mais rapidamente. Sampaoli aprecia a posse e uma maior elaboração. Mas os ritmos são parecidos. E no Independência o sufoco para os oponentes voltará a ser grande.

Sampaoli pode potencializar jogadores como Guga, Guilherme Arana, Jair, Allan e Hyoran. E dar mais uma sobrevida ao inesgotável Ricardo Oliveira, velho sonho de consumo no centro do ataque. Se houver encaixe com as contratações solicitadas pode dar em time competitivo.

Ser campeão brasileiro hoje não é uma meta palpável. Há elencos de nível superior. Mas a ambição do treinador de duelar com o Flamengo, hoje dominante, é saudável. Até porque o sarrafo do futebol nacional subiu também por causa de Sampaoli.

Em 2013, Cuca se impôs na Libertadores em um cenário menos complexo. O Fluminense, campeão brasileiro do ano anterior, não manteve o nível de atuações e caiu nas quartas. Já o Corinthians viveu a ressaca dos títulos de 2012 e ainda foi prejudicado pela arbitragem desastrosa de Carlos Amarilla contra o Boca Juniors nas oitavas de final. O Galo ainda contou com Victor iluminado nos pênaltis.

Mas o torneio continental por enquanto é projeto para Sampaoli. A meta para 2020 é formar um time forte. O Atlético, com problemas financeiros, garante a “liquidez” para bancar reforços e a cara comissão técnica com patrocinadores e contando com boas premiações. A ambição é válida, mas é preciso ter responsabilidade. Até porque o pior exemplo recente mora do lado azul da cidade.

“Loucura” só no campo. E o intrépido Sampaoli tem tudo para entregar de novo no Brasil um time elétrico e divertido. Um “Galo Doido” repaginado e ainda melhor.

 

 

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Demissões no Galo podem não ser justas, mas eram necessárias. Somos latinos http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/27/demissoes-no-galo-podem-nao-ser-justas-mas-eram-necessarias-somos-latinos/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/27/demissoes-no-galo-podem-nao-ser-justas-mas-eram-necessarias-somos-latinos/#respond Thu, 27 Feb 2020 16:33:38 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8043

Foto: Bruno Cantini / Atlético-MG

O Brasil não é um país europeu. Por mais que se admire o profissionalismo e a racionalidade para tomar decisões de muitos clubes do Velho Continente, é necessário entender de uma vez por todas a essência da nossa cultura.

Somos latinos, passionais. O entorno interfere demais, assim como questões periféricas, aleatórias. E há os estigmas. Marcas indeléveis que impossibilitam que um ciclo e seus processos sigam adiante. Não adianta no frescor do ar condicionado e com as nossas referências culturais pregar o que se deve fazer no “bafo” do cotidiano dos boleiros no clube. Na pressão diária.

A derrota nos pênaltis para o Afogados do goleiro Wallef, que usa boné até em jogo noturno, é o maior vexame da história do Atlético Mineiro. Por mais que se entenda que o futebol está mais equilibrado e, por isso, o time pernambucano mereça respeito, é inadmissível. Uma mancha irremovível. Piada pronta que deve durar anos, décadas.

E o cenário fica ainda mais vexatório com a eliminação precoce também na Sul-Americana, para o Unión Santa Fé. No final de fevereiro, o Galo só tem o estadual e o Brasileiro para disputar até o final do ano. Não dava para manter Rafael Dudamel no comando técnico.

Muitos dirão que Jorge Sampaoli viveu contexto parecido no ano passado e resistiu no Santos. Verdade. Talvez a grife do treinador argentino tenha pesado, mas o desempenho oscilante do time, quando na alta, justificava a insistência. O Atlético de Dudamel, porém, nunca deu a impressão de que havia uma margem de evolução aceitável.

Muitos problemas na transição defensiva e na criação que fizeram o técnico venezuelano experimentar uma linha de cinco na defesa e “esvaziar” o meio-campo deixando a construção para Allan e Jair, com Guga e Guilherme Arana nas alas. Faltou confiança para encaixar e fluir.

Eis o ponto. São dois meses de trabalho, apenas dez partidas. Quatro vitórias, três empates e três derrotas. 50% de aproveitamento. Os números poderiam sugerir continuidade, até pelo contrato de dois anos e a qualidade do elenco, que não é nenhuma maravilha. Mas ser eliminado pelo Afogados precisa ser o limite. Mesmo em jogo único, nada justifica. E marca.

O vestiário não seria o mesmo. A naturalização de uma vergonha desse tamanho faria mal ao clube. Sem contar a paciência cada vez menor da torcida atleticana com a gestão do futebol. Por isso caem Dudamel e sua comissão, mais o diretor Rui Costa e também o gerente Marques.

O problema dessas transições no futebol brasileiro é que não se sabe muito bem para onde ir. O que fazer depois das mudanças após um vexame? Contrata-se sem convicção e entendimento de processos. No caso, pela empolgação com treinadores estrangeiros, a “moda” da vez. Isso, sim, precisa mudar.

É o ônus das decisões emocionais, no calor de momento. Mas inevitáveis em algumas circunstâncias. O Galo só não podia seguir adiante como se nada tivesse acontecido. As demissões podem não ser justas, dependendo dos critérios da avaliação, mas eram necessárias.

Não adianta criar uma bolha de mundo ideal. A realidade é bem mais complexa e carrega impressões e emoções. Porque somos assim.

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Vasco chega a 120 mil sócios! Torcida agora tem que fidelizar e fiscalizar http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/01/vasco-chega-a-120-mil-socios-torcida-agora-tem-que-fidelizar-e-fiscalizar/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/01/vasco-chega-a-120-mil-socios-torcida-agora-tem-que-fidelizar-e-fiscalizar/#respond Sun, 01 Dec 2019 11:10:45 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7657 A promoção de Black Friday e uma enorme mobilização nas redes sociais fizeram o Vasco aumentar o número de sócios-torcedores de 33 mil para 120 mil em uma semana! Já ultrapassou o Atlético Mineiro e, com a extensão do período de desconto de 50% até o final do Brasileiro, deve encostar ou até superar os 140 mil do rival Flamengo, líder no país.

Um enorme feito! Com o plano “Caldeirão”, que caiu de R$24,98 para R$12,49, como o de maior adesão dos novos sócios, o Vasco espera ter um incremento de R$1,8 milhão na receita, chegando a cerca de 3,1 milhões no total por mês, e planeja estabilizar o pagamento dos salários de atletas e funcionários.

Ótima notícia para quem já trabalha com a torcida na modernização de São Januário e na construção do Centro de Treinamentos. Mais gente no estádio com a facilidade para conseguir ingressos significa maior receita em dias de jogos e também ajuda na capacidade de competir do time em seus domínios. Equipe forte e clube planejado trazem credibilidade e, consequentemente, novos patrocinadores, bons jogadores…

A primeira grande chave agora é a fidelização. Quantos vão permanecer daqui a seis meses, quando os planos voltarem aos preços originais? É muito comum nessas mobilizações pessoas que aderem no entusiasmo, para fazer número, e depois, sorrateiramente, param de pagar e deixam o clube na mão. Quem ama não abandona!

A outra é a fiscalização do que será feito com a nova receita. Exigir transparência da direção para não despertar nenhuma desconfiança e o torcedor poder conferir o resultado da sua ajuda. Sem imediatismo exigindo contratações milionárias e grandes títulos já em 2020, mas atento a cada passo da reconstrução. Quem ama cuida!

E daí que a mobilização tenha se dado logo depois das conquistas nacional e continental do Flamengo? A rivalidade sempre foi e sempre será combustível. Em 1998, o presidente Edmundo Santos Silva foi eleito no Fla com um discurso baseado na formação de um time forte para competir com o então dominante Vasco, campeão carioca e da Libertadores naquele ano e brasileiro em 1997.

O melhor cenário é aquele em que um puxa o outro para cima. Certamente os rubro-negros darão uma resposta para não permitir que o clube seja ultrapassado. Positivo, inclusive para melhorar o próprio plano de sócio-torcedor. Todos ganham com a concorrência em alto nível e a rivalidade sadia. Sem ódio, teorias de conspiração e recalques. E a violência tem que passar longe.

O Vasco deve seguir honrando sua história e trazendo seu povo para trabalhar junto. Assim foi há quase um século na construção de São Januário, agora para se modernizar e seguir gigante, não só no coração do cruzmaltino apaixonado.

 

 

 

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A gangorra de Palmeiras e São Paulo na sequência maluca de jogos http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/03/a-gangorra-de-palmeiras-e-sao-paulo-na-sequencia-maluca-de-jogos/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/03/a-gangorra-de-palmeiras-e-sao-paulo-na-sequencia-maluca-de-jogos/#respond Sun, 03 Nov 2019 11:51:44 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7516

Foto: Gazeta Esportiva

É quase um consenso entre treinadores, médicos e fisiologistas que o cenário de sonhos no futebol profissional em alto nível seria de um jogo por semana. Para combinar descanso, recuperação e treinamentos. Dentro da realidade em praticamente todo o mundo de jogos de liga e copas nacional e internacional, o melhor quadro é de uma semana “cheia” e outra com dois jogos.

Necessário ressaltar que o desgaste do jogador é preciso ser medido dentro de uma disputa em alto nível e em comparação com o adversário. Ou seja, o cansaço que é imposto pela intensidade do oponente. Não dá para comparar com o peladeiro que brinca todo dia. O atleta profissional aguenta jogar de domingo a domingo e muitas vezes faz isso nas férias, mas não com as exigências de uma competição.

Dentro deste contexto é possível notar a loucura que estamos vivendo neste returno de Brasileiro. Mais insano ainda é o calendário do Flamengo, que nas duas semanas livres em outubro decidiu a vida na Libertadores. O Grêmio, adversário na semifinal, também, mas poupando titulares nos dois jogos pelos pontos corridos que antecederam as partidas de mata-mata no torneio continental.

Jorge Jesus acabou fazendo uma espécie de “rodízio natural”, por conta de lesões, suspensões e convocações. Mas, mesmo assim, os titulares começam a dar claros sinais de cansaço e o treinador português já começa a mudar a prática: contra o Goiás, Rafinha e Gerson iniciaram no banco de reservas. E mesmo com o empate por 2 a 2 com o Goiás a sequência de bons resultados com desempenho satisfatório na maioria das partidas é surpreendente.

Porque todos sentem dificuldade. Não só pelo excesso de jogos, mas principalmente por conta da falta de treinamentos para corrigir erros e testar novas soluções. O aspecto mental, com exigência de concentração máxima, vai exaurindo também os atletas.

Por isso São Paulo e Palmeiras viveram uma espécie de gangorra na semana que passou. O atual campeão brasileiro e vice-líder desta edição não foi bem na vitória fora de casa sobre o Avaí por 2 a 1 no domingo passado, atropelou o São Paulo por 3 a 0 em sua casa e, de novo no Allianz Parque, sofreu para vencer um Ceará repleto de reservas por 1 a 0. Com Weverton pegando pênalti e salvando o time com outras duas defesas espetaculares. Sem contar o polêmico gol anulado do time visitante pelo VAR por impedimento bastante duvidoso de Bergson.

A obrigação de vencer para tirar uma diferença que agora é de cinco pontos, mas com um jogo a mais em relação ao líder Flamengo, já seria desgastante. A falta de tempo para treinar e se concentrar no desempenho da execução do modelo de jogo só pode aumentar a oscilação. É claro que o nível dos adversários e o contexto de cada partida ajudam também a criar a instabilidade, mas o caso do Palmeiras foi curioso porque a partida mais tranquila foi teoricamente a mais difícil.

O São Paulo esteve irreconhecível no clássico do meio de semana, depois de boa atuação nos 2 a 0 sobre o Atlético Mineiro no Morumbi. O pior dos times de Fernando Diniz apareceu no estádio do rival: posse de bola inócua e fragilidade defensiva. Para voltar a encaixar um bom jogo no fim de semana, com os 3 a 0 sobre a Chapecoense na Arena Condá. Destaque para a redenção de Antony com um golaço. No caso tricolor, o nível dos adversários pesou um pouco, ainda que a Chape viesse de uma grande vitória como visitante sobre o Galo. Ou seja, todos estão mesmo nessa gangorra.

Porque a exigência de compactação de setores, atenção no gesto técnico quando pressionado e outras demandas do futebol atual pedem o melhor dos atletas. E como trabalhar coletivamente sem exercitar com tempo para correção?

Para muitos é “mi-mi-mi”. Para quem trabalha, porém, é o mínimo para atender as cobranças por resultado e desempenho. Na impossibilidade de responder bem nos dois níveis, os três pontos são a prioridade. O Palmeiras não foi bem em duas partidas, mas somou nove pontos e melhorou o aproveitamento que era de 66% – na média, dois pontos a cada três disputados. Eis a única boa notícia.

Para o São Paulo, a recuperação rápida que mantém a caça ao Santos pela terceira colocação e a vantagem sobre Grêmio, Internacional e Corinthians na disputa pela quarta vaga direta na fase de grupos da Libertadores do ano que vem. Em rodada de Gre-Nal e do grande rival, em crise, indo ao Rio de Janeiro enfrentar o Flamengo.  Quem vai oscilar? Ou todos vão?

O campeonato pode ganhar em emoção, mas perde em qualidade. E ainda vem por aí a última data FIFA, desta vez desfalcando os times apenas dos estrangeiros convocados. Tudo por conta de um calendário inchado pelos estaduais e que agora deveria entregar o filé, mas só resta o bagaço de profissionais esgotados por uma sequência maluca de jogos.

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É o melhor Flamengo desde 1982. Só precisa de um descanso http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/11/e-o-melhor-flamengo-desde-1982-so-precisa-de-um-descanso/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/11/e-o-melhor-flamengo-desde-1982-so-precisa-de-um-descanso/#respond Fri, 11 Oct 2019 11:10:06 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7414

Foto: Celso Pupo / Fotoarena / Agência O Globo

1981 é o grande ano do futebol do Flamengo. Consenso pelos títulos da Libertadores e do Mundial na época em que a FIFA não se metia com isso. Mas foi no Brasileiro do ano seguinte, disputado no primeiro semestre, que o melhor e maior time da história do clube atingiu a maturidade do jogo coletivo.

A equipe revolucionária que fazia os laterais Leandro e Júnior, mais cinco meio-campistas – Andrade, Adílio, Tita, Lico e Zico – tocarem a bola e se movimentarem com o centroavante Nunes abrindo espaços ou aparecendo para decidir começou sua história nos históricos 6 a 0 sobre o Botafogo em novembro de 1981. Com o Fla já na final da Libertadores e prestes a decidir o Carioca. A rigor foram três grandes exibições coletivas naquele final de ano: além da goleada sobre o alvinegro, os 3 a 1 sobre o Fluminense e, claro, o espetáculo diante do Liverpool em Tóquio.

No Brasileiro do “vira-vira”, o time liderado por Zico emendou vitórias sobre todos os grandes concorrentes da época: desde o São Paulo campeão paulista e vice-brasileiro do ano anterior, no Maracanã e Morumbi, passando pelo Atlético Mineiro de Reinaldo, o Corinthians de Sócrates, o Guarani de Careca e Jorge Mendonça e, na final em três partidas, o Grêmio campeão brasileiro e que no ano seguinte venceria Libertadores e Mundial. Campanha irretocável com seis vitórias seguidas no início da competição e apenas duas derrotas em 23 partidas.

Com a conquista nacional, aquele Flamengo conseguia uma espécie de “unificação” dos títulos. Em maio de 1982 era o último campeão da cidade (Taça GB), do Estado, do país, do continente e do planeta. No Brasil apenas o Santos de Pelé alcançou tal feito, em 1962.

É claro que nos últimos 37 anos o Fla teve grandes equipes e viveu momentos de futebol em alto nível. Mas nada comparado ao que o time de Jorge Jesus alcançou nos últimos três meses. Ou desde agosto, depois de um começo com dificuldades naturais, incluindo a eliminação na Copa do Brasil para o Athletico Paranaense.

Uma equipe intensa, com volume e variações táticas. Gerando jogo com todos os jogadores, inclusive o goleiro Diego Alves. Capaz de empurrar os adversários para a defesa mesmo como visitante. O melhor exemplo nos primeiros 45 minutos contra o Grêmio em Porto Alegre, por uma semifinal de Libertadores que o clube não alcançava desde 1984.

Perde a bola e logo pressiona para retomá-la. Toca, mas quase sempre com passes para frente. Uma constante busca pelo gol, independentemente do placar. No ritmo de Gerson, o grande maestro da equipe como um meio-campista moderno que domina as duas intermediárias, muito bem assessorado pelo Willian Arão repaginado por Jesus. Mobilidade, mas organização para que o jogador com a bola tenha sempre, no mínimo, duas opções de passe. Uma por dentro, outra por fora.

Normalmente Rafinha passando no corredor deixado por Everton Ribeiro e o lateral esquerdo, Filipe Luís ou Renê, atacando por dentro com um companheiro mais aberto. Nos 3 a 1 sobre o Atlético Mineiro no Maracanã, o ponteiro foi Vitinho, o substituto do uruguaio De Arrascaeta. Outrora muito contestado, desta vez decisivo com duas assistências e um belo gol. Desarticulando o 5-4-1 atleticano que foi empurrado para trás, mas criou alguns problemas com muita compactação e algumas transições ofensivas bem coordenadas, inclusive no golaço de Nathan.

Desde o revés por 3 a o para o Bahia em Salvador na “ressaca” da classificação nas oitavas do torneio continental contra o Emelec, são dez vitórias e um empate na competição nacional. 25 gols marcados, seis sofridos. O suficiente para abrir oito pontos na tabela sobre Santos e Palmeiras. Pontuação que era a desvantagem para o Alviverde atual campeão em nove rodadas quando Jorge Jesus assumiu.

Consistência em resultados e desempenho que nenhum time rubro-negro entregou em quase quatro décadas nessa amostragem de partidas, incluindo as duas contra o Internacional pelas quartas e a primeira semifinal da Libertadores.

Nem o time campeão da Copa União em 1987, que era um grande conjunto de individualidades – principalmente se analisarmos o que cada um fez ao longo de suas carreiras: Jorginho, Leonardo, Zinho e Bebeto campeões mundiais em 1994; os ídolos eternos Leandro, Andrade e Zico; os multicampeões Aílton e Renato Gaúcho. Mais o goleiro Zé Carlos, convocado para o Mundial na Itália em 1990 e Edinho, zagueiro de três Copas do Mundo. Mas não chegou nem perto de tamanha imposição sobre os rivais.

O campeão carioca e brasileiro em 1991/92 comandado por Carlinhos “Violino” viveu grandes momentos, com uma garotada promissora, os passes de Júnior e os gols de Gaúcho. Longe, porém, da regularidade e da consistência do atual no jogo coletivo. Muito menos o único vencedor na era dos pontos corridos, em 2009, que vivia fundamentalmente do talento de Petkovic e Adriano Imperador em uma arrancada impressionante na reta final da competição.

Falta a este Flamengo marcar a história com grandes títulos. Eles nunca pareceram tão próximos, mas há um grande obstáculo, um inimigo interno: o desgaste. De um elenco que roda pouco pelas circunstâncias. Por perder Cuéllar, negociado, e Diego Ribas, lesionado. Agora sem Filipe Luís e Arrascaeta com problemas nos joelhos e Rodrigo Caio e Gabriel Barbosa a serviço da seleção brasileira. Em breve terá que ceder a revelação Reinier para a CBF no Mundial Sub-17.

Jesus vai se virando com o que tem, recuperando Vitinho e insistindo com os titulares. A maioria das substituições acontece no final das partidas. Contra o Santos não houve tempo para Piris da Motta entrar em campo, diante do Galo foi a vez do jovem Hugo Moura ficar à beira do campo no apito final. O treinador português diz que não gosta de poupar e no seu país, apesar de ser tão querido a ponto de fazer a imprensa de lá cobrir o futebol daqui, costuma ser criticado por não rodar muito o elenco e ter perdido títulos encaminhados por conta disso. Nas palavras do próprio treinador, ele gosta de “colocar a carne toda para assar”.

Só que o risco de mais lesões é real, embora ninguém esteja fora por problemas musculares. A tabela oferece uma boa oportunidade de descansar os sete titulares que restaram: jogo contra o Athletico em Curitiba. Porque entre as 22h da quinta e as 16h de domingo serão apenas 66 horas para recuperação. Para depois cruzar o país e encarar o Fortaleza na capital cearense na quarta. E vale arriscar esses pontos com uma equipe reserva, já que Santos e Palmeiras também visitarão o campeão da Copa do Brasil, sempre um adversário complicado em seus domínios.

Se tivesse planejado seria possível até zerar pendurados por dois cartões amarelos. São cinco: Rafinha, Pablo Marí, Willian Arão, Everton Ribeiro e Bruno Henrique. Mas Jorge Jesus quer tudo e quer agora. E pelo que fala nas coletivas será difícil convencê-lo a mudar. É claro que futebol não é ciência exata e o time pode superar o desgaste. Ou acontecer uma espécie de rodízio natural por conta de suspensões, lesões e convocações e o elenco resistir bem. Há qualidade para isso. Mas uma pausa estratégica para reabastecer neste momento, até pela vantagem na tabela, seria saudável para a equipe.

Jesus segue suas próprias leis e é difícil contestá-lo. Afinal, ele entrega um Flamengo que vence e encanta como há tempos não se via no país. E no time mais popular do Brasil desde sua versão mais talentosa e campeã.

 

 

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Golaço de Dudu no empate frustrante é para o palmeirense refletir http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/07/golaco-de-dudu-no-empate-frustrante-e-para-o-palmeirense-refletir/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/07/golaco-de-dudu-no-empate-frustrante-e-para-o-palmeirense-refletir/#respond Mon, 07 Oct 2019 09:22:53 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7388

Foto: Bruno Ulivieri / AGIF

Mano Menezes não é um defensor convicto do jogo mais físico, direto e pragmático como Luiz Felipe Scolari. Nem da intensidade máxima de Cuca. Na essência, apesar da origem na escola gaúcha, prefere um jogo com mais pausas e organização. Em 2011, ainda comandando a seleção brasileira, elegeu em entrevista a Mauro Beting para o livro “1981”, em coautoria com este blogueiro, o Flamengo de Zico nos anos 1980 como a melhor equipe que viu jogar. A grande referência de seus tempos de apenas fã de futebol.

Mas desde 2015 abraçou uma ideia de jogo mais defensiva e reativa. Talvez para se colocar no Cruzeiro como contraponto ao repaginado Tite com proposta mais criativa e agressiva no Corinthians campeão brasileiro e depois na seleção. Ou apenas por conta do contexto do Cruzeiro, especialmente no mata-mata com os títulos da Copa do Brasil de 2017 e 2018.

Agora no Palmeiras sucedendo Felipão, Mano tenta voltar um pouco às origens, fazendo o atual campeão brasileiro adicionar controle  do jogo pela posse de bola quando necessário e também a marcação por zona, evitando os encaixes e as perseguições mais longas. Um estilo mais impositivo e dominante.

Funcionou relativamente bem em casa contra Fluminense, Cruzeiro e CSA, equipes que lutam para fugir do Z-4. Nem tanto fora contra o Fortaleza, já apelando para as ligações diretas em alguns momentos, sentindo muito a falta de Dudu e vencendo na bola parada com gol de Willian.

Mas bastou enfrentar times mais tradicionais e competitivos como Internacional e Atlético Mineiro para o Palmeiras sofrer e, intuitivamente, retornar aos “vícios” dos últimos anos: em Porto Alegre a proposta mais cautelosa até sofrer o gol de Patrick e no Allianz Parque um estilo muito direto, até apressado. Com cobranças de lateral na área adversária e nada menos que 52 cruzamentos.

Dois empates por 1 a 1 que fazem o Flamengo abrir cinco pontos de vantagem no topo da tabela. Na próxima rodada, pedreira contra o Santos na Vila Belmiro. Uma combinação de derrota no clássico paulista com nova vitória do líder sobre o próprio Galo no Maracanã e as chances do bicampeonato ficam bem mais remotas. Mas o momento de frustração pode servir também para uma boa reflexão.

Partindo do gol de empate contra o Galo, depois de Nathan abrir o placar no primeiro tempo de superioridade do time visitante. Bela tabela pela esquerda entre Dudu e Gustavo Scarpa, que saiu do banco para substituir Borja, e a finalização quase sem ângulo do craque do time. Um lance de arte para furar as linhas compactas do 5-4-1 atleticano. Jogada trabalhada com calma, técnica e criatividade.

Não poderia acontecer mais vezes, inclusive no próprio jogo depois da igualdade no placar? Mas o Palmeiras preferiu o jogo apressado, as bolas levantadas na área. A força do hábito simbolizada na troca de Lucas Lima por Deyverson. Para complicar, sim, a formação com três zagueiros do adversário, mas obviamente também para apelar ao jogo aéreo procurando os dois centroavantes. Durou pouco, logo entrou Scarpa.

Os cruzamentos são um recurso legítimo, até porque o estilo funcionou em duas das últimas três edições do Brasileiro. Mas tem que ser só isso quase sempre, ou quando necessário?

Com Felipão era claro que a prioridade era o mata-mata. Não funcionou em duas edições de Copa do Brasil e Libertadores. Nos pontos corridos deu certo meio ao acaso, com o time cheio de reservas e só assumindo a responsabilidade de decidir o campeonato confirmando a liderança depois das eliminações nas outras competições. Conquista inquestionável, com todos os méritos. Mas soou como uma espécie de prêmio de consolação.

Apesar da defesa do estilo entre torcedores, jogadores e diretoria, o incômodo é nítido. Até porque a escola do Palmeiras não é essa, mas a do futebol mais ofensivo e de toque refinado. Dos tempos da Academia nos anos 1960/70 ou do início da Era Parmalat com Vanderlei Luxemburgo no bicampeonato brasileiro 1993/94 e na máquina de 102 gols no Paulista de 1996.

O time do jogo direto, das bolas paradas – ou escanteios e faltas laterais de Jorginho e Eder procurando a cabeça do zagueiro Vagner Bacharel – sempre esteve mais associado à “década perdida”, a de 1980 sem conquistas. Da derrota para a Internacional de Limeira no Paulista de 1986. O time de Felipão campeão da Copa do Brasil de 1998 e da Libertadores no ano seguinte era vertical, porém talentoso e combinava os cruzamentos de Arce com a arte de Alex.

O estilo atual merece ser respeitado e dá resultado quando bem executado. No caso deste Palmeiras, porém, com a enorme capacidade de investimento, sempre parece contraproducente. Subaproveita a capacidade do elenco, que não é fantástica, mas pode entregar muito mais. Talvez com tempo para Mano trabalhar esse “fundamentalismo” e acrescentar novos elementos.

Para que a obra-prima de Dudu e Scarpa não seja a exceção, ou apenas uma breve amostragem do que esse time pode fazer e não realiza por opção. Um tremendo desperdício.

(Estatísticas: Footstats)

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Cinco anos depois do auge, Cruzeiro e Atlético flertam com o fundo do poço http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/27/cinco-anos-depois-do-auge-cruzeiro-e-atletico-flertam-com-o-fundo-do-poco/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/27/cinco-anos-depois-do-auge-cruzeiro-e-atletico-flertam-com-o-fundo-do-poco/#respond Fri, 27 Sep 2019 10:05:22 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7336

Foto: Rodney Costa / Eleven

Em novembro, a conquista da Copa do Brasil pelo Atlético Mineiro completa cinco anos. Vencendo sob o comando de Levir Culpi a única final mineira em competição nacional. Superando o Cruzeiro de Marcelo Oliveira que seria bicampeão brasileiro em 2014. No ano anterior, o Galo conquistara a Libertadores com Cuca e Ronaldinho Gaúcho. Ou seja, Minas Gerais dominava o futebol brasileiro como nunca. O auge, ao menos neste século.

A lembrança torna ainda mais chocante a realidade atual. A dupla convive com sérias dificuldades financeiras, problemas para quitar as folhas de pagamento, erros graves de gestão e, principalmente, péssimos resultados esportivos. O Cruzeiro ocupa a 17ª colocação da tabela no Brasileiro e demite Rogério Ceni, apenas um mês e meio depois da contratação, por não conseguir melhorar o desempenho médio em relação ao antecessor Mano Menezes. Mas principalmente pelos atritos com jogadores veteranos ao tentar implantar um modelo de jogo com pressão, intensidade e movimentação.

Thiago Neves –  amigo do vice de futebol Itair Machado, a quem dedicou um gol contra o São Paulo no auge da crise envolvendo o dirigente no clube – primeiro acusou Ceni de colocar em campo uma formação na volta da semifinal da Copa do Brasil contra o Internacional improvisada e sem treinar. Depois foi sacado no intervalo da derrota por 2 a 1 para o Flamengo no Mineirão e não saiu do banco de reservas no empate sem gols com o Ceará no Castelão. Dedé reclamou da ausência do meia, Ceni não aceitou e o próprio Itair “sugeriu” que o treinador se demitisse.

O blog apurou que Dorival Júnior foi sondado, mas tem uma cirurgia marcada para o dia 1º de outubro e não teria como assumir. Olhando para o cenário criado, apenas dois profissionais disponíveis no país teriam “casca” e respaldo total para administrar os conflitos, conciliar as lideranças e controlar o vestiário: Abel Braga e Luiz Felipe Scolari. Mas qual é a chance de um deles aceitar assumir um time no Z-4, sem tempo para trabalhar com dois jogos por semana e garantia de salários pagos para poder cobrar?

Já o Atlético não vive o mesmo drama na tabela com a décima colocação, mas vem de seis derrotas seguidas desde a vitória por 2 a 1 sobre o Fluminense na 14ª rodada. Muito por priorizar a Copa Sul-Americana, a chance de título em 2019. E internacional, garantindo vaga direta na Libertadores. Em vão. Derrota fora e vitória em casa sobre o Colón, 17º na liga argentina com 24 clubes, por 2 a 1 e revés nos pênaltis, dentro do Mineirão, por 4 a 3 com Rever e Cazares desperdiçando as cobranças.

Elenco que é um “frankenstein” com veteranos em declínio, jovens buscando espaço em meio ao caos e estrangeiros que oscilam demais o desempenho, embora salvem muitas vezes o time – como os gols de Chará e Di Santo sobre o Colón. O time não dá liga e Rodrigo Santana, treinador promissor, parece sem estofo e vivência para administrar a crise que agora virá mais forte sem a esperança de conquista. Só resta se recuperar no Brasileiro para fechar o ano sem grandes sustos.

A má notícia é que hoje os oitos pontos que separam a equipe do São Paulo, último do G-6, são os mesmos que a distanciam do rival Cruzeiro na zona de rebaixamento. Com um jogo a menos, exatamente o adiado contra o Vasco no Independência para o time definir a semifinal continental. Se não interromper a série de derrotas em casa contra o Ceará no domingo a coisa pode se complicar de vez.

Uma queda surreal para quem há cinco anos se vangloriava, com razão, da estrutura e solidez dos grandes de Minas Gerais. Rivalidade que atraiu os olhos do país, quase sempre voltados para São Paulo e Rio de Janeiro. Agora lamentando o flerte com o fundo do poço. Triste retrato de quem acreditou em fórmula mágica ou receita de bolo, não atualizou as práticas nem planejou a longo prazo. A conta chegou.

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Mais jogos, viagens, calor e menos treinos. Começa um novo Brasileirão! http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/25/mais-jogos-viagens-calor-e-menos-treinos-comeca-um-novo-brasileirao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/25/mais-jogos-viagens-calor-e-menos-treinos-comeca-um-novo-brasileirao/#respond Wed, 25 Sep 2019 09:25:02 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7321 Dezoito rodadas em 74 dias. Média quase exata de uma a cada quatro. Bem diferente dos quatro meses, já descontando a pausa para a Copa América, para disputar as 20 primeiras.

Semanas cheias para trabalhar? Para Flamengo e Grêmio, semifinalistas da Libertadores, apenas duas: da 32ª à 34ª rodada. Sendo que o vencedor estará decidindo o torneio continental em Santiago no dia 23 de novembro e provavelmente antecipará o jogo da trigésima quarta – Grêmio contra o Palmeiras em São Paulo e o Flamengo contra o Vasco.

Corinthians e Atlético-MG resolvem a vida na Sul-Americana e adiaram os jogos pelo Brasileiro, contra Chapecoense e Vasco, respectivamente,  para o meio da próxima semana, aproveitando a brecha no calendário deixada primeira semifinal da Libertadores. Se sobreviverem estarão no Defensores del Chaco no dia 9 de novembro e terão que adiar  jogos da 32ª rodada, os clássicos regionais contra Cruzeiro e Palmeiras.

Para o torcedor, especialmente aquele que não tinha seu time envolvido nas fases finais das competições internacionais e nacional de mata-mata, o encontro mais frequente com seu time de coração será bem agradável e emocionante. E tome hashtag #diadexxxxx nas redes sociais!

Os efeitos colaterais, porém, devem tornar a trajetória bem complicada. Jogos seguidos significam viagens que podem ser longas, cruzando um país continental. Com temperaturas que tendem a subir neste início de primavera aumentando ainda mais o desgaste.

Tempo para treinamentos? Escasso. Imaginemos uma sequência de jogo no domingo em casa. Segunda é folga, terça um treino leve e viagem para atuar como visitante na quarta. Quinta é retorno com folga ou regenerativo, sexta um único treinamento para jogar no sábado. Para complicar ainda mais o entrosamento, o jogar “de memória”, a necessidade de rodar os elencos para descansar os mais extenuados.

Estamos falando de futebol profissional na primeira divisão. Necessário reforçar porque sempre ecoa uma voz dizendo que o amador joga todo dia e não cansa, que atletas de grandes times são muito bem remunerados e sacrifício é acordar cedo, enfrentar transportes públicos lotados e trabalhar o dia todo. Inegável, mas a questão é que o desgaste precisa ser analisado em comparação ao adversário, não ao cidadão comum. E um funcionário pode trabalhar mancando da perna. O atleta de alto rendimento, não.

Dá para dizer que começa um novo Brasileirão. Provavelmente com nível mais baixo em termos técnicos e táticos. Com queda brusca nos níveis de concentração e intensidade. Um jogo mais brigado, pragmático, tenso, de passes longos para minimizar os riscos na saída de bola e foco na bola parada.

Sem treinamentos, resta aos treinadores simplificar processos, manter todos mobilizados, ter sensibilidade para administrar problemas, inclusive a ausência frequente de casa, e fazer ajustes na base do papo e do trabalho dos analistas de desempenho. Até o estudo do adversário fica comprometido, porque não há como saber a provável formação, já que também terá que rodar o elenco.

Não é exagero afirmar que o que aconteceu nas 20 rodadas que passaram terá um peso quase zero agora. A tabela de classificação pode sofrer transformações radicais e os exaltados de agora se transformarem nos mais criticados e alvos de memes e zoeiras na internet, assim como abre a possibilidade de surgirem novos herois. O futebol é dinâmico e essa roda viva torna tudo ainda mais imprevisível.

Pode ser bom para quem quer emoção e adrenalina quase diariamente. Para quem aprecia o jogo em si e estava esperançoso com equipes buscando conteúdo mais atual e qualificado é motivo de preocupação. Também a necessidade de criticar mais uma vez um calendário esdrúxulo que não respeita o espetáculo. Mas há quem goste…Que role a bola, então, e vejamos quem sobreviverá até o início de dezembro.

 

 

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Com Juanfran no São Paulo, Cuca pode resgatar figura do “lateral-zagueiro” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/08/06/com-juanfran-no-sao-paulo-cuca-pode-resgatar-figura-do-lateral-zagueiro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/08/06/com-juanfran-no-sao-paulo-cuca-pode-resgatar-figura-do-lateral-zagueiro/#respond Tue, 06 Aug 2019 10:30:17 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7003

Imagem: Divulgação/São Paulo FC

Aos 34 anos, Juanfran é mais um veterano a deixar o futebol europeu e vir para o Brasil. Vai jogar no São Paulo com Daniel Alves e pode acrescentar mentalidade forte, concentração defensiva e ótimo posicionamento na última linha pela direita na equipe comandada por Cuca. Contrato até o fim de 2020.

Com o defensor espanhol, o treinador pode pensar em resgatar uma figura muito presente em seus times: a do “lateral-zagueiro”. Ou lateral-base. Aquele que guarda mais o seu setor junto com os zagueiros liberando o lado oposto para o apoio.

A função não é nova. A seleção do tricampeonato em 1970 tinha Everaldo contido pela esquerda para Carlos Alberto Torres descer à direita. No Real Madrid “galáctico” da virada do século, Michel Salgado ficava mais preso à retaguarda e Roberto Carlos ganhava mais liberdade. Compensação natural do futebol.

Cuca, porém, seguia uma lógica “bielsista”. A mesma de Jorge Sampaoli, também discípulo de Marcelo Bielsa, no Santos para variar linha de três ou quatro na defesa. Por exemplo, no Botafogo de 2007 era Luciano Almeida quem fazia a lateral quando o adversário atuava com um ou três atacantes e ficava mais fixo como terceiro zagueiro ao enfrentar uma dupla de ataque para garantir a sobra na defesa.

Era o 3-4-3 do “carrossel” alvinegro, com Joilson como ala pela direita fazendo dupla com Zé Roberto na ponta, Túlio e Leandro Guerreiro como os volantes, Lúcio Flávio na articulação, Dodô no centro do ataque e Jorge Henrique fazendo o corredor esquerdo completo. O time que disputou o título carioca com o Flamengo e a liderança do Brasileiro no primeiro turno com o São Paulo de Muricy Ramalho.

O 3-4-3 de Cuca em 2007: Luciano Almeida como lateral-zagueiro dando liberdade a Joilson do lado oposto e Jorge Henrique fazendo todo corredor pela esquerda (Tactical Pad).

Ideia semelhante foi implementada no Atlético Mineiro campeão da Libertadores em 2013: Marcos Rocha mais liberado pela direita, Richarlison descendo menos e fazendo companhia a Leonardo Silva e Réver. Pierre e Leandro Donizete na proteção, Ronaldinho articulando para Tardelli pela direita e Jô como centroavante. Bernard fazia a função mais sacrificante, indo e voltando pela esquerda.

No São Paulo, Cuca pode fazer o mesmo, porém mudando o eixo defensivo. O lateral-zagueiro seria Juanfran pela direita, dando mais liberdade a Reinaldo do lado oposto. Caberia a Antony fazer o corredor do lateral mais fixo. Na ponta esquerda, Alexandre Pato ou Everton e Raniel ou Pablo no centro do ataque.

A diferença principal em relação a Botafogo e Atlético seria nas características dos volantes. Agora Cuca prefere jogadores que marquem, mas também joguem. Um trio com Tche Tche, Liziero e Daniel Alves poderia entregar uma dinâmica bem interessante ao meio-campo, inclusive com trocas de funções ao longo dos jogos. E Dani Alves e Tche Tche dando suporte a Antony no ataque pela direita.

Uma das formações possíveis do São Paulo de Cuca, com Juanfran contido pela direita, Antony fazendo o lado direito com apoio de Daniel Alves ou Tche Tche e Reinaldo com liberdade para atacar como ala pela esquerda (Tactical Pad).

Uma entre as muitas possibilidades que o inquieto e criativo Cuca deve testar em treinos e jogos. A boa notícia para o técnico é que ganha mais uma opção com personalidade e experiência internacional para tornar o São Paulo mais competitivo no Brasileiro.

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