corinthians – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Das glórias às crises, Andrés Sanchez lembra mesmo Eurico Miranda http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/10/das-glorias-as-crises-andres-sanchez-lembra-mesmo-eurico-miranda/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/10/das-glorias-as-crises-andres-sanchez-lembra-mesmo-eurico-miranda/#respond Wed, 10 Jun 2020 14:21:35 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8631

Foto: Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians

A comparação não é minha, mas de Juca Kfouri, já há algum tempo. Este que escreve confessa que no início viu mais semelhanças com Kléber Leite, presidente do Flamengo que contratou Romário em 1995. Andrés Sanchez repatriou Ronaldo Fenômeno em 2009 e Roberto Carlos no ano seguinte. Dirigentes comparáveis na megalomania.

Mas a trajetória do atual presidente do Corinthians tem mesmo vários pontos semelhantes com a do ex-dirigente vascaíno, falecido em março do ano passado. E Andrés diz se orgulhar disso.

Eurico Miranda entendia de futebol, sabia pensar com os treinadores a montagem de equipes fortes e gostava de preservar o comando técnico para que o time cruzmaltino tivesse uma identidade em campo. O mais longevo deles foi Antonio Lopes, de 1996 a 2000.

Nos momentos de dificuldades e derrotas doídas sabia matar no peito a responsabilidade e desviar o foco com bravatas, polêmicas, confrontos com jornalistas e provocações aos rivais, especialmente o Flamengo. Mas sobrou também para o próprio Andrés, alfinetado por Eurico em 2014 sobre a construção do estádio do Corinthians. Isso criava uma cumplicidade com jogadores e comissão técnica, blindadas pelo escudo do dirigente poderoso.

Eurico também trabalhou para a CBF, como Diretor de Futebol no início da gestão Ricardo Teixeira em 1989. A pedido de João Havelange, sogro de Ricardo, por conta da inexperiência do genro com o futebol. Não durou muito a parceria e Eurico viria a se tornar desafeto de Teixeira.

Eurico se envolveu com política partidária. Foi deputado federal e sempre tentou usar sua influência para beneficiar o Vasco. E não fazia questão nenhuma de esconder isso, inclusive pedindo votos e fazendo promessas aos torcedores do clube do Rio de Janeiro.

Eurico esteve sempre envolvido em processos judiciais e foi investigado na CPI do futebol. O problema invariavelmente era a pouca transparência com que geria primeiro o futebol, depois como presidente do Vasco da Gama.

E quando a “caixa preta” foi aberta, o Vasco estava afundado em uma grave crise financeira. Com a queda a partir de 2000, com os altos investimentos no time de futebol e também em um projet  que contratava atletas com índices olímpicos ou fazendo parte de seleções classificadas para os Jogos de Sydney. Nem a parceria com o Bank of America sustentou a empreitada e o clube acumulou processos trabalhistas.

Com os cofres vazios mas muito populismo para se manter no poder, Eurico seguiu tentando investir no futebol e resgatar a competitividade de outros tempos. Só aumentou as dívidas com contratações de qualidade duvidosa e perdeu capital político até seu grupo ser derrotado nas urnas por Roberto Dinamite em 2008. Na volta em 2014, a mesma prática de afirmar publicamente a saúde financeira, mas  auditorias posteriores revelando um aumento considerável da dívida que hoje chega a cerca de 440 milhões de reais

Andrés também entende de futebol, é polêmico e provocador, foi deputado federal, trabalhou com Ricardo Teixeira na CBF, foi e é alvo de processos judiciais..e agora parece viver o período de queda. Não foi o presidente da conquista da Libertadores e do Mundial em 2012, mas sempre esteve envolvido com a política do Corinthians. Ora como gestor, ora como figura influente nas decisões.

Inclusive na construção do estádio em Itaquera que segue comprometendo as finanças do clube. Um passo ambicioso que cobra um preço alto junto com outras decisões e contratações questionáveis. A dívida aumenta mesmo com a receita dos direitos de transmissão e também do programa de sócio-torcedor. No retorno de Andrés à presidência em 2018, a conta chegou salgada e, agora, com a parada por conta da pandemia, o clube sangra de vez. A divida geral é de cerca de 350 milhões de reais.

Os salários atrasados chegaram a três meses e o Corinthians pode sofrer penhora por não repassar para agentes o valor referente à venda de Maycon para o Shakhtar Donetsk. Problemas que se avolumam, mas não freiam o populismo: a direção do clube sinaliza negociações avançadas para repatriar Jô e uma possibilidade de contratar também o atacante Alex Teixeira. A velha estratégia de distrair a torcida com possíveis reforços para soterrar o noticiário negativo.

Práticas que cheiram a mofo. Não conseguiram manter Eurico forte nem no seu retorno ao Vasco em 2014 e parecem minar de vez o prestígio de Andrés no Corinthians. Sem vitórias no campo, a paciência do torcedor vai embora. Sintomático nos dois casos.

As semelhanças não são mera coincidência. Nos defeitos e nas virtudes. Das glórias às crises. Juca tem mesmo razão.

 

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De Ronaldo a Adriano, 2009 foi o ano “The Last Dance” no futebol brasileiro http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/05/de-ronaldo-a-adriano-2009-foi-o-ano-the-last-dance-no-futebol-brasileiro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/05/de-ronaldo-a-adriano-2009-foi-o-ano-the-last-dance-no-futebol-brasileiro/#respond Fri, 05 Jun 2020 13:38:04 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8601

Foto: Folha Imagem

“The Last Dance” (“Arremesso Final” no Brasil) é a série da Netflix que apresenta com incríveis registros de bastidores a trajetória do Chicago Bulls de Michael Jordan  na conquista de seis títulos da NBA em oito anos. A “última dança” é a temporada 1997/98, definida em lendária cesta de Jordan contra o Utah Jazz. O brilho final de um mito dos esportes em todos os tempos.

Difícil encontrar história semelhante no esporte nacional, até por nuances como a pausa de Jordan para jogar beisebol em 1994, depois da morte do pai, e o anúncio do manager Jerry Krause, antes da última temporada começar, de que o treinador Phil Jacskon não seguiria na franquia. Sem contar a aposentadoria da estrela maior até a aventura no Washington Wizard de 2001 a 2003.

Mas o futebol brasileiro teve um ano especial que consagrou em seus campos pela última vez grandes estrelas do esporte. Cada um dentro de sua escala de grandeza.

2009 começou com Ronaldo Fenômeno voltando ao Brasil para liderar o Corinthians na sua volta à Série A e marcando um processo de reconstrução que levaria o time mais popular de São Paulo às maiores conquistas de sua história.

Mesmo com problemas físicos por conta das sérias lesões nos joelhos e a dificuldade de manter o peso ideal, Ronaldo foi protagonista nas conquistas do Paulista, este de forma invicta, e Copa do Brasil. Os últimos títulos da carreira de um dos maiores atacantes da história do futebol mundial. Com direito a gol antológico encobrindo Fabio Costa contra o Santos na Vila Belmiro pela decisão estadual.

Se o primeiro semestre foi do Corinthians do Fenômeno, o segundo reservou uma grande surpresa: o Flamengo campeão brasileiro depois de 17 anos, comandado por Adriano Imperador, que deixou a Internazionale para jogar pelo time de coração. Bem assessorado por Petkovic, de volta ao clube aos 36 anos para receber uma dívida ainda da primeira passagem, entre 2000 e 2002.

Apesar da gestão caótica, com direito à efetivação do interino Andrade depois da demissão de Cuca, o time conseguiu uma impressionante arrancada no returno que aproveitou as oscilações de São Paulo e Internacional para alcançar o título. O derradeiro protagonismo da dupla improvável e também o único do ídolo que virou treinador.

O ano do futebol no Brasil ainda teve o Mineirão como palco da última conquista de Libertadores do tetracampeão Estudiantes de La Plata. Vencendo o Cruzeiro por 2 a 1 depois de um empate sem gols na Argentina.

Liderado por Juan Sebastián Verón. Ou “La Brujita”, por ser filho de “La Bruja”, o também ídolo Juan Ramón Verón, tricampeão continental de 1968 a 1970. Aos 34 anos comandou o meio-campo na virada histórica com gol de Mauro Boselli. A última grande conquista de uma carreira com indas e vindas, assim como a de Jordan – sem comparações, é claro.

2009 foi o ano “The Last Dance” no futebol brasileiro.  Se não efetivamente da despedida dos campos de Ronaldo, Adriano, Petkovic ou Verón, marcaram os últimos momentos memoráveis de suas carreiras. De contribuições decisivas em conquistas relevantes. Para cada um, a “última dança” inesquecível.

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Futebol no Brasil continua mal jogado. Flamengo só é a melhor exceção http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/04/futebol-no-brasil-continua-mal-jogado-flamengo-so-e-a-melhor-excecao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/04/futebol-no-brasil-continua-mal-jogado-flamengo-so-e-a-melhor-excecao/#respond Thu, 04 Jun 2020 12:20:29 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8595

Foto: Gazeta Press

O companheiro Mauro Cezar Pereira foi parar no topo dos assuntos mais comentados no Twitter ontem à tarde por conta de sua análise sobre o futebol jogado no Brasil. No podcast “Posse de Bola”, aqui no UOL Esporte, ele afirmou que até 2019, com algumas exceções, os times escolheram a tese do “jogar feio e vencer”. Os Jorges, Jesus e Sampaoli, teriam mudado esse cenário no ano passado com seus trabalhos no Flamengo e no Santos, respectivamente.

Como temos uma amizade de alguns anos, inclusive trabalhando juntos na ESPN Brasil, chamei o Mauro em particular para entender melhor o que ele queria dizer. Pouco antes ele havia publicado um vídeo no seu canal no Youtube explicando de forma mais clara o ponto de vista.

Entendi, mas continuo discordando respeitosamente do Mauro. A meu ver, o futebol no Brasil continua mal jogado. O Flamengo só é a melhor exceção.

Até porque há uma espécie de cultura subterrânea no país que valoriza o jogar mal. Não feio. Aliás, muitas vezes se cria um falso dilema em torno do tema. Para evitar confrontos com profissionais do futebol pelos mais variados interesses, de preservar a fonte jornalística até a tentativa de cavar uma vaga em comissões técnicas de clubes, se apela para a “não-crítica”.

“Há várias maneiras de jogar e vencer”, “não existe certo e errado’ e por aí vai. São as senhas para elogiar qualquer coisa que alcance resultados por um período ou um campeonato. Um esforço para encontrar virtudes onde muitas vezes só há ideias ruins, mal planejadas e executadas, porém salvas por individualidades ou um contexto favorável.

No Brasil se criou uma espécie de conformismo, baseada em nosso jeito de ver futebol. Se os melhores jogadores vão para a Europa, cada vez mais cedo, que aqui vença o mais “macho”. O jogo vira um culto à virilidade. O torcedor, em geral, prefere a vitória sofrida, arrancada à forceps. A imposição do melhor futebol é algo chato, que torna tudo mais previsível. A velha ditadura da emoção, que vale mais que um trabalho bem feito.

A prova veio no ano passado mesmo. Quem não lembra da esperança de muitos que o Palmeiras com Mano Menezes pudesse alcançar um Flamengo que deixou alguns pontos pelo caminho na sequência dura de dois jogos por semana na reta final da temporada, jogando Brasileiro e Libertadores? Mesmo jogando mal quase sempre, o Alviverde pontuava e esperava enfrentar em casa o líder ainda com condições matemáticas na antepenúltima rodada. O desfecho acabou sendo decepcionante.

Ou ainda o delírio coletivo em torno de Vanderlei Luxemburgo, então treinador do Vasco, depois do empate por 4 a 4 no clássico carioca antecipado da 34ª rodada para que o Flamengo pudesse ir a Lima decidir a Libertadores contra o River Plate. Uma boa atuação cruzmaltina, dentro da proposta possível de um time inferior técnica e taticamente, em um clássico que costuma equilibrar forças. Contra uma equipe com boa vantagem na ponta da tabela da competição por pontos corridos e já mais focada na final continental.

Foi o suficiente para uma exaltação da estratégia de Luxemburgo. Como um último suspiro do status quo. O time inferior, mas “raçudo” e lutando até o final – o mínimo que se espera em um grande clássico nacional – arrancando o empate no fim, porém sofrendo quatro gols – foi alçado à condição de “heroi”. E o treinador tratado como um fantástico estrategista, como se tivesse encontrado a fórmula para parar aquela equipe que desafiava o padrão nacional de jogar futebol. Algo totalmente esporádico.

Isso vai além da natural torcida contra times muitos populares. Ou da resistência brasileira de admitir que países menos tradicionais em conquistas de Copas do Mundo, como Portugal, possam acrescentar algo ao futebol cinco vezes campeão do mundo. “Ganharam o quê?”

Jorge Jesus e o Flamengo ganharam. Brasileiro e Libertadores no mesmo ano, feito inédito desde o Santos de Pelé. Mas este conquistando a Taça Brasil disputando quatro ou seis jogos, não 38.  Quebrando paradigmas, como a utilização de reservas no campeonato por pontos corridos quando o clube chegava às fases decisivas das competições por mata-mata. Jesus poupou titulares poucas vezes.

A melhor exceção dos últimos anos. Como o Mauro Cezar inseriu este comentário em uma abordagem sobre a reprise dos 7 a 1 no fim de semana pelo Sportv, o período mais exato da análise seria desde 2014. Então teríamos o Corinthians de 2015 comandado por Tite e o Grêmio de Renato Gaúcho que venceu a Libertadores de 2017 como os únicos exemplos de equipes que venceram buscando um futebol diferente. Sem “fechar a casinha”, apelar para ligações diretas, usar com frequência a cobrança de lateral na área adversária e entregar a bola para o mais talentoso compensar a falta de ideias.

O Fla de Jesus mandou Felipão e Mano Menezes para casa. Também Fabio Carille, representante da identidade do Corinthians nos últimos anos que inclui Tite e o próprio Mano. E Renato Gaúcho só não caiu depois dos 5 a 0 na semifinal da Libertadores pelo tamanho que tem no Grêmio.

É inegável que o time rubro-negro abalou as estruturas. O Santos de Sampaoli também, mais pelo desempenho que por resultados. Justo também incluir o Athletico de Tiago Nunes campeão da Copa do Brasil. Mas a média continua baixa. Há iniciativas que valem a observação, como Eduardo Coudet no Internacional e a sequência de Fernando Diniz no São Paulo, mas a pandemia atrapalhou. Pode prejudicar o próprio Flamengo na volta.

Se acontecer, será a alegria e o alívio de muitos. E aí é impossível discordar do Mauro: de fato, a visão medíocre de futebol ainda impera. Vejamos até quando.

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Tite e Jorge Jesus: as melhores respostas do futebol brasileiro ao 7 a 1 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/01/tite-e-jorge-jesus-as-melhores-respostas-do-futebol-brasileiro-ao-7-a-1/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/01/tite-e-jorge-jesus-as-melhores-respostas-do-futebol-brasileiro-ao-7-a-1/#respond Mon, 01 Jun 2020 15:19:04 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8576

Foto: Luciano Belford / Agência O Dia

O Sportv reprisou os 7 a 1 de 2014. Seis anos transformaram a maior derrota brasileira e o grande vexame da história dos esportes coletivos em clichê, inclusive saindo da esfera do futebol para invadir as muitas mazelas do país – “todo dia um 7 a 1 diferente”.

A goleada retumbante no Mineirão em uma semifinal de Copa do Mundo foi o grande revés de uma maneira de ver o jogo. Ou de não ver. Luiz Felipe Scolari mandou os observadores Alexandre Gallo e Roque Júnior ao Maracanã assistirem ao confronto das quartas que dariam o adversário brasileiro: Alemanha x França.

O treinador, porém, não deu muita bola para o que os assistentes disseram. Preferiu acreditar na intuição. E na superstição. Também na mística da camisa verde e amarela e  na força da torcida. Gallo e Roque Júnior sugeriram reforçar o meio-campo. Felipão escolheu Bernard. Porque tinha “alegria nas pernas”. Porque deu certo contra o Uruguai na Copa das Confederações, um ano antes. Resolveu ir para cima, mesmo sem Thiago Silva, o melhor zagueiro, e Neymar, o grande craque da seleção.

Além da escolha errada, encontrou uma Alemanha com fome. Que tinha encontrado a melhor formação, com Lahm de volta à lateral direita e um trio de meio-campistas técnico e versátil: Schweinsteiger, Khedira e Toni Kroos. Klose como referência na frente, puxando Muller para uma função híbrida partindo da direita, mas circulando pelo ataque, e Ozil guardando um pouco mais o lado esquerdo, até porque Howedes praticamente não descia, era um lateral-zagueiro.

Na prática, o que se viu foi a seleção brasileira em uma espécie de 5-1-4. Luiz Gustavo muito afundado perto da defesa, quarteto ofensivo isolado – Bernard e Hulk nas pontas, Oscar por dentro e Fred na frente. E Fernandinho sozinho no meio, entre o trio alemão e levando botes toda hora. Para piorar, um David Luiz tresloucado, num delírio de “Exército de Um Homem Só”, abandonando a defesa para tentar resolver tudo sozinho.

A Alemanha foi absurdamente eficiente em contragolpes e finalizações. Uma tarde única que produziu o placar histórico. Mas estava claro que o Brasil não poderia manter a visão de futebol valorizando o periférico e olhando pouco para o jogo. Por mais que muitos insistam até hoje em passar a mão na cabeça de Felipão por amizade e usar o termo “apagão” para reduzir uma humilhação para nunca mais esquecer.

Mesmo com resistências, alguns agentes do futebol brasileiro se esforçaram para avançar, evoluir. Tite foi o primeiro e  mais significativo. Mesmo campeão da Libertadores e Mundial em 2012, sentiu na virada de 2013 para 2014 que precisava aprender, ampliar o repertório. Ele que já havia afirmado no Brasil a marcação por zona em detrimento dos encaixes com perseguições individuais típicos. Também valorizado a compactação entre os setores. Mas ainda era pouco.

Rodou a Europa, fez uma espécie de “estágio” com Carlo Ancelotti no Real Madrid, estudou muito o Barcelona que começava a sinalizar o “arrastão” do trio Messi-Suárez-Neymar e voltou com elementos para acrescentar ao seu estilo, especialmente na fase ofensiva. Pensou em aplicar na seleção, mas a CBF preferiu Dunga.

Acabou voltando ao Corinthians em 2015. Precisou queimar etapas de preparação para tornar a equipe competitiva nas fases preliminares da Libertadores, teve a Flórida Cup para atrapalhar, mas deu uma boa resposta inicial que cobrou caro mais à frente. A oscilação depois de superar São Paulo, San Lorenzo e Danúbio na fase de grupos veio com problemas internos, como atraso de salários. Custou o Paulista e a elminação para o Guaraní paraguaio nas oitavas.

No Brasileiro, um ajuste fino no acréscimo de conceitos formou um time fortíssimo. Competitivo e capaz de proporcionar momentos de espetáculo. O Corinthians do Renato Augusto organizador, de Elias infiltrador como meia em um 4-1-4-1. De Jadson “ponta articulador” partindo da direita para circular às costas dos volantes adversários e ainda abrindo o corredor para Fagner. Uma equipe que apostava demais nas triangulações nas ações de ataque. Campeã brasileira sobrando na reta final, com direito a 3 a 0 sobre o Atlético Mineiro no Independência para consolidar a conquista.

Com a demissão de Dunga depois do fracasso na Copa América Centenário, era a vez de Tite. Que passou por cima de convicções acerca do “modus operandi” da CBF em nome do sonho de dirigir a seleção. E levou suas ideias e o “modelo Corinthians” para comandar Neymar, Philippe Coutinho, Gabriel Jesus e companhia.

Obviamente sem deixar de pensar no entorno. Criou um clima positivo com jogadores e imprensa. E repaginou a seleção no mesmo 4-1-4-1, trazendo Renato Augusto para a função única de organizador. Paulinho era Elias, Casemiro era Ralf, Coutinho era Jadson, Jesus era Love. E Neymar não era Malcom, mas o grande protagonista.

De sexto lugar e ameaçado a ficar de fora da Copa em agosto de 2016 a líder absoluto das Eliminatórias com classificação antecipada. Mas o ciclo de apenas dois anos começou a cobrar o preço em novembro de 2017, com o empate sem gols com a Inglaterra em Wembley que revelou a dificuldade de furar a linha de cinco defensores. Problema que virou drama com o sorteio para a Copa na Rússia que colocou no caminho Suíça, Costa Rica e Sérvia. Todas que em algum momento jogaram com linha de cinco e poderiam repetir contra o favorito Brasil.

Tite tentou uma nova “revolução”. Acrescentando elementos do ataque de posição. Trocando o Renato Augusto com problemas físicos por Willian. Um ponta para abrir o campo pela direita, trazendo Coutinho para o meio com Paulinho. Mais posse de bola e um jogo planejado para furar retrancas.

Sofreu com o corte por lesão de Daniel Alves e a recuperação tardia de Neymar. Mas fez uma Copa digna comparada com a saga tortuosa de 2014. Ao menos Tite buscava soluções olhando para o campo. Douglas Costa, Roberto Firmino, o próprio Renato Augusto. Os que mudaram o segundo tempo contra a Bélgica e quase recuperaram os 2 a 0 da primeira etapa. Faltou a eficiência nas finalizações.

Tite seguiu no comando técnico da seleção. Uma rara permanência sem título da CBF. Justa, porque o saldo dos dois anos  foi bastante positivo. Hoje parece um passado distante em tempos tão acelerados, mas o treinador era ídolo antes do Mundial, especialmente depois da “revanche” contra os alemães a poucos meses da Copa. Para os incautos era visto até como um exemplo para os candidatos a presidente.

2019 trouxe o título da Copa América disputada no Brasil, mas também uma sensação de estagnação. Em desempenho e resultados. Tite manteve a ideia do ataque guardando posições, de se instalar no campo ofensivo e valorizar a posse. Mas Arthur não trouxe a dinâmica na circulação da bola e Firmino não se afirmou como “falso nove”, função que exerce com brilhantismo no Liverpool.

Com Tite dando a impressão de que havia batido no teto, o futebol cinco vezes campeão mundial ficou um tanto órfão. A ponto de Felipão, redivivo com o título brasileiro do Palmeiras, voltar a ser tratado por alguns como uma velha/nova solução. Chocante e desanimador. Era preciso reencontrar um norte. Buscar uma resposta.

Veio de Portugal. Ou melhor, da Arábia Saudita. Jorge Jesus deixou o Al Hilal e acertou com o Flamengo, que efetuou uma correção de rota após a opção infeliz por Abel Braga. Inspirada na onda de técnicos experientes e boleirões que veio com o sucesso de Scolari no ano anterior. Abel deixou De Arrascaeta no banco para manter Willian Arão ao lado de Cuéllar à frente da defesa. Não queria um “time de índios”.

Jesus sofreu com a adaptação em um início já com partidas decisivas na Copa do Brasil e na Libertadores. Caiu nos pênaltis contra o Athletico pelo mata-mata nacional, mas sobreviveu contra o Emelec nas oitavas sul-americanas e teve tempo para encaixar os quatro que chegaram para o segundo semestre – Rafinha, Pablo Marí, Filipe Luís e Gérson – com os quatro contratados em janeiro: Rodrigo Caio, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabriel Barbosa. Mantendo Diego Alves na meta e Everton Ribeiro como o ponta articulador.

Transformou Willian Arão em um ótimo primeiro volante. Com estatura para colaborar no jogo aéreo ofensivo e defensivo, qualidade técnica na saída de bola e capacidade de infiltração para momentos específicos visando surpreender os adversários.

Montou o melhor time brasileiro da década, superando o próprio Corinthians de Tite. Entregando respostas velhas e novas. Como reunir todos os talentos? Fazendo todos se comprometerem sem a  bola. Como não se expor defensivamente? Pressionando no ataque.

Como furar retrancas com linha de cinco na defesa? Aumentando a pressão, roubando bolas na frente e definindo rápido as jogadas. Ou variando taticamente sem trocar peças. O 4-1-3-2 básico pode se transformar em 4-2-3-1 ou 4-3-3. Bruno Henrique pode fazer dupla com Gabriel Barbosa ou trabalhar pelos flancos como ponteiro. Everton Ribeiro e Arrascaeta podem trabalhar por dentro. Gabriel abrir pela direita.

Deu certo com o ano histórico do feito inédito de vencer Brasileiro e Libertadores. E já entrava em uma segunda etapa de conquistas e evolução faturando as taças da Supercopa do Brasil, Recopa Sul-Americana e Taça Guanabara. Ampliando o repertório e as possibilidades com um elenco mais recheado. Parado pela pandemia e agora com futuro incerto.

Ainda assim, um salto tão grande, trazendo Jorge Sampaoli na carona, que fez os técnicos brasileiros parecerem mais anacrônicos que em 2014. Renato Gaúcho, o grande favorito para suceder Tite na seleção, foi humilhado na semifinal da Libertadores com 6 a 1 no agregado e superioridade clara dos rubro-negros até no empate por 1 a 1 em Porto Alegre. Com direito a nova vitória, no Brasileiro, por 1 a 0 em Porto Alegre com Jesus poupando oito titulares para a final do torneio continental contra o River Plate.

Jesus virou tudo de ponta a cabeça. Sem ser hoje um dos melhores treinadores do planeta. Longe da primeira prateleira, mas com um olhar europeu que, com respaldo da direção do Flamengo e qualidade do elenco para executar suas ideias em campo, se impôs de maneira contundente.

Primeiro Tite, depois Jorge Jesus. As melhores respostas no futebol brasileiro aos 7 a 1 que deveriam ser tratados como um corretivo pedagógico, mas são vistos como “tragédia”. Felizmente o tempo não pára e a evolução arrasta, ainda que lentamente. Qual será o próximo passo?

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Dunga, o subestimado. Por culpa dele mesmo e do nosso jeito de ver futebol http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/30/dunga-o-subestimado-por-culpa-dele-mesmo-e-do-nosso-jeito-de-ver-futebol/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/30/dunga-o-subestimado-por-culpa-dele-mesmo-e-do-nosso-jeito-de-ver-futebol/#respond Sat, 30 May 2020 14:08:47 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8571

Imagem: Reprodução TV Globo

Dunga foi campeão mundial de juniores (sub-20) em 1983. Completaria 20 anos em outubro daquele ano, mas já demonstrava liderança, embora o capitão fosse o zagueiro Boni.

Mas chamou atenção mesmo pela capacidade de marcação. Como Geovani e Gilmar Popoca eram meias essencialmente criativos e o ataque era formado por Mauricinho, Marinho Rã e Paulinho, sem um “falso ponta” para ajudar no trabalho sem bola, Dunga ficava plantado à frente da defesa, combatia, dava carrinhos.

Volante sério, cobrava dos companheiros o tempo todo. Mesmo muito jovem, o semblante sempre fechado, também pela concentração máxima no jogo, começou a criar no imaginário popular a imagem de “bravo”. Como só ele marcava, era o cara do “serviço sujo”. O “brucutu” ou “carregador de piano”.

Mesmo que já tivesse bom passe e chute forte e preciso de média/longa distância. Virtude que apareceria mais na seleção brasileira que venceria a medalha de prata em 1984 nos Jogos Olímpicos de Los Angeles. Jogando como segundo homem de meio-campo, à frente do volante Ademir. Assim marcou dois gols pela equipe de Jair Picerni que contava com o Internacional como base.

Do clube gaúcho foi para o Corinthians, que remontou o time com o dinheiro da venda de Sócrates para a Fiorentina. Ajudou na campanha de recuperação no Paulista de 1984 que não impediu o título do Santos de Serginho Chulapa, mas entregou fibra e foi o pilar de sustentação de um meio-campo que tinha Arturzinho, Biro Biro e Zenon.

Seguiu acertando times na breve passagem pelo Vasco, vindo do Santos. Foi em 1987 a primeira vez que este que escreve viu Dunga no estádio. Além dos desarmes, o camisa cinco exigia que seus companheiros Geovani e Tita, que completavam o meio-campo na equipe de Joel Santana, e mais Mauricinho, Roberto Dinamite e até o jovem Romário voltassem até o próprio campo e dessem o primeiro combate. Para que ele viesse por trás para roubar a bola. Assim venceu a Taça Guanabara e fez parte da campanha do título estadual.

Dunga seguiu o caminho natural de jogadores de destaque à época. Inicialmente no Pisa, depois na Fiorentina, onde ficou de 1988 a 1992. Durante este processo foi campeão da Copa América de 1989 e virou titular absoluto da seleção para a Copa de 1990.

Ali começou a via-crúcis. Para elogiar o profissionalismo do jogador, o técnico Sebastião Lazaroni cunhou o termo “Era Dunga”. O impacto na imprensa e nos torcedores foi imediato. Porque ia na contramão da cultura do futebol brasileiro. “Como assim a seleção que conta com o talento de Careca, Bebeto, Romário, Jorginho, Mauro Galvão e Branco tem um volante marcador como símbolo?”

Junte a isso a escolha de um sistema com três zagueiros que era visto como “retranqueiro” e a entrada no meio-campo de Alemão, mais um jogador com características de volante, e tínhamos uma panela de pressão pronta para explodir. A seleção era vista como “europeia” e a briga por conta de premiação, com jogadores tapando com a mão o símbolo do patrocinador da CBF na foto oficial, alimentou a imagem de “mercenários”.

No campo, uma seleção intensa, dedicada e com proposta ofensiva. Os três zagueiros liberavam os alas, que contavam com o suporte dos meias Alemão e Valdo, que tentavam alimentar a dupla Muller-Careca na frente. Por trás, Dunga distribuía o jogo e chegava na frente para finalizar. Foi um dos destaques da melhor atuação brasileira naquele Mundial disputado na Itália: nas oitavas de final contra a Argentina, em Turim.

Mas o lampejo de Maradona servindo Caniggia jogou tudo por terra. As muitas chances desperdiçadas cobraram um preço alto. Dunga cabeceou uma bola na trave no primeiro tempo, mas foi driblado pelo gênio argentino no gol que definiu a eliminação precoce e o volante acabou virando símbolo daquele fracasso.

Uma injustiça reparada por Carlos Alberto Parreira em 1993. Um tanto à forceps, porque o treinador da seleção tentou montar um meio-campo com um volante, Mauro Silva, e três meias – Luis Henrique, Raí e Elivelton, de início. Era a exigência da época por um futebol mais “brasileiro”.

Quando Dunga se firmou como titular novamente ao lado de Mauro Silva, as críticas vieram pesadas. Como aquele “grosso” vai jogar de “oito”? No Brasil de Didi, Gerson, Rivelino, Falcão e Sócrates aquilo era considerado um acinte, uma ofensa ao futebol então tricampeão do mundo.

Na prática, Dunga era o melhor passador e o jogador que fazia o time jogar. Com passes diretos procurando os atacantes Bebeto e Muller, depois Romário. Ou invertendo para as combinações entre os laterais e os meias. Passes curtos e longos. De “chapa” ou de trivela. Um bom repertório, mesmo sem elegância e plástica.

Mas Dunga era volante, não podia armar as jogadas da seleção. E era o símbolo de uma derrota, podia “dar azar” novamente. Estereótipo e superstição sem olhar para o que acontecia no campo. Nada mais brasileiro.

Dunga virou o jogo sendo um dos destaques na conquista do tetra nos Estados Unidos. Teve personalidade para cobrar o último pênalti brasileiro antes de Baggio mandar nas nuvens as chances da Itália na decisão. Foi fundamental até nos bastidores, administrando as indisciplinas de Romário, seu colega de quarto.

Na hora de levantar a taça como capitão, um desabafo. Justo, mas que saiu desproporcional pelos muitos xingamentos. Um contraste com a alegria serena de Bellini, Mauro e Carlos Alberto Torres nas conquistas anteriores. De seleções também questionadas e criticadas pela imprensa, mas nenhum capitão quis se vingar em um momento de êxtase.

Dunga se queimou de vez. O título sem gols na final marcou uma seleção criticada. Magoado, Dunga passou a alfinetar sem nenhuma necessidade a seleção de 1982. Pragmático, não entendia como uma equipe que perdeu podia ser mais elogiada que a dele, que venceu. Comprou brigas bobas, alimentou a antipatia.

Em 1998, a briga com Bebeto durante o jogo contra Marrocos. Grito, xingamento, até uma cabeçada leve no companheiro de seleção. Durante uma partida tranquila ainda na fase de grupos da Copa do Mundo na França. Só porque o atacante veterano demorou a voltar para ajudar na marcação. Para quê?

Com nova derrota, desta vez na final para a anfitriã, mais críticas. Encerrando aos 34 anos um ciclo mais que vitorioso, porém cercado de polêmicas e ódio. De Dunga, de boa parte da imprensa e da torcida. O título de 2002, com os mesmos três zagueiros e dois meio-campistas com características de volante – Gilberto Silva e Kléberson – não atraíram tantas críticas por defensivismo. Afinal, na frente havia Rivaldo e os Ronaldos e a equipe de Felipão venceu os sete jogos, mesmo com dificuldades claras e alguns “apitos amigos”.

Encerrou a carreira salvando o Internacional do rebaixamento com um gol contra o Palmeiras em 1999. Mas a maioria, tirando os colorados, lembra mesmo dos dribles humilhantes do menino Ronaldinho Gaúcho pelo Grêmio. Os detratores de Dunga também lembram de sua carreira sem grandes conquistas e clubes de ponta no exterior para menosprezá-lo, mas na época ir para a Europa significava dinheiro, prestígio e mais chances de ser convocado. Servir à seleção era o grande objetivo dos brasileiros.

E bastou o escrete canarinho fracassar em 2006, com Parreira novamente e uma seleção acusada de pouco compromisso e sem liderança para lembrarem de Dunga. Na impossibilidade de contar com o “Sargento” Scolari, a serviço de Portugal, a CBF inventou o capitão do tetra como treinador. E muitos apoiaram à época. O líder que xingava e gritava seria importante pelo “pulso firme” para controlar os craques. Outro estereótipo tipicamente brasileiro.

Venceu Copa América e Copa das Confederações, terminou na liderança das Eliminatórias. Mas de novo as brigas com jornalistas, declarações nada amigáveis, alimentando um clima de tensão que só piorava o ambiente. Patadas para explicar as ausências de Neymar e Ganso, respostas cheias de veneno para justificar uma convocação que entregava pouco além do forte time titular.

Novo revés, mais uma execração pública. Demissão e a volta em 2014, de novo para apagar incêndio. Desta vez os 7 a 1. Com apenas uma experiência no comando técnico de clube, no Internacional em 2013. Um pouco mais calmo e sorridente no trato com a imprensa e nas declarações públicas. Mas faltou conteúdo e a eliminação da Copa América Centenário encerrou o ciclo.

Muito de positivo nesses 31 anos à serviço da seleção poderia ser lembrado, mas acaba soterrado por questões menores. Responsabilidade do próprio jogador e treinador, com seu temperamento irascível, implacável, sem concessões. Tratada como virtude quando convém na cultura do futebol brasileiro. Tinha que ser o “general”, mas sem se atrever a querer ser destaque como jogador. Este era o papel dos mais habilidosos, malemolentes, criativos. Ele era um “europeu” que vestia a camisa verde e amarela.

Dunga fez parte da seleção da FIFA em duas Copas do Mundo: 1994 e 1998. O melhor passador no título dos Estados Unidos – 589 corretos, só ficando atrás de Xavi em 2010 na história dos mundiais –  e um dos mais eficientes na campanha do vice, quatro anos depois. Mas poucos lembram. Porque Dunga é um dos jogadores mais subestimados da história. Por culpa dele e do jeito brasileiro de ver o futebol. Uma pena.

 

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Comparação mais justa nos Mundiais de 12 e 19 não é entre Fla e Corinthians http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/18/comparacao-mais-justa-nos-mundiais-de-12-e-19-nao-e-entre-fla-e-corinthians/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/18/comparacao-mais-justa-nos-mundiais-de-12-e-19-nao-e-entre-fla-e-corinthians/#respond Mon, 18 May 2020 11:50:52 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8508 As reprises na TV Globo da conquista do Mundial de Clubes 2012 pelo Corinthians, para São Paulo, e da Libertadores do ano passado pelo Flamengo despertaram nas redes sociais uma rivalidade que nunca fez muito sentido para este que escreve, que viveu a época da “Fla-Fiel”, de torcedores engrossando a massa do “parceiro” em disputas interestaduais.

Uma união de times extremamente populares que foi minada primeiro pelo bairrismo crescente em programas de TV que deveriam ser de âmbito nacional e depois pela internet, com a tola “polêmica” sobre qual a maior torcida do país.

Apesar do jogo exibido do time carioca ter sido contra o River Plate em Lima, muitos corintianos fizeram questão de lembrar da derrota do Flamengo para o Liverpool no Mundial em dezembro. Mantendo o clube paulista como o único sul-americano a vencer o torneio organizado pela FIFA nesta década.

Méritos inquestionáveis de uma conquista invicta desde a Libertadores da equipe comandada por Tite. E a comparação não faz sentido também porque o registro que fica para os corintianos é de uma festa apoteótica no Japão e dos rubro-negros de tristeza no Catar, apesar do orgulho pelo desempenho do time. Celebração só em 1981, com os 3 a 0 sobre o mesmo gigante inglês em Tóquio, na conquista reconhecida pela FIFA como Mundial.

Mas a comparação correta para avaliar apenas os desempenhos dos times brasileiros deve ser entre os adversários. Qual time impôs mais resistência: o Chelsea de Rafa Benítez há quase oito anos ou o Liverpool de Jürgen Klopp há cinco meses?

Bem, os Blues não eram o melhor time da Europa nem quando conquistaram a tão sonhada Liga dos Campeões. Apesar do heroismo de resistir ao Bayern na final em Munique e ter eliminado o Barcelona de Guardiola na semifinal, os comandados de Roberto Di Matteo, liderados em campo por Didier Drogba, foram o grande azarão e não tiveram uma grande atuação para chamar de sua no período.

Em dezembro, sem Drogba e com Rafa Benítez, era um time ainda mais fragilizado. Eliminado por Juventus e Shakhtar Donetsk na fase de grupos da Champions 2012/13, terminaria em terceiro lugar na Premier League, 14 pontos atrás do campeão Manchester United, e sem faturar nenhuma copa nacional.

Só a Liga Europa contra o Benfica, mas pela capacidade de investimento de Roman Abramovich à época, não passou de um prêmio de consolação. Tanto que Benítez acabou demitido no final da temporada para o clube londrino repatriar José Mourinho.

No Mundial, vitória protocolar sobre o Monterrey por 3 a 1 na semifinal. Impondo a enorme superioridade técnica de um time que ainda contava com Cech, Ivanovic, David Luiz, Ashley Cole, Lampard, Hazard e Fernando Torres.

É óbvio que o Corinthians não venceu qualquer um. Nem foi uma vitória por acaso, abrindo mão de jogar futebol. Se cuidou na execução do 4-4-1-1 que tinha Danilo pela esquerda e Emerson se aproximando de Paolo Guerrero, autor do gol do título. Para depois compactar setores marcando por zona, uma novidade à época nos times brasileiros, e contar com as defesas de Cássio para segurar o campeão europeu estelar.

Inegavelmente um feito histórico e único nos últimos dez anos, de domínio cada vez maior dos times do Velho Continente. Não só pelo abismo financeiro, mas por conta da evolução constante dos métodos e do rendimento no mais alto nível.

Eis o mérito do Flamengo, mesmo sem levantar a taça. Encarou de fato o melhor time europeu e do planeta naquele momento. Classificado para o mata-mata da Liga dos Campeões e líder absoluto da Premier League, com título praticamente encaminhado já em dezembro.

Com Alisson, Van Dijk, Alexander-Arnold, Robertson, Henderson, Salah, Firmino e Mané. À beira do campo, o melhor treinador do planeta na atualidade. Mesmo considerando a intensidade mais baixa na disputa do Mundial e o susto na semifinal contra o Monterrey usando time misto, os Reds eram favoritos absolutos.

Ainda mais em tempos recentes, com sul-americanos eliminados nas semifinais em 2013, 2016 e 2018 – sem contar o “pioneiro” Internacional contra o Mazembe em 2010. O Flamengo ao menos cumpriu a obrigação contra o Ah Hilal, apesar do susto e da necessidade de virar o jogo para 3 a 1.

Na decisão, o mérito da equipe de Jorge Jesus foi tentar jogar, utilizando conceitos atuais que surpreenderam até Alisson e Firmino, brasileiros que atuam no Liverpool. Duelando pela posse de bola e ocupando o campo de ataque em vários momentos.

Nunca saberemos se o Flamengo, caso tivesse aberto o placar, também se fecharia como o Corinthians. E é preciso considerar o maior desgaste por ter se dedicado e vencido também o Brasileiro, enquanto o time paulista praticamente abandonou a principal competição nacional e respirou Chelsea desde a conquista da Libertadores em julho.

O cansaço cobrou uma conta alta na prorrogação e o gol de Firmino fez justiça ao melhor time da decisão. Que criou chances cristalinas e fez Diego Alves trabalhar quase tanto quanto Cássio em Yokohama. Não há o que contestar, apesar da chance desperdiçada por Lincoln no último ataque dos 12o minutos.

Tudo isso em um trabalho de cinco meses, bem menos que os mais de dois anos de Tite. Um no início, outro no ápice. Mas fundamentalmente com adversários vivendo momentos bem distintos.

O Corinthians conseguiu o objetivo final, a vitória. O Flamengo ficou com a esperança de retornar, abafada agora pela pandemia. Para o histórico de vexames internacionais nos últimos tempos, o título da Libertadores já foi uma conquista espetacular, ainda mais com a virada no final sobre o então campeão River de Marcelo Gallardo com os gols de Gabriel Barbosa.

Mas como vivemos tempos de comparações descabidas para provocar e gerar “engajamento”, forçaram um paralelo que, como tudo, precisa de contextualização para ser melhor compreendido. Sem o simplismo de apenas olhar o placar final e arrotar “verdades”. Felizmente o futebol é bem mais que isso.

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No primeiro título nacional do Corinthians, Neto foi craque e “falso nove” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/12/no-primeiro-titulo-nacional-do-corinthians-neto-foi-craque-e-falso-nove/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/12/no-primeiro-titulo-nacional-do-corinthians-neto-foi-craque-e-falso-nove/#respond Tue, 12 May 2020 12:50:22 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8469

Foto: Acervo / Corinthians

Em 1990, o Corinthians já tinha 20 dos seus 30 títulos que o tornam o líder absoluto de troféus no Paulistão. Mas ainda faltava uma conquista nacional que não foi alcançado em 1976, perdendo a decisão para o Internacional bicampeão. Nem pelo time de Sócrates, Zenon e Casagrande no início dos anos 1980 – apenas duas semifinais, em 1982 caindo para o Grêmio e 1984, eliminado pelo Fluminense.

Coube a uma equipe desacreditada, que começou a campanha com derrotas para Grêmio (3 a 0) e Cruzeiro (1 a 0), foi irregular no desempenho durante praticamente toda a trajetória, mas que ganhou confiança e consistência na reta final até as duas vitórias por 1 a 0 no Morumbi sobre o rival São Paulo de Telê Santana na decisão.

O Corinthians de Nelsinho Baptista, treinador que vinha de um vice-campeonato paulista com o Novorizontino e assumiu o time depois da demissão de Zé Maria, o técnico das duas primeiras derrotas.

Uma equipe que sequer chegara à decisão dos dois últimos estaduais e, na edição de 1989 do Brasileiro decepcionou após um bom primeiro turno, perdendo a vaga na final para o São Paulo. Na recém fundada Copa do Brasil, eliminação nas quartas-de-final de 1989 para o Flamengo. Como na época só entravam o campeão e o vice do estadual, acabou ficando de fora da edição de 1990.

Campanha de 12 vitórias, oito empates e cinco derrotas. Apenas 23 gols marcados, média inferior a um por partida. Vinte sofridos. Fechou a primeira fase classificatória com um revés até vexatório para o Internacional por 3 a 0 no Pacaembu. Garantindo a oitava e última vaga por conta da derrota do Goiás para a Portuguesa por 2 a 0.

Nas quartas contra o Atlético Mineiro e na semifinal diante do Bahia, vitórias por 2 a 1 no Pacaembu e empates sem gols fora, sempre decidindo como visitante. Vivendo da força da torcida, das defesas do goleiro Ronaldo e do sacrifício coletivo da equipe. Mas fundamentalmente de José Ferreira Neto.

O camisa dez que chegou em 1989, vindo do Palmeiras em uma saída traumática para o jogador. Depois de se destacar em 1988 pelo Guarani vice-campeão paulista, com direito a golaço de bicicleta na ida da final contra o próprio Corinthians. Sempre enfrentando problemas físicos e a luta para não ganhar peso.

Mas muito talento em chutes, lançamentos e, especialmente, na bola parada. O problema, na época, era posicioná-lo em campo. Neto não tinha gás para fazer a ida e volta de meia no típico 4-2-2-2 daquele período. Também não tinha velocidade para ser um segundo atacante. E não gostava de jogar de costas para a defesa adversária como centroavante. Queria liberdade para circular.

A solução de Nelsinho durante a maior parte da campanha foi um 4-3-3 que sacrificava o centroavante – Paulo Sérgio, Dinei ou Tupãzinho – voltando na marcação e deixando Neto mais adiantado quando o time perdia a bola. Na retomada, o camisa nove retomava seu posicionamento e o dez ficava solto em campo para criar e finalizar. Em poucas partidas, um 4-4-2 com Tupãzinho no meio e Dinei no ataque.

Foram nove gols, cinco em cobranças de falta, e duas assistências. Participação em quase metade dos gols do Corinthians na campanha. Mas nos últimos jogos o fôlego e a força nas pernas para a bola parada pareciam no fim. A ponto de ser substituído na Fonte Nova contra o Bahia. O esforço tinha sido enorme nas duas vitórias em casa, com três gols e muita entrega.

Na final contra o São Paulo, a entrada de Wilson Mano no meio-campo ao lado de Márcio Bittencourt para proteger a defesa. Tupãzinho com a camisa nove e Fabinho e Mauro pelas pontas, mas também voltando para marcar a equipe de Telê Santana, que se destacava justamente pelo volume de jogo. Era o rascunho do time que venceria tudo nos anos seguintes.

E Neto? Totalmente liberado. Sem bola chegava a caminhar em campo, protegido por seus companheiros. Bola roubada, o mais talentoso procurava os flancos, zonas menos congestionadas, para arriscar lançamentos ou até chutes de longa distância.

Articulava e era ultrapassado pelo trio ofensivo, que preenchia a área adversária. Assim saiu a bela tabela entre Fabinho e Tupãzinho, que marcou o gol que selou a conquista. Depois da vitória também por 1 a 0 na ida, gol de Wilson Mano completando o cruzamento de Neto em cobrança de falta pela esquerda.

O termo “falso nove” obviamente não foi citado por Nelsinho, nem Neto em 1990. Só foi popularizado em 2011, com Messi no Barcelona. Mas a função era a mesma: ser o jogador mais adiantado da equipe sem a bola e ficar livre para se movimentar por todo campo e chegar à área adversária para concluir quando o time atacava.

Assim Neto viveu o grande momento de sua carreira errática e que o hoje apresentador e comentarista reconhece que poderia ter sido bem mais brilhante e vitoriosa. Ele mesmo e muitos torcedores e jornalistas cobram até hoje de Sebastião Lazaroni a presença do meia na Copa do Mundo daquele ano, mas o melhor futebol só apareceu no segundo semestre, depois do Mundial. No Brasileiro.

Destaque absoluto daquela edição e escreveu seu nome em uma das páginas mais importantes da história do Corinthians. O primeiro dos sete títulos de um gigante do futebol nacional. Não é pouco e merece ser lembrado e respeitado.

O Corinthians das vitórias sobre o São Paulo por 1 a 0 na decisão: um 4-3-3 que dava liberdade total a Neto, que ficava mais adiantado na fase defensiva e se movimentava procurando os flancos e sendo ultrapassado por Fabinho, Tupãzinho e Mauro quando o time atacava (Tactical Pad).

 

 

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Clubes forçam volta e futebol brasileiro mostra sua face escravocrata http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/03/clubes-forcam-volta-e-futebol-brasileiro-mostra-sua-face-escravocrata/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/03/clubes-forcam-volta-e-futebol-brasileiro-mostra-sua-face-escravocrata/#respond Sun, 03 May 2020 18:35:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8424 “Jogador que não quiser jogar pede demissão”. Palavras do presidente do Internacional, Marcelo Medeiros.

No momento em que a pandemia deve acentuar a curva de contágio e colapsar de vez o sistema de saúde do país, os clubes brasileiros forçam a volta das atividades. No caso do Rio Grande do Sul, amparado pela irresponsável autorização da prefeitura de Porto Alegre. Mesmo sem contato físico, mas com circulação desnecessária.

Para viabilizar o retorno precoce, a aquisição de testes é obrigatória, assim como os equipamentos de proteção individual. Justo no Brasil de tamanha subnotificação dos casos por causa da limitação do material para confirmar se os sintomas são mesmo de Covid-19 e médicos e enfermeiros estão morrendo no trabalho por falta desta proteção.

Junte a isso as demissões de funcionários humildes no rico Flamengo, a dispensa de jovens da base no Corinthians e outras ações que escancaram a incompetência e/ou a insensibilidade dos gestores e temos a cara do futebol brasileiro: um ambiente que se acha descolado da sociedade, mas, no fundo, demonstra apenas a sua pior face.

Uma espécie de escravocracia moderna, na qual os agentes abaixo do guarda-chuva de quem manda são apenas números em uma planilha e precisam manter a roda girando. Mesmo que alguns paguem com a própria miséria e outros com a vida mesmo.

A ponto do Grêmio passar por cima da visão do ídolo maior, Renato Gaúcho, que desaconselhou a volta do futebol ao próprio Presidente da República, que admitiu a conversa publicamente. Dando mais uma prova de que um mínimo de racionalidade independe de posições políticas.

É preciso ressalvar as exceções, como Palmeiras, Bahia, Fluminense e outros, que tomaram medidas preventivas com reduções de salários e, cada um dentro de sua realidade orçamentária, aguardam a sinalização das autoridades de Saúde para retomar as atividades com segurança para todos. Física e financeira.

Inclusive dos próprios “artistas do espetáculo”. Porque voltar a jogar não envolve apenas o risco de contaminação. Um choque, um mal estar por desgaste, uma lesão grave terá que levar o atleta ao hospital para uma intervenção cirúrgica. E mesmo os mais modernos, voltados para as classes mais abastadas, estão sobrecarregados por causa da pandemia. E podem contaminar os jogadores.

Por maior que seja a saudade da bola rolando ao vivo e se compreenda que o cenário é complexo, inédito e precisa de um plano de ação, é preciso ter visão coletiva e bom senso. Exatamente o que falta ao futebol brasileiro desde sempre. Um meio onde a “síndrome de Macunaíma” sempre existiu. O microcosmo em que vence o mais esperto, onde crimes como racismo são relativizados pela “catarse” que acontece em um jogo.

Principalmente, onde privilégios são aceitos sem resistência e vale tudo para o show continuar. Mesmo que seja o circo sem pão no meio de uma crise sem precedentes. Para a qual ninguém se preparou. Muito menos os clubes que no papel são instituições sem fins lucrativos e resistem para se tornar empresas. Porque não querem perder as benesses históricas. Nem a licença para o absurdo que agora é usada como coringa para autorizar a insensibilidade máxima.

O Ministério da Saúde, acompanhando tendência do atual governo federal, adota posicionamento dúbio. Sugere a volta para tornar o distanciamento social menos degradante emocionalmente, mas dentro das normas estabelecidas. Ora, se for para seguir as regras não há como retomar um esporte de contato permanente!

E o mais triste é que há quem aprove. Os torcedores de dirigentes, os fanáticos acríticos ou os puxa-sacos mesmo. Dos que oprimem e ameaçam com desemprego quem apenas quer sobreviver ou só proteger os entes queridos.

Que a conta seja cobrada quando os caixões baixarem às sepulturas. Ou nem haja buracos para enfiar os corpos. Mas quem se importa? “E daí?”

 

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De Pelé a Cantona, dez filmes sobre futebol para ver ou rever http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/25/de-pele-a-cantona-dez-filmes-sobre-futebol-para-ver-ou-rever/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/25/de-pele-a-cantona-dez-filmes-sobre-futebol-para-ver-ou-rever/#respond Wed, 25 Mar 2020 11:40:35 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8209

Imagem: Reprodução

À Procura de Eric (2009) – Um carteiro apaixonado pelo Manchester United se imagina conversando com o ídolo Eric Cantona em uma alucinação depois de fumar maconha. O craque ajuda o homem a resolver seus problemas pessoais em uma abordagem que ressalta a importância do futebol na vida das pessoas mais simples.

Maldito Futebol Clube (2010) – A via crucis de 44 dias no Leeds United do lendário treinador Brian Clough, eternizado pelo bicampeonato do Nottingham Forrest na então Copa dos Campeões da Europa em 1979/80. Uma prova de que profissionais brilhantes também podem fazer escolhas infelizes na carreira. Enorme interpretação de Michael Sheen.

Todos os Corações do Mundo (1995) – Filme oficial da FIFA sobre a Copa do Mundo de 1994. Difícil dizer se há memória afetiva envolvida pelo primeiro título mundial da seleção para gerações de torcedores, mas a produção e as imagens são espetaculares. Cumpre com louvor a missão de capturar a emoção da paixão pelo esporte.

O Milagre de Berna (2003) – Através da família Lubenski, o filme conta a história da final da Copa do Mundo de 1954 disputada na Suíça, com a inesperada vitória da Alemanha sobre a Hungria. O primeiro título da gigante tetracampeã e oito vezes finalista. Retrata bem como o futebol é capaz de aproximar, mesmo em histórias pessoais complicadas.

O Casamento de Romeu e Julieta (2005) – Produção nacional, com Marco Ricca e Luana Piovani. Mais do que uma história sobre o amor de um corintiano fanático e uma palmeirense apaixonada, é um filme sobre a história de São Paulo. Mas essencialmente comédia, e das boas. E a cerimônia que dá nome à obra é uma prova de que é possível conviver sem ódio clubista.

O Negro no Futebol Brasileiro (2018) – Incrível documentário dirigido por Gustavo Acioli baseado no livro homônimo de Mário Filho. Aborda a luta contra o preconceito para conquistar um lugar no esporte. Desde a dificuldade para ser aceito nos clubes no inicio do século 20 até as manifestações racistas nos últimos anos. Depoimentos de Romário, Adriano, Júnior, Cláudio Adão, entre outros.

O Campeão Impossível (2016) – Diego Armando Maradona e a saga da conquista do mundial de 1986. Uma produção argentina. Já dá para medir o tamanho da paixão do filme. Mostra como uma seleção desacreditada, que se classificou na bacia das almas, conseguiu se unir em torno da estrela maior, que protagonizou a grande atuação individual de um jogador em Copas do Mundo.

Heleno (2012) – Rodrigo Santoro precisou aprender a jogar futebol para interpretar um personagem riquíssimo. Heleno de Freitas era um craque polêmico, indisciplinado e que teve final trágico e inesperado para quem era ídolo do Botafogo e tratado como símbolo sexual nos anos 1940. Baseado no livro “Nunca Houve um Homem como Heleno”, de Marcos Eduardo Neves.

Verão de 92 (2016) – O título da Eurocopa conquistado pela Dinamarca no momento mais inesperado, bem longe da seleção que encantou em 1986 e que só disputou a fase final na Suécia por conta da guerra civil na antiga Iugoslávia. Foca no trabalho do desacreditado treinador Richard Nielsen e no drama pessoal do meio-campista Kim Vilfort. Uma história que mereceu ir para as telas.

Pelé Eterno (2004) – Esqueça o controverso personagem Edson Arantes do Nascimento. Pelé, o atleta do Século 20, merecia uma grande produção com seus feitos e gols para eternizar o melhor e maior de todos os tempos, goste ou não a “geração internet” que acha que o mundo começou em 2000. Um deleite para quem ama este esporte sem preconceitos.

 

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Corinthians tem problemas no campo para resolver antes de debater vestiário http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/08/corinthians-tem-problemas-no-campo-para-resolver-antes-de-debater-vestiario/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/08/corinthians-tem-problemas-no-campo-para-resolver-antes-de-debater-vestiario/#respond Mon, 09 Mar 2020 00:55:48 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8118

Foto: Estadão Conteúdo

O trabalho de Tiago Nunes até aqui decepciona, impossível negar. Mesmo considerando os problemas internos do Corinthians, além da insanidade de emendar Flórida Cup com Libertadores antes da fase de grupos. E ainda a proposta de mudar a identidade de jogo que, com um ou outro hiato, vinha desde 2008.

A eliminação no torneio continental abalou a confiança e criou o clima de crise. Aquele em que se procura de tudo para justificar o mau desempenho. É um ciclo ladeira abaixo, mesmo disputando apenas estadual no momento. São cinco partidas sem vitória. Consequência do futebol bem aquém das expectativas.

Como sempre acontece nessas ocasiões, muitos vão buscar nos bastidores a explicação. Como se o elenco fosse de craques e não houvesse dificuldades naturais na implementação de uma nova maneira de jogar. Surgiu, então, a tal “cartilha do Tiago”. Questões disciplinares que, se o time estivesse vencendo, seriam elencadas como o “segredo” do treinador. Como as vitórias desapareceram, surge o papo de boicote.

Pode haver insatisfação? Sempre, até porque em todo ambiente de trabalho existen pessoas resistentes a regras e mudanças na rotina. Mas será que está influindo na bola jogada ou é apenas um complicador a mais em ambiente conturbado?

Olhando para o campo, um problema no ataque salta aos olhos: o quarteto ofensivo engessado e ultrapassado na dinâmica: dois ponteiros velozes, um típico meia de ligação e o centroavante de referência. Sem mobilidade e troca de funções. Ou quando ela acontece os jogadores não correspondem. Luan não vai bem quando cai pelos flancos; nem Janderson e Everaldo sabem trabalhar por dentro e só cortam para finalizar, especialmente o segundo. Por fim, Boselli no máximo sai da área para fazer a parede. Tem técnica, porém não amplia a sua zona de atuação. Funcionou contra o Santos e em outros poucos momentos.

A construção de trás fica nas costas de Fagner e Cantillo. Bem vigiados pelos adversários e também contaminados pela falta de confiança, deixam de ser bolas de segurança e forçam o time a apelar mais para as ligações diretas. Ou seja, fica ainda pior que o “réquiem” da identidade com Carille no ano passado.

O 4-2-3-1 engessado do Corinthians nos últimos jogos que não cria variações e sobrecarrega Fagner e Cantillo na construção de trás (Tactical Pad).

Difícil buscar uma solução. Por características, Ramiro pela direita seria interessante para criar uma variação como “ponta-volante” e preencher o meio-campo. Tirando um ou outro jogo, porém, nunca teve desempenho no Corinthians que justificasse a confiança para provocar uma mudança de patamar. Mas é uma possibilidade, assim como Pedrinho, negociado ao Benfica, mas vai ficar no clube até o meio do ano.

Na frente, pela mobilidade, talvez apostar em Vagner Love no centro e Yony González dando profundidade pela esquerda, infiltrando em diagonal. Mas aí o problema passa a ser a falta de contundência no ataque. A equipe precisa de volume de jogo, mais gente entrando na área e dividindo os gols, já que não há um artilheiro destacado.

Cenário complicado, quase desesperador para Tiago Nunes, que não se ajuda ao culpar o gramado pelo empate com o Novorizontino. Mas antes de debater gestão de vestiário é sempre melhor dar uma olhada para o que acontece nos jogos.

Nem tudo é “fritura de técnico”. Às vezes tudo se resume a mau futebol mesmo e não perceber é adiar a solução.

 

 

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