campeonatopaulista – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Palmeiras-1996 e Santos-2010, os “meteoros” de 100 gols e futebol mágico http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/03/palmeiras-1996-e-santos-2010-os-meteoros-de-100-gols-e-futebol-magico/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/03/palmeiras-1996-e-santos-2010-os-meteoros-de-100-gols-e-futebol-magico/#respond Wed, 03 Jun 2020 14:39:20 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8584

Foto: Ricardo Saibun / Santos

Em 2014, Djalminha foi o convidado do “Bola da Vez” na ESPN Brasil e respondeu a este blogueiro sobre a montagem do Palmeiras de 1996. Segundo o próprio meia, o melhor time pelo qual atuou se encaixou muito rápido: “Foi mágica. No primeiro treino a gente já se olhava rindo, sem acreditar. Começamos goleando times amadores em jogos-treinos, mas quando começou o Paulista continuamos passando por cima de todo mundo”.

O entrevistado esqueceu de mencionar os 6 a 1 em Fortaleza sobre o Borussia Dortmund, campeão alemão de 1994/95 e que venceria a Liga dos Campeões de 1996/1997. Era janeiro e o Palmeiras já conquistava a Copa Euro-América.

Um “click”. Por mais que se cobre, com toda razão, que clubes e seleções respeitem processos e valorizem trabalhos a longo prazo, às vezes acontece de um time se encaixar muito rapidamente e jogar futebol encantador. A história mostra que o “efeito colateral” é durar pouco também.

Chega e vai logo embora. Um “meteoro”. Assim foi o Palmeiras comandado por Vanderlei Luxemburgo. O time de Cafu e Júnior voando pelas laterais, Djalminha organizando, Rivaldo infiltrando no espaço deixado pelo “pivô” Muller e Luizão na área para finalizar. Volúpia ofensiva compensada por Amaral e Flávio Conceição, os protetores dos zagueiros Sandro e Cléber. Velloso na meta.

Palmeiras de Luxemburgo no 4-2-2-2 típico dos anos 1990, mas com volúpia ofensiva incomum (Tactical Pad).

Combinação perfeita de características que fez tudo fluir no Paulista e até a decisão da Copa do Brasil. Foram 102 gols em 30 partidas no Paulista, mais 24 na Copa do Brasil. 27 vitórias, dois empates e apenas uma derrota no estadual. 83 pontos em 90 possíveis, 28 a mais que o vice São Paulo. Goleadas marcantes como os 7 a 1 sobre o Novorizontino, 8 a 0 no Botafogo, 6 a 0 no Santos. Apenas 19 gols sofridos. Estética e eficiência. Um time que fez o blogueiro faltar algumas aulas e também deixar de ver o time de coração.

No mata-mata nacional, 8 a 0 no Sergipe, 8 a 1 no agregado sobre o Atlético Mineiro nas oitavas, 5 a 1 no Paraná nas quartas. 100% de aproveitamento até cruzar com o Grêmio de Luiz Felipe Scolari, campeão da Libertadores no ano anterior e que venceria o Brasileiro naquele mesmo 1996. Vitória por 3 a 1 em São Paulo e revés por 2 a 1 em Porto Alegre. Na decisão contra o Cruzeiro, empate em Minas por 1 a 1 que fez do Palmeiras o favorito absoluto para a volta no Parque Antárctica.

A ausência de Muller, porém, diminuiu consideravelmente a fluência ofensiva. O “garçom” do ataque preferiu voltar ao São Paulo e foi desfalque sentido. Mesmo assim, o ataque palmeirense fez de Dida o melhor da final vencida pelo time mineiro comandado por Levir Culpi. De virada por 2 a 1. Foi o que faltou ao Palmeiras para tornar mais marcante aquele primeiro semestre espetacular.

O Santos teve melhor sorte, 14 anos depois. Mais um “raio” que caiu na Vila Belmiro. Novamente o clube sem capacidade para investir em grandes contratações resolveu investir nos jovens formados no clube. Paulo Henrique Ganso, com 20 anos, mas desde os 18 atuando no profissional, e Neymar, com dezoito completos em fevereiro, eram as esperanças da equipe comandada por Dorival Júnior, contratado no final de 2009.

De novo o “click”, o engate quase imediato. Em entrevista ao Uol Esporte, o treinador revelou uma conversa com o elenco antes do primeiro treinamento: “Reuni os jogadores embaixo de uma mangueira que temos lá no centro de treinamento do Santos e falei: ‘Quero falar uma coisa para vocês aqui, hoje, no nosso primeiro dia de trabalho. Esse time pode marcar a história do Santos Futebol Clube’.”

Com Robinho, emprestado pelo Manchester City, fazendo um papel parecido com o de Muller no Palmeiras em 1996. Um facilitador para os companheiros. Alternando com Neymar pelas pontas, se aproximando de Ganso para tabelas e contribuindo para um volume de jogo sufocante. André se mexia também, embora ficasse mais na área adversária para finalizar.

Pará e Alex Sandro nas laterais, Arouca um pouco mais fixo na proteção a Edu Dracena e Durval e Wesley se juntando ao quarteto ofensivo. Mas até o camisa cinco aparecia na frente. Dorival tentava fazer o time reagir rápido sem bola pressionando para recuperar logo a posse e voltar a atacar. Quando encaixava era arrebatador. E bonito de ver.

O Santos voltado para o ataque comandado por Dorival Júnior. No 4-2-3-1 que tinha Ganso na articulação e Robinho como um facilitador, alternando nos flancos com Neymar (Tactical Pad).

No Paulista, 15 vitórias, dois empates e duas derrotas na primeira fase. 61 gols marcados, média superior a três por jogo. Dez pontos na frente do Santo André, que seria o vice-campeão em uma final mais equilibrada que o previsto, até pelo “sapeca” santista sobre o São Paulo na semifinal: 6 a 2 no agregado. Na decisão, uma vitória por 3 a 2 para cada lado, título santista pela melhor campanha geral. No total, foram 72 gols marcados e 31 sofridos.

Na Copa do Brasil, os 10 a 0 sobre o Naviraiense foram o destaque logo na primeira fase, mas o time passou por Remo (4 a 0 sem necessidade de volta), Guarani – com destaque para os 8 a 1 na ida – e Atlético Mineiro antes da final contra o Vitória. Assim como na semifinal contra o Grêmio, derrota como visitante e vitória em casa, se impondo no saldo de gols. Um time instável, mas bem sucedido naquele período.

Também superando os 100 gols. Foram 105 nas duas competições. E, mais importante, levando as taças para a Baixada Santista. Ciclo encerrado com a demissão de Dorival depois de briga pública com Neymar. Mas consolidado como time histórico com Muricy Ramalho, ganhando pragmatismo e solidez defensiva que equilibrou o talento na frente. Já sem Robinho, mas com um Neymar mais maduro para decidir a Libertadores de 2011. O Palmeiras seguiu caminho parecido a partir de 1997 com Luiz Felipe Scolari, mas só alcançou a consagração no continente em 1999.

O encantamento, porém, ficou com os “meteoros”. Times que atraíam os olhares até de torcedores de outros clubes. Pelo arrojo, por atacar como se não houvesse amanhã. Sem administrar resultado, com ímpeto incomum. Por isso tão difícil de esquecer.

 

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Palmeiras é exceção no futebol brasileiro, mas não deixa de ser exemplo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/27/palmeiras-e-excecao-no-futebol-brasileiro-mas-nao-deixa-de-ser-exemplo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/27/palmeiras-e-excecao-no-futebol-brasileiro-mas-nao-deixa-de-ser-exemplo/#respond Wed, 27 May 2020 13:02:49 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8560

Foto: Cesar Greco / SEP

O Palmeiras empatou sem gols com a Internacional de Limeira no dia 14 de março. Jogo com público, nenhuma preocupação com distanciamento e os treinadores Vanderlei Luxemburgo e Elano se abraçando antes da partida.

Uma irresponsabilidade, mesmo considerando que ainda não havia uma morte oficial no país pela Covid-19. Afinal, praticamente o mundo todo já havia parado com o futebol e as últimas partidas foram jogadas com portões fechados.

Mas a partir da paralisação geral, o Palmeiras tem adotado uma postura correta nas decisões internas e externas.

A começar pelo compromisso de não demitir funcionários e fazer a redução de salários de cima para baixo. Cortou 25% dos vencimentos dos jogadores, do treinador Vanderlei Luxemburgo, do diretor Anderson Barros e do gerente Cícero Souza. Também dividiu o pagamento dos direitos de imagem, pagando a partir de agosto os valores de abril e maio.

Suspendeu contratos de trabalho por 30 dias, prorrogáveis pelo mesmo período, sem perda de remuneração – leia mais AQUI. O clube parou suas atividades e o jogadores treinam em casa, com acompanhamento online. Todo cuidado com as pessoas, evitando a possibilidade de contágio com o devido distanciamento social. Externamente, seguidas manifestações de que só retomará as atividades quando for liberado pelas autoridades e junto com os demais clubes paulistas.

Deveria ser o básico, não digno de elogios. Mas diante de algumas atitudes de seus pares, especialmente o Flamengo pela capacidade de investimento semelhante, o Palmeiras se tornou exemplo de conduta na pandemia.

É claro que o Alviverde é exceção no futebol brasileiro. Conta com a Crefisa, patrocinadora que funciona como “mecenas”, não só pagando um alto valor fixo, mas também auxiliando em momentos de dificuldades como empréstimo. Leila Pereira, a presidente da operadora de crédito, tem claras pretensões políticas no clube e sabe da importância de não falhar em um momento de dificuldade.

O Palmeiras também não tem custos com a manutenção do Allianz Parque, já que o estádio é administrado pela WTorre. Perde a receita de bilheteria dos jogos, porém sem o impacto nas contas de pagar por uma Arena sem uso.

Mas mesmo com essas vantagens, o clube paulista poderia ter outro comportamento. Inclusive político. Até pelo alinhamento que demonstrava antes com o governo federal, inclusive com o presidente da república no gramado com os jogadores levantando a taça de campeão brasileiro em 2018. Bolsonaro já demonstrou seguidas vezes que quer a volta do futebol, mesmo com curva ascendente de contágio no país, mas o Palmeiras segue firme no propósito de agir com responsabilidade.

O contexto é diferente dos demais clubes, mas a postura poderia ser parecida com os menos sensíveis à realidade de uma pandemia. Poderia ser elitista e excludente, sem considerar a necessidade dos mais humildes. Cortando onde a mão de obra é de mais fácil reposição. Mas o Palmeiras não entrou na vala comum e merece reconhecimento. Uma questão de princípios.

 

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A história que une Roberto Dinamite a Evair: criador e criatura http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/13/a-historia-que-une-roberto-dinamite-a-evair-criador-e-criatura/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/13/a-historia-que-une-roberto-dinamite-a-evair-criador-e-criatura/#respond Wed, 13 May 2020 14:03:26 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8479

Foto: NetVasco

“Foi difícil pensar só no jogo me vendo no Maracanã enfrentando o Vasco com ele em campo”. Palavras do jovem Evair à Rádio Globo do Rio de Janeiro, depois do Guarani fazer 3 a 0 sobre o time cruzmaltino no Maracanã, pelo jogo de ida das oitavas de final do Brasileiro de 1986.

O campeonato que revelaria o jovem artilheiro, então com 20 anos, que marcaria 24 gols e ficaria a um de Careca na artilharia. Vice também na competição com o time de Campinas, sendo derrotado nos pênaltis pelo São Paulo em eletrizante decisão no Brinco de Ouro.

Evair se referia a Roberto Dinamite, o grande ídolo da história do Vasco e maior artilheiro dos campeonatos brasileiros –  192 gols, entre outros feitos na carreira brilhante. Referência para tantos centroavantes que surgiram no Brasil naquele período. O camisa nove mineiro, nascido em Ouro Fino e que tinha o Santos como time na infância, marcaria dois gols naquele confronto que foi selado com outra vitória do Guarani, por 2 a 0 em Campinas.

Ambos tinham a mesma altura: 1,86 m. E Evair, de fato, em 1987 lembrava o Dinamite no início da carreira: porte físico, presença de área, precisão nas finalizações e alguma desenvoltura ao sair da referência no ataque para tabelar com seus companheiros.

Roberto já servia colegas de ataque no Vasco como Ramon, Amauri, Arthurzinho e Cláudio Adão. Mas foi com o jovem Romário, promovido aos 19 anos por Antonio Lopes em 1985, que Dinamite, aos 31 anos, construiu uma parceria que mudaria de vez as suas características em campo.

Em um 4-3-3, o então centroavante recuava para trabalhar como uma espécie de “enganche”, acionando o atacante que partia da esquerda infiltrando em diagonal para finalizar. Mas sem deixar de aparecer na área para concluir. Tanto que foi o artilheiro do Carioca de 1985, com um gol a mais que Romário, mesmo com o Vasco sequer chegando ao triangular decisivo daquela edição.

No ano seguinte, o inverso com Romário marcando 20 e Roberto, 19. O mesmo em 1987, com o Baixinho indo às redes 16 vezes e o Dinamite, 15. Parceria que se encerraria em 1988, com uma lesão de Roberto e depois Romário partindo para a Holanda jogar no PSV Eindhoven.

Até encerrar a carreira em 1993, Roberto atuou como esse centroavante que ficava mais adiantado quando o time não tinha a bola e recuava para articular, abrindo espaços para os companheiros no momento em que sua equipe atacava. Na prática, a movimentação de  um “falso nove”. Mais um no futebol brasileiro, assim como Neto no Corinthians campeão brasileiro de 1990.

“Nunca tinha pensado nisso, mas, de fato, ele cumpria essa função”, reconheceu Lopes em entrevista a este que escreve em 2012. Para aproveitar uma joia da base que viria a ser o melhor do mundo em 1994, o treinador descobriu um novo posicionamento para o centroavante vascaíno na reta final de sua carreira.

O Vasco de Antonio Lopes em 1986 que fez Roberto Dinamite recuar para que Romário infiltrasse em diagonal a partir da esquerda, formando uma das grandes duplas da história do futebol carioca (Tactical Pad).

Evair seguiu a vida no Guarani, sendo artilheiro do Paulista de 1988 e partindo para sua primeira experiência no futebol internacional, jogando pela Atalanta. Voltaria ao futebol brasileiro em 1991, para atuar no Palmeiras. Início difícil em um clube que sofria com 16 anos sem títulos. Chegou a ser afastado por “deficiência técnica” por Nelsinho Baptista.

Tudo mudou com a chegada de Vanderlei Luxemburgo em 1993. Treinador que havia sido estagiário de Antonio Lopes no início dos anos 1980, no próprio Vasco e também no América e no Olaria. Mas em 1986/87, trabalhando como técnico do sub-20 do Fluminense, testemunhou no Rio de Janeiro a grande fase da dupla Roberto-Romário, comandado pelo “mentor” Lopes.

Ao encontrar Evair no Palmeiras, junto com Edmundo e Edilson, se recordou da dinâmica do ataque cruzmaltino, que tinha Mauricinho pela direita completando o trio na frente. Em depoimento ao programa “Supertécnico” em 1999, Luxemburgo admitiu que se inspirou naquele Vasco para armar a dinâmica ofensiva de sua nova equipe.

Evair, mais experiente e com nítida evolução na leitura de espaços depois de passar pelo futebol italiano, recuava para trabalhar com os meio-campistas e permitia as entradas em diagonal de Edmundo e Edilson, depois Rivaldo no time que seria campeão paulista e brasileiro também em 1994. Mas sem deixar de se apresentar para as conclusões. Evair seria artilheiro do estadual daquele ano, com 23 gols. Virou ídolo eterno no Alviverde.

O Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo em 1993 tinha Evair fazendo o papel de “falso nove” para Edmundo e Edilson entrarem na área adversária (Tactical Pad).

Fechando uma espécie de “ciclo mágico”, Evair, aos 32 anos, encontraria Lopes no Vasco em 1997 para executar função semelhante, mais recuado para acionar o imparável Edmundo, craque e artilheiro recordista com 29 gols na campanha do terceiro título brasileiro do clube. Já aposentado, Roberto Dinamite viu o seu fã também virar ídolo no time da Cruz de Malta, ainda que em uma passagem efêmera de menos de seis meses.

De centroavante goleador a “falso nove” não menos letal na área adversária. Eis a pouco conhecida relação entre Roberto e Evair, na conexão entre Lopes e Luxemburgo. Criador e criatura.

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Futebol em Quarentena – Os dez melhores times que vi em quatro décadas http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/futebol-em-quarentena-os-dez-melhores-times-que-vi-em-quatro-decadas/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/futebol-em-quarentena-os-dez-melhores-times-que-vi-em-quatro-decadas/#respond Tue, 17 Mar 2020 19:31:32 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8174

Foto: Javier Soriano / AFP

O futebol parou nos principais centros, inclusive no Brasil. Felizmente, a sensatez prevaleceu e quem puder ficar em casa para não arriscar um colapso nos atendimentos hospitalares por conta da pandemia do coronavirus, melhor para todos.

Mas o blog não pára e aproveita para olhar para trás e abrir espaços para postagens que em tempos velozes, de imediatismo e exigência do “quente”, do “gancho”, não costumam ter muito espaço.

Por isso a série “Futebol em Quarentena” trará rankings, análises de times históricos, jogos lendários, confrontos “dos sonhos” entre grandes equipes de épocas diferentes e o que mais pintar até a bola voltar a rolar no mundo – em breve, esperamos todos.

Para começar, a vontade da maioria do público que votou na enquete no Twitter:

Imagem: Reprodução / Twitter

Então seguem os melhores times (clubes) que vi em quase 40 anos acompanhando apaixonadamente o futebol. Com as devidas particularidades, incluindo memória afetiva. Lista é pessoal, sempre. E daqui a um ano pode mudar também… Vamos lá!

1º – Barcelona de Guardiola – 2010/11

Não foi a equipe mais vencedora comandada por Pep Guardiola na Catalunha, já que na primeira temporada do treinador novato (2008/09) veio a tríplice coroa. Mas mesmo perdendo a Copa do Rei para o Real Madrid de José Mourinho e Cristiano Ronaldo, o Barcelona da temporada 2010/11 foi um primor coletivo que iluminou ainda mais o talento de Xavi, Iniesta, Messi e Daniel Alves.

O gênio argentino, definitivamente como “falso nove”, destruiu as defesas adversárias e foi o elemento de desequilíbrio em um modelo de jogo que tangenciou a perfeição. Pressão pós-perda, posse de bola, construção do jogo desde o goleiro e criação de superioridade numérica no setor da bola, sempre buscando o homem livre. Cansava e atordoava os adversários e conseguia impor a maneira de jogar, mesmo nas raras derrotas. Combinação quase perfeita do melhor das escolas espanhola, holandesa e argentina.

2º – Milan de Arrigo Sacchi – 1988/1989

Os 5 a 0 sobre o Real Madrid pela semifinal da Liga dos Campeões no Giuseppe Meazza representam o melhor do fantástico time dos holandeses Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco Van Basten. Comandados por Sacchi, que revolucionou o futebol italiano atualizando ideias de Rinus Michels.

Defesa em linha, comandada por Franco Baresi, marcando por zona, adiantando e aproximando setores, muitas vezes jogando em trinta metros e trabalhando a bola voltado para o ataque. Combinando a cultural solidez defensiva do “Calcio” com um estímulo ao talento que só rivalizava com a genialidade de Maradona no Napoli. Em 1990, faturou o bicampeonato europeu, último a conseguir o feito antes do Real Madrid de Zinedine Zidane. Um alento e um deleite em tempos de futebol defensivo, simbolizado pela Copa do Mundo disputada na própria Itália.

3º – São Paulo de Telê Santana – 1992/1993

Ganhar duas vezes seguidas a Libertadores é raro. Numa época ainda de muita violência no futebol sul-americano, além das já habituais arbitragens “polêmicas” e pouco controle de doping era ainda mais complicado. E priorizando o futebol bem jogado, mais raro ainda.

O que não era difícil era rivalizar com os gigantes europeus num período anterior à Lei Bosman, que transformou os grandes clubes do Velho Continente em verdadeiras seleções transnacionais. O São Paulo de Telê Santana conseguiu ser competitivo e ter momentos de futebol arte. O melhor exemplo na final do Mundial de 1992, contra o Barcelona. Com Cafu e Muller abertos, Rai e Palhinha por dentro e o suporte de Toninho Cerezo. Tocando, girando, envolvendo e virando para cima do “Dream Team” de Johan Cruyff. Um tempo de supremacia tricolor no planeta.

4º – Arsenal “Invincibles” – 2003/04

Campeão invicto da Premier League, já muito competitiva à época. O que o Liverpool de Klopp e o Manchester City de Guardiola sonharam, mas não conseguiram, os Gunners de Arsene Wenger fizeram história. Não é um título de Champions, mas não deixa de ser um feito extraordinário.

Méritos do time de contra-ataques de almanaque, mas que nunca abdicava de atacar. Uma equipe completa e que vivia um momento coletivo extraordinário, que potencializava as individualidades de Patrick Vieira, Thierry Henry e Dennis Bergkamp. Com auxílio luxuoso de Robert Pirés, Gilberto Silva, Ashley Cole e Fredrik Ljungberg. Transpiração e inspiração para primeiro garantir a taça, depois a trajetória imaculada e histórica. Que dificilmente será repetida.

5º – Bayern de Munique de Jupp Heynckes – 2012/13

Um rolo compressor improvável, depois do revés nos pênaltis em casa para o Chelsea na final europeia em Munique e de perder a hegemonia na própria Alemanha para o Borussia Dortmund de Jurgen Klopp. Na temporada que Jupp Heynckes anunciou que se despediria dos gramados e o gigante bávaro foi atrás de Guardiola em seu “ano sabático”.

Parecia fim de festa. Mas com Robben e Ribéry desequilibrando pelas pontas, o Bayern atropelou o Barcelona com 7 a 0 no agregado e média de 40% de posse de bola. Mesmo sendo o segundo melhor no quesito na Europa, atrás justamente do time blaugrana. Provando ser uma equipe “camaleã”, que se adaptava às demandas das partidas, algo que seria tendência nos anos seguintes. Faturou a tríplice coroa, sendo o último título de outro clube que não Barcelona e Real Madrid na década até o Liverpool quebrar a sequência na temporada passada. Timaço!

6º – Flamengo de Zico – 1981/1982

O time que “unificou” os títulos depois do Santos de Pelé nos anos 1960. Em maio de 1982, era o último campeão da cidade (Taça Guanabara), estado (Rio de Janeiro), país (Brasil), continente e mundo. Com inovações táticas que virariam tendências.

Congestionando o meio-campo com um volante (Andrade) e quatro meias (Tita, Adílio, Zico e Lico), mais Nunes, o centroavante que caía pelas pontas abrindo espaços para os mais talentosos – incluindo os laterais Leandro e Júnior. Mas um camisa nove que aparecia para decidir as partidas mais importantes. Tocando, girando as peças e colocando os adversários na roda. Faltou um período maior de hegemonia no continente, mas o legado da maneira de jogar é imenso, influenciando a inesquecível seleção brasileira da Copa da Espanha.

7º – Liverpool de Jurgen Klopp – 2019/20

Uma construção paciente, qualificando o elenco, tornando a maneira de jogar mais versátil, adicionando pausas no estilo “rock’n’roll” do treinador alemão. Sofrendo com goleiros e zagueiros fracos inicialmente, para depois ir ao mercado e contratar Alisson e Virgil Van Dijk.

Para dar segurança a um ataque avassalador. Com Mohamed Salah, Roberto Firmino e Sadio Mané próximos uns dos outros e da meta adversária e os laterais Alexander-Arnold e Robertson abrindo o campo e sendo os principais municiadores de um time como volume de jogo sufocante e força mental para sair de várias situações difíceis. Venceu a Champions em 2019 e alcançou a melhor campanha do clube na história da Premier League, mas sem faturar o sonhado título nacional que deve vir agora, se a temporada na Inglaterra não for cancelada.

8º – Real Madrid de Zinedine Zidane – 2016/2017

Por motivo de: TRICAMPEÃO da Champions. Não é todo dia que acontece, mesmo descontando algumas atuações pouco inspiradas, pitadas de sorte e arbitragens polêmicas. Chama ainda mais atenção a manutenção da base nas três conquistas e o fato de ser a estreia de Zinedine Zidane no comando técnico de uma equipe de primeira divisão.

O auge na temporada 2016/17, com a conquista também do título espanhol. E o encaixe de Isco, armando um 4-3-1-2 muito móvel e mutante. E essencialmente técnico, com Carvajal e Marcelo abrindo o campo, Cristiano Ronaldo se juntando a Benzema na frente e muito controle no meio-campo, sustentado por Toni Kroos e Luka Modric. Todos suportados por Casemiro na proteção a Varane e Sergio Ramos. Se tudo desse errado, lá estava Keylor Navas para garantir. A camisa entortou varal algumas vezes, mas era um time com muito poder de decisão.

9º – Boca Juniors de Carlos Bianchi – 2000/2003

Um time “embaçado” para enfrentar, especialmente em mata-mata. Mas também capaz de ganhar o Apertura invicto, no início desta caminhada em 1998. Equipe que sabia amassar os adversários na Bombonera e cinicamente cozinhá-los como visitante. E, se tudo desse errado, ainda havia o “rei dos pênaltis” Oscar Córdoba na meta.

No ritmo de Juan Roman Riquelme. Craque um tanto tímido, de hábitos estranhos. Mas um “enganche” de enorme talento e leitura de jogo, inclusive da temperatura. O típico dez que dita o ritmo, acelerando ou escondendo a bola. Faturando a Libertadores em 2000, 2001 e 2003, superando o milionário Palmeiras e o Santos de Diego e Robinho. No último sem Riquelme e Palermo, mas com o jovem Carlos Tévez e Guillermo Schelotto. Uma máquina de faturar taças comandada por Bianchi, um estrategista copeiro que estava na hora certa e no clube certo para fazer história.

10º – Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo – 1996

Sim, o time alviverde mais vencedor comandado por Luxemburgo foi o de 1993/94. Este foi um “meteoro” que não durou seis meses. Mas, ora bolas! Futebol também é lúdico, capaz de fazer sonhar e encantar. E este que escreve chegou a faltar aulas e deixar de ver o time de coração para acompanhar esse futebol encantador.

Foram 102 gols e 13 goleadas de um time fulminante. Cafu e Júnior voando nas laterais, Djalminha e Rivaldo entregando talento no meio, Muller fazendo o pivô e Luizão perdendo e também fazendo muitos gols, tamanha era a superioridade coletiva e individual. Que encaixou no primeiro treinamento, segundo relato do próprio Djalminha a este que escreve em um “Bola da Vez” na ESPN Brasil em 2014. Só um título paulista, um revés doído para o Cruzeiro na final da Copa do Brasil, mas e daí? Nunca será esquecido e está na lista porque sim!

É isso!

Certamente muitos flamenguistas que acham que o futebol começou em 2019 vão cobrar: “Ain, e o time atual do Jorge Jesus?” Calma! Vamos esperar construir a história da equipe, ainda que ganhar Brasileiro com recorde nos pontos corridos e Libertadores no mesmo ano seja um feito espetacular. Mas vamos aguardar!

Para os mais inconformados, fica a promessa de uma análise mais detalhada do atual campeão nacional e continental em breve.

 

 

 

 

 

 

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Palmeiras e Flamengo sofrem com anticlímax e irresponsabilidade http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/14/palmeiras-e-flamengo-sofrem-com-anticlimax-e-irresponsabilidade/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/14/palmeiras-e-flamengo-sofrem-com-anticlimax-e-irresponsabilidade/#respond Sat, 14 Mar 2020 23:36:01 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8162 A pandemia de coronavirus parou o futebol nos principais centros do mundo e deveria ter interrompido a temporada também por aqui, diante dos riscos de contágio no Brasil que ainda não sofre com milhares de casos como a Itália, por exemplo.

Mas o calendário nacional segue, só parando as competições da Conmebol. Justamente a prioridade dos que disputam a Libertadores, como Flamengo e Palmeiras. De repente, só restou o estadual para jogar no curto prazo. Ou nem isso, se as federações tomarem providências baseadas no bom senso e parar tudo.

Natural desconcentrar, até desanimar, apesar do profissionalismo. Como será daqui por diante? Quanto tempo até solucionar o problema e não colocar vidas em risco? Haverá sequência do torneio continental?

O Palmeiras foi a Limeira, certamente com todas essas questões em mente. Estádio com público e jogadores e os treinadores Vanderlei Luxemburgo e Elano se cumprimentando antes da bola rolar. Uma irresponsabilidade.

Não faltou transpiração ao time alviverde. Novamente no 4-2-3-1 com Dudu livre para circular e se juntar a Willian, Luiz Adriano e Rony. Mais uma vez com dificuldades para circular a bola, tanto que Luxemburgo trocou Ramires e Bruno Henrique por Patrick de Paula e Zé Rafael. Ainda Luiz Adriano por Lucas Lima. Ou seja, refez o meio-campo para tentar criar.

Sofreu ainda mais depois que Airton foi expulso aos oito do segundo tempo e a equipe de Limeira se trancou de vez. Precisou das defesas de Rafael Pin, mas se virou bem. Faltou efetividade ao Palmeiras no “abafa”. 70% de posse, 15 finalizações a seis – seis a dois no alvo. Chute na trave de Dudu, de novo o destaque palmeirense, no primeiro tempo. Mas não foi às redes.

Sina que parecia a do Flamengo no Maracanã. Em um clima ainda mais fúnebre pelo estádio vazio e por estar em disputa apenas a Taça Rio. Segundo turno do Carioca que era objetivo para abreviar o torneio e se preparar para os grandes objetivos da temporada. Agora a pressa perdeu o sentido. Para piorar, o risco por conta do teste positivo do vice Mauricio Gomes de Mattos, que esteve com jogadores e comissão, que também se submeteram à verificação, mas o resultado só sairia depois da partida! Uma insanidade.

Tudo isso entrou em campo contra a Portuguesa fechada com linha de cinco atrás e time compacto em trinta metros guardando a meta de Milton Raphael. Sem Diego Alves, Gustavo Henrique, Filipe Luís, Gerson, Thiago Maia e Gabriel Barbosa, o time de Jorge Jesus foi preguiçoso na maior parte do tempo.

Nem com o gol do lateral esquerdo Maicon Douglas, em chute que desviou em Rafinha e saiu do alcance de César, a equipe saiu da letargia na construção das jogadas. Pouca mobilidade e intensidade apenas na pressão logo após a perda da bola, mas sem a “fome” de outros momentos. Deve mesmo ser difícil se acostumar com o ambiente do Maracanã cheio todo jogo e se deparar com arquibancadas vazias.

A virada veio no final, no cansaço do adversário de menor investimento. Desorganizado, com Michael e Vitinho abertos, Bruno Henrique e Lincoln por dentro e apenas Everton Ribeiro e De Arrascaeta no meio.  O time correu ao menos, pela invencibilidade de Jorge Jesus no estádio que parecia escorrer em um revés improvável.

O esforço foi suficiente para empatar com Vitinho, em chute que desviou no zagueiro Marcão. A virada veio em jogada exigida por Jesus e que pouco aconteceu no jogo: o passe entrelinhas. Antes a Portuguesa negava espaços e não havia esforço. Com o time da Ilha do Governador exausto, apareceu a brecha para Renê achar Arrascaeta e o chute no canto fechar os 2 a 1 já nos acréscimos.

Difícil vislumbrar algo mais à frente com o futuro tão incerto. Palmeiras e Flamengo, concentrados na Libertadores e candidatos a campanhas 100% na fase de grupos, viveram um sábado de anticlímax no futebol brasileiro. Melhor seguir o que foi feito em quase todo mundo e preservar a saúde de todos.

(Estatísticas: SofaScore)

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Santos de Jesualdo ganha respaldo com vitórias e um caminho pela esquerda http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/11/santos-de-jesualdo-ganha-respaldo-com-vitorias-e-um-caminho-pela-esquerda/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/11/santos-de-jesualdo-ganha-respaldo-com-vitorias-e-um-caminho-pela-esquerda/#respond Wed, 11 Mar 2020 09:39:57 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8136

Foto: Marcelo Zambrana / AGIF

Jesualdo Ferreira chegou ao Santos com a missão ingrata de suceder Jorge Sampaoli. Complicada pela meta de manter o nível de desempenho e alcançar os títulos que faltaram em 2019. Pelas cobranças iniciais, o raciocínio parecia simplista: se Jorge Jesus conseguiu fazer o Flamengo vencer com intensidade e qualidade, outro treinador português veterano pode alcançar o mesmo rendimento com resultados semelhantes.

Não é tão fácil, nem Jesualdo tem o mesmo estilo de Jesus. Acredita em organização e cuidado com a bola para envolver o adversário. As diferenças saltaram aos olhos logo nas primeiras partidas e a ausência do antecessor pesou, principalmente pelos resultados ruins.

O técnico de 74 anos discutiu com jornalistas, teve seus métodos questionados…mas seguiu adiante. Agora, se o futebol ainda não encanta, ao menos os resultados vêm dando respaldo e também um pouco de paz para buscar a evolução da equipe.

Depois da derrota para o Ituano por 2 a 0 que gerou o clima mais tenso, empate sem gols, com períodos de domínio, contra o Palmeiras e vitória sobre o Mirassol por 3 a 1, que garantiram a liderança do Grupo A do Paulista, com 15 pontos.

Na Libertadores, prioridade e também motivo de preocupação, os triunfos sobre Defensa Y Justicia fora de casa e Delfin, na Vila Belmiro sem torcida por conta da punição da Conmebol pela confusão em 2018 por conta da eliminação para o Independiente nas oitavas da Libertadores. 100% de aproveitamento até inesperados, mesmo em um grupo acessível que ainda tem o Olimpia, a outra força do grupo.

Jesualdo aposta na repetição de uma formação para fazer os jogadores assimilarem o modelo de jogo. Assim como Jesus, é avesso a poupar muitos atletas de uma partida para outra. Desta maneira tenta coordenar melhor os setores. Jobson atua à frente da defesa, qualificando com Lucas Veríssimo e Luan Peres a saída de bola com melhor passe que Alison. O volante atrás de Carlos Sánchez e Diego Pituca. O meio-campo vem conseguindo proteger a última linha defensiva e fazer a bola chegar ao ataque.

O tridente ofensivo tem Eduardo Sasha partindo da direita, mas entrando para se juntar ao centroavante – Kaio Jorge e Yuri Alberto, ambos com 18 anos, vêm se alternando na função. Com isso, a criação pelo setor fica por conta de Sánchez, que apoia Pará. Foi a solução encontrada com a ausência de Marinho, que fraturou o pé esquerdo.

As ações de ataque fluem melhor pela esquerda, com Pituca dando suporte a Felipe Jonatan e Soteldo. O venezuelano ainda não desequilibra como no final do ano passado, mas chama a bola o tempo todo e segue corajoso nos duelos contra o lateral do oponente. E a área adversária também fica mais “cheia” quando a jogada é criada pelo setor, já que Sasha, o jovem centroavante escolhido e Sánchez infiltram para finalizar. É o melhor caminho até aqui.

A circulação de bola, que Jesualdo disse ser um dos aspectos que contribuem para alcançar a intensidade, ainda é lenta em muitos momentos, assim como os setores ficam descompactados. É preciso também ser mais contundente quando domina a partida e intenso na pressão sobre o adversário com a bola, mesmo sem a “loucura” dos tempos de Sampaoli. Mas a confiança adquirida pelos resultados positivos recentes cria um ambiente mais arejado para trabalhar as ideias de jogo.

Como nada mais relevante se decide no primeiro semestre, por ora é o suficiente. Para desafios maiores à frente, o Santos vai precisar de progressos em todos os setores, também na conexão entre eles. Ao menos Jesualdo tem as vitórias como créditos para resistir às turbulências e cobranças tipicamente precoces do futebol brasileiro.

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Corinthians tem problemas no campo para resolver antes de debater vestiário http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/08/corinthians-tem-problemas-no-campo-para-resolver-antes-de-debater-vestiario/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/08/corinthians-tem-problemas-no-campo-para-resolver-antes-de-debater-vestiario/#respond Mon, 09 Mar 2020 00:55:48 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8118

Foto: Estadão Conteúdo

O trabalho de Tiago Nunes até aqui decepciona, impossível negar. Mesmo considerando os problemas internos do Corinthians, além da insanidade de emendar Flórida Cup com Libertadores antes da fase de grupos. E ainda a proposta de mudar a identidade de jogo que, com um ou outro hiato, vinha desde 2008.

A eliminação no torneio continental abalou a confiança e criou o clima de crise. Aquele em que se procura de tudo para justificar o mau desempenho. É um ciclo ladeira abaixo, mesmo disputando apenas estadual no momento. São cinco partidas sem vitória. Consequência do futebol bem aquém das expectativas.

Como sempre acontece nessas ocasiões, muitos vão buscar nos bastidores a explicação. Como se o elenco fosse de craques e não houvesse dificuldades naturais na implementação de uma nova maneira de jogar. Surgiu, então, a tal “cartilha do Tiago”. Questões disciplinares que, se o time estivesse vencendo, seriam elencadas como o “segredo” do treinador. Como as vitórias desapareceram, surge o papo de boicote.

Pode haver insatisfação? Sempre, até porque em todo ambiente de trabalho existen pessoas resistentes a regras e mudanças na rotina. Mas será que está influindo na bola jogada ou é apenas um complicador a mais em ambiente conturbado?

Olhando para o campo, um problema no ataque salta aos olhos: o quarteto ofensivo engessado e ultrapassado na dinâmica: dois ponteiros velozes, um típico meia de ligação e o centroavante de referência. Sem mobilidade e troca de funções. Ou quando ela acontece os jogadores não correspondem. Luan não vai bem quando cai pelos flancos; nem Janderson e Everaldo sabem trabalhar por dentro e só cortam para finalizar, especialmente o segundo. Por fim, Boselli no máximo sai da área para fazer a parede. Tem técnica, porém não amplia a sua zona de atuação. Funcionou contra o Santos e em outros poucos momentos.

A construção de trás fica nas costas de Fagner e Cantillo. Bem vigiados pelos adversários e também contaminados pela falta de confiança, deixam de ser bolas de segurança e forçam o time a apelar mais para as ligações diretas. Ou seja, fica ainda pior que o “réquiem” da identidade com Carille no ano passado.

O 4-2-3-1 engessado do Corinthians nos últimos jogos que não cria variações e sobrecarrega Fagner e Cantillo na construção de trás (Tactical Pad).

Difícil buscar uma solução. Por características, Ramiro pela direita seria interessante para criar uma variação como “ponta-volante” e preencher o meio-campo. Tirando um ou outro jogo, porém, nunca teve desempenho no Corinthians que justificasse a confiança para provocar uma mudança de patamar. Mas é uma possibilidade, assim como Pedrinho, negociado ao Benfica, mas vai ficar no clube até o meio do ano.

Na frente, pela mobilidade, talvez apostar em Vagner Love no centro e Yony González dando profundidade pela esquerda, infiltrando em diagonal. Mas aí o problema passa a ser a falta de contundência no ataque. A equipe precisa de volume de jogo, mais gente entrando na área e dividindo os gols, já que não há um artilheiro destacado.

Cenário complicado, quase desesperador para Tiago Nunes, que não se ajuda ao culpar o gramado pelo empate com o Novorizontino. Mas antes de debater gestão de vestiário é sempre melhor dar uma olhada para o que acontece nos jogos.

Nem tudo é “fritura de técnico”. Às vezes tudo se resume a mau futebol mesmo e não perceber é adiar a solução.

 

 

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Palmeiras de Luxa não “foge” de Felipão/Mano. Ainda lembra Marcelo Oliveira http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/02/palmeiras-de-luxa-nao-foge-de-felipao-mano-ainda-lembra-marcelo-oliveira/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/02/palmeiras-de-luxa-nao-foge-de-felipao-mano-ainda-lembra-marcelo-oliveira/#respond Mon, 02 Mar 2020 09:02:54 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8072

Foto: Cesar Greco / Foto Arena / Estadão Conteúdo

Vanderlei Luxemburgo voltou ao Palmeiras depois de 10 anos prometendo resgatar o futebol ofensivo de seus tempos áureos nos anos 1990. Mais posse de bola, pressão no campo de ataque e presença no campo adversário.

Não foi a tônica dos últimos trabalhos do treinador veterano, mas o elenco mais forte e o propósito do clube depois do ano passado com Luiz Felipe Scolari e Mano Menezes pareciam forçar o treinador a uma mudança na prática.

Ao menos até aqui, nos confrontos contra as equipes de Série A – São Paulo, Red Bull Bragantino e Santos -, Luxemburgo e Palmeiras seguem com melhor desempenho quando encontram espaços para as transições ofensivas em velocidade.

Sim, o time é mais voltado para o ataque, não se entrincheira na defesa. Mas não “foge” muito de 2019 quando encontra dificuldades na circulação da bola com o adversário em fase defensiva, a saída de bola muitas vezes é confusa, embora com menos ligações diretas que a de Felipão, e as ações de ataque ainda ficam muito por conta das individualidades. Especialmente com Dudu.

O craque palmeirense começou o clássico com o Santos no Pacaembu alternando pelos flancos com Willian e Luiz Adriano no centro do ataque. Mas o problema era o espaço entre os setores bem aproveitado pelo Santos, mesmo mais lento e menos intenso com Jesualdo Ferreira.

Os últimos minutos do clássico foram malucos, com um buraco entre as intermediárias, erros técnicos que geravam contragolpes seguidos das equipes. Divertido, mas uma “pelada” considerando que estavam em campo o segundo e o terceiro colocados do último Brasileiro.

Em um cenário caótico, a consequência natural de trocar Raphael Veiga e Luiz Adriano por Gabriel Veron e o estreante Rony foi puxar Dudu para dentro, com liberdade e participando mais do jogo. O camisa sete encontrou alguns bons passes e preencheu o vácuo entre volantes e quarteto ofensivo.

O Palmeiras da parte final do clássico contra o Santos: um 4-2-4 com Dudu centralizado, participando mais do jogo e tentando preencher o buraco no meio-campo. Lembrou o time de 2015 com Marcelo Oliveira (Tactical Pad).

Lembrando o Palmeiras campeão da Copa do Brasil de 2015, comandado por Marcelo Oliveira. Mas aquele ainda tinha Robinho como uma espécie de ponta armador pela direita como contraponto, se juntando aos meio-campistas. Do lado oposto, o menino Gabriel Jesus partia da esquerda em diagonal.

Desta vez foram dois ponteiros agudos e um atacante móvel partindo do centro. No modo “briga de rua”, de um jogo mais direto e vertical, pode funcionar. Mas dentro de um modelo mais propositivo, de controle do jogo pela posse, parece um contrasenso. Ou coerente com o Luxemburgo atual.

Na coletiva depois do clássico, o técnico disse que a atuação foi normal e o trabalho está no caminho certo. Ainda é início de temporada, mas os primeiros testes em jogos grandes não foram muito promissores. Vejamos na estreia da Libertadores.

Com Dudu aberto ou por dentro? Veremos na Argentina, contra o Tigre na quarta-feira.

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Corinthians intenso atropela Santos “suicida” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/02/corinthians-intenso-atropela-santos-suicida/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/02/corinthians-intenso-atropela-santos-suicida/#respond Sun, 02 Feb 2020 15:59:13 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7895 Com um minuto e meio, o clássico na Arena do Corinthians já mostrava que o Santos não estava minimamente preparado para o que iria enfrentar. A equipe de Tiago Nunes entrou com um plano claro: circular rapidamente a bola para desarticular a marcação do rival. Justamente o que Jesualdo Ferreira disse que seria parte da intensidade cobrada ao alvinegro praiano.

Troca rápida de passes, bola em Victor Cantillo, o grande organizador dos ataques corintianos, e inversão para o lado direito, com Janderson, que inverteu de flanco para substituir o lesionado Ramiro, arrastando Felipe Jonatan para dentro e abrindo o corredor para Fagner, que não era acompanhado por Raniel. Passe do lateral, gol de Everaldo.

Tarefa facilitada por um erro fundamental do Santos, imperdoável no futebol em alto nível. Mesmo em um início de temporada e dentro de um jogo às 11h no verão: não pressionar o adversário com a bola jogando com defesa adiantada e em linha. Tática “suicida”. Um convite para o Corinthians rápido e intenso.

Assim dominou completamente o jogo por exatos 46 minutos. Finalizando 10 vezes em 45 minutos, perdendo gol feito com Sidcley. Concluindo pela última vez no primeiro minuto da segunda etapa: passe longo de Boselli, sem nenhuma marcação, para Janderson infiltrar às costas da defesa adversária e tocar na saída de Everson.

E aí veio a total falta de sensibilidade de uma regra que pune o jogo no grande momento do futebol. Janderson subiu a escada para comemorar com os torcedores, levou o segundo amarelo e foi expulso.  Tiago Nunes ainda perdeu Camacho, lesionado. Entrou Gabriel. Depois Luan saiu para a entrada de Lucas Piton pela esquerda fazendo dupla com Sidcley no protocolar 4-4-1 com dez homens. Everaldo inverteu o lado, depois saiu para a entrada de Mateus Vital.

O Santos sentiu falta de Alisson e Sánchez no meio-campo, mas nada justifica tamanha lentidão e previsibilidade nas ações de ataque. Não por culpa dos substitutos Jobson e Sandry, que saíram para as entradas de Uribe e Evandro. Nem de Jean Mota, que na sequência substituiu Kaio Jorge.

É um problema conceitual, parecido com o que o Botafogo sofreu no ano passado com Eduardo Barroca: o cuidado excessivo com o passe facilita a marcação pela morosidade para executar o gesto técnico. Hoje o fundamento exige precisão e velocidade.

O domínio santista na segunda etapa foi natural, terminando a partida com 60% de posse de bola e dez conclusões, mas apenas uma no alvo. O Corinthians, porém, foi mais perigoso em contragolpes, mesmo com um homem a menos,. Chegou a carimbar a trave com Piton, mas a arbitragem assinalou impedimento. Com organização e concentração defensiva, teve algum problema na jogada aérea de Raniel e pouco mais do que isso. Cantillo seguiu sobrando, ditando o ritmo.

O Corinthians se recupera em momento importante, às vésperas de estrear na Libertadores contra o Guarani paraguaio. O Santos preocupa e revolta o torcedor por ser a antítese da “fúria” do time com Jorge Sampaoli. Toda mudança de mentalidade precisa de tempo. O Santos foi bem contra a Internacional de Limeira na quinta e definhou no primeiro clássico da temporada.

Jesualdo vai ouvir o que não quer nas coletivas de imprensa. Mas não pode reclamar. Mesmo considerando o contexto da disputa e o imediatismo nas cobranças, o Santos ficou devendo no primeiro grande teste da temporada.

(Estatísticas: SofaScore)

 

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Santos de Jesualdo precisa de respaldo para trocar fúria por controle http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/27/santos-de-jesualdo-precisa-de-respaldo-para-trocar-furia-por-controle/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/27/santos-de-jesualdo-precisa-de-respaldo-para-trocar-furia-por-controle/#respond Tue, 28 Jan 2020 01:13:20 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7879 A intensidade dos times de Jorge Sampaoli é alta, mesmo para os padrões dos “súditos” de Marcelo Bielsa. É muita fúria para atacar e pressionar tentando recuperar a bola o mais rápido possível. O problema sempre é suportar física e mentalmente tamanha exigência durante 90 minutos a cada jogo de uma temporada já naturalmente desgastante.

Encanta pela coragem e o Santos cativou muitas retinas, mesmo sem conquistas em 2019. Bonito de ver, mas por vezes deve ser duro de torcer. Porque quando não encaixa ou baixa a guarda, o fracasso é certo. Um efeito colateral da “loucura”.

Jesualdo Ferreira gosta de times com vocação ofensiva, mas crê na capacidade de controlar o jogo. Tratando a bola com cuidado, buscando a precisão nos passes para evitar que o oponente tenha muitas oportunidades de contra-atacar a última linha de defesa, quase sempre adiantada.

Sem Marinho, lesionado, e Soteldo, a serviço da seleção venezuelana no Pré-Olímpico, o Santos perde seus pontas desequilibrantes e, por isso, tem ainda mais motivos para valorizar a posse, circular a bola, inverter o lado da jogada e tocar, com paciência.

Em Campinas contra o Guarani pela segunda rodada do Paulista, com Alisson recuando para auxiliar Luiz Felipe e Luan Peres e empurrando os laterais Pará e Felipe Jonatan para abrir o campo. Os meias Sánchez e Diego Pituca dando suporte pelos flancos, mas também procurando Eduardo Sasha para tocar por dentro. Com as diagonais dos ponteiros substitutos, Arthur Gomes e Raniel.

Assim trabalhou desde a defesa até Felipe Jonatan colocar na cabeça de Arthur Gomes para abrir o placar no primeiro tempo. Dominando um Guarani que tentava atacar, especialmente pela direita com o lateral Pablo buscando o centroavante Rafael Costa. Mas defendendo mal e permitindo as triangulações pelos lados do alvinegro praiano.

O roteiro parecia o mesmo na segunda etapa, mas o que deveria ser o evento para fazer o Santos ter um domínio ainda mais amplo se transformou em problema: a expulsão de Lucas Abreu. No 4-4-1, o Bugre foi obrigado a se organizar defensivamente e só descer na boa. E forçou o adversário a atacar, em alguns momentos de forma apressada, sem coordenação.

A troca de Arthur Gomes com Jean Mota, que foi jogar pela esquerda e fez Ramiel mudar de lado, tirou profundidade da equipe de Jesualdo. Com o cansaço pelo início de temporada, o Santos foi definhando e se atrapalhando. Na bola parada, a saída errada do goleiro Everson e o gol de Rafael Costa, que havia marcado três no Santos de Sampaoli pelo Botafogo-SP em 2019.

Com Mateusinho na vaga do autor do gol, o Guarani ganhou ainda mais velocidade nos contragolpes. Por iniciar a preparação mais cedo, também sobrou vigor nos últimos minutos. E perdeu chance cristalina, com Junior Todinho. Jesualdo arriscou tudo com Tailson no lugar de Raniel e Uribe na vaga de Pituca. Faltou lucidez nos últimos minutos.

Mas sobrou sorte. Quando o time mandante parecia mais perto da virada, já nos acréscimos, Jean Mota bateu falta pela direita no travessão e Pablo, desastrado, marcou contra. Justo um dos destaques da primeira etapa. A equipe do jovem Thiago Carpini mereceu os aplausos do torcedor ao final da partida. Cresceu com um homem a menos.

Para o Santos, importante vencer para ganhar confiança. Porque mudar ideias e ideais nunca é fácil. Com 60% de posse e 17 finalizações a 11, não dá para dizer que o time foi mal. 552 passes trocados, 91% de precisão. A equipe de Jesualdo quer trabalhar a bola com calma e a paciência fora de campo é fundamental.

O português já deve ter sido informado que no Brasil o respaldo para mudar só vem com resultado imediato. Por isso voltar do Brinco de Ouro com três pontos é garantia de paz. Ao menos até quinta-feira, quando enfrenta a Internacional de Limeira.

(Estatísticas: SofaScore)

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