chelsea – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Comparação mais justa nos Mundiais de 12 e 19 não é entre Fla e Corinthians http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/18/comparacao-mais-justa-nos-mundiais-de-12-e-19-nao-e-entre-fla-e-corinthians/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/18/comparacao-mais-justa-nos-mundiais-de-12-e-19-nao-e-entre-fla-e-corinthians/#respond Mon, 18 May 2020 11:50:52 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8508 As reprises na TV Globo da conquista do Mundial de Clubes 2012 pelo Corinthians, para São Paulo, e da Libertadores do ano passado pelo Flamengo despertaram nas redes sociais uma rivalidade que nunca fez muito sentido para este que escreve, que viveu a época da “Fla-Fiel”, de torcedores engrossando a massa do “parceiro” em disputas interestaduais.

Uma união de times extremamente populares que foi minada primeiro pelo bairrismo crescente em programas de TV que deveriam ser de âmbito nacional e depois pela internet, com a tola “polêmica” sobre qual a maior torcida do país.

Apesar do jogo exibido do time carioca ter sido contra o River Plate em Lima, muitos corintianos fizeram questão de lembrar da derrota do Flamengo para o Liverpool no Mundial em dezembro. Mantendo o clube paulista como o único sul-americano a vencer o torneio organizado pela FIFA nesta década.

Méritos inquestionáveis de uma conquista invicta desde a Libertadores da equipe comandada por Tite. E a comparação não faz sentido também porque o registro que fica para os corintianos é de uma festa apoteótica no Japão e dos rubro-negros de tristeza no Catar, apesar do orgulho pelo desempenho do time. Celebração só em 1981, com os 3 a 0 sobre o mesmo gigante inglês em Tóquio, na conquista reconhecida pela FIFA como Mundial.

Mas a comparação correta para avaliar apenas os desempenhos dos times brasileiros deve ser entre os adversários. Qual time impôs mais resistência: o Chelsea de Rafa Benítez há quase oito anos ou o Liverpool de Jürgen Klopp há cinco meses?

Bem, os Blues não eram o melhor time da Europa nem quando conquistaram a tão sonhada Liga dos Campeões. Apesar do heroismo de resistir ao Bayern na final em Munique e ter eliminado o Barcelona de Guardiola na semifinal, os comandados de Roberto Di Matteo, liderados em campo por Didier Drogba, foram o grande azarão e não tiveram uma grande atuação para chamar de sua no período.

Em dezembro, sem Drogba e com Rafa Benítez, era um time ainda mais fragilizado. Eliminado por Juventus e Shakhtar Donetsk na fase de grupos da Champions 2012/13, terminaria em terceiro lugar na Premier League, 14 pontos atrás do campeão Manchester United, e sem faturar nenhuma copa nacional.

Só a Liga Europa contra o Benfica, mas pela capacidade de investimento de Roman Abramovich à época, não passou de um prêmio de consolação. Tanto que Benítez acabou demitido no final da temporada para o clube londrino repatriar José Mourinho.

No Mundial, vitória protocolar sobre o Monterrey por 3 a 1 na semifinal. Impondo a enorme superioridade técnica de um time que ainda contava com Cech, Ivanovic, David Luiz, Ashley Cole, Lampard, Hazard e Fernando Torres.

É óbvio que o Corinthians não venceu qualquer um. Nem foi uma vitória por acaso, abrindo mão de jogar futebol. Se cuidou na execução do 4-4-1-1 que tinha Danilo pela esquerda e Emerson se aproximando de Paolo Guerrero, autor do gol do título. Para depois compactar setores marcando por zona, uma novidade à época nos times brasileiros, e contar com as defesas de Cássio para segurar o campeão europeu estelar.

Inegavelmente um feito histórico e único nos últimos dez anos, de domínio cada vez maior dos times do Velho Continente. Não só pelo abismo financeiro, mas por conta da evolução constante dos métodos e do rendimento no mais alto nível.

Eis o mérito do Flamengo, mesmo sem levantar a taça. Encarou de fato o melhor time europeu e do planeta naquele momento. Classificado para o mata-mata da Liga dos Campeões e líder absoluto da Premier League, com título praticamente encaminhado já em dezembro.

Com Alisson, Van Dijk, Alexander-Arnold, Robertson, Henderson, Salah, Firmino e Mané. À beira do campo, o melhor treinador do planeta na atualidade. Mesmo considerando a intensidade mais baixa na disputa do Mundial e o susto na semifinal contra o Monterrey usando time misto, os Reds eram favoritos absolutos.

Ainda mais em tempos recentes, com sul-americanos eliminados nas semifinais em 2013, 2016 e 2018 – sem contar o “pioneiro” Internacional contra o Mazembe em 2010. O Flamengo ao menos cumpriu a obrigação contra o Ah Hilal, apesar do susto e da necessidade de virar o jogo para 3 a 1.

Na decisão, o mérito da equipe de Jorge Jesus foi tentar jogar, utilizando conceitos atuais que surpreenderam até Alisson e Firmino, brasileiros que atuam no Liverpool. Duelando pela posse de bola e ocupando o campo de ataque em vários momentos.

Nunca saberemos se o Flamengo, caso tivesse aberto o placar, também se fecharia como o Corinthians. E é preciso considerar o maior desgaste por ter se dedicado e vencido também o Brasileiro, enquanto o time paulista praticamente abandonou a principal competição nacional e respirou Chelsea desde a conquista da Libertadores em julho.

O cansaço cobrou uma conta alta na prorrogação e o gol de Firmino fez justiça ao melhor time da decisão. Que criou chances cristalinas e fez Diego Alves trabalhar quase tanto quanto Cássio em Yokohama. Não há o que contestar, apesar da chance desperdiçada por Lincoln no último ataque dos 12o minutos.

Tudo isso em um trabalho de cinco meses, bem menos que os mais de dois anos de Tite. Um no início, outro no ápice. Mas fundamentalmente com adversários vivendo momentos bem distintos.

O Corinthians conseguiu o objetivo final, a vitória. O Flamengo ficou com a esperança de retornar, abafada agora pela pandemia. Para o histórico de vexames internacionais nos últimos tempos, o título da Libertadores já foi uma conquista espetacular, ainda mais com a virada no final sobre o então campeão River de Marcelo Gallardo com os gols de Gabriel Barbosa.

Mas como vivemos tempos de comparações descabidas para provocar e gerar “engajamento”, forçaram um paralelo que, como tudo, precisa de contextualização para ser melhor compreendido. Sem o simplismo de apenas olhar o placar final e arrotar “verdades”. Felizmente o futebol é bem mais que isso.

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Bayern de Munique é o rolo compressor “silencioso” da Champions http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/25/bayern-de-munique-e-o-rolo-compressor-silencioso-da-champions/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/25/bayern-de-munique-e-o-rolo-compressor-silencioso-da-champions/#respond Tue, 25 Feb 2020 22:25:27 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8024 Gnabry chegou a seis gols na Liga dos Campeões. Quatro no Tottenham e mais dois nos 3 a 0 sobre o Chelsea. Todos em Londres.

Na sétima vitória do Bayern de Munique em sete jogos no torneio. 100% de aproveitamento, mas nenhuma menção à candidatura ao titulo europeu. Mesmo triturando os Spurs, vice-campeões na última edição.

Talvez pelo sofrimento na liderança da Bundesliga, apenas um ponto à frente do Leipzig – mais por méritos do amadurecimento do trabalho do “intruso” entre os grandes alemães. Ou pelo comando sem grife de Hans-Dieter Flick, efetivado no lugar de Niko Kovac. Ou pelos fracassos no mata-mata continental, cujo símbolo maior é justamente Lewandowski.

Mas no Stamford Bridge mostrou novamente o volume de jogo que se refletiu até aqui em 27 gols. Com a qualidade de Kimmich e Thiago Alcântara na construção, Coman abrindo o jogo pela direita e Gnabry partindo da esquerda buscando a diagonal, abrindo o corredor para o jovem e intenso lateral Davies.

No centro, a mobilidade, a inteligência na leitura de espaços e o bom entendimento por dentro de Muller e Lewandowski. Um abre espaço, outro infiltra.

Força demais diante do inconstante Chelsea de Frank Lampard, que fez sua equipe se defender no 5-4-1, mas sem velocidade nas transições ofensivas. Dependendo das vitórias de Giroud nas disputas por cima com Boateng e Alaba e do apoio de Marcos Alonso pela esquerda.

Mas muita dificuldade para circular a bola saindo da pressão bávara – apenas 37% de posse e 76% de efetividade nos passes. Quando conseguiu acelerar até criou problemas para Neuer.  Foram sete finalizações, três no alvo.

Pouco contra as doze dos visitantes, metade na direção da meta de Caballero. Em duas combinações de Lewandowski e Gnabry, dois gols do ponteiro em um início arrasador de segundo tempo. O do camisa nove, décimo primeiro na Champions, novamente pela esquerda com Davies voando nas costas de James até servir a referência de um ataque avassalador.

Que pode melhorar ainda mais os números na volta em Munique. Contra um Chelsea sem os suspensos Jorginho e Alonso. A oitava vitória consecutiva é mais que possível, até provável.

Talvez assim comecem a falar do Bayern. Até aqui o rolo compressor “silencioso” da Champions.

(Estatísticas: UEFA)

 

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Com Arteta, Arsenal tenta sair do limbo que, no Brasil, ameaça o São Paulo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/30/com-arteta-arsenal-tenta-sair-do-limbo-que-no-brasil-ameaca-o-sao-paulo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/30/com-arteta-arsenal-tenta-sair-do-limbo-que-no-brasil-ameaca-o-sao-paulo/#respond Mon, 30 Dec 2019 11:47:58 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7784

Foto: Getty Images

Mikel Arteta se aposentou como jogador em 2016 no Arsenal, aos 34 anos, e foi ser auxiliar de Pep Guardiola no Manchester City. Com visão privilegiada de meio-campista e sensibilidade para lidar com os atletas que enfrentava até pouco tempo atrás, era uma “ponte” importante entre treinador e elenco.

Conceitos atuais e liderança que seduziram o Arsenal a apostar no espanhol para suceder Unai Emery no comando técnico. Arteta que foi convidado por Arsène Wenger assim que parou de jogar para comandar a Academia. Desenvolvendo jovens atletas que hoje são a esperança do clube e do novo treinador em um projeto a médio/longo prazo, a julgar pelo contrato de três anos e meio.

O grande obstáculo em sua primeira experiência é justamente a urgência de uma torcida que está cansada de esperar. Porque o clube demorou a entender que era hora de agradecer a Wenger pelos serviços prestados e buscar outros caminhos. Por mais que se defenda trabalhos a longo prazo e se reverencie quem consiga executar um projeto durante décadas, a noção de “timing” é fundamental.

Faltou isso à diretoria dos Gunners. Ou o bilionário Stan Kroenke, “dono” do clube, deu mais importância aos lucros do que aos resultados esportivos. Na prática, a imagem de clube que contrata e trabalha na evolução de jovens atletas que vão vencer em outras agremiações foi consolidada e teve em Cesc Fàbregas seu maior símbolo. Chegou ao clube em 2003, com 16 anos foi o jogador mais jovem a entrar em campo pelo time principal. No entanto, não pôde ser considerado campeão invicto em 2003/04 porque não jogou nenhum minuto pela Premier League.

Saiu em 2011, com apenas uma Copa da Inglaterra (2004/05) e uma Supercopa (2004). Para ganhar quase tudo no Barcelona em três anos, exceto a Liga dos Campeões, e vencer sua primeira Premier League logo em sua volta à Inglaterra, mas pelo Chelsea, grande rival do Arsenal.

Foram anos se satisfazendo com a quarta vaga na Inglaterra para a Champions, campanhas que foram minguando depois do vice-campeonato em 2006 e da chegada às semifinais em 2008/09. Com incrível sequência de sete eliminações nas oitavas, a última de forma humilhante para o Bayern de Munique por 10 a 2 no placar agregado em 2016/17.

Com a ascensão do Tottenham de Mauricio Pochettino e a redenção do Liverpool de Jürgen Klopp se juntando a Manchester City e Chelsea, além das oscilações do Manchester United, não havia mais vaga no principal torneio de clubes do planeta para os Gunners. Precisou que o próprio Wenger, imaginando a possibilidade de demissão, encerrasse o ciclo de 22 anos como manager em abril de 2018. Período que ele mesmo considerou longo demais em entrevista posterior à saída: “Sou uma pessoa que gosta de se mover, mas também gosto de um desafio. Só que eu acabei sendo um prisioneiro dos meus próprios desafios”, declarou à rádio francesa “RTL”.

Depois do fenômeno “Invincibles” em 2003/04, os títulos vieram apenas na Copa da Inglaterra: 2004/05, 2013/14, 2014/15 e 2016/17. Tornando o clube recordista de conquistas do torneio, com 13. Mesmo número de títulos ingleses, só ficando atrás de Manchester United e Liverpool. Mas apenas três na Era Premier League, desde 1992.

Um clube vencedor, mas que parece ter se enfiado em uma espécie de “limbo”. A falta de maiores ambições durante anos, uma sensação de imobilidade conformada. O Arsenal ficou morno, sem enorme crise nem grande conquista. Wenger virou refém de sua própria imagem que ganhou um ar romântico e até quixotesco ao longo do tempo.

Fez mal, porém, à instituição que hoje luta para se reposicionar. Na derrota para o Chelsea no Emirates por 2 a 1, segunda partida de Arteta no comando depois do empate por 1 a 1 na estreia contra o Bournemouth, uma virada improvável dos Blues depois do domínio dos donos da casa, especialmente no primeiro tempo. Gol de Aubameyang, mas falha grotesca de Leno no gol de Jorginho aos 38 minutos e, quatro minutos depois, o golpe final com Abraham. Mais um revés para o algoz na final da última Liga Europa, com goleada por 4 a 1.

Para deixar o time na 12ª colocação no campeonato. A sete pontos da vaga na Liga Europa, a seis da zona de rebaixamento. Um elenco com potencial para ir além, mas que tem em Mesut Özil a imagem mais emblemática: 31 anos, no clube desde 2013. Acomodado, de brilhos esparsos e que desaparece em momentos decisivos. Como se reconstruir desta forma? Só Arteta no comando não basta.

Um buraco que, no Brasil, ameaça o São Paulo. Clube ainda mais vencedor que o Arsenal, pelas grandes conquistas internacionais, mas que segue errante, sem rumo desde o tricampeonato brasileiro em 2008. Depois da Sul-Americana em 2012, um duro período de seca, mesmo no Paulista que já perdeu relevância no cenário nacional.

Turbulência política, a perda da imagem de “Soberano” e também do Morumbi como palco dos grandes jogos dos rivais Corinthians e Palmeiras, o que gerava receitas e prestígio pela imagem de clube organizado. Hoje vive de olhar para o passado buscando algum sinal, uma luz.

Tentou a guinada com a contratação de Daniel Alves, o jogador mais vencedor da história do futebol, com 40 títulos oficiais na carreira. Mas nem o carisma mudou o marasmo, ao menos por enquanto. Os grandes “feitos” na temporada foram a vaga direta na fase de grupos da Libertadores – com a sexta colocação no Brasileiro, aproveitando as vagas deixadas por Flamengo e Athletico – e ter sido o único time a não ser derrotado pelo campeão com recorde de pontos. Muito pouco para um gigante.

Mas parece suficiente para Fernando Diniz, que detecta poucas carências para o elenco. De fato, há qualidade. Falta, porém, uma centelha de protagonista difícil de encontrar depois que se acostuma com papeis secundários. O risco é o hábito de ser coadjuvante empurrar ladeira abaixo, como parece o caminho do Arsenal na Inglaterra. Um triste ocaso para tanta história.

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City está mal, mas errar demais em Manchester ainda é fatal. Chelsea pagou http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/23/city-esta-mal-mas-errar-demais-em-manchester-ainda-e-fatal-chelsea-pagou/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/23/city-esta-mal-mas-errar-demais-em-manchester-ainda-e-fatal-chelsea-pagou/#respond Sat, 23 Nov 2019 19:40:01 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7614 O plano de jogo do Chelsea para encarar o Manchester City no Etihad Stadium era óbvio e adaptado às características da equipe de Frank Lampard e ao contexto. Um 4-1-4-1 concentrado defensivamente e apostando em transições rápidas com o jovem Abraham na referência móvel e Willian e Pulisic pelas pontas.

Jorginho era o responsável por comandar a saída de bola, mesmo com a pressão habitual na perda do time de Pep Guardiola. Curiosamente, deu muito certo até abrir o placar na infiltração de Kanté, que aproveitou o vacilo de Mendy na cobertura da esquerda para dentro e finalizou na saída de Ederson.

Depois desconcentrou. Ou não acreditou que seria possível vencer fora de casa o atual bicampeão inglês em um início de trabalho do treinador-ídolo. A hesitação deu sobrevida a um City que vem oscilando demais em desempenho e se reflete nos resultados, ficando atrás na tabela não só do Liverpool líder absoluto, mas também do surpreendente Leicester City e do próprio Chelsea no início da rodada.

Os donos da casa começaram bem, com as combinações entre o quinteto ofensivo que, mais uma vez, teve Kevin De Bruyne como o grande destaque individual. Se juntando a David Silva nas articulações por dentro, mas também fazendo movimentos em “x”, procurando os espaços nas pontas com a movimentação de Mahrez, canhoto pela direita, e Sterling, destro à esquerda, cortando para dentro. Assim o belga finalizou com perigo logo no início.

Acabou achando o empate em falha de Jorginho com os Blues ocupando o campo de ataque. Dando ao City o que ele mais precisava: espaços generosos para acelerar. Transição rápida e a felicidade do meia no chute que desviou em Zouma que saiu do alcance de Kepa.

A senha para os citizens ganharem confiança. Mesmo com muitos erros, mas induzindo o rival a se equivocar também. Até Mahrez fazer sua jogada característica, cortando para dentro a partir da direita, e ninguém bloquear – Emerson e Kovacic falharam. Virada que poderia ter o placar ampliado em falha grotesca de Kepa e Aguero não aproveitando.

Segundo tempo de mais controle que brilho do time de Guardiola. Com Gundogan, Foden e Gabriel Jesus nas vagas de Rodrigo, David Silva e Aguero. De Bruyne cansou, porém manteve a qualidade na construção. O Chelsea tentou reagir e atacar com James no lugar de Emerson, com Azpilicueta indo para a lateral esquerda. Mais Batshuayi na vaga de Abraham e o jovem Mason Mount substituindo Jorginho e sendo o melhor do time na busca da reação. Difícil entender a opção de Lampard por Pulisic na formação inicial.

Virada do time azul de Manchester com apenas 47% de posse, mas 15 finalizações contra 11 dos Blues. Sem brilho, mas conquistando três pontos fundamentais para não deixar o Leicester abrir vantagem na segunda colocação e não perder de vez o contato visual com o Liverpool, esperando uma queda do time de Jurgen Klopp em um dezembro complicado.

Para o Chelsea fica a lição de um duro revés. Mesmo com o City em má fase não se pode errar tanto. Ainda é fatal.

(Estatísticas: BBC)

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Enfim, a grande atuação do Liverpool absoluto na Inglaterra http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/10/enfim-a-grande-atuacao-do-liverpool-absoluto-na-inglaterra/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/11/10/enfim-a-grande-atuacao-do-liverpool-absoluto-na-inglaterra/#respond Sun, 10 Nov 2019 18:24:21 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7543 O Manchester City vai questionar por muito tempo o lance que terminou no primeiro gol do Liverpool em Anfield. Mas tecnicamente o toque na mão de Bernardo Silva anularia o ataque que, na sequência, teve um pênalti cometido por Alexander-Arnold. No contragolpe pela esquerda, bola mal rebatida por Gundogan e gol de Fabinho.

O atual bicampeão inglês também pode lamentar a ausência do goleiro Ederson e a presença de Bravo logo no jogo mais importante hoje na Inglaterra. Mais um “elo fraco” de um sistema defensivo pouco sólido para cruzar com o trio de ataque mais letal da Europa: Salah, Firmino e Mané.

Nada diminui, porém, a grande atuação do Liverpool na temporada 2019/20. Dentro da proposta de pressão no campo de ataque, inversões para os laterais Arnold e Robertson e o acionamento rápido de Salah e Mané aproveitando os espaços deixados com o recuo de Firmino. Tudo muito conhecido e certamente dissecado por Pep Guardiola, mas desta vez executado com excelência. Entendendo o tamanho do duelo, ainda mais em seus domínios.

O segundo gol foi o símbolo: inversão da direita para Robertson e cruzamento do lateral encontrando Salah do lado oposto. No terceiro não houve a vantagem da inversão rápida, a jogada foi criada pela direita até o cruzamento de Henderson, Walker e Bravo vacilarem e Mané completar de cabeça. A última linha dos citizens contribuiu com as fragilidades de Walker, Stones, Fernandinho e Angeliño, escalado pela esquerda por conta das ausências de Zinchenko e Mendy.

Mas é claro que um time de Guardiola, com grande volume de jogo, não passaria 90 minutos sem ter momentos de domínio e também boas oportunidades. Em uma variação de 4-2-3-1 e 4-4-2, De Bruyne jogou mais solto, próximo de Aguero, que teve noite infeliz em Anfield, desperdiçando oportunidades. Sem contar a pressão da torcida sobre Sterling, ex-atacante do Liverpool com saída polêmica. Ainda assim, o City finalizou 18 vezes, diminuiu para 3 a 1 com Bernardo Silva e terminou com 55% de posse de bola, além da pressão sufocante nos minutos finais. Continua sendo um timaço.

Mas são 29 jogos de invencibilidade da equipe do Jurgen Klopp na liga. Apenas uma derrota em 51 partidas. Um time decidido a fazer ainda mais história e encerrar o jejum de 29 anos. Abrindo nove pontos sobre o City e agora vendo Leicester City e Chelsea um ponto mais próximos.

Apenas o empate com o United no Old Trafford. Algumas vitórias conquistadas à forceps, devendo no desempenho, mas demonstrando força e capacidade de competir. No jogo mais importante até aqui, os Reds sabiam que não poderiam entregar menos que o máximo em técnica, tática e intensidade. Mais uma prova de que o campeão europeu quer se impor também nos pontos corridos. Nunca pareceu tão preparado.

(Estatísticas: BBC)

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Klopp, Rafael Oliveira e a influência do público no jornalismo de futebol http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/08/15/klopp-rafael-oliveira-e-a-influencia-do-publico-no-jornalismo-de-futebol/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/08/15/klopp-rafael-oliveira-e-a-influencia-do-publico-no-jornalismo-de-futebol/#respond Thu, 15 Aug 2019 12:40:14 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7044 “A ESPN vive um processo de transformação e adaptação para atender aos fãs, acionistas e clientes de esportes em meio às constantes mudanças no consumo de conteúdo”.

Esta é a parte que chama mais atenção da nota oficial emitida pela ESPN Brasil para justificar a demissão ou não renovação de contrato de João Palomino, Juca Kfouri, João Carlos “Canalha”, Arnaldo Ribeiro, Eduardo Tironi, Cláudio Arreguy, Maurício Barros, Renata Netto, Stela Spironelli, Guilherme Graziano e Rafael Oliveira.

Mas foi justamente o nome deste último que gerou mais repercussão. O mais jovem e talvez hierarquicamente o profissional de menor poder decisório de todos os dispensados. Mas um comentarista que se destaca pelo enorme conhecimento de futebol nacional e internacional.

Este blogueiro conheceu o Rafael em 2007, no início do Esporte Interativo, ainda como um canal de transmissão restrita aos clientes com antena parabólica comum. Ele era produtor estagiário, com 18 anos, mas já mostrava um enorme conhecimento. Seu material de pesquisa para os jogos era superior aos dos comentaristas. Não demorou para a chefia notar que ele era melhor que todos nós e colocá-lo para comentar jogos. Não tenho a mínima vergonha de dizer que o Rafael ficou com a minha vaga.

Porque ele é simplesmente o melhor para comentar sobre o futebol na sua essência, o jogo. Respira o esporte mais que qualquer um de nós, a ponto de acompanhar e analisar com profundidade os campeonatos mais alternativos.  Por isso a gritaria nas redes e o seu nome em primeiro lugar nos assuntos mais comentados no Twitter.

Mas a nota da ESPN deixa a mensagem subliminar de que este perfil não se adequa mais ao que o grosso da audiência deseja. E a saída dos outros profissionais indica que acionistas mandaram às favas a linha editorial que sempre marcou a emissora, mas já vinha se transformando.

Com a popularização da TV por assinatura e internet por banda larga, além das entradas do Fox Sports e Esporte Interativo, o perfil do consumidor de conteúdo sobre esportes, particularmente o futebol, mudou. Antes era Sportv com o futebol nacional e alguns campeonatos europeus periféricos e a ESPN Brasil com as principais competições internacionais.

A fragmentação distribuiu os direitos de transmissão e abriu espaços nas grades para os programas de debate. E surpreendentemente a fórmula da TV aberta, tosca e popularesca na maioria das vezes, encontrou um público na fechada e passou a liderar a audiência.

Velhas práticas, como polêmicas bairristas, gritaria e a “indústria da treta” – as brigas entre os participantes, normalmente combinadas antes ou criadas na hora – atraíram a atenção do público e viraram a lógica do avesso. Explica a mutação gradativa das então duas emissoras dominantes e agora temos a ESPN consolidando uma guinada antes improvável.

A outra parte da nota do canal diz: “A reformulação faz parte do planejamento da emissora para o próximo ano que seguirá apostando no conteúdo ao vivo e nos direitos esportivos de futebol, tais como Premier League e La Liga, além das ligas norte-americanas como a NFL, NBA, MLB, NHL entre outras.”

Curioso pensar que apostando em transmissões como os campeonatos inglês e espanhol a ESPN dispense um comentarista como o Rafael Oliveira, que domina como poucos (ou ninguém) as duas ligas. A impressão é mesmo que o investimento agora será no caminho mais fácil: polêmicas e análises simplistas.

Até porque a nova executiva que substitui Palomino, Adriana Naves, vem do Fox Sports. Justamente a emissora que resgatou esse formato mais “popular”. Considerando que o Fox Sports no Brasil será vendido pela própria Disney com “porteira fechada”, incluindo os campeonatos que transmite, o crescimento do DAZN no serviço de streaming e ainda o investimento da Turner no esporte essa estratégia de contratar mais eventos ao vivo não parece muito promissora. A tendência é fragmentar ainda mais.

Faz sentido se notarmos o que repercute em todos esses muitos debates sobre futebol nas emissoras. É bem provável que boa parte dos que lamentaram a saída do Rafael ontem não assistisse com frequência as atrações das quais o comentarista participava. Muito menos faziam eco nas redes sociais de suas análises embasadas.

Já a polêmica barata, a bobagem contundente e o apelo clubista e bairrista costumam “quebrar a internet”. Mesmo que gerem ofensas e até ameaças nos casos mais graves, entregam audiência e o tal do engajamento. Atraem patrocinadores que pagam as contas e agradam os acionistas. Ou seja, o “chorume” no rigor dos números vale mais que o conteúdo.

Essa lógica perversa é responsabilidade também do público. Sim, do cliente que nem sempre tem razão. Se quem é fã do Rafael ouve o que ele diz e guarda admiração para si, mas repercute o lixo de outros está apenas mantendo esse status quo que critica. As redes sociais deram voz e poder de participação aos espectadores que precisam refletir sobre o seu papel na construção da mídia e, consequentemente, do nosso futebol que é praticamente o tema único no jornalismo esportivo.

Este conflito não é recente, nem restrito ao Brasil. Vale destacar alguns pequenos trechos do livro “Klopp”, de Raphael Honigstein, traduzido pela editora Grande Área, muito bem resgatados pelo colega Gabriel Dudziak no Twitter sobre a realidade do futebol alemão há alguns anos e que gerou por lá reflexões e também mudanças:

“… e mais ainda na maneira como se discutia e se pensava futebol na Alemanha. Vencedores ganhavam porque tinham mais desejo de vitória e perdedores fracassavam… porque é isso que perdedores fazem não é mesmo?”(…) a simplificação deliberada de sua apresentação (do futebol) cobrou um preço muito alto: […] era o futebol ‘desfutebolizado’, despreocupado com a forma e voltado apenas para o sucesso. Essa desavergonhada falta de qualquer tentativa de análise séria contribuiu para que os clubes e a seleção nacional ficassem completamente para trás ao longo das décadas seguintes. Não havia nem vocabulário nem estrutura técnica para introspecções.”

Caminhamos para a não-reflexão. Ainda que se entenda que o espectador tem o direito de simplesmente sentar no sofá e buscar um entretenimento para acompanhar a refeição ou o descanso depois de um dia exaustivo de trabalho não pode ser apenas isso. É possível fazer algo plural, com diversão, mas também informação e análise que não encerre a discussão no “ganhou porque o grupo está fechado com o treinador” ou “perdeu porque faltou raça”. Ou explicações mais estapafúrdias. Ou brigas fabricadas.

Jurgen Klopp é um belo exemplo de conteúdo e diversão. Revoluciona o esporte com novos conceitos, mas é capaz de fazer piada com o goleiro Adrián – substituto do brasileiro Alisson e herói da vitória nos pênaltis sobre o Chelsea por 5 a 4, depois do empate por 2 a 2 em Istambul pela Supercopa da Europa. O treinador alemão arrancou gargalhadas até do entrevistador ao imitar Rocky Balboa gritando por sua mulher Adrian em uma cena clássica da série de filmes do personagem de Silvester Stallone. É possível combinar seriedade, profundidade e a leveza do humor.

Respostas complexas ajudam a mudar o jogo. E nosso futebol precisa evoluir dentro e fora de campo. A imprensa tem papel importante, mas o público também. Para que o Rafael Oliveira não vire o assunto mais comentado apenas quando o patrão fizer a loucura de dispensar sua competência.

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O Manchester United é capaz de furar a bolha de Liverpool e City? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/08/12/o-manchester-united-e-capaz-de-furar-a-bolha-de-liverpool-e-city/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/08/12/o-manchester-united-e-capaz-de-furar-a-bolha-de-liverpool-e-city/#respond Mon, 12 Aug 2019 09:38:18 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7033

Foto: EFE

O grande destaque da primeira rodada da Premier League 2019/20 foi a melhor utilização do VAR até aqui nos grandes centros: rápida e transparente, errou ou não em lances objetivos. É claro que haverá equívocos pelo caminho, mas em comparação com o futebol brasileiro se mostrou incomparavelmente mais bem aplicado, principalmente em relação ao tempo de paralisação.

Mas também houve bom futebol e os destaques para as goleadas do bicampeão Manchester City sobre o West Ham por 5 a 0 em Londres no sábado e, na abertura de sexta, os 4 a 1 do Liverpool campeão europeu para cima do Norwich em Anfield.

No caso dos times que sobraram na última edição da liga e são os grandes favoritos na atual, a melhor notícia é não haver grandes novidades. Os trabalhos de Pep Guardiola e Jurgen Klopp seguem com bases montadas buscando aprimoramento. A única estreia foi a de Rodri nos citizens. 62 milhões de libras para a reposição de uma peça fundamental, porém desgastada pelo tempo: Fernandinho, que tende a ser escalado mais vezes em uma função particularíssima que o próprio Guardiola executava no Barcelona: zagueiro sem a bola e volante no início da construção das jogadas.

Os Reds começaram no estilo “vendaval” de Klopp atropelando já no primeiro tempo, com Origi na vaga de Mané, que retornou para a pré-temporada depois por conta da participação na Copa Africana de Nações. O elenco é versátil, porém curto. E já perde Alisson por cerca de oito semanas pela lesão na panturrilha ainda no primeiro tempo da estreia. Mas quem vem de duas finais de Champions e um título continental, além da melhor campanha da história do clube no Inglês, mesmo sem a taça, merece respeito demais.

A surpresa veio justamente da goleada no primeiro clássico do “Top Six”: Manchester United 4×0 Chelsea no Old Trafford. Placar um tanto “mentiroso” pelo que foi a partida, especialmente no primeiro tempo. Chutaço de Tammy Abraham na trave do goleiro De Gea, finalizações de Pedro e Barkley e períodos de domínio dos Blues, agora comandados pelo ídolo Frank Lampard.

O United de Solksjaer tinha a tensão natural de uma estreia em casa e a necessidade de aprumar as caras novas da retaguarda: Wan-Bissaka na lateral direita e Maguire, zagueiro mais caro da história, no miolo da defesa. No ataque a busca da sincronia entre os passes de Pogba e a velocidade e intensidade de Rashford e Martial.

Pênalti de Zouma sofrido e convertido por Rashford, confirmando o protagonismo do atacante e camisa dez no segundo gol em contragolpe mortal na segunda etapa que encaminhou a goleada ao ceder mais espaços para Pogba se soltar na frente. Lançamento espetacular para Rashford no terceiro e assistência para Daniel James, 21 anos contratado ao Swansea, completar o placar. O brasileiro Andreas Pereira foi outro destaque, responsável pelo passe para o gol de Martial.

Triunfo para aumentar o otimismo nos Red Devils, principalmente pela firmeza e liderança já demonstrada por Maguire. Mas cedeu muitas finalizações ao rival: 18, segundo o site Whoscored. É preciso ter mais controle, especialmente em casa, para se colocar no patamar dos dois grandes favoritos. Questão de tempo e trabalho.

Na última edição, o City superou o Liverpool por um mísero ponto, mas abriu 26 sobre o Chelsea, terceiro colocado, e nada menos que 32 sobre o rival de Manchester, o sexto na classificação final. Um abismo. A previsão agora é de nova ilha de excelência da dupla que vem sobrando e mais um capítulo da grande disputa do futebol mundial entre Guardiola e Klopp.

Quem pode furar essa bolha? O United mostrou suas credenciais na primeira rodada e desta vez não terá a Champions para dividir atenções. Se não houver nenhuma baixa importante, como Pogba e sua ansiedade por uma transferência para o Real Madrid, tem condições de ser protagonista na disputa com Tottenham, Arsenal e o próprio Chelsea. Também dar trabalho aos gigantes da vez. Convém respeitar o maior campeão inglês.

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Defesa adiantada x pontas recuados: futebol é cobertor curto desde sempre http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/22/defesa-adiantada-x-pontas-recuados-futebol-e-cobertor-curto-desde-sempre/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/22/defesa-adiantada-x-pontas-recuados-futebol-e-cobertor-curto-desde-sempre/#respond Mon, 22 Jul 2019 11:00:17 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6916

Foto: Vitor Silva/ Divulgação Botafogo

Este blogueiro teve uma queda dos sinal da TV por assinatura e internet, inclusive pacote de dados do celular, simultaneamente durante o jogo Botafogo x Santos no domingo pela manhã por cerca de meia hora. Era preciso seguir acompanhando o jogo realizado no Estádio Nilton Santos e só restou o bom e velho rádio.

Na Super Rádio Tupi do Rio de Janeiro, o comentarista Gerson – ele mesmo, o “Canhotinha de Ouro” campeão mundial em 1970 – reclamava do recuo excessivo dos pontas Erik e Luiz Fernando no time comandado por Eduardo Barroca. Meio-campista acostumado a lançar ponteiros velozes nos anos 1960, não se conformava de ver os jogadores pelos flancos deixando de ser os escapes do time que era empurrado para trás naquele momento pela equipe de Jorge Sampaoli.

De fato, vem sendo uma dificuldade. Não só do Botafogo. Times recuam e aproximam as linhas, usam até o centroavante no próprio campo para proteger a área e quando recuperam a bola, diante da pressão pós-perda do adversário, acabam apelando ao chutão que muitas vezes não encontra sequer o atacante mais avançado já na intermediária ofensiva.

A solução não é fácil. É uma escolha. O futebol está mais intenso e rápido, inclusive na circulação da bola. Deixar o ponta mais adiantado é risco de uma inversão de bola encontrar dois adversários contra o seu lateral, porque nem sempre vai dar tempo de um meio-campista se deslocar para ajudar – a sugestão de Gerson no comentário, com o Botafogo se organizando numa espécie de 4-3-1-2 com o recuo de Diego Souza e os ponteiros mais adiantados.

Mas o dilema não é novo. No Flamengo campeão brasileiro de 1992, os pontas Paulo Nunes e Nélio marcavam individualmente os laterais adversários. Função desgastante na era do 4-2-2-2 em que os laterais jogavam de uma linha de fundo a outra. Mas era outra época, com jogo menos rápido que dava tempo para o jogador recuar apenas quando a bola era invertida para o ala. Ainda assim, quase em todos os jogos a dupla de jovens formados na base do clube como atacantes era substituída por esgotamento físico.

No Corinthians de Carlos Alberto Parreira em 2002, a ordem para Deivid e Gil era que voltassem só até a intermediária, depois o problema ficava com os laterais com suporte dos meio-campistas e cobertura dos zagueiros. Deu certo durante a temporada vitoriosa com conquistas de Rio-São Paulo e Copa do Brasil, nem tanto quando Rogério se viu sozinho contra as pedaladas de Robinho na final do Brasileiro no Morumbi.

Contra o rival Atlético no Mineirão pela Copa do Brasil, o Cruzeiro de Mano Menezes encontrou a chave para não sobrecarregar Robinho e Marquinhos Gabriel pelos flancos: os contragolpes ficaram por conta de Thiago Neves e, principalmente, de Pedro Rocha, adaptado como atacante mais adiantado na vaga de Fred. A velocidade foi fator de desequilíbrio nos 3 a 0 que encaminharam a vaga da equipe celeste nas semifinais do mata-mata nacional.

Recuar duas linhas de quatro, ou ainda colocar um volante entre elas no 4-1-4-1, e deixar à frente um centroavante lento é pedir para levar sufoco. Porque os adversários têm mais coragem para adiantar as linhas e tentar recuperar a bola assim que perdem, diminuindo o tempo de resposta na transição defesa-ataque. É preciso ter uma referência de velocidade para sair de trás.

Também surpreender a defesa mais exposta. Porque adiantar os jogadores da retaguarda também pode ser muito perigoso. O risco é óbvio: abrir espaços às costas com muito campo para correr. Os times com propostas mais arrojadas se arriscam avançando o goleiro para fazer coberturas. Nem sempre dá certo. Como o Fluminense de Fernando Diniz no Brasileiro ou o Santos de Sampaoli sofreu na Sul-Americana e na Copa do Brasil, competição que viu o Flamengo de Jorge Jesus ser eliminado nos pênaltis pelo Athletico porque sofreu um gol de contragolpe vencendo por 1 a 0. No bote errado de Rafinha na intermediária que deu campo para Rony acelerar e aproveitar o buraco atrás para bater na saída de Diego Alves.

Não há fórmula perfeita. O histórico Barcelona de Guardiola sofreu com a defesa escancarada contra o Chelsea na semifinal da Champions em 2012. O Santos de Pelé e o Botafogo de Garrincha também foram derrotados várias vezes por fragilidades sem a bola porque jogavam no campo de ataque na maior parte do tempo. Assim como o Flamengo de Zico, quando pressionado, muitas vezes não conseguiu fazer a bola chegar a Nunes porque Tita e Lico, meias adaptados como pontas, estavam muito recuados e não conseguiam puxar contragolpes.

O cobertor sempre foi curto. Se cobrir a cabeça, os pés ficam para fora. Faz parte do encanto do futebol. Ensina a ganhar e a perder e que no jogo e na vida não há garantias.  Desde antes dos tempos do Gerson “Canhota”, quando o rádio nos fazia imaginar e não ver a partida. Época lúdica, mas de uma disputa não menos imprevisível. Essa é a graça do esporte.

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Coutinho ainda tem vaga no Barça ou a camisa sete logo será de Griezmann? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/16/coutinho-ainda-tem-vaga-no-barca-ou-a-camisa-sete-logo-sera-de-griezmann/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/16/coutinho-ainda-tem-vaga-no-barca-ou-a-camisa-sete-logo-sera-de-griezmann/#respond Tue, 16 Jul 2019 11:16:20 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6876

Foto: Getty Images

Antoine Griezmann enfim foi anunciado oficialmente pelo Barcelona. Operação demorada, intrincada e polêmica, com o Atlético de Madrid protestando contra o valor pago pela multa e ameaçando recorrer à FIFA por seus direitos. A negociação deve virar novela, mas é difícil imaginar um desfecho diferente da mudança do craque francês da capital espanhola para a Catalunha.

No anúncio, a imagem da camisa 17 que será destinada à mais recente contratação. A sete, que acompanha Griezmann na seleção e era dele no Atlético, ainda pertence a Philippe Coutinho. Mas por quanto tempo?

Difícil vislumbrar um quarteto ofensivo com Messi e Suárez. Até podemos pensar em Griezmann pela direita, Messi por dentro em função parecida com a que exerceu na seleção argentina na reta final da Copa América e Coutinho à esquerda formando um trio atrás do centroavante uruguaio em um 4-2-3-1.

A questão é que parece consenso entre o treinador Ernesto Valverde e direção do Barça que o meio-campo precisa de um trio que entregue organização e também proteção à defesa. Com Busquets, Rakitic, Arthur, Vidal e agora Frenkie De Jong, contratado ao Ajax. Pensando na baixa intensidade sem bola do provável trio de ataque com a entrada de Griezmann, o meio dá a impressão de que ainda precisa de um jogador de área a área com mais força e velocidade.

E Coutinho? A temporada no Barcelona e a Copa América pela seleção deixam claro que está cada vez mais difícil encontrar um lugar para o meia atacante. No 4-2-3-1 tem dificuldades para jogar como meia central, de costas para a marcação pressionada. Na função de meia por dentro um 4-1-4-1/4-3-3 o problema é a capacidade de colaborar sem bola quando o time recua as linhas. Baixa concentração e muitos espaços às costas que, na seleção, acabam sempre bem cobertos por Casemiro.

O melhor cenário seria executando a função de ponta articulador partindo da esquerda para tabelar, inverter o jogo para um ponteiro mais infiltrador do lado oposto ou finalizando com o pé direito em sua jogada característica. Se o Chelsea de Frank Lampard não estivesse punido pela FIFA nesta janela por acordos com menores de idade – o clube teve o recurso negado e apelou ao TAS (Tribunal Arbitral do Esporte), mas não deve ser julgado até o fechamento da janela de verão europeu – o brasileiro seria a reposição ideal à saída de Eden Hazard para o Real Madrid.

A ida para o PSG viabilizando a volta de Neymar ao Barcelona ainda está no horizonte e também seria interessante, sucedendo o craque brasileiro na mesma função e se juntando a Mbappé e Cavani no ataque. Mas o clube francês joga duro para permitir a saída da maior contratação da história do esporte e a negociação não será tão simples. O Manchester United seria outra possibilidade, mas não parece empolgar muito o jogador e seu agente Kia Joorabchian.

A luz parece vir de Liverpool. Para reviver o “quarteto fantástico” com Mané, Salah e Firmino que vinha encantando a Europa até Coutinho forçar a barra para realizar o sonho de jogar no Barça em janeiro de 2018. O problema é que a saída gerou desgaste com a torcida e a equipe se equilibrou no 4-3-3 com um meio-campo mais forte e intenso na conquista da Liga dos Campeões e na campanha histórica na Premier League. Mas Jurgen Klopp sempre se referiu ao brasileiro com carinho e admiração.

O fato é que o Barcelona precisa definir logo o que fazer com a contratação mais cara de sua história. A relação com a torcida é tensa, o meia foi considerado um dos “vilões” da eliminação na semifinal da Champions para o Liverpool e o resgate da imagem sem espaço entre os titulares fica mais difícil.

O futuro é duvidoso e a camisa sete do time catalão parece mesmo mais próxima de Griezmann, mesmo com toda diplomacia do clube e do craque que chega para ajudar o Barça a reconquistar a Champions. Coutinho falhou em sua única tentativa e deve pagar com a saída pela porta dos fundos.

 

 

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Como o “passe falso” de Dani Alves para Messi sintetiza o futebol da década http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/10/como-o-passe-falso-de-dani-alves-para-messi-sintetiza-o-futebol-da-decada/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/10/como-o-passe-falso-de-dani-alves-para-messi-sintetiza-o-futebol-da-decada/#respond Wed, 10 Jul 2019 11:26:02 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6844

Foto: AFP

– Por exemplo, eu tocava muito um passe que o Guardiola não gosta. Até hoje, eu acho que esse passe não progride, que é o passe da lateral ao ponta. Esse é um “passe falso”. Bola para extremo atacar e não perder a jogada é de meio para lateral e de lateral para meio. E, às vezes, eu conectava muito esse passe para o Messi. O Guardiola reclamava comigo. Eu respondia: “Não, mister, me desculpa. Mas se o Messi passar dois minutos sem tocar na bola, ele desconecta do jogo. Como o Messi tem que estar preparado para definir o jogo para a gente, então eu vou conectar ele no jogo”.Ele falou: ‘Tem razão!”

Este foi o trecho que mais chamou atenção da participação de Daniel Alves no programa “Bem, Amigos!” do Sportv. O destaque, obviamente, foi para a inteligência do lateral na fantástica parceria com o gênio argentino – até hoje é o jogador que mais serviu passes para gols de Messi – e também a moral que o atleta conquistou com um dos melhores treinadores da história do futebol mundial.

Mas se contextualizarmos o que foi dito é possível sintetizar todo o futebol em alto nível disputado nesta década. Ou desde 2008, no início do trabalho de Pep Guardiola no Barcelona. A época em que provavelmente aconteceu o diálogo entre atleta e técnico.

Porque, a rigor, Messi só foi ponta direita sob comando do catalão na primeira temporada da parceria que transformou o jogo para sempre. Formando o trio de ataque com Samuel Eto’o e Thierry Henry. Já dentro do jogo de posição, ou localização, que se transformaria na grande marca de Pep e a maior influência dele entre seus pares.

Resumindo bastante, seria um modelo em que o posicionamento dos jogadores é mais importante do que aquilo que realizam quando têm a bola. Nas palavras de Johan Cruyff, mentor de Guardiola, “se cada jogador tem a bola por, no máximo, três minutos em uma partida é porque o importante é o que ele faz nos outros 87”.

Messi era ponteiro pela direita, e o ponta no jogo de posição na maior parte do tempo tem como principal atribuição ficar aberto e dar amplitude aos ataques. Abrir o campo. Essa função também pode ser do lateral, e Dani Alves a executou algumas vezes com Guardiola. Henry fazia o mesmo do lado oposto. Cada um em sua posição e ganhando liberdade de movimentação ao se aproximar da área adversária para decidir. Confira AQUI uma explicação detalhada em vídeo do atacante francês aposentado, hoje também treinador.

A questão é que dependendo das circunstâncias da partida um ponteiro pode ficar algum tempo sem tocar na bola. Porque está bem marcado ou o jogo fluindo melhor no outro flanco. Por isso Daniel sentia necessidade de “conectar” Messi.

Por que o passe do lateral para o ponta é considerado “falso”? No jogo de posição, as triangulações são fundamentais. O atleta com a bola deve ter uma opção de passe para o lado, para trás ou em profundidade. Sempre buscando o homem livre. Para que a circulação da bola seja eficiente e mexa com a marcação adversária, ela deve se dar do lado para dentro e vice-versa. Naquele Barcelona, de Daniel Alves na lateral para Xavi no meio e deste para Messi na ponta. Para dominar de frente para o marcador, não de costas no caso do passe sair mais aberto. Conceito básico que vem desde o “rondo” no início dos treinos.

Talvez por isso Guardiola já na primeira temporada tenha trazido Messi para o centro do campo, como um misto de “enganche” tipicamente argentino e “falso nove”, função que também foi de Cruyff na Holanda e no próprio Barça. O craque do time precisava mesmo ser mais participativo, tocar mais na bola e receber com liberdade entre a defesa e o meio-campo do adversário. Como o centro de articulação e decisão. Dialogando com Xavi e Iniesta, mas também com os atacantes infiltrando em diagonal. Ou partindo sozinho para desequilibrar.

A versão mais vencedora do Barcelona de Pep foi a primeira, ganhando a tríplice coroa. Mas a que é considerada a melhor pelo treinador, por jogadores e também por muitos jornalistas ao redor do mundo é a da temporada 2010/11. Com o modelo assimilado e amadurecido, Messi por dentro sintonizado no jogo e com os companheiros e os ponteiros Pedro e Villa cumprindo suas funções no jogo de posição quase à perfeição.

No massacre da final do Mundial de Clubes contra o Santos de Muricy Ramalho, já uma versão diferente, com Fábregas se juntando ao trio Xavi-Iniesta-Messi por dentro e Daniel Alves e Thiago Alcântara abrindo o campo. Outra atuação mágica, mas para este que escreve inferior à dos 3 a 1 sobre o Manchester United na final da Liga dos Campeões. Do melhor time que este que escreve viu jogar em mais de trinta anos.

Mas que mudou o esporte também por conta das transformações que causou nos rivais por necessidade de respostas competitivas. Da retranca com linhas chapadas, “de handebol”, de José Mourinho na Internazionale, passando pelo ferrolho com contragolpe letal do Chelsea em 2012 até chegar à perfeição de Carlo Ancelotti no Real Madrid de “La Décima”, impondo a Guardiola sua derrota mais emblemática, já no Bayern: 4 a 0 em Munique e a vaga perdida para a final continental. Com rigor tático sem a bola, mas muita velocidade e toques verticais nos contragolpes acionando Bale, Benzema e Cristiano Ronaldo, além da força da jogada aérea com bola parada de Sergio Ramos.

Um jogo mais adaptado à demanda da partida. O time merengue que Ancelotti entregaria a Zidane, que foi auxiliar do treinador italiano, depois de um “hiato” com Rafa Benítez, sabia jogar no campo de ataque e também recuando linhas e explorando os espaços às costas das defesas oponentes. Se necessário arrancava um gol “á forceps” numa falta ou escanteio. Um jogo mais intuitivo, baseado no talento e no controle mental, mas sabendo usar a força da camisa mais pesada do futebol mundial para se impor e faturar quatro Champions em cinco temporadas.

Padrão e intuição que norteiam o trabalho de Jurgen Klopp no Liverpool. Derrotado pelo Real de Zidane em 2018, mas garantindo o título da Champions com pragmatismo na vitória sobre o Tottenham na final inglesa disputada no Wanda Metropolitano, em Madrid. Pressão no campo de ataque, aceleração e intensidade máximas, mas também sabendo criar espaços na frente e amassando o adversário psicologicamente. Uma fórmula que funciona muito bem no mata-mata.

O Barcelona e Guardiola buscam evoluir e adaptar o jogo de posição à realidade do futebol atual e seguem dominando as ligas nacionais. Desde a saída de Pep em 2012 foram cinco títulos espanhois para o clube. Já o treinador faturou cinco taças na Alemanha e na Inglaterra, só perdendo em 2016/17, primeira temporada no Manchester City. Supremacia nos pontos corridos e acrescentando intuição e contexto ao modelo que considerava perfeito na Catalunha há uma década.

Porque tudo muda e exige inteligência e sensibilidade. Como mostra Daniel Alves, campeão e craque da Copa América, jogador mais vencedor da história com 40 conquistas aos 36 anos. Como foi feliz dez anos atrás ao “quebrar” o sistema do Barcelona com um passe, em tese, improdutivo para manter Messi ligado no jogo e construir uma história que nunca mais se repetiu.

 

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