copadomundo – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Seis anos do 7 a 1 e pouco aprendemos com a derrota. Só copiamos quem vence http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/08/seis-anos-do-7-a-1-e-pouco-aprendemos-com-a-derrota-so-copiamos-quem-vence/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/08/seis-anos-do-7-a-1-e-pouco-aprendemos-com-a-derrota-so-copiamos-quem-vence/#respond Wed, 08 Jul 2020 17:11:42 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8736

Imagem: Pedro Ugarte / AFP Photo

Seis de setembro de 2014. Menos de dois meses depois da maior derrota da história da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari dava entrevista coletiva no Maracanã como treinador do Grêmio. Este que escreve estava presente, trabalhando na cobertura do jogo para a ESPN Brasil. Altivo e refratário a qualquer questionamento sobre os 7 a 1, Felipão foi tratado pelos jornalistas dos veículos gaúchos, cariocas e nacionais como o dono da razão.

Afinal, seu time havia vencido o Flamengo de Vanderlei Luxemburgo por 1 a 0, gol de Luan, pelo Brasileiro. Encerrando uma série de cinco vitórias do time rubro-negro na competição. Era o primeiro triunfo do tricolor fora de casa sob o comando de Felipão e a equipe ocupava a sexta colocação, quatro à frente do Fla.

Grêmio que terminaria em sétimo e, no ano seguinte, Roger Machado seria o sucessor de Scolari e de um trabalho que deixou terra arrasada e a necessidade de reconstrução. O treinador novato encarou a missão e deixou base e conceitos que seriam aprimorados para em 2017 alcançar o auge com a conquista da Taça Libertadores. Com Renato Gaúcho no comando técnico.

Outro veterano e boleirão que viraria referência no ano seguinte. Junto com Felipão, de volta ao Brasil para comandar o Palmeiras que seria campeão brasileiro; A ponto de no final de 2018, o Flamengo, com nova diretoria liderada por Rodolfo Landim, o vitorioso na eleição para a sucessão de Eduardo Bandeira de Mello, escolher Abel Braga para ser o novo técnico.

Boleiro, perfil “paizão”, bom gestor de vestiário. Essa era a “moda” do futebol brasileiro no início de 2019. Reforçada com os títulos estaduais de Abel no Fla e Renato no Grêmio, mais o início avassalador do Palmeiras no Brasileiro. A ponto de na Copa América, disputada no Brasil, surgirem vozes críticas ao trabalho de Tite que tinham a coragem, quase audácia, de pedir a volta de Felipão no comando da seleção.

No dia 7 de julho, um dia antes de completar cinco anos do “Mineirazo” na semifinal da Copa do Mundo realizada no Brasil, a equipe de Tite conquistou o torneio continental como anfitrião. Sem saber que um furacão estava por vir.

Jorge Jesus no Flamengo. A união de qualidade, conceitos atuais e combinação de características dos jogadores que criou rapidamente um grande time. Cuja vitória de afirmação foi sobre o mesmo Palmeiras de Felipão. 3 a 0 no Maracanã que custou o emprego do técnico gaúcho.

Não foi o único. Fabio Carille, campeão brasileiro em 2017 e tri paulista, também ficou desempregado depois de uma goleada para os rubro-negros por 4 a 1. Assim como Mano Menezes, que caiu na antepenúltima rodada do Brasileiro por conta da derrota do Palmeiras em casa por 3 a 1 para a equipe de Jorge Jesus.

Ambos que carregaram um “hype” nos anos anteriores. Mano pelos títulos da Copa do Brasil pelo Cruzeiro, Carille pelas conquistas no Corinthians e sendo o ponta-de-lança de uma moda que veio antes dos técnicos veteranos: os “jovens, modernos e estudiosos” que ocuparam postos em grandes clubes e sinalizaram uma revolução no futebol brasileiro.

Nem era o caso. Carille simplesmente resgatou a  “identidade Corinthians” que assimilou e ajudou a implementar como auxiliar de Mano e Tite. Em entrevistas, deixava claro que não costumava acompanhar muito o que acontecia nos grandes centros da Europa. Enquanto vencia, essa prática não era criticada pela maioria na imprensa. Muitas vezes foi defendida, como se nossa realidade medíocre fosse imutável e qualquer influência do exterior não pudesse vingar.

Jorge Jesus chegou e virou tudo do avesso. Mas mesmo ele, apesar de toda excelência no desempenho do Flamengo, foi alvo de críticas, senões e “o trabalho é bom, mas…”, só calando a maioria das ressalvas quando alcançou o feito inédito de vencer Brasileiro e Libertadores no mesmo ano. Quebrando um paradigma que já tinha virado uma espécie de dogma: não seria possível disputar ambas em alto nível. Só rodando o elenco e poupando titulares em várias partidas do campeonato por pontos corridos.

Solução de Renato Gaúcho no Grêmio e também tratada como modelo. De Felipão no Palmeiras e depois do próprio Abel no início do Brasileiro pelo Flamengo. Pulverizada com os 5 a 0 na semifinal da Libertadores, com o time de Jesus atropelando a equipe do treinador que era tratado como o sucessor inevitável de Tite na seleção. Renato só não caiu no Grêmio depois do massacre no Maracanã por tudo que conquistou no clube, como jogador e técnico.

Jorge Jesus agora é a referência. Inclusive para a seleção brasileira. Porque venceu. E Tite, hoje questionado, já foi ídolo e tratado como um modelo de ética e competência até para ocupar a Presidência da República. Porque varreu os adversários nas Eliminatórias. A eliminação na Copa do Mundo para a Bélgica em um jogo igual, com tempos distintos, foi suficiente para colocá-lo em xeque.

E só conseguiu o tão sonhado posto na CBF porque em meados de 2016 era o último treinador campeão brasileiro, comandando o Corinthians. A bola da vez e sem concorrentes diretos. Se tivesse perdido o título para o Atlético Mineiro de Levir Culpi em 2015, mesmo com a evolução em métodos e no modelo de jogo depois de um ano “sabático” de estudos, talvez a oportunidade não tivesse surgido.

Enquanto tudo isso acontecia, o trauma e a reflexão sobre os 7 a 1 foi se diluindo com a passagem do tempo. A narrativa do “acidente” se fortaleceu, até pela queda dos alemães depois do ápice com o título mundial. A ponto de Felipão, o grande responsável pelas fragilidades da seleção anfitriã e pelas escolhas infelizes na escalação para o jogo do Mineirão, ser novamente tratado como solução e referência.

Seguimos olhando resultados e navegando ao sabor dos ventos. Na tentativa e erro em loop. O Flamengo se equivocou com Abel, agora acerta com Jesus, que pode voltar para Portugal treinar o Benfica. Se acontecer, quem será a próxima referência? A nova moda ou o “hype” da vez?

Não aprendemos nada, ou muito pouco. Só copiamos, ou tentamos copiar, quem vence. Só respeitamos quem sai com os três pontos. Um imediatismo que faz esquecer tudo muito rápido. O futebol é dinâmico, mas nem tanto.

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Sincerão – Olimpo do futebol só tem três: o rei, o artista e o arquiteto http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/01/sincerao-olimpo-do-futebol-so-tem-tres-o-rei-o-artista-e-o-arquiteto/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/01/sincerao-olimpo-do-futebol-so-tem-tres-o-rei-o-artista-e-o-arquiteto/#respond Wed, 01 Jul 2020 14:07:37 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8707

Foto: Acervo FIFA

Este colunista participou do quadro Sincerão do UOL Esporte e muitos questionaram por que Pelé, Maradona e Cruyff não foram citados no Top 5 de meio-campistas, nem de atacantes.

Justo. Talvez tenha sido mesmo um equívoco, mas há duas razões para tal.

Primeiro porque vejo esses três gênios como pontas-de-lança, exercendo aquela função híbrida de meia e atacante. O “camisa dez” que arma e finaliza. Zico, meu ídolo de infância e outra ausência sentida por muitos, se encaixa igualmente neste perfil. Messi também, mas em campo sempre funcionou mais como atacante, partindo da direita para dentro em busca da finalização ou da assistência.

Mas também porque os três fazem parte do Olimpo do futebol. Só eles, ao menos por enquanto. Ainda que o Olimpo abrigue doze deuses do panteão grego, É claro que Messi e Cristiano Ronaldo são candidatíssimos a pleitear vagas neste grupo muito seleto, mas é preciso esperar o fim de suas carreiras para que o distanciamento histórico entregue à dimensão dos feitos da dupla dos gênios do Século 21 até aqui.

Pelé é o rei. Entregou desempenho e resultados a longo prazo como nenhum outro. Colocou o Santos no mapa da bola e foi campeão e protagonista em duas Copas do Mundo, na época o grande parâmetro para medir os maiores. Transformou o jogo sendo um atleta completo que jogava futebol. Artilheiro implacável, domínio de todos os fundamentos do esporte.

Maradona é o artista. Genial, inquieto, imperfeito, errático. Capaz de lances espetaculares no campo e comportamentos nada exemplares fora dele. Quando quis ser competitivo foi a estrela máxima em uma edição de Copa do Mundo, no México em 1986. E também colocou um time outrora minúsculo no imaginário popular. Por isso é Deus em Napoli, assim como na Argentina. O grande ídolo da história do esporte.

E Johan Cruyff é o arquiteto. Craque cerebral, treinador dentro do campo, frasista nato. Pensou e reinventou o futebol muitas vezes, ancorado em princípios inegociáveis, como ter a bola para controlar o jogo. A conexão Holanda 1974 – Barcelona de 1992 – Pep Guardiola é única e pedra fundamental para o futebol há meio século.

É claro que há outros craques e gênios, e rankings são sempre discutíveis. Mas para este que escreve só esses três merecem ocupar o topo. Por seus feitos e legados. Esclarecido?

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Seleção de 1994 tinha bola para vencer dando espetáculo. O que atrapalhou? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/26/selecao-de-1994-tinha-bola-para-vencer-dando-espetaculo-o-que-atrapalhou/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/26/selecao-de-1994-tinha-bola-para-vencer-dando-espetaculo-o-que-atrapalhou/#respond Sun, 26 Apr 2020 06:16:28 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8377

Foto: Acervo / CBF

A vitória por 2 a 0 sobre o Uruguai no Maracanã pelas eliminatórias em 1993 ficou na história como “o jogo de Romário”. Justo, por toda via-crucis que trouxe o então melhor atacante do mundo, brilhando no Barcelona, de volta à seleção. Depois de uma “geladeira” de quase um ano por reclamar da reserva em um amistoso contra a Alemanha em Porto Alegre. Prometeu voltar garantindo o Brasil na Copa nos Estados Unidos e cumpriu. Com louvor e uma das maiores atuações individuais da história do mítico estádio.

Mas foi também uma fantástica exibição coletiva da equipe de Carlos Alberto Parreira. Trazendo tudo que fizera de bom até aquele momento, em especial nos 6 a 0 sobre a Bolívia em Recife, e adicionando o toque genial e diferente do mais genial e genioso jogador daquela geração. O bom desempenho coletivo potencializou o grande talento, como costuma acontecer.

O 4-4-2 que antes tinha Muller no ataque deixava Bebeto mais centralizado para finalizar. Raí precisava compor mais o lado direito para fechar a segunda linha e fazer dupla com Jorginho. No Maracanã, Bebeto ganhou mais liberdade para circular e procurar o setor no qual tinha entrosamento dos tempos de Flamengo com o lateral direito.

Assim Raí apareceu por dentro em vários momentos, quase como um “enganche”. Até porque Mauro Silva e Dunga eram fantásticos marcadores e, auxiliados por Zinho pela esquerda, davam conta de fechar o meio. E à direita ainda estava o zagueiro Ricardo Rocha, vivendo fase espetacular e muito rápido na cobertura, permitindo que, se necessário, Jorginho saísse para pressionar o adversário sem deixar um buraco às costas.

É o craque do São Paulo quem tabela com Romário no chute do camisa 11 no travessão, logo no início da partida. O camisa dez também chega na área, pouco atrás do Baixinho, quando Bebeto escapa pela direita e faz o cruzamento para o primeiro gol. Raí, bicampeão da Libertadores e ainda em boa forma no início da temporada 1993/1994 pelo Paris Saint-Germain.

O triunfo transformou o Brasil automaticamente em um dos favoritos ao título mundial. Até porque não havia uma seleção se destacando na Europa – na Euro 1992, a campeã foi a convidada Dinamarca.

Mais tranquilo com a classificação, Parreira poderia aperfeiçoar a base e melhorar o entrosamento da estrela redimida com os companheiros. A maioria calejada pelo fracasso em 1990 e pronta para a missão de encerrar uma seca de 24 anos.

O processo teve apenas uma mudança: Leonardo na vaga de Branco, com problemas físicos. Dando leveza e aproveitando a boa sintonia entre o lateral e Zinho, que jogaram juntos por três anos no Flamengo. Perderia o chute forte e a experiência de dois Mundiais do ex-titular, mas ganhava fluidez e rapidez nas ultrapassagens pela esquerda.Mesmo com Leonardo já atuando no meio-campo pelo São Paulo.

Do lado oposto, Jorginho e o revezamento entre Bebeto e Raí. Quem não aparecesse no flanco se juntaria a Romário por dentro na frente. A construção das jogadas ficava a cargo de Dunga e Mauro Silva se dedicava à proteção da defesa, especialmente o lado esquerdo, com Ricardo Gomes mais técnico, porém menos rápido que o xará Rocha e já sofrendo com dores atrozes nos joelhos.

Uma seleção segura, trocando passes, valorizando a posse e atacando com volume e um toque de fantasia. Competindo e, sempre que possível, dando espetáculo. A referência de Parreira, com Zagallo ao lado como coordenador técnico, continuava sendo a seleção de 1970. A síntese do futebol que aliava beleza e eficiência.

Parreira planejava uma seleção brasileira ofensiva: fluida e rápida pelos flancos, com Zinho e Leonardo pela esquerda e Jorginho com o apoio revezado de Bebeto e Raí e a rápida cobertura de Ricardo Rocha. Dunga seria o organizador no meio com Mauro Silva na proteção dos zagueiros Na frente, Romário para decidir (Tactical Pad).

Não foi possível pela queda brusca de produção de Raí com a má fase no time francês, inclusive perdendo ritmo ao ficar no banco. Ainda mais prejudicial pela compleição física que tornava o meia pesada se não estivesse em plena forma. Impossível cumprir as funções com e sem bola.

Parreira insistiu até o limite, deu moral mantendo a braçadeira de capitão, mas depois da fraca atuação contra a Suécia no empate por 1 a 1, Mazinho acabou ganhando a vaga. Mais fixo pela direita, liberou Bebeto para se juntar de vez a Romário. Na função que, na prática, era de meia-atacante. A mesma que o camisa sete já exercera em 1989, na seleção campeã da Copa América com Sebastião Lazaroni no comando técnico. Com Taffarel, Mazinho, Aldair, Ricardo Gomes, Branco, Dunga, Bebeto e Romário, pode ser considerada a gênese da equipe do tetracampeonato mundial.

O treinador também precisou se preocupar mais com a proteção da defesa, que perdeu a dupla de zaga por lesão. Entraram Aldair e Márcio Santos, que ganharam confiança justamente porque a seleção ficou mais engessada nas duas linhas de quatro. Com Dunga e Mauro Silva concentrados no combate, embora o camisa oito seguisse como o centro de distribuição das jogadas, com passes curtos e longos para inverter o lado da ação ofensiva.. Leonardo também precisou ser mais cuidadoso no apoio e guardar mais o próprio setor.

Até ser expulso e suspenso pela cotovelada que mandou Tab Ramos para o hospital, Branco retornou, mesmo longe das melhores condições atléticas. Menos mal que Aldair e Márcio Santos já haviam ganhado confiança para manter a defesa bem coordenada na proteção da meta de Taffarel.

A formação campeã mundial, sem a zaga titular, Leonardo e Raí. Por isso mais pragmática e engessada num 4-4-2 com meias protegendo laterais e Bebeto livre para articular com o meio-campo e se aproximar de Romário (Tactical Pad).

Assim como no Maracanã contra os uruguaios, a seleção viveu durante a campanha na Copa um grande  paradoxo: Romário criava as chances com genialidade, posicionamento correto e movimentação inteligente, mas desperdiçava muitas oportunidades cristalinas.

Não é absurdo pensar que o Brasil poderia ter marcado pelo menos mais dois gols contra os russos nos 2 a 0 da estreia, também vencido os Estados Unidos em 4 de julho por 2 a 0 – Romário perdeu uma chance depois de driblar o goleiro. Na semifinal contra a Suécia, pelo menos 3 a 0, já que Zinho e o próprio camisa onze perderam gols feitos. Na final, Bebeto e Romário falharam em finalizações simples com total liberdade.

Terminar a campanha com seis vitórias e um empate, marcando 17 gols e sofrendo apenas três gols era uma realidade palpável e compatível com o rendimento. Com esses resultados mais robustos e vencendo os italianos sem necessidade de disputa de pênaltis na decisão do Rose Bowl que a TV Globo reprisa neste domingo, talvez fosse menos criticada. Ou devidamente reconhecida.

Parreira queria vencer e planejou sua equipe para isso. Mas o contexto atrapalhou e não permitiu que houvesse mais beleza. Fez falta para consagrar ainda mais a melhor seleção daquela Copa do Mundo.

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As dez maiores atuações individuais em Copas do Mundo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/23/as-dez-maiores-atuacoes-individuais-em-copas-do-mundo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/23/as-dez-maiores-atuacoes-individuais-em-copas-do-mundo/#respond Thu, 23 Apr 2020 08:26:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8349

Foto: Acervo / FIFA

10º – Alcides Ghiggia (Uruguai – 1950)

É claro que eu não assisti a nenhum jogo completo da campanha uruguaia em 1950. Mas, ora bolas, o ponta direita da Celeste fez gols nas quatro partidas da campeã mundial. Mesmo descontando a bizarra primeira fase com apenas um adversário – a Bolívia, que levou de 8 a 0 no Independência, em Belo Horizonte. No jogo decisivo do quadrangular final, encarou um Maracanã abarrotado e deitou e rolou em cima do lateral Bigode. Assistência para Schiaffino e  gol da virada e do título, o do “Maracanazo”. Virou lenda e merece constar nesta lista, mesmo que na base da “licença poética”.

9º – Lotthar Matthaus (Alemanha – 1990)

A Copa na Itália não é das mais memoráveis, mas Matthaus compensou. Depois de ser o volante disciplinado que dificultou a vida de Maradona na final em 1986, foi o craque, capitão e camisa dez que liderou a Alemanha na vingança, quatro anos depois. Compensava o meio-campo esvaziado no 5-3-2 armado por Franz Beckenbauer com dinamismo e versatilidade. Quatro gols, liderança e protagonismo que lhe valeram a Bola de Ouro da “France Football” e, na carona, o primeiro prêmio de melhor da FIFA em 1991. Recordista de partidas em Copas, com 25 em cinco edições. Craque.

8º – Zinedine Zidane (França – 2006)

O primeiro não campeão da lista. Vencedor em 1998, com dois gols na final contra o Brasil, mas nem sombra do que fez o craque já veterano a partir das oitavas da Copa na Alemanha, oito anos depois: gols contra Espanha, Portugal e na final contra a Itália. Atuação majestosa, flutuando em campo nas quartas contra a então campeã, além da assistência para o gol da vitória, de Henry. Na prorrogação da decisão, uma cabeçada parou nas mãos de Buffon, outra no peito de Materazzi. Encerrando uma carreira brilhante que merecia uma última taça. Pena.

7º – Romário (Brasil – 1994)

Foram cinco gols, um pênalti sofrido contra a Rússia, um chute que Bebeto aproveitou no rebote contra Camarões, a assistência para Bebeto derrubar os Estados Unidos em casa num quatro de julho. Mais o “fingir de morto” no gol de Bebeto e o contorcionismo para deixar a bomba de Branco passar pelo seu corpo contra a Holanda nas quartas. Na final contra a Itália, o peso dos 24 anos sem título e a atuação quase perfeita de Baresi na marcação. Perdeu gol feito na prorrogação, mas assumiu a responsabilidade e converteu o pênalti na decisão. Definitivamente, foi a Copa do Baixinho.

6º – Johan Cruyff (Holanda – 1974)

O arquiteto do futebol moderno é o segundo e último sem taça da lista. Azar da Copa, embora tenha ficado bem entregue para os anfitriões Beckenbauer, Muller, Maier e Breitner. A arrancada no primeiro minuto da final desde a defesa – era o holandês mais recuado quando recebeu a bola – é a síntese do grande líder do “Carrossel” que influencia o jogo até hoje. A Holanda jogava no 4-3-Cruyff-2. Liderança, leitura de espaços, capacidade de ditar o ritmo e o tempo do jogo. Tudo isso sendo marrento, usando uniforme diferente e sendo um fumante compulsivo. Surreal.

5º – Pelé (Brasil – 1958)

Dezessete anos. Seis gols decisivos nas três partidas eliminatórias. Dois antológicos, contra País de Gales nas quartas e Suécia na final. Imagine o que isso renderia de visibilidade e milhões de euros para esses feitos hoje. A camisa verde e amarela, e a dez em particular, ganhou outro significado graças a um menino, que nem foi o melhor da seleção e da Copa. Mas brilhou intensamente na equipe de Feola que ganhou encaixe desde os primeiros segundos da estreia de Pelé, e também de Garrincha, contra a União Soviética. Começava a trajetória épica do maior de todos.

4º – Didi (Brasil – 1958)

Apenas o cidadão que tirou de Pelé, Garrincha e do francês Just Fontaine – até hoje o maior artilheiro de uma edição de Copa, com 13 gols – o prêmio de melhor jogador do Mundial na Suécia. O líder que calmamente pegou a bola no fundo das redes em uma final contra os anfitriões depois de sofrer o primeiro gol, acalmou os companheiros enquanto caminhava até o centro do campo e, logo após a saída, acertou um lançamento de quarenta metros para Garrincha acertar a trave. Meio-campista completo, de passes curtos e longos, dribles e elegância única. Um monstro de jogador!

3º – Pelé (Brasil – 1970)

Quatro gols e sete assistências. Mais três quase-gols históricos: a cabeçada para a defesa lendária de Banks, o chute do meio do campo por cobertura na estreia contra a Tchecoslováquia e a finta em Mazurkiewski sem tocar na bola e o chute para fora na semifinal diante dos uruguaios. A última Copa de Pelé foi a do atleta do século XX no esplendor da leitura de jogo e da liderança técnica. A grande referência da maior seleção de todos os tempos. Servindo Jairzinho contra a Inglaterra e Carlos Alberto no gol que consolidou o tri. Os mais simbólicos da campanha. A0s 29 anos, a consagração no México.

2º Mané Garrincha (Brasil – 1962)

Um gênio improvável decidindo o bi brasileiro no Chile que pareceu impossível com a lesão de Pelé vivendo o auge da carreira na segunda partida da Copa. Nas fases finais, um Mané impossível contra Inglaterra e na semifinal diante do anfitrião. Percebendo a necessidade da seleção envelhecida e ampliando o repertório além do famoso drible na direita em busca da linha de fundo. Marcou de cabeça e de pé esquerdo. Fez o inimaginável para alguém com problemas cognitivos e longe de levar uma vida de atleta, mesmo para os padrões dos anos 1960. Simplesmente genial.

1º Diego Maradona (Argentina – 1986)

Não foi só pelo gol mais belo, emblemático e tocante da história das Copas, representando cada cidadão argentino contra os ingleses pela derrota na Guerra das Ilhas Malvinas. Nem pela atuação magnífica na semifinal contra a Bélgica ou por causa da assistência para Burruchaga decidir a Copa contra os alemães no Estádio Azteca. Diego Armando Maradona foi o melhor da Copa de 1986 desde que tocou na bola pela primeira vez, na estreia contra os violentos sul-coreanos. Apanhou, compensou as limitações dos companheiros e desequilibrou. Ninguém jogou mais que ele em uma edição de Mundial. Ponto.

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O que é lenda e o que foi, de fato, inovador na seleção de 1970 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/20/o-que-e-lenda-e-o-que-foi-de-fato-inovador-na-selecao-de-1970/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/20/o-que-e-lenda-e-o-que-foi-de-fato-inovador-na-selecao-de-1970/#respond Mon, 20 Apr 2020 12:03:36 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8332

Foto: Arquivo / CBF

A seleção de 1970 foi a maior de todas as Copas e o intuito desta análise não é desqualificá-la. Pelo contrário. Mas depois da exibição dos jogos pelo Sportv cabe uma contextualização daquela equipe dentro da história do futebol.

A Copa do Mundo no México foi atípica. Altitude, forte calor, jogos ao meio-dia para encaixarem nas grades das emissoras de TV europeias. O ritmo foi naturalmente mais baixo que o do Mundial anterior, em 1966 na Inglaterra.

Por isso a preparação cuidadosa da seleção brasileira. Não só pela necessidade de se adaptar às condições da primeira Copa na América do Norte, mas principalmente pela bagunça no ciclo de 1966. O calendário de clubes na época permitiu que o escrete canarinho ganhasse prioridade total.

A análise individualizada dos atletas, o método Cooper e a perfeita aclimatação construíram a grande revolução brasileira: a imposição física. Por isso a superioridade total no segundo tempo das partidas e o zagueiro Britto sobrando no teste realizado com todas as seleções.

Exuberância atlética que ajudou Zagallo a fazer na seleção o que já realizava no Botafogo: “defender como pequeno, atacar como grande”, revelou o treinador em entrevista concedida a este blogueiro em 2014. Na Copa de 1966, Bulgária e Portugal, além de baterem em Pelé, aproveitaram os muitos espaços concedidos pelo 4-2-4 brasileiro.

No México, a equipe marcaria com todos no próprio campo, ainda que os mais adiantados apenas cercassem ou pressionassem os adversários, deixando os desarmes e interceptações para os quatro defensores e Clodoaldo à frente da retaguarda. Em vários momentos da carreira de treinador, Zagallo foi chamado de “retranqueiro” por recuar seu time sem a bola, mas em 1970 foi uma estratégia mais que acertada, com 12 dos 19 gols marcados em contra-ataques.

Foram as grandes inovações para a época, sem necessariamente deixar legado para os outros Mundiais. A Copa de 1966 já apresentara uma notável evolução física e no que hoje chamamos de intensidade, tanto em movimentos coletivos, na circulação da bola e também na força nas divididas.

O Mundial de 1974, disputado também na Europa, foi a continuação dessa evolução e teve influência maior dos grandes clubes daquele período: o Ajax de Michels e Cruyff e o Bayern de Munique de Beckenbauer e Muller. Times que baseavam seu jogo mais na pressão no campo de ataque do que em fechar espaços na defesa.

Já outras “revoluções”, especialmente na montagem da seleção, que ficaram no imaginário popular não eram exatamente novidades e viraram lendas pela conquista espetacular, com seis vitórias e 100% de aproveitamento.

Rivellino como o ponta que fechava o meio-campo era legado do próprio Zagallo como jogador. Voltando para fechar o setor esquerdo em 1958, definitivamente como um terceiro meio-campista formando o setor com Zito e Didi no Chile, quatro anos depois.

Tão inovador que fez Alf Ramsey, treinador da Inglaterra, armar o seu 4-4-2 com Ball e Peters pelos lados, dando mais liberdade ao craque Bobby Charlton para se aproximar da dupla de ataque formada por Hurst e Hunt. “Meus dois Zagallos”, diria o comandante do “English Team” campeão.

Carlos Alberto Torres como um lateral mais ofensivo que Everaldo do lado oposto também não era exatamente uma novidade. Em 1958, Nilton Santos já aparecia mais no ataque pela esquerda que De Sordi, depois Djalma Santos, à direita.

E a Internazionale de Helenio Herrera, bicampeã europeia e mundial em 1964/65, já tinha Giacinto Facchetti – aquele mesmo lateral que perseguiu Jairzinho e deixou o corredor aberto para o “Capita” estufar as redes de Albertosi no último gol dos 4 a 1 da final. O italiano era liberado para atacar pela esquerda, protegido pelo líbero Picchi e por Burgnich, mais marcador à direita.

O mito dos cinco camisas dez já foi abordado neste blog e vale a lembrança AQUI. Mas é claro que a combinação de características dos “dez” armadores – Gerson e Rivellino – com os “dez” atacantes – Pelé e Tostão – e o “dez” velocista, Jairzinho, foi mais uma grande sacada de Zagallo.

Tostão era um ponta de lança adaptado ao centro do ataque, com liberdade de movimentação e abrindo espaços para Jairzinho e Pelé infiltrarem. Como Everaldo descia pouco, o camisa nove, até por ser canhoto, procurava mais o lado esquerdo para trabalhar com Rivellino e Gerson ou Paulo César Caju.

Mas centroavante saindo da área já existia desde os anos 1930, com Matthias Sindelar no “Wunderteam” da Áustria. Ou na Hungria de 1954, com Hidegkuti recuando para trabalhar no meio com Bozsik, atraindo os zagueiros desavisados e marcando individualmente na execução do WM da época. Deixando a área do oponente para os artilheiros Kocsis e Puskas, que seria companheiro no Real Madrid de Di Stéfano, o argentino que seria mito na Espanha jogando com a camisa nove, mas circulando por todo campo.

A diferença de Tostão para os citados acima é que sua movimentação era mais pelos flancos e não recuando para criar com os meio-campistas. Mas até isso não era exatamente algo novo, já que o próprio Vavá, com o recuo de Zagallo e Pelé despontando como protagonista, também procurava naturalmente o lado esquerdo no Brasil bicampeão do mundo.

É claro que reunir todas essas valências num time campeão mundial é um feito único e espetacular.  Os méritos de Zagallo, comissão e jogadores são inegáveis – sem esquecer de João Saldanha, que iniciou o processo e foi fundamental no planejamento impecável. Tostão, Gerson e outros ainda em atividade na comunicação têm mais que lembrar e exaltar o que conquistaram, até para não serem engolidos pela “geração Z” que acha que o mundo começou com a internet.

Mas é dever do jornalismo se esforçar para entregar informação precisa sem perder o encantamento. O contexto sempre ajuda a não menosprezar, nem fantasiar. Melhor assim.

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Fracasso da seleção “Joga Bonito” em 2006 começou com ilusão no Mangueirão http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/18/fracasso-da-selecao-joga-bonito-em-2006-comecou-com-ilusao-no-mangueirao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/18/fracasso-da-selecao-joga-bonito-em-2006-comecou-com-ilusao-no-mangueirao/#respond Sat, 18 Apr 2020 08:39:14 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8316

Foto: Evaristo Sá / AFP Photo

É preciso dar nome aos bois. Foram os perfis do Esporte Interativo no Facebook e no Twitter que começaram a onda de saudosismo com a seleção brasileira de 2006. Difícil entender  a razão, mas foi lá. Talvez uma espécie de “efeito rebote” dos 7 a 1 de 2014.

Muito já foi dito sobre o fracasso do grande favorito, o time do slogan “Jogo Bonito”. Que ganhou tudo depois do título mundial em 2002: Copa América (com reservas), Eliminatórias e Copa das Confederações. Menos o principal, na Alemanha.

Por isso é preciso contextualizar, resgatar a história com informação precisa. Justamente para entender que o período de futebol exuberante foi bastante efêmero, embora impactante e capaz de despertar emoções que andavam adormecidas. Talvez desde o recital de Romário contra o Uruguai em 1993 garantindo vaga no Mundial dos Estados Unidos, com favoritismo imediato acoplado. Ou o encantamento em 1982, para os mais velhos.

Temos que voltar ao dia 20 de maio de 2004, no Stade de France, em Paris. Ao jogo comemorativo do centenário da FIFA. Aquele dos uniformes que replicavam modelos do passado, de um lendário domínio de Zidane saltando e aconchegando a bola no peito. Do empate sem gols.

Também da seleção comandada por Carlos Alberto Parreira com Juninho Pernambucano, usando a camisa dez, e Zé Roberto no meio-campo, Kaká e Ronaldinho, este com a camisa sete, mais adiantados encostando em Ronaldo Fenômeno. Isso soa familiar, não?

O 4-3-1-2 brasileiro em 2004 contra a França: Juninho e Zé Roberto atrás de Kaká, que encostava na dupla de Ronaldos na frente. Cafu e Roberto Carlos faziam os corredores pelos flancos (Tactical Pad).

Desenho tático que dava mais liberdade à então estrela reluzente Ronaldinho e exigia um pouco mais taticamente do Kaká em ascensão no Milan. Que continuava dependendo fundamentalmente de Cafu e Roberto Carlos – o primeiro com 34 anos, o outro com 29 – para abrir o campo e chegar à linha de fundo.

O desempenho coletivo não empolgava e os resultados eram apenas razoáveis nas eliminatórias. Cinco vitórias, cinco empates e uma derrota para o Equador por 1 a 0 na despedida da temporada. O grande momento com os titulares foi contra a Argentina, no Mineirão, com os três pênaltis sofridos e convertidos por Ronaldo. Com Juninho, Zé Roberto e Kaká no meio, mas Luís Fabiano fazendo companhia ao Fenômeno na frente na vitória por 3 a 1.

Seguiu monótono e burocrático no início de 2005 com uma vitória magra sobre o Peru no Serra Dourada, gol de Kaká. Com a substituição que foi uma espécie de ensaio para o que viria: saiu Juninho Pernambucano, entrou Robinho. Desfazendo o 4-3-1-2/4-3-2-1 e indo para o 4-2-2-2.

Contra o Uruguai em Montevidéu, com Ricardo Oliveira se juntando a Ronaldo na frente, mas dando lugar a Robinho. Empate por 1 a 1. O suficiente para amadurecer Parreira, que no jogo seguinte arriscou o sistema mais ousado que variava naturalmente em campo para o 4-2-3-1 pela mobilidade de Robinho, se juntando a Kaká e Ronaldinho no apoio a Adriano, o substituto de Ronaldo em Porto Alegre.

Os 4 a 1 empolgaram Parreira, que repetiu a ousadia no Monumental de Nuñez. Mas a sede de revanche dos argentinos ajudou a construir os 3 a 1, na última derrota brasileira naquelas eliminatórias. No dia oito de junho, a oito dias da estreia na Copa das Confederações contra a Grécia.

Sem Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo. Com Cicinho, Gilberto e Adriano. Campanha oscilante, com boa estreia nos 3 a 0 sobre os gregos, mas derrota por 1 a 0 para o México e empate por 2 a 2 com o Japão. Segunda colocação do grupo, confronto com a anfitriã Alemanha na semifinal.

E Adriano, já “Imperador” na Internazionale e com moral por ter sido decisivo na conquista da Copa América com o gol salvador sobre a Argentina, ganhou de vez a confiança de Parreira com dois gols nos alemães e mais dois sobre a mesma albiceleste.

Nos 4 a 1 tratados como um marco daquela seleção. A despeito do desgaste e dos desfalques dos grandes rivais, de fato a seleção apresentou futebol de alto nível com momentos de arte, como na longa troca de passes até o cruzamento de Cicinho na cabeça de Adriano.

O “click” se deu com a movimentação na frente que preenchia melhor os espaços: Adriano, ao contrário de Ronaldo, procurava o lado direito para cortar para dentro e finalizar. Isso permitia que Robinho e Ronaldinho se alternassem à esquerda e Kaká circulasse com liberdade. Com vitalidade nas laterais, o jogo ficou mais fluido.

A formação que venceu a Copa das Confederações, com Robinho se mexendo no quarteto com Kaká, Ronaldinho e Adriano e mais o apoio dos laterais Cicinho e Gilberto (Tactical Pad).

A expectativa, então, era como seria com a volta dos titulares. Contra o Chile não foi possível pela suspensão de Ronaldinho. O Fenômeno entrou na frente, com Robinho recuando para fazer dupla com Kaká na criação. O espetáculo nos 5 a 0 empolgaram o Mané Garrincha e muitos brasileiros. Este que escreve se lembra de receber “scraps” de amigos mais jovens no finado Orkut perguntando: “era assim em 1981/1982?”

Com três gols, Adriano virou titular absoluto e Parreira enxergou a viabilidade do “quarteto mágico” contar com o Imperador e Ronaldo na frente. Apesar da loucura de alguns torcedores e comentaristas que sonhavam com um quinteto que incluiria Ronaldinho e Robinho, o treinador sabia que um teria que ficar de fora.

Na despedida das eliminatórias, dos estádios brasileiros e dos jogos oficiais em um ano mais que vencedor, a primeira oportunidade de escalar Kaká e Ronaldinho no meio, Adriano e Ronaldo na frente. Também a chance de terminar com mais uma conquista, ainda que simbólica: a liderança na disputa sul-americana, pelo saldo de gols, em caso de vitória sobre a Venezuela em Belém e uma derrota da Argentina, já classificada, para o Uruguai que lutava pela quinta vaga, a da repescagem, com a Colômbia.

Deu tudo certo em Montevidéu com os uruguaios marcando 1 a 0. Também no Mangueirão, com os 3 a 0 sobre o frágil adversário, antepenúltimo colocado. Sem atuação de gala,com o quarteto centralizando demais o jogo. O suficiente, porém, para convencer Parreira que a base para o Mundial estava montada. Foi o erro capital. O jogo da ilusão.

Com Kaká e Ronaldinho na articulação e Adriano e Ronaldo na frente, uma seleção engessada, que centralizava demais o jogo e necessitava de seus laterais veteranos para abrir o campo – note Cafu bem aberto no canto inferior direito (reprodução TV Globo).

Porque a convicção foi alimentada pelo amistoso “inconclusivo” contra a Rússia em março – vitória por 1 a 0, gol de Ronaldo. E as “carnes assadas” Luzern, da Suíça, e Nova Zelândia, já na preparação para a Copa, que começou com a bagunça em Weggis.

É óbvio que o desgaste de Ronaldinho na temporada europeia com título da Champions, a queda vertiginosa de rendimento de Adriano e os problemas físicos de Ronaldo contribuíram, mas o fato é que a seleção ficava engessada no 4-2-2-2. Cafu e Roberto Carlos não conseguiam mais entregar tanta eficiência e vigor jogando de uma linha de fundo à outra e Zé Roberto era sobrecarregado cobrindo o enorme buraco no meio.

Porque Parreira queria Kaká bem aberto à direita, como exigiu de Raí em 1994. O mesmo com Ronaldinho do lado oposto, na esperança que ele brilhasse adotando posicionamento parecido com o do 4-3-3 do Barcelona de Frank Rijkaard. Não podia dar certo. O fato é que a mobilidade de Robinho alternando pelos flancos era mais que necessária.

Ficou claro no terceiro jogo do Mundial, depois dos triunfos sem nenhum brilho sobre Croácia por 1 a 0, gol de Kaká, e por 2 a 0 sobre a Austrália – Adriano e Fred. Mesmo considerando a fragilidade do Japão treinado por Zico, a seleção ficou mais solta com as mudanças de Parreira: Cicinho e Gilberto nas laterais, Gilberto Silva e Juninho Pernambucano no meio e Robinho se juntando a Kaká, Ronaldinho e Ronaldo, que marcou dois gols e ficou a um do recorde em Copas do Mundo.

O 15º tento veio no início das oitavas contra Gana, aproveitando bela assistência de Kaká. Com a volta de Adriano, forçada por uma lesão de Robinho, e o quarteto engessado. Mas deu para o gasto, especialmente pela atuação fantástica de Zé Roberto, autor do terceiro gol. Nas quartas, o reencontro com a França do redivivo Zidane, que foi às redes contra a Espanha e sonhava se aposentar como bicampeão mundial.

Robinho se recuperou, mas não para noventa minutos. Sem confiança em Adriano, Parreira cometeu seu último equívoco no ciclo como treinador da seleção: resgatar o que não deu certo e precisou mudar lá em 2004: Juninho Pernambucano entrando no meio-campo com Gilberto Silva, substituto do lesionado Emerson, e Zé Roberto. Kaká na ligação e Ronaldinho se juntando a Ronaldo na frente.

O mesmo 4-3-1-2 do amistoso em Paris dois anos antes. Mas diante dos Bleus mais concentrados e coordenados, com Ribéry e Malouda negando espaços a Cafu e Roberto Carlos, Makelele e Vieira cuidando de Kaká e Ronaldinho e Zinedine Zidane flutuando em campo e humilhando quem aparecesse na frente. Inclusive com chapéu em Ronaldo.

O 1 a 0 com gol de Henry saiu barato. A única finalização na direção da meta de Barthez foi de Ronaldo, aos 45 minutos do segundo tempo. Já com Adriano na vaga de Juninho, Robinho na de Kaká e Cicinho no lugar de Cafu. Era tarde e o Mundial se encerrou para o Brasil com Ronaldinho como grande decepção. Uma caricatura do melhor do planeta, aquele que ameaçava concorrer ao Olimpo de Pelé e Maradona.

Frustração que provocou mudanças como a invenção de Dunga como treinador, para impor disciplina e evitar a farra de Weggis. A volta do capitão de 1994 sepultava o sonho de resgatar 1970 com os craques que não conseguiram brilhar coletivamente.

Deixa saudades talvez pela reunião dos Bolas de Ouro – incluindo Kaká, que venceria em 2007 – antes da Era Messi x Cristiano Ronaldo. Mas como time era inviável, mesmo há 14 anos. E o jogo pouco comentado em outubro no Mangueirão pesou mais que os 4 a 1 sobre a Argentina em Frankfurt.

Os colegas do Esporte Interativo não devem se lembrar. Memória afetiva e, por isso, seletiva. Compreensível.  Ainda mais com as derrotas que viriam depois, com Neymar como estrela solitária e sem chances nas premiações individuais. Seja como for, é preciso reconhecer: em 2005 foi mais lúdico e divertido mesmo.

 

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Cinco momentos em que o acaso protegeu o Brasil-2002 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/13/cinco-momentos-em-que-o-acaso-protegeu-o-brasil-2002/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/13/cinco-momentos-em-que-o-acaso-protegeu-o-brasil-2002/#respond Mon, 13 Apr 2020 05:45:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8296

Foto: Divulgação / FIFA

Se em 1982 não era para ser, vinte anos depois tudo conspirou a favor da seleção brasileira. Mesmo com quatro treinadores no ciclo – Vanderlei Luxemburgo, Candinho, Emerson Leão e Luiz Felipe Scolari – e muita desorganização, sem grupo nem time definido até dois meses antes da viagem para a Ásia.

É óbvio que houve muitos méritos em campo e fora dele na conquista do título mundial, o quinto e último da seleção mais vencedora do planeta, mas o acaso protegeu a “Família Scolari” em momentos cruciais até a grande final, relembrada pela TV Globo no domingo. Por isso o blog lista cinco acontecimentos que ajudaram a construir a história do campeão mundial no Japão e na Coréia do Sul.

1 – O descarte de Romário

Felipão nunca explicou com clareza a razão de ter descartado Romário bem antes da lista final para o Mundial, apesar do clamor popular, especialmente no Rio de Janeiro, sede da CBF. A cada entrevista uma versão diferente, inclusive admitindo que quase cedeu ao último apelo emocionado do craque veterano. Mas sempre sinalizou que tinha a ver com gestão de vestiário, falta de confiança no jogador.

A decisão, porém, beneficiou mais o treinador no campo. Sem o heroi do tetra, Felipão pôde encaixar o trio de R’s – Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo Fenômeno –  que o encantou nos 4 a 2 sobre a Argentina num amistoso em Porto Alegre, ainda sob o comando de Luxemburgo em 1999. Com o Baixinho, o técnico poderia ser pressionado e antecipar em quatro anos um “quarteto mágico” só no papel que dificilmente funcionaria na prática. Até pela pouca mobilidade de Romário com 36 anos.  Com o título, Felipão saiu como heroi visionário que assumiu os riscos e tinha razão.

2 – A “descoberta” de Gilberto Silva e Kléberson

Felipão virou 2002 com um time na cabeça, usando a base da equipe que venceu a Venezuela por 3 a 0 em São Luís e esperando pela incógnita Ronaldo, em recuperação de seríssima lesão no joelho direito. Mas faltavam opções para fechar os 23 convocados. O caminho até então tinha sido tortuoso, com eliminação na Copa América para Honduras e sofrimento para se classificar para o Mundial, com vaga confirmada só em novembro.

Nos primeiros amistosos do ano, Felipão resolveu fazer experiências convocando jogadores que vinham se destacando no cenário nacional. Nas goleadas sobre Bolívia por 6 a 0 no Serra Dourada e 6 a 1 na Islância em Cuiabá, além do 1 a 0 sobre a Arábia Saudita, em Riad, acabou “descobrindo” Gilberto Silva e Kléberson. A dupla dos Atléticos – Mineiro e Paranaense, este campeão brasileiro – marcou cinco gols e foi convocada para a reserva de Emerson e Juninho Paulista. Terminaram a campanha como titulares e fundamentais. Mérito do treinador, mas também muita sorte em uma escolha forçada pelas circunstâncias.

3 – As eliminações das favoritas Argentina e França

O Brasil estreou no Mundial diante da Turquia com tantas incertezas que pensar em título era utópico. Principalmente porque havia duas seleções como favoritas destacadas: a Argentina intensa de Marcelo Bielsa, líder das Eliminatórias e inspiração para o 3-4-3 de Felipão, e a França campeã mundial de 1998, da Eurocopa em 2000 e da Copa das Confederações em 2001. Disparada a melhor seleção do planeta.

Mas a Albiceleste sucumbiu em um duro grupo com Inglaterra, Nigéria e Suécia e voltou para casa. Assim como a França de jogadores desgastados e Zinedine Zidane destruído pela temporada europeia com título da Liga dos Campeões e golaço na final. Eliminada sem ir às redes uma única vez contra Uruguai, Senegal e Dinamarca. Vexames que pavimentaram o caminho para a seleção brasileira.

4 – O gol anulado da Bélgica nas oitavas

O primeiro tempo da disputa das oitavas de final foi de tensão pura para a equipe de Felipão. Totalmente desorganizada, com um buraco entre os três zagueiros, os alas Cafu e Roberto Carlos, mais Gilberto Silva à frente da defesa, e os três talentos na frente que Juninho Paulista não conseguia cobrir.

A Bélgica jogava com personalidade e muitos espaços, por dentro e nas laterais. Aos 35 minutos, uma jogada trabalhada com toda liberdade desde a ligação direta do goleiro De Vliegers foi parar no setor direito e de lá o cruzamento na cabeça de Marc Wilmots. Disputa absolutamente normal com Roque Junior, bola na rede e gol anulado. Um absurdo que tranquilizou a seleção que, na volta do intervalo, mesmo sem jogar bem, achou dois gols no talento de Rivaldo e Ronaldo e também o time da reta final com Kléberson na vaga de Juninho.

5 – A ausência de Ballack na final

A decisão em Yokohama foi tensa e equilibrada. A rigor, definida pela noite feliz de Marcos, um dos herois da conquista com grandes defesas, e a falha grotesca de Oliver Kahn, eleito o melhor da Copa antes da final, no primeiro gol de Ronaldo. Artilheiro letal ao aproveitar os erros adversários e também os lampejos de Rivaldo, que não foi bem na primeira etapa.

Clássico mundial que poderia ser ainda mais duro se o craque da Alemanha entre os dez da linha estivesse em campo. Michael Ballack foi suspenso pelo segundo amarelo na semifinal contra a Coreia do Sul. O autor do gol que colocou a desacreditada equipe de Rudi Voller na final. Liderança técnica e anímica, uma ausência que isolou Miroslav Klose no ataque e tirou volume de jogo dos alemães. O golpe derradeiro da ventura que empurrou o Brasil para o título.

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Afinal, o que faltou à seleção de Telê em 1982? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/11/afinal-o-que-faltou-a-selecao-de-tele-em-1982/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/11/afinal-o-que-faltou-a-selecao-de-tele-em-1982/#respond Sat, 11 Apr 2020 13:30:26 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8285

Itália 3×2 Brasil certamente foi o jogo que mais revi na vida. Assim que coloquei internet banda larga em casa, a primeira partida na íntegra a fazer download, pelo E-mule. Narração em italiano.

Não é absurdo dizer que foi o jogo que ajudou a moldar meu caráter e reforçar a paixão pelo futebol. Porque foram as primeiras lágrimas por causa do esporte.

Antes de ser torcedor do Flamengo eu era fã do Zico. Da seleção. O Galinho não era derrotado com a camisa verde e amarela desde um amistoso contra a União Soviética no Maracanã em 1980. Passei a acompanhar o rubro-negro mais de perto a partir do segundo semestre de 1981.

Com as conquistas do Carioca, da Libertadores, do Mundial e do Brasileiro no ano seguinte, na minha cabeça de menino de nove anos – e na época a criança era ingênua mesmo – o Zico era um super-herói que nunca perdia. Ou sempre tinha uma nova chance de ser campeão.

Ao perguntar para o meu avô quando seria o próximo jogo e ele me explicar que havia acabado e o camisa dez da seleção voltaria para casa com seus companheiros, o chão se abriu no meu mundo de sonhos. E ao ver um vizinho sempre com sorriso no rosto chorando como criança sentado na calçada eu tive contato pela primeira vez com algo próximo do luto. Impossível esquecer.

Afinal, o que faltou à seleção comandada por Telê Santana para se classificar naquela segunda fase e passar para a semifinal contra a Polônia?

Por incrível que pareça, a cada vez que revejo a partida, lembro da trajetória da seleção até o Mundial na Espanha e dos quatro jogos anteriores, a análise vai perdendo camadas e se simplificando. A rigor, faltou a cabeçada de Oscar no último ataque sair do alcance do goleiro Zoff. Ou o arqueiro veterano dar o rebote para Zico, o brasileiro mais próximo da meta italiana.

Pode parecer simplismo. Mas já notou como as narrativas são criadas a partir do resultado puro, nu?

Imagine que o Brasil empatasse em 3 a 3, se classificasse e partisse para o título mundial. Como seria lembrado o jogo do Sarriá? Talvez como os que o escrete canarinho não venceu nas campanhas vitoriosas. Com um pouco mais de drama que os empates sem gols contra Inglaterra em 1958 e Tchecoslováquia quatro anos depois. Ou o 1 a 1 com a Suécia em 1994.

Seria rotulado como “um susto” ou “a pior atuação na campanha”. Sem dissecar cada jogada, detalhar cada erro ou apontar mudanças na equipe que poderiam resolver questões táticas ou erros individuais.

Mas perdeu. E o olhar muda. Vai em retrospectiva. O que aconteceu de errado no caminho que não percebemos e estourou nos três gols de Paolo Rossi?

Seria o goleiro Valdir Peres? Mas ele não falhou em nenhum gol da Azzurra, só na estreia contra a União Soviética. Depois de brilhar na excursão europeia, no amistoso contra a Alemanha no Maracanã e, na própria Copa, contra a Argentina. Valdir era pior que o Félix de 1970, por exemplo?

Ou o problema foi Serginho Chulapa? Virou titular pela lesão de Careca, tinha sido o vice-artilheiro do Brasileiro daquele ano, poucos meses antes, com 20 gols – um a menos que Zico, que jogou cinco partidas a mais. Que até conseguiu marcar dois sobre Nova Zelândia e Argentina.

Péssima atuação contra a Itália, atrapalhando Zico em uma chance cristalina, tentando um calcanhar maluco no segundo tempo e saindo em seguida para a entrada de Paulo Isidoro. Mas vejamos a França em seus dois títulos mundiais. Venceu, de certa forma, apesar de seus centroavantes Dugarry e Giroud. O Brasil de Telê poderia ter sobrevivido mesmo sem um camisa nove brilhante e/ou móvel.

Até a mudança tática para encaixar Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico no meio-campo tinha encontrado soluções ao longo dos jogos. Dos últimos nove gols brasileiros desde o jogo contra a Nova Zelândia, seis foram criados ou finalizados pelo lado direito. Os dois contra a Itália, de Sócrates e Falcão. O revezamento no setor passou a funcionar e a movimentação era justamente a maior virtude coletiva daquela seleção.

E não dá para responsabilizar a ausência de Paulo Isidoro no trabalho defensivo com Leandro nos gols italianos. No primeiro, logo no início da partida, a inversão de Conti para Cabrini já encontra o lateral esquerdo na zona de marcação de Leandro, que não saiu para pressionar e permitiu o cruzamento.

Do lado oposto talvez estivesse o grande problema de Telê naquela tarde quente em Barcelona. A atuação defensiva de Júnior foi trágica. Curioso que o lateral liberado para atacar e que armava como mais um meio-campista costumava sofrer quando encontrava um ponta típico, veloz e driblador.

Bruno Conti era canhoto e circulava pelo campo, mais articulador. Não era de partir para cima. Os equívocos de Junior foram fundamentalmente de posicionamento. No primeiro gol, Rossi infiltra entre ele e Luisinho. No terceiro ele demora a sair na linha de impedimento e dá condições ao iluminado camisa 20 do rival.

Ainda daria condições a Antognoni no gol mal anulado que decretaria os 4 a 2 nos minutos finais e deixou Rossi livre em chance cristalina que o artilheiro desperdiçou na segunda etapa. Um desastre tão grande quanto Eder. Destaque da seleção nos jogos anteriores, claramente sentiu o jogo e pouco produziu, mesmo enfrentando o improvisado meio-campista Oriali, que virou lateral para que Gentile perseguisse Zico por todo campo. Só apareceu colocando a bola na cabeça de Oscar no final do jogo.

Seria o gol redentor de todos os pecados. A “raça” do zagueiro seria exaltada e ele entraria na galeria de “herois do tetra”. Mas Zoff pegou “pelo rabo” em uma das grandes defesas da história das Copas. A maior da carreira, segundo o próprio goleiro.

Talvez Telê pudesse ter pedido um pouco mais de cuidados a partir dos jogos eliminatórios, com Leandro e Junior alternando apoio nas laterais, o mesmo com Cerezo e Falcão à frente da defesa. Ou exigido concentração, para evitar falhas como a do próprio Cerezo no segundo gol, entregando nos pés de Rossi com o time saindo para o ataque. Ou o gol derradeiro, com todos dentro da própria área, porém deixando o centroavante adversário livre.

Mas não houve irresponsabilidade, nem ataques desnecessários com o placar favorável. O Brasil de Telê Santana era competitivo e contava com jogadores experientes e vencedores. Pouco tempo antes, Leandro, Junior e Zico seguraram o Grêmio na final do Brasileiro em Porto Alegre. Com solidez defensiva e posse de bola.

Simplesmente não era para ser. O Brasil já venceu Copas com mais problemas coletivos e na preparação, como em 2002, por exemplo. Poucos lembram, mas Ronaldo tem uma atuação ridícula contra a Inglaterra nas quartas. Mal tocou na bola. Não fossem Rivaldo e Ronaldinho e a equipe de Felipão talvez tivesse voltado para casa. A história que fica é o penta com Fenômeno heroi, o que também é justo.

O fato é que a Itália era forte e a má campanha na primeira fase contra Peru, Polônia e Camarões foi ilusória, ou um contratempo natural. A base de Enzo Bearzot era a mesma da campanha do quarto lugar na Argentina em 1978. Vencendo os donos da casa na primeira fase, perdendo para a Holanda jogando melhor e sendo alijada da final. Segundo Zico, a melhor seleção daquele Mundial.

O timaço de Zoff, Scirea, Cabrini, Tardelli, Antognoni, Conti e Rossi na sua melhor versão. Foi a grande atuação italiana na campanha do tri e o maior jogo daquela Copa. A Itália não venceu uma equipe ordinária, o Brasil não perdeu para qualquer um.

Porque o futebol é assim. Por isso tão apaixonante. Por isso eu não esqueci e vou lembrar mais uma vez hoje, acompanhando a transmissão do Sportv a partir das 17h30.

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Luizão foi um bom camisa nove, mas errou feio ao falar sobre centroavantes http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/06/luizao-foi-um-bom-camisa-nove-mas-errou-feio-ao-falar-sobre-centroavantes/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/06/luizao-foi-um-bom-camisa-nove-mas-errou-feio-ao-falar-sobre-centroavantes/#respond Mon, 06 Apr 2020 11:35:35 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8257

Foto: Pedro Ivo Almeida / UOL

“O Brasil não tem centroavante hoje. Não temos e sentimos muita falta disso. O Brasil foi pentacampeão mundial sempre com um 9, uma referência. […] Gabriel Jesus e Firmino não começaram a carreira como centroavantes. Eles são adaptados ali”.

Palavras do ex-jogador Luizão no programa “Última Palavra” no canal Fox Sports. Campeão mundial em 2002 e um bom centroavante, artilheiro e vencedor por Palmeiras, Vasco, Corinthians, São Paulo e Flamengo.

Mas errou feio ao falar sobre a sua posição. Em relação ao passado e aos tempos atuais. E não venham com o velho, surrado e furado papo de “ele jogou, você nunca chutou uma bola e não pode criticar”. Posso, sim. Primeiro pela liberdade de expressão, segundo porque ele já parou de jogar e está ali analisando o cenário futebolístico. E precisa ter conhecimento para não dizer bobagem.

E ele disse. “O Brasil foi pentacampeão mundial sempre com um 9, uma referência”. Quem era a referência em 1970, justamente a seleção considerada a melhor não só brasileira, mas de todas as Copas?

A resposta: ninguém. Tostão era um meia-atacante, um “ponta-de-lança”. Na equipe montada por Zagallo tinha a função de se movimentar, abrir espaços. Procurar o lado esquerdo, ajudando Rivellino, já que o lateral Everaldo praticamente não atacava. Deixava o corredor central para Pelé e as infiltrações em diagonal de Jairzinho.

Fez apenas dois gols no Mundial, na vitória por 4 a 2 sobre o Peru nas quartas de final da Copa no México. Foi muito mais importante, porém, facilitando o trabalho dos companheiros. Muito longe de ser o tal “homem-gol”.

A rigor, o único centroavante típico campeão mundial pelo Brasil foi Vavá, em 1958 e 1962. E mesmo ele também se movimentava. Com Zagallo mais recuado, ele dava dois passos para o lado esquerdo para que o jovem Pelé entrasse para concluir. Quatro anos depois, também ajudou com mobilidade para que Garrincha brilhasse.

Ronaldo e Romário foram craques geniais, atacantes completos – ou quase, já que o Fenômeno, por conta de um trauma por bolada, passou a ter medo de cabecear. Não atuavam exatamente na referência. Em 1994 o ataque era uma dupla, com Bebeto. Ambos criavam e finalizavam. No último título mundial brasileiro, o 3-4-3 da primeira fase precisou ser desmontado e Rivaldo ganhou mais liberdade para sair da esquerda e também formar uma dupla com Ronaldo.

Em algumas Copas, ter uma referência mais atrapalhou que colaborou. No Mundial de 1982, na Espanha, o grande time de Telê Santana contava com Serginho Chulapa. Artilheiro do Brasileiro daquele ano pelo São Paulo ao lado de Zico, mas com menos jogos. Um típico homem-gol, jogador do último toque para as redes. Alto, forte, sempre rondando a área adversária.

E perdeu gols de forma constrangedora. O mais grave justamente na derrota para a Itália, no primeiro tempo, tomando à frente de Zico. Livre, na cara do goleiro Zoff. Fora as muitas chances desperdiçadas nos demais jogos, especialmente na estreia contra a União Soviética. Apenas dois gols, contra a semiamadora Nova Zelândia e diante da Argentina, completando com total liberdade um cruzamento perfeito de Falcão.

Para muitos analistas, se a seleção tivesse um típico ponta pela direita em alto nível, o ataque e o time ficariam mais equilibrados com Sócrates e Zico se alternando como “falso nove”. Ou jogando com um atacante mais móvel, como Careca ou Nunes, que se deslocasse para a direita, no espaço deixado pelo “quadrado mágico” no meio. A referência não colaborou em nada.

O mesmo em 2014. Fred chegou ao Mundial longe do bom momento de 2012, quando foi campeão e artilheiro do Brasileiro com o Fluminense, e 2013, também vencedor e goleador da Copa das Confederações pela seleção. Na Copa, apenas um gol, nos 4 a 1 sobre Camarões. E uma falta de mobilidade que facilitou a marcação, sobrecarregou Neymar e desequilibrou a equipe de Felipão até a tragédia dos 7 a 1.

A crítica a Gabriel Jesus na última Copa do Mundo é válida. De fato, terminar o Mundial sem gols não é para se orgulhar. Os citados acima, em má fase ou não jogando como centroavante, ao menos foram às redes. A juventude do atacante de 21 anos atenua, mas não justifica a falta de contundência.

Mas fazer gols não era a única função de Jesus. Assim como Tostão em 1970, sem comparações, a tarefa era facilitar com mobilidade o trabalho de Neymar e Philippe Coutinho, as duas grandes estrelas. Algo muito comum no futebol mundial, como Suárez trabalhando para Messi no Barcelona e Benzema para Cristiano Ronaldo no Real Madrid tri da Liga dos Campeões.

E Giroud na França campeã mundial. O camisa nove alto e forte não marcou gols no torneio disputado na Rússia, assim como Gabriel Jesus. No entanto, o posicionamento no centro do ataque empurrou as defesas adversárias para trás e criou os espaços que Mbappé, Griezmann e Pogba precisavam para desequilibrar.

Roberto Firmino, também criticado por Luizão, é o nove do Liverpool, atual campeão da Champions e virtual da Premier League, se houver um final para esta edição do Inglês. Faz gols, mas a função principal é recuar, articular e deixar brechas para as infiltrações em diagonal de Salah e Mané.

Jogar exclusivamente para um goleador no centro do ataque é coisa do passado. As equipes hoje são muito mais móveis e dinâmicas, até pela falta de espaços. O ideal é tirar a referência justamente para dificultar a retaguarda do oponente. Lewandowski, Cavani, Diego Costa, Icardi, Aguero…Todos marcam gols, mas também se mexem bastante.

Assim como Luizão, que nos anos 1990 já procurava os flancos e deixava Rivaldo, Muller e Djalminha brilharem no lendário Palmeiras de 1996. O mesmo no Vasco campeão da Libertadores de 1998 com Donizete e Ramon ou Pedrinho e no Corinthians campeão brasileiro e mundial em 1999/2000 com Marcelinho Carioca, Edilson e Ricardinho. E aparecendo na área para ser decisivo e colocar o Brasil no Mundial de Japão/Coreia do Sul com dois gols sobre a Venezuela na última rodada das eliminatórias, em 2001.

Jogava bem, mas mandou mal na análise sobre a sua posição. Mais uma prova de que jogar e comentar são tarefas distintas. Uma não é, nem pode ser, consequência natural da outra. Só o feeling não basta, é preciso saber.

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Os dez maiores jogadores do século 21 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/05/os-dez-maiores-jogadores-do-seculo-21/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/05/os-dez-maiores-jogadores-do-seculo-21/#respond Sun, 05 Apr 2020 12:27:36 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8253

Foto: Reuters

Antes que comece a gritaria é bom lembrar: “Melhor” tem relação exclusiva com a qualidade, quem joga mais. “Maior” tem a ver com feitos, conquistas dentro de um patamar igual ou bem próximo no talento.

Dito isso, vamos à lista:

1º – Cristiano Ronaldo – Ele não é melhor que Messi, mas compensa menos talento com mais força mental, trabalho, liderança positiva e conquistas. Em clubes e seleção. Venceu no Manchester United, no Real Madrid e agora na Juventus, ainda que apenas dentro da Itália. O “Mr. Champions”, com cinco conquistas. Pela seleção portuguesa, títulos da Eurocopa e Liga das Nações. Só tem uma Bola de Ouro a menos que Messi pela escolha “política” de Luka Modric em 2018. O maior jogador nascido na Europa em toda a história.

2º – Lionel Messi – O melhor que este que escreve viu jogar em quase quarenta anos acompanhando futebol. O maior jogador do grande clube do século 21. Mas para fazer rankings é preciso ter parâmetros e a escolha é pessoal. E o futebol de seleções ainda é muito relevante e aí está o grande porém da carreira do argentino. Mesmo sendo o maior artilheiro da albiceleste e descontando a bagunça da AFA e os gols perdidos pelos companheiros nas grandes decisões, a falta de uma conquista relevante pesa na disputa já lendária com CR7.

Cabe mais um parágrafo necessário sobre a dupla:

Sim, ainda falta uma Copa do Mundo para os dois. Pela maior tradição da Argentina, essa lacuna pesa mais para Messi. Mas rivalizar jogando em altíssimo nível e quebrando recordes por mais de uma década, só eles. Uma história que certamente será tema de filmes quando os dois se aposentarem. Nem precisa de distanciamento histórico para ter a dimensão do que fizeram, inclusive aumentar relevância da Liga dos Campeões no esporte.

Seguindo:

3º – Ronaldinho Gaúcho – Campeão mundial com o Brasil, da Liga dos Campeões pelo Barcelona e da Libertadores com o Atlético Mineiro. Currículo único, trajetória particularíssima. Talento puro que enquanto conseguiu ser competitivo encantou a ponto de concorrer ao Olimpo de Pelé e Maradona. A chance era ser bicampeão em 2006 com a seleção na Copa da Alemanha como protagonista. Mas falhou miseravelmente e algo se desconectou, vivendo de espasmos de genialidade. Uma pena.

4º – Ronaldo Fenômeno – Talvez não tenha sido melhor que Rivaldo em 2002. Mas a recuperação espetacular e o título mundial com artilharia absoluta depois de ter o joelho direito praticamente condenado para jogar no mais alto nível é a grande história do futebol deste século. De um atacante que até 1999 foi o Fenômeno que mudou a rotação do jogo. Depois viveu de lampejos e briga com a balança, mas ainda um atacante genial. Sem as grandes arrancadas, aprimorou a finalização para seguir brilhando.

5º – Zinedine Zidane – Outro que teve a chance de subir à primeira prateleira da história. A partir das oitavas em 2006, uma das grandes performances individuais em Copas do Mundo. Atuação magistral contra o Brasil favorito nas quartas. A chance da consagração na final, mas uma cabeçada na bola parou em Buffon e a que acertou em Materazzi encerrou o sonho e a carreira vitoriosa, com direito a gol antológico pelo Real Madrid na final da Champions 2001/02. O grande feito do francês no século.

6º – Xavi Hernández – Craque da Eurocopa 2008 na grande virada de chave histórica da Espanha. Da “Fúria” que passava longe das conquistas para a “Roja” bi do continente e campeã mundial em 2010. Fora os muitos títulos com o Barcelona. Com Pep Guardiola deu um salto de qualidade e se tornou ainda mais líder e o grande facilitador para o talento de Messi. Controlador do jogo e da bola. Toca e desloca, tic-tac. Uma pena ter se destacado na Era Messi x CR7. Merecia ao menos uma Bola de Ouro.

7º – Andrés Iniesta – Quatro anos mais novo que Xavi, viveu seu auge na Euro de 2012, com protagonismo na conquista. Sem contar o gol do título mundial na prorrogação contra a Holanda na África do Sul dois anos antes. Outro currículo impressionante de quem também jogou para ser melhor do mundo ao menos por uma temporada. Sabia ditar o ritmo como “oito”, mas também alternar pelos lados com intensidade. O estilo que dava liga a Xavi e Messi no Barcelona histórico.

8º – Kaká – O último Bola de Ouro antes do domínio de Messi e Cristiano Ronaldo. O único inquestionável na concorrência com os dois gênios. Pela temporada espetacular de 2006/07, a melhor da carreira. Imparável nos “sprints” que podiam ser de área a área, inteligente na movimentação ofensiva do 4-3-2-1 de Carlo Ancelotti no Milan. O último grande momento de uma carreira abreviada no mais alto nível por problemas físicos. Faltou também uma grande Copa do Mundo como protagonista.

9º – Toni Kroos – Mais um grande meio-campista do século. Multicampeão por Bayern de Munique, Real Madrid e seleção alemã. Capaz de executar no mais alto nível todas as funções no meio-campo, de área a área. Outro que seria mais reconhecido se não houvesse uma dupla de protagonistas tão absoluta. Os 7 a 1 são tratados sempre como a nossa tragédia, mas aquela tarde no Mineirão foi do meia alemão, com eficiência assombrosa em tudo que executou. Cracaço!

10º Andrea Pirlo – O “regista” do Milan bicampeão da Champions e da Itália campeã mundial de 2006. Ainda levou a Azzurra nas costas até a final da Euro 2012, aos 33 anos. Três anos depois estaria em uma final de Champions pela Juventus contra o Barcelona. O camisa dez que foi recuando e influenciou no jogo ao mostrar que os espaços mais atrás para organizar e articular poderiam ser preciosos e decisivos. Passes curtos e longos, acelerando e cadenciando. Um monstro!

 

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