debruyne – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Casagrande, Tite, Neymar e um apelo: menos resultadismo em 2019! http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/12/28/casagrande-tite-neymar-e-um-apelo-menos-resultadismo-em-2019/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/12/28/casagrande-tite-neymar-e-um-apelo-menos-resultadismo-em-2019/#respond Fri, 28 Dec 2018 03:17:22 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5700 Há uma confusão de conceitos que marca o futebol brasileiro desde 1982: busca do resultado x resultadismo.

É óbvio que todos entram em campo para competir e vencer. A seleção de Telê Santana, tão criticada pela irresponsabilidade defensiva na derrota para a Itália, sofreu o terceiro gol com todos os jogadores dentro da própria área no escanteio para garantir o empate por 2 a 2 que garantiria a classificação para a semifinal da Copa do Mundo na Espanha.

O Brasil em Mundiais venceu e perdeu com os pragmáticos Parreira e Felipão. Até com Zagallo, o que melhor conseguiu combinar espetáculo e eficiência no título de 1970 no México. Telê não ganhou o mundo com a camisa verde e amarela, mas venceu tudo uma década depois no São Paulo.

Há formas e formas de vencer. Normalmente quem joga bem – diferente de jogar bonito, que é muito subjetivo e depende da visão do esporte de quem julga – está mais perto do triunfo. Mas no Brasil uma crença foi alimentada ao longo do tempo em uma espécie de “atalho” para conseguir os três pontos.

A ordem é simplificar. Fecha a casinha, bola no talento e se nada der certo aquele gol de bola parada, rebatida, meio ao acaso é o suficiente para detonar a catarse. Junte a isso a versão do torcedor de que “sofrido é mais gostoso” e temos o cenário perfeito para valorizar aquele um a zero suado…e mal jogado.

Mas o grande prejuízo vem nesse vício de construir toda a narrativa a partir do resultado puro e simples. Não há o jogo em si, com o imponderável e a interferência de todos os agentes. A menos que um erro da arbitragem seja decisivo. Então todo o debate se resume à decisão do apitador. Novamente o jogo fica em segundo plano. Só o resultado segue com seu protagonismo.

Parte dos jornalistas e ex-boleiros também alimentam esse reducionismo. Porque é mais simples para comentar e fácil de jogar para a galera. Se o time vence basta apontar os herois e não colocar nenhuma ressalva. Na derrota a tarefa é encontrar os vilões e colocar defeito até onde não existe.

Tite foi o primeiro convidado do programa “Grande Círculo” no Sportv e Casagrande, um dos entrevistadores, questionou o treinador sobre o corte de cabelo de Neymar na véspera da estreia da seleção na Copa do Mundo na Rússia contra a Suíça. Usando o exemplo de sua estreia em Mundiais no México em 1986 contra a Espanha, afirmou que todos no dia anterior pensavam apenas na partida, não na imagem.

É bem provável que a tentativa do comentarista fosse usar um gancho para arrancar de Tite um mea culpa sobre uma suposta falta de comando sobre o craque do time. Só que o paralelo não pareceu dos mais felizes. Até porque Casagrande já afirmou algumas vezes que quando jogava procurava se desligar e baixar a ansiedade ouvindo música e lendo livros na concentração. Também já admitiu que só assiste aos jogos que comenta, sem nenhuma pesquisa anterior.

Ainda que fosse um jogo especial para ele, o primeiro em Copas, o contexto era bem diferente. O Brasil devia ter informações bastante genéricas sobre a Espanha por conta dos recursos limitados da época. Em 2018, certamente na véspera o adversário já estava mais que estudado, dissecado por analistas, auxiliares e o próprio Tite. Os jogadores estavam municiados com todos os dados sobre cada adversário.

É quando entra o resultado. Casagrande certamente se sentiu mais seguro para usar seu exemplo para a comparação porque o Brasil venceu a então “Fúria” há 32 anos por 1 a 0, gol de Sócrates, e agora apenas empatou com a Suíça. Mas quem viu os dois jogos pode interpretar sem nenhum temor que a atuação em 2018 foi bem superior. Gol sofrido na bola parada em um lance esporádico, falha pontual de posicionamento. Boas oportunidades criadas para ir além do 1 a 1.

Já em 1986 foi um sufoco no Estádio Jalisco e o “apito amigo” ajudou mais uma vez o Brasil em Copas ao não validar um gol espanhol, ainda com 0 a 0 no placar, em chute de Michel que claramente cruzou a linha da meta do goleiro Carlos depois de bater no travessão. Casagrande? Atuação discreta, para ser generoso. Ao longo do torneio o centroavante perderia a vaga na dupla de ataque com Careca para Muller.

O resultado no Mundial também mudou o tom com Tite. Antes da Copa os elogios eram frequentes, os questionamentos, quando aconteciam, eram amenos. Só pergunta levantando a bola para o treinador cortar. Bastou perder para a Bélgica e, mesmo com o reconhecimento de que o trabalho merece um ciclo desde o início, as críticas chegam com outro peso.

A mais frequente de que o técnico teria levado um “nó tático” do espanhol Roberto Martínez no duelo pelas quartas de final da Copa. Mais uma vez a simplificação: se Martínez mexeu no time, posicionou Lukaku pela direita, De Bruyne como “falso nove” e terminou o primeiro tempo vencendo por 2 a 0 só pode ter sido a surpresa da mudança.

Mas basta rever o jogo com atenção para notar que a “barbeiragem” tática do técnico da Bélgica só não custou caro porque a sequência de acontecimentos da partida o beneficiou demais. Se houvesse surpresa isso ficaria claro nos primeiros minutos. Tite mandou recado para manter a maneira de jogar e o sistema tático.

Nos primeiros minutos, a superioridade numérica pela esquerda com Marcelo, Phillipe Coutinho e Neymar contra apenas Meunier e Fellaini, já que Lukaku não voltava para ajudar sem bola, criou uma finalização e o escanteio que terminou no toque de Thiago Silva que bateu no travessão de Courtois.

O que desequilibrou tudo foi o gol contra de Fernandinho. O substituto de Casemiro se perdeu no jogo e, aí sim, o sistema defensivo desmoronou. No segundo dos belgas, o rebote do escanteio gerou um contragolpe com Lukaku por dentro servindo De Bruyne pela direita. Chute forte e cruzado, 2 a 0. Qual a relevância das mudanças da Bélgica nos gols?

Tite pode e deve ser questionado por não ter sido mais prudente por conta da ausência de Casemiro, que nos jogos anteriores, especialmente nas oitavas contra o México, salvou vários erros de posicionamento de Paulinho e Coutinho no meio-campo. Poderia ter mantido Filipe Luís e deixado Marcelo, com seus problemas defensivos, no banco. Ou reforçado o meio. Aí entram dois equívocos correlatos: manter Fred lesionado no grupo sabendo que Renato Augusto não teria condições de entregar 100% em 90 minutos.

No segundo tempo, um ajuste na retaguarda com Fagner e Miranda colando em Hazard e Lukaku, Fernandinho vigiando De Bruyne e Thiago Silva sobrando; Douglas Costa, Roberto Firmino e Renato Augusto em campo e domínio absoluto brasileiro. Várias finalizações, chances cristalinas (e imperdíveis num jogo eliminatório) de Coutinho e Renato Augusto, autor do único gol, e defesaça de Courtois em chute colocado de Neymar no ataque final.

Era jogo para 2 a 2 ou até virada brasileira, mas deu Bélgica. Eliminação e o ciclo de vilanização, especialmente de Tite e Neymar. Que merecem críticas, sim. Mas não atirando para qualquer lado. O Brasil podia ter passado à semifinal apesar dos problemas. A campeã França jogou tão melhor assim?

Neymar merece ser alvo, mas pelo motivo mais justo: o erro grave de preferir forçar o jogo individual para pendurar adversários com cartões e tentar cavar um vermelho simulando contusão e rolando no chão em vez de dar sequência, não cair e tentar definir finalizando ou servindo. Pouco inteligente, para dizer o mínimo.

Mas preferem focar no periférico, no cabelo. Tite já havia admitido a imaturidade de Neymar em uma pergunta simples e direta sobre o tema no “Bola da Vez” da ESPN Brasil. No Sportv diante de Casagrande deu a única resposta possível para uma pergunta mal formulada: o jogador tem a liberdade de cortar o cabelo na véspera de uma partida.

Ronaldo Fenômeno fez o corte “Cascão” nos dois últimos jogos em 2002. Na Copa das Confederações de 1997, jogadores tiveram suas cabeças raspadas em um trote absurdo que deixou sequelas no relacionamento entre alguns deles. Como a bola entrou e a taça foi levantada, tudo entra para o “folclore”. Se tivesse perdido…

Não pode ser só isso. O futebol é apaixonante justamente por suas nuances, imprevisibilidades. Pela beleza do futebol bem jogado, mas também pela possibilidade nada desprezível do time pior sair de campo vencedor. É simplista demais resumir todos os processos ao placar e à posição na tabela. Se o resultado fosse tudo não seria futebol.

Por isso, neste último texto em 2018, o blog faz um humilde apelo por obrigação de ofício e também amor ao jogo: menos resultadismo em 2019! Até lá!

 

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Marcelo: rei do “freestyle”, mas ponto fraco da defesa do Real e da seleção http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/09/28/marcelo-rei-do-freestyle-mas-ponto-fraco-da-defesa-do-real-e-da-selecao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/09/28/marcelo-rei-do-freestyle-mas-ponto-fraco-da-defesa-do-real-e-da-selecao/#respond Fri, 28 Sep 2018 12:12:43 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5277

Foto: Getty Images

Marcelo é um dos maiores e melhores laterais da história do futebol mundial. Não, isto não é um elogio introdutório para depois descarregar nas críticas sugeridas no título deste post. Apenas um reconhecimento até óbvio.

Quatro títulos de Liga dos Campeões entre outras muitas conquistas pelo Real Madrid e várias premiações individuais. Jogador que costuma crescer em partidas decisivas, forte personalidade. Figura marcante que ajuda a intimidar os rivais.

Acima de tudo, técnica e habilidade impressionantes. Controle de bola absurdo. Faz o que quer. Imagens de treinos da seleção e do clube rodam o mundo com seus domínios geniais. O mais incrível quando “esconde” a bola embaixo do pé seja lá de que forma a bola seja lançada. Impressionante!

Sem dúvida, o rei do “freestyle” no futebol profissional de mais alto nível. Talvez superior até a Messi, outro fenômeno que faz o que quer com a pelota.

Mas aos 30 anos o tempo começa a pesar, assim como alguns problemas na formação do jogador. Não do Fluminense, nem de Marcelo, mas do futebol brasileiro no período em que ele passou pelas divisões de base, no início dos anos 2000. Lateral aprendia a ser ala. Se fosse técnico, habilidoso e rápido ficava aberto e só se preocupava em atacar. Um volante ou terceiro zagueiro que se virasse para cobrir.

Marcelo evoluiu defensivamente nesses quase 12 anos na Europa, mas a formação capenga neste aspecto e mais uma certa autossuficiência pela carreira que construiu e moral que tem diante de companheiros e adversários, além da nítida e natural queda de desempenho, justamente no momento em que o jogo exige vigor para atuar em intensidade máxima, estão cobrando um preço bem alto.

Ainda mais numa temporada com  “ressacas” importantes: a partida do grande amigo Cristiano Ronaldo para a Juventus, além da saída de Zidane; o tricampeonato da Champions, quatro em cinco temporadas, que transfere aquela impressão de que o auge passou, a história já foi escrita…e agora? Falta a Copa do Mundo pela seleção brasileira, mas perdeu a chance na Rússia e o Mundial do Qatar é uma grande incógnita. Será que consegue chegar lá ainda capaz de ser competitivo?

A julgar pela atuação catastrófica na derrota do time merengue fora de casa por 3 a 0 para o Sevilla na quarta feira será bem complicado. Marcelo foi o ponto fraco da defesa com falhas seguidas de posicionamento, confronto direto, cobertura. O “mapa da mina” bem explorado pelo adversário, com Jesus Navas e quem mais apareceu pelo setor.

Méritos do time da Andaluzia, que soube aproveitar com intensidade e velocidade os muitos espaços cedidos pelo lateral e até seus raros erros técnicos, como o passe que tentou para Casemiro em uma zona pressionada e a bola roubada terminou num contragolpe de manual completado por André Silva. No segundo do atacante português foi constrangedor vê-lo tentando acompanhar a velocidade do adversário, desistir e permitir a conclusão no rebote. Ainda assistiu a Ben Yedder infiltrasse às suas costas para marcar o terceiro. Correu tanto querendo compensar as falhas que acabou lesionando a panturrilha na segunda etapa.

Sim, foi apenas a primeira derrota do Real Madrid no Espanhol. A preparação para o jogo também ficou comprometida pela cerimônia do Prêmio “The Best” da FIFA dois dias antes com a presença de vários madridistas. Mas um forte sinal de alerta. Porque Julen Lopetegui é da típica escola espanhola, mais ligada ao Barcelona. Gosta de linhas adiantadas, posse de bola, jogo de posição. O antecessor, Zinedine Zidane, combinava o estilo francês com o italiano, já que foi auxiliar e é discípulo confesso de Carlo Ancelotti.

Por isso a primeira providência ao suceder Rafa Benítez foi promover Casemiro a titular absoluto. A dinâmica pela esquerda era Marcelo com liberdade, Sergio Ramos fazendo a cobertura e o volante brasileiro fechando o centro da área. Agora o time fica mais adiantado e essa recomposição está mais lenta, até porque Sergio Ramos, aos 32 anos, também sente o impacto da passagem do tempo. É muito campo para cobrir!

Na seleção de Tite, os cuidados defensivos também protegem o setor esquerdo, praticamente com o mesmo trabalho. O zagueiro pela esquerda faz a cobertura e o mesmo Casemiro repete o posicionamento do clube. Mas quando faltou o volante titular nas quartas de final da Copa contra a Bélgica e o substituto, Fernandinho, entrou em pane mental depois do gol contra que abriu o placar, o lado esquerdo virou “atalho”. Contragolpe, passe de Lukaku para De Bruyne pela direita com Marcelo mal posicionado na transição defensiva e o chute forte que Alisson não segurou.

É óbvio que o desastre no Ramón Sánchez Pizjuán pode ser um ponto fora da curva e o Real se recuperar na temporada. Com novas compensações para proteger o setor esquerdo. Questão de ajuste. O principal segue lá: talento e experiência. Mas o futebol em rotação cada vez mais alta será um complicador.

Talvez fosse o caso de pensar numa mudança natural para o meio-campo, ainda que a concorrência com Modric e Kroos seja cruel. Repetir os passos de Júnior, craque do Flamengo e da seleção nos anos 1980 que saiu da lateral para se transformar no “Maestro” que conduziu Torino e Pescara na Itália para voltar ao rubro-negro em 1989 e comandar a equipe em outras grandes conquistas. Semelhanças na qualidade absurda com a bola, mas também nos problemas sem a bola.

Crítica que não é novidade, nem invenção deste blogueiro. Marcelo “El Loco” Bielsa, quando participou de um evento na CBF com Tite e Fabio Capello no ano passado, afirmou na presença do treinador da seleção brasileira: “Filipe Luis defende três vezes mais que Marcelo, muito mais. E você escala o Marcelo…” A Copa mostrou que ele não estava errado.

Marcelo merece todo respeito e este texto não tem viés pejorativo, nem oportunista. A ideia não é sugerir que ele nunca foi tudo isso, muito menos usar uma atuação ruim para afirmar que ele está acabado. Apenas um contraponto aos muitos elogios que recebe pela habilidade e técnica raríssimas. Só que no futebol atual não são o suficiente para um defensor de uma equipe de ponta. Muito menos jogando numa retaguarda tão adiantada.

O Sevilla soube explorar e saiu com uma vitória inquestionável, construída ainda no primeiro tempo. Fica a lição.

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A França difícil de bater e ser batida está na final http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/10/a-franca-dificil-de-bater-e-ser-batida-esta-na-final/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/10/a-franca-dificil-de-bater-e-ser-batida-esta-na-final/#respond Tue, 10 Jul 2018 21:09:14 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4893 A única vitória francesa por mais de um gol até aqui na Copa do Mundo foi sobre o Uruguai nas quartas. Dois a zero graças à fantástica defesa de Lloris no primeiro tempo e à falha grotesca de Muslera na segunda etapa aceitando chute de Griezmann.

Sim, o placar de 4 a 3 contra a Argentina foi um tanto mentiroso. Na melhor atuação da equipe de Didier Deschamps, a seleção de Messi virou para 2 a 1 sem controle do jogo e marcou no final diminuindo para um gol a grande distância na bola jogada. Graças a Mbappé na grande atuação individual da Copa.

A França é essencialmente competitiva. O 4-2-3-1 com Matuidi como “ponta volante” pela esquerda deu liga contra o Peru e foi se assentando em um modelo de jogo sem grande controle através da posse. Organização defensiva e paciência para acelerar com Pogba conduzindo, Griezmann tocando rápido e fácil e Mbappé disparando.

Giroud é o pivô, o facilitador para os demais. Com força e estatura empurra a linha de defesa para trás e cria espaços às costas dos volantes. Se desloca e trabalha sem bola. Reforça o jogo aéreo. Chega à final sem gols, mas com utilidade.

A França não tem tanta fluidez e parece se preocupar mais com a organização ofensiva. Se movimenta pouco quando desce para não se descoordenar na volta. O espaço deixado por Matuidi só vem sendo aproveitado pelas descidas do lateral Lucas Hernández. Griezmann flutua pouco por ali, Mbappé também podia aparecer mais.

A antítese da Bélgica versátil, móvel e mutante. Sem o suspenso Meunier, Roberto Martínez colocou Dembele no meio-campo e posicionou Chadli pela direita, defendendo como lateral e atacando bem aberto. Do lado oposto, Vertonghen era lateral sem a bola e o zagueiro pela esquerda em um trio quando a equipe descia em bloco. Hazard abria o campo como ponta esquerda.

Em números, um 3-2-4-1 atacando e um 4-2-3-1 na recomposição que se movia de acordo com a perseguição de Fellaini a Pogba. A França respondia com Kanté ligado em De Bruyne partindo da direita, mas com liberdade.

Desta vez Lukaku foi centroavante. E sofreu contra a melhor zaga do Mundial na Rússia: Varane impecável na técnica e posicionamento e Umtiti implacável no vigor e na velocidade. Também no deslocamento e no movimento de ataque à bola para completar escanteio de Griezmann. De novo a bola parada decidindo.

Gol único e decisivo. Apesar da luta de Hazard e da pressão belga. A França negou espaços, mas não foi fulminante nos contragolpes. Com apenas 40% de posse, finalizou 19 vezes. Só cinco no alvo. Porque não cria chances cristalinas. Falta a jogada diferente com mais frequência. Há potencial, mas na prática acontece poucas vezes.

Também não cede. Os belgas rodaram a bola, mas a concentração defensiva dos Bleus permitiu apenas nove conclusões. Três na direção da meta de Lloris. Sofrimento só no início da semifinal em São Petersburgo e na pressão final, incluindo a defesa do arqueiro francês em chute de Witsel.

Beleza só no giro com calcanhar de Mbappé para o chute de Giroud. A França encarnou o papel da favorita pragmática que não quer desperdiçar a chance do título, o segundo da história. Depois do vice da Eurocopa em casa.

É time duro de bater no rival, mas ainda mais difícil de ser batido. Por isto está na final. A terceira da França nos últimos seis mundiais. Uma potência que merece respeito.

(Estatísticas: FIFA)

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Plano “alemão” da Inglaterra impede clima de final antecipada do outro lado http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/09/plano-alemao-da-inglaterra-impede-clima-de-final-antecipada-do-outro-lado/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/09/plano-alemao-da-inglaterra-impede-clima-de-final-antecipada-do-outro-lado/#respond Mon, 09 Jul 2018 11:34:51 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4877 Inglaterra e Bélgica viveram um cenário único na fase de grupos da Copa do Mundo na Rússia. Eram favoritas destacadas contra Tunísia e Panamá e cumpriram a missão matematicamente com duas vitórias. O confronto da última rodada, no penúltimo dia de disputa, permitiu que se olhasse para os chaveamentos a partir das oitavas de final e projetasse um caminho no torneio.

O Grupo H não apresentava nenhum favorito destacado, até porque a cabeça de chave Polônia já estava eliminada. O resultado prático foi um duelo entre ingleses e belgas repleto de jogadores reservas. Compreensível pela oportunidade de rodar o grupo, descansar titulares e evitar suspensões. Mas a partida mostrou claramente que nenhum dos dois fazia muita questão de vencer.

O golaço de Januzaj deu a liderança com 100% de aproveitamento aos belgas. Para as oitavas, um duelo teoricamente mais tranquilo contra o Japão. Mas depois Portugal de Cristiano Ronaldo e os campeões Argentina, França, Uruguai e Brasil poderiam cruzar o caminho até a grande decisão.

Já para os ingleses a tarefa era mais complicada por enfrentar a Colômbia, líder do grupo e que chegou às quartas de final em 2014 com o artilheiro James Rodríguez. Se conseguisse a vaga nas quartas, porém, na sequências os possíveis adversários seriam Suíça, Suécia, Rússia, Croácia, Dinamarca e a Espanha como única campeã mundial e, em tese, favorita.

Ambas estão nas semifinais. Com sofrimento e desgaste, ainda que a Bélgica não tenha disputado prorrogação, enquanto a Inglaterra viveu um drama até a disputa por penalidades contra os colombianos. Nas quartas, como esperado, triunfo mais tranquilo sobre a Suécia por 2 a 0.

Confirmando a força do jogo físico e a eficiência nas jogadas aéreas. São cinco gols neste tipo de ação dos 11 marcados até aqui. Com os zagueiros Stones e Maguire aparecendo na área adversária aproveitando a estatura. Mas também iniciando a construção desde a defesa, auxiliando Henderson e fazendo a bola chegar a Trippier e Ashley Young, os alas do 5-3-2 inglês. Ou diretamente a Dele Alli, Lingard e Sterling. O trio que se movimenta com rapidez e intensidade em torno de Harry Kane, artilheiro da Copa com seis gols, mas também um centroavante que recua para trabalhar com os meias e abre espaços para as infiltrações dos companheiros.

Chegou como candidata ao título, mas no segundo pelotão. Agora está a um jogo da final que não disputa desde a conquista do título em 1966 como anfitriã. Pegando um “atalho” que lembrou o pragmatismo alemão. Em 1974, mesmo jogando em casa e contando com a fantástica geração de Maier, Beckenbauer, Overath e Gerd Muller, preferiu ser derrotada pela Alemanha Oriental, num duelo com vários significados naqueles tempos de Muro de Berlim. Tudo para fugir de um grupo com o então campeão Brasil, a Argentina e a sensação Holanda, o Carrossel de Rinus Michels e Cruyff. Na disputa em outro grupo com Polônia, Suécia e Iugoslávia se classificou para a grande decisão. Com mais moral e em jogo único e decisivo, a vitória por 2 a 1 sobre os holandeses e a festa em casa.

A Inglaterra disputa a semifinal como favorita não pela tradição, que contou bem pouco nesta edição da Copa. Mas principalmente por chegar mais inteira que a Croácia sofrida e exaurida por duas prorrogações e disputas de pênaltis contra Dinamarca e Rússia que exigiram demais física e mentalmente. A maneira de jogar da seleção de Gareth Southgate exige concentração e vigor do oponente e, mesmo com a experiência e a capacidade de controlar o tempo e o espaço de Modric e Rakitic, os croatas devem sofrer. E se vencerem mais este obstáculo chegarão fortalecidos demais à decisão.

Por isso tratar o duelo entre França e Bélgica como uma espécie de final antecipada por serem os sobreviventes de uma disputa entre gigantes parece um tanto irreal. Até pelo cenário imprevisível desta semifinal, que pode se definir apenas nos penais e exaurir as equipes para a decisão.

A ausência do suspenso Meunier certamente será sentida por Roberto Martínez, mas o treinador espanhol pode transformar o desfalque numa chance de novamente surpreender o adversário. Pode enviar Chadli para o lado direito, fazer Carrasco retornar à ala esquerda e voltar ao 3-4-3 da primeira fase ou simplesmente deslocar Alderweireld para a lateral e colocar Vermaelen na zaga ao lado de Kompany mantendo o 4-3-3 da vitória sobre o Brasil.

Outra dúvida é se manterá o posicionamento de Lukaku pela direita e De Bruyne como “falso nove” fazendo companhia a Hazard no tridente ofensivo sem participar do trabalho sem a bola e apostar tudo no talento e na capacidade de desequilibrar na frente. Mesmo defendendo com apenas sete homens, cedendo espaços e obrigando o fantástico goleiro Courtois a trabalhar.

Um risco diante de uma França que se encontrou no 4-2-3-1 com um “ponta volante” pela esquerda. Aliás, é a única dúvida de Didier Deschamps: mantém Tolisso, que cumpriu bela atuação nos 2 a 0 sobre o Uruguai, ou faz Matuidi retornar naturalmente depois da suspensão. Quem entrar será a “liga” entre a dupla Kanté e Pogba e os três jogadores mais adiantados.

A “exterminadora de sul-americanos” vem mostrando maturidade no Mundial. Com a “casca” da derrota em casa para Portugal na final da Eurocopa há dois anos. Contra os uruguaios aproveitou bem os erros do adversário para se impor. Com Giroud atuando mais coletivamente, como um elemento a prender a defesa adversária, fazer pivô e abrir espaços para Mbappé e Griezmann, os grandes destaques individuais da nova favorita ao título. Um perigo nesta edição da Copa do Mundo.

Teremos uma final inédita e europeia. Emblemática. E justamente pelo equilíbrio é que não se pode garantir nada. Apenas alguma vantagem física da Inglaterra. Que executou seu plano “alemão” e encarou um chaveamento menos exigente. Pelo desempenho coletivo e de nomes surpreendentes como Trippier e o goleiro Pickford vem sendo consistente. Mesmo acusada de simular faltas e escolher adversários, algo distante da imagem ligada à fidalguia e elegância. Ao fair play.

Desta vez o English Team quer ganhar ou chegar o mais longe possível. A Croácia que se prepare e franceses ou belgas não celebrem tanto assim o triunfo amanhã. A final será dura.

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Gol contra e “pane” de Fernandinho pesaram mais que a mudança de Martínez http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/08/gol-contra-e-pane-de-fernandinho-pesaram-mais-que-a-mudanca-de-martinez/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/08/gol-contra-e-pane-de-fernandinho-pesaram-mais-que-a-mudanca-de-martinez/#respond Sun, 08 Jul 2018 05:00:56 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4869 Tostão costuma dizer em suas colunas que o futebol muitas vezes é mais simples e tem seus desdobramentos movidos muito mais por aleatoriedades e acasos do que propriamente por algo planejado ou pela estratégia dos treinadores.

Este blogueiro já desconfiou mais desta tese, mas quanto mais vê o jogo acontecer mais passa a crer nesta visão de quem esteve lá dentro e tem inteligência e sensibilidade para perceber os detalhes que muitas vezes escapam aos nossos olhos.

Em todo mundo pululam análises da vitória da Bélgica sobre o Brasil que carregam como elemento central o fator surpresa da formação de Roberto Martínez num 4-3-3 com Lukaku pela direita, De Bruyne como “falso nove” e Hazard à esquerda. Um tridente ofensivo que não voltava na recomposição e ficava pronto para as saídas em velocidade. Sem dúvida algo incômodo e inesperado para Tite e seus comandados. Mas será que foi tão decisivo assim?

A dúvida ao rever a partida com mais serenidade e distanciamento nasce pelo fato de que até os 13 minutos de jogo em Kazan o que se via eram duas equipes tensas e ainda se adequando ao novo cenário. O Brasil saía do plano inicial, mas a Bélgica também tinha adaptações a fazer, como voltar a se defender com quatro homens atrás depois de vários jogos com linha de cinco. Mas principalmente se fechar apenas com sete jogadores e tendo Fellaini e Chadli como elementos novos e com funções diferentes das executadas na virada sobre o Japão.

O problema era o lado direito, com Meunier contando com o apoio de Fellaini e a cobertura de Alderweireld contra Marcelo, Philippe Coutinho e Neymar. Pouco. Por ali a seleção brasileira criou espaços e conseguiu o escanteio cobrado por Neymar aos oito minutos. Desvio de Miranda e Thiago Silva, meio no susto, acertando a trave direita de Courtois.

Até os 13, a Bélgica encontrou, sim, espaços às costas do meio-campo brasileiro que também tentava se ajeitar com a entrada de Fernandinho na vaga de Casemiro. Plantado à frente da defesa no 4-1-4-1 habitual de Tite. Desta maneira que saiu o escanteio. Passe do De Bruyne, chute de Fellaini.

Assim como ficou claro em outros momentos do jogo, Martínez trabalhou a cobrança na primeira trave. Sabia das fragilidades da retaguarda adversária na bola aérea. Mas Kompany não conseguiu desviar o centro de Chadli. O gol contra foi de Fernandinho.

Logo ele. Personagem central da sequência de gols alemães no 7 a 1 do Mineirão. Foi nítido o efeito devastador na força mental do volante. A concentração tão exigida por Tite havia caído por terra. Não só do jogador do Manchester City, mas da defesa que ficou desguarnecida. Que já tinha um ponto sensível com Fagner no mano a mano com Hazard. Neste cenário, a ausência de Casemiro se fez mais impactante. E a presença de Marcelo, retornando depois de duas partidas com Filipe Luís como titular, mais desnecessária pelos espaços que deixava às suas costas. O sistema de cobertura com Miranda saindo e o volante fechando a área se perdeu.

Abalado também por ficar em desvantagem pela primeira vez no torneio, o time verde e amarelo sofreu contragolpes seguidos, mas o do segundo gol, curiosamente, não teve Lukaku à direita e De Bruyne centralizado. O centroavante buscou a bola no centro e arrancou deixando Paulinho para trás. Sem confiança e força física para a disputa, Fernandinho ficou pelo caminho. Marcelo optou por fechar o “funil” e deixou todo o lado direito para Meunier e De Bruyne, que acertou um petardo na bochecha da rede.

O resto é história, inclusive a pressão brasileira que poderia ter resultado no empate ou até na virada. Com a Bélgica mantendo a estratégia e sofrendo demais para sustentar a vantagem. A equipe de Tite corrigiu o setor defensivo, Miranda ganhou todas de Lukaku e ofensivamente teve volume e espaços para criar e finalizar. Os europeus se reduziram à luta e às defesas de Courtois. A mais espetacular em chute com efeito de Neymar. Renato Augusto e Coutinho perderam chances com liberdade e de frente para o gol. Acabou sendo a diferença no placar das quartas de final.

Nada que tire os méritos da Bélgica semifinalista. Aproveitar as instabilidades do oponente também é virtude e decide jogos. Ainda mais os eliminatórios, tantas vezes definidos pelas individualidades e pelo componente emocional.

Por isso a dúvida que ficará para sempre. O que matou o Brasil: o gol contra de Fernandinho que tirou confiança do volante e escancarou a defesa ou a surpreendente mudança de Martínez? Pelo visto, a história das Copas do Mundo já escolheu a versão mais sedutora: o inesperado. Ou o “nó tático”.

Este que escreve, mesmo valorizando a tática e a estratégia, tende a seguir a lógica de Tostão desta vez, ainda que o campeão mundial em 1970 tenha colocado os dois fatores na balança em sua análise e dado ênfase à ausência de um talento como De Bruyne no meio-campo brasileiro, o que também é uma visão mais que respeitável.

É díficil, porém, não colocar a bola que bateu em Thiago Silva e não entrou e a que Fernandinho jogou contra a meta do companheiro Alisson como os verdadeiros momentos chaves de mais uma eliminação brasileira em Mundiais.

 

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A maior ameaça da Bélgica é não saber o que esperar dela http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/05/a-maior-ameaca-da-belgica-e-nao-saber-o-que-esperar-dela/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/05/a-maior-ameaca-da-belgica-e-nao-saber-o-que-esperar-dela/#respond Thu, 05 Jul 2018 11:00:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4848 Pegue tudo que a Bélgica fez até aqui na Copa do Mundo e descarte. Sim, jogue fora! Panamá, Tunísia, reservas contra a Inglaterra no jogo do “tanto faz” e Japão. Todos os gols, estatísticas, desempenhos…

Nada valem como parâmetro para avaliar suas possibilidades em duelo de quartas de final contra o Brasil. Jogo único, experiência inédita. A rigor, tudo que a seleção fez sob o comando de Roberto Martínez desde 2016 tem pouco ou nenhum peso para a grande partida da história desta talentosa geração até aqui.

Sim, maior que o confronto com a Argentina de Lionel Messi no Mané Garrincha em 2014, também pelas quartas. Primeiro porque a albiceleste não carregava o status de favorita ao título mundial que o Brasil ostenta na Rússia depois de quatro jogos e Alemanha, Espanha, Messi e Cristiano Ronaldo eliminados. Depois porque os belgas ganharam maturidade. Não só por aquela eliminação, com 11 convocados dos 14 que entraram em campo em Brasília há quatro anos, mas também pela decepção na Eurocopa contra País de Gales. Também nas quartas. Ainda sob o comando de Marc Wilmots.

O sucessor no comando técnico é espanhol. Fã de Johan Cruyff. Mas radicado na Inglaterra desde 1995, ainda como jogador. Valoriza a posse de bola, mas também adapta facilmente suas convicções a um jogo mais físico e direto.

Versatilidade também é a marca de muitos de seus jogadores. Vertonghen pode ser zagueiro ou lateral esquerda. No mesmo lado, Carrasco é ala, mas também pode ser meia ou ponteiro. Hazard sabe jogar aberto ou por dentro, como um atacante atrás do centroavante. De Bruyne tem atuado na seleção e no Manchester City como o meia mais próximo do volante à frente da defesa, porém sabe jogar adiantado, centralizado ou no flanco em uma linha de meias. Fellaini é meio-campista, mas pela estatura não é raro vê-lo na área fazendo dupla com Lukaku. Chadli, heroi contra o Japão, entrou na vaga de Carrasco na ala e também sabe fazer todo o corredor esquerdo.

É simplesmente impossível tentar vislumbrar o que a Bélgica fará em campo. Nas eliminatórias europeias sobrou contra adversários frágeis e os amistosos, mesmo contra seleções grandes como Espanha, Portugal e Inglaterra, não podem ser tratados como uma referência segura.

O 3-4-3 com proposta ofensiva pode ser mantido, sim. Arrojado, com muita pressão no campo de ataque e volume de jogo empurrando o Brasil para a defesa, mas também deixando espaços atrás e entre os setores. Há qualidade e coragem para tal ousadia. Com os alas Meunier e Carrasco bem abertos e preocupando os laterais Filipe Luís ou Marcelo e Fagner e os ponteiros Mertens e Hazard dois passos para dentro, perto de Lukaku e criando instabilidade na proteção da área brasileira que terá mudança: Fernandinho na vaga do suspenso Casemiro.

O 3-4-3 da Bélgica em sua versão mais agressiva, com alas Meunier e Carrasco abrindo o campo e os ponteiros Mertens e Hazard se aproximando de Lukaku, com o suporte do meia De Bruyne na articulação (Tactical Pad).

Mas Martínez também pode mudar tudo sem mexer na formação. Armando um 5-4-1 bastante cuidadoso guardando sua própria área. Em um jogo deste tamanho, que jogador se recusaria a uma função tática de maior sacrifício no trabalho defensivo e a humildade sem bola para buscar a vitória nos contragolpes? Basta reforçar a linha de cinco que já costuma ser formada com o recuo dos alas Meunier e Vertonghen alinhando De Bruyne a Witsel e os ponteiros Mertens e Hazard voltarem para esperar os laterais brasileiros. Compactação para evitar espaços entre os setores.

A linha de cinco na defesa belga quando os alas voltam como laterais e se juntam ao trio de defensores. Contra o Brasil, a missão é reduzir os espaços entre os setores, como os cedidos contra o Japão nas oitavas de final (Reprodução TV Globo).

Se quiser surpreender, novamente sem fazer alterações, o treinador espanhol ainda pode reagrupar o time em duas linhas de quatro: Vertonghen de lateral esquerdo, Carrasco adiantado como meia aberto, Mertens recuando à direita e Hazard mais solto para buscar espaços às costas dos volantes brasileiros mais próximo de Lukaku.

Uma possível surpresa de Martínez sem mexer na formação titular: duas linhas de quatro com Vertonghen na lateral, Carrasco adiantado como meia e Hazard no ataque com Lukaku (Tactical Pad).

Fellaini ou Dembele podem entrar para reforçar o meio-campo e dar liberdade a De Bruyne, Chadli ganhar a vaga de Carrasco para executar as mesmas funções pela esquerda. Martínez ainda conta com as opções de Januzaj, autor do golaço da vitória sobre a Inglaterra, Tielemans e Batshuayi.

Um vasto cardápio oferecido pelo grupo de jogadores mais homogêneo em termos de qualidade técnica deste Mundial. Mas uma incógnita também na força mental. Pode entrar na Arena Kazan sem nada a perder e arriscar tudo, com a confiança renovada depois de reverter uma desvantagem de dois gols contra o Japão em jogo eliminatório.  Para ultrapassar a barreira recente das quartas de final e repetir a geração semifinalista de 1986, só parando em uma tarde inspirada de Diego Maradona.

Mas também não é improvável temer a camisa cinco vezes campeã mundial e a equipe de Tite com sua solidez nos números e no desempenho. Ainda que todos se conheçam bem nos clubes – Fernandinho, Danilo e Gabriel Jesus jogam com Kompany e De Bruyne no Manchester City, Paulinho e Coutinho são companheiros de Vermaelen, Thiago Silva, Marquinhos e Neymar atuam ao lado de Meunier no PSG, Filipe Luís jogou com Carrasco no Atlético de Madri e Willian trabalha diariamente com Courtois e Hazard. O universo de seleções, porém, costuma carregar outra lógica e uma mística diferente.

Tudo isto torna a Bélgica um grande ponto de interrogação. A maior ameaça é justamente não saber o que esperar dela.

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Bélgica vence fácil, mas só com o alívio do primeiro gol contra a retranca http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/06/18/belgica-vence-facil-mas-so-com-o-alivio-do-primeiro-gol-contra-a-retranca/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/06/18/belgica-vence-facil-mas-so-com-o-alivio-do-primeiro-gol-contra-a-retranca/#respond Mon, 18 Jun 2018 17:16:12 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4733

Bélgica na estreia do Mundial jogando num 3-4-3 ofensivo com Meunier e Carrasco abrindo o campo, De Bruyne organizando e ponteiros Mertens e Hazard mais próximo de Lukaku. Panamá no 4-1-4-1, mas fechando espaços com uma linha de seis jogadores guardando a própria área (Tactical Pad).

Para encaixar o máximo de individualidades dentro de uma geração talentosa, o treinador espanhol Roberto Martínez armou a Bélgica num 3-4-3 que lembra o Chelsea de Hazard comandado por Antonio Conte no posicionamento. Um 5-4-1 sem a bola e na transição ofensiva os ponteiros Mertens e Hazard se juntam ao centroavante Lukaku e os alas Meunier e Carrasco são os responsáveis por abrir o campo e espaçar a marcação adversária.

Na dinâmica ofensiva, um ataque posicional construindo volume através da posse e da retomada pela pressão logo após a perda da bola. Em alguns momentos com Vertonghen atacando como lateral e empurrando Carrasco como ponteiro à esquerda.

Só que é cada vez mais desconfortável jogar como favorito. Antes o futebol era um grande tabuleiro de duelos individuais em que o melhor, se jogasse bem, vencia com naturalidade. Hoje há uma disputa por espaços no qual os corpos precisam estar bem posicionados e se movimentar corretamente para fazer um bom trabalho defensivo e dar trabalho como “zebra”, sempre à espera de um contragolpe.

Foi o que fez o Panamá do colombiano Hernan Gomez. Um 4-1-4-1 que, na prática, recuava os ponteiros Barcenas e Rodríguez como alas formando uma linha de seis homens guardando a própria área. Recurso inspirado no handebol para impedir as infiltrações. Complicou o jogo belga.

A tensão da estreia em uma Copa do Mundo novamente com pressão por bom desempenho e resultados condizentes com a expectativa também contribuiu para a inconstância de atuações de Hazard e De Bruyne. Algumas jogadas construídas e mal acabadas. Ou bloqueadas pelo muro defensivo do Panamá.

Até o alívio do primeiro gol, logo no início da segunda etapa. Lindo chute de Mertens. Não é apenas uma questão de ganhar espaços, mas também confiança e desanimar o adversário fechado que sabe que terá que subir uma montanha para buscar uma reação.

Os gols de Lukaku, o segundo concluindo linda assistência de três dedos do De Bruyne e o terceiro completando passe de Hazard num contragolpe, saíram naturalmente e cabia até mais que os 3 a 0. 61% de posse, 88% de efetividade nos passes e 15 finalizações contra seis – meia dúzia no alvo contra duas.

Vitória fácil no saldo dos 90 minutos, mas com o incômodo até abrir o placar e a retranca que perdeu a vergonha e ganhou inteligência ao longo do tempo para negar espaços. Nada raro no futebol atual e a Copa do Mundo não seria exceção.

(Estatísticas: FIFA)

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O futebol não tem culpa de ter envelhecido melhor do que nós http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/12/19/o-futebol-nao-tem-culpa-de-ter-envelhecido-melhor-do-que-nos/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/12/19/o-futebol-nao-tem-culpa-de-ter-envelhecido-melhor-do-que-nos/#respond Tue, 19 Dec 2017 10:04:37 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3890

Sim, este texto é sobre saudosismo. Esta sensação que sempre volta a cada derrota do futebol brasileiro, ainda mais quando a superioridade de quem vence é clara e incontestável. No caso, do Real Madrid no sábado pelo Mundial de Clubes.

O saudosismo no Brasil com o esporte bretão é aquele eterno “se eu não for o dono da bola e ganhar o jogo, não quero mais brincar!” Para muitos não é a saudade daquele futebol, mas das vitórias mais frequentes. O mau perdedor que não aceita que outro leve o troféu para casa, mesmo sendo melhor. Não quer voltar a superá-lo, mas que ele seja ruim como antes para ser batido com facilidade.

Mas na grande maioria dos casos, o saudosista tem mesmo é saudade de si mesmo e da vida que levava nos “bons tempos”. Ou seja, tem saudade de ir ao estádio com o pai que não está mais entre nós, de passar a semana só pensando no jogo e não nas contas para pagar ou onde estacionar o carro. Do seu vigor físico, da liberdade de namorar quem quisesse e de sair com os amigos sem hora para voltar para casa. Do olhar encantado do menino entrando no estádio pela primeira vez e na relação com o ídolo sem a maldade do mundo.

Dificilmente a saudade é do jogo em si. Até porque ele era mais ouvido do que visto, no caso dos que veneram o futebol da considerada “era de ouro” brasileira, nos 1960 e 1970. Talvez até 1982. Os jogos transmitidos ao vivo para a mesma cidade em que eram realizados passaram a ser mais frequentes no final dos anos 1980. Antes o ouvinte era escravo da descrição do narrador e sua equipe. E como eles mentiram para nós!

Não por maldade, mas necessidade. Se a partida estivesse desinteressante, sem emoção, o consumidor trocava de estação ou desligava o aparelho para só mais tarde se informar sobre o resultado. Então tome narração acelerada com a bola ainda na intermediária, chute que passou longe tratado como perigoso entre outras fantasias para dourar a pílula e manter os ouvidos atentos.

Sem contar a invenção de craques. Qualquer um que fizesse dois ou três bons jogos já era alçado a candidato a  convocação para a seleção brasileira. Para isto também havia um contexto: tirando os ídolos “nacionais”, como Pelé, Rivelino, Zico, Sócrates ou Falcão, normalmente os jogadores concediam mais entrevistas, em tempos sem coletivas definidas por assessores de imprensa, para os veículos que conheciam, para os repórteres que estavam acostumados a conversar. Então quanto mais convocados do Rio de Janeiro, melhor para as rádios da cidade. O mesmo valia para as paulistas, mineiras, gaúchas…

Hoje, com vários jogos antigos na íntegra espalhados pela internet, só é saudosista quem quer. Ou quem realmente acha que aquele jogo lento, violento, com bolas seguidas recuadas para o goleiro quando era permitido que eles segurassem com as mãos e com verdadeiros latifúndios para conduzir a bola era atraente.

Este que escreve tem 44 anos. Já viu e viveu muita coisa. E, obviamente, já foi um saudosista por todos estes motivos citados anteriormente. Mas que assim que pôde assistir aos jogos que apenas imaginou pelo rádio e viu os melhores momentos nos programas esportivos no dia seguinte simplesmente não teve como esconder a decepção.

Felizmente o futebol evoluiu e segue evoluindo. Como tudo no mundo. Mas como tudo que evolui fica mais complexo, multifacetado. Se aprimora em todos os aspectos e muitas vezes podem anular as forças por haver tanto conhecimento e preparo envolvidos.

Ainda assim, pode acreditar: ele nunca foi tão bom tecnicamente. Porque jogar sem espaços não é fácil. Dominar e passar rapidamente requer uma enorme destreza. Nunca saberemos se os craques geniais do passado conseguiriam brilhar hoje, até porque eles também seriam diferentes, mais bem preparados se quisessem ser atletas e não apenas jogadores.

O brasileiro ficou com essa imagem romântica da seleção de 1970, dos artistas que se reuniram para ensinar como se joga. Os cinco camisas dez aprumados por Zagallo que se entenderam como mágica, porque “craque se entende no olhar”.

A realidade, porém, foi bem diferente. Depois do fiasco em 1966, sendo engolidos física, técnica e taticamente pelos europeus – duvida? tem os jogos na Grande Rede! – a constatação era de que a seleção precisava se preparar melhor e se adequar ao novo ritmo do futebol mundial. Nascia a velha máxima “se igualarmos nos outros aspectos, venceremos na técnica e na habilidade”.

O Brasil de 1970 viajou com enorme antecedência, trabalhou muito e atropelou os adversários no segundo tempo sobrando fisicamente e matando nos contragolpes. A beleza dos lances nascia dos espaços gerados pela superioridade física no calor do México. Como dizia Johan Cruyff, “com espaços qualquer um joga futebol”. Com talento então…

Criou-se a mística do Brasil invencível apenas pela técnica e habilidade, esquecendo também que já fomos vanguarda na linha de quatro na defesa, na marcação por zona, no ponteiro que volta para defender…Fomos a referência.

Não somos mais, mesmo com a reabilitação da seleção com Tite. E não é porque Guardiola aprendeu a nos imitar – outra falácia que virou verdade por ser tão repetida. Simplesmente ficamos para trás, especialmente na leitura de jogo e no senso coletivo.

Isto, porém, não tornou o jogo pior, pelo contrário. É impressionante ver o goleiro brasileiro Ederson participando da construção de jogadas do Manchester City. Os movimentos dos laterais e pontas, alternando o ataque abertos ou por dentro. Meio-campistas como Iniesta, De Bruyne e Modric furando linhas compactas com passes precisos e verticais. Atacantes como Messi, Neymar, Hazard, Mbappé destruindo defesas com uma habilidade surreal. Ou Cristiano Ronaldo e sua quase perfeição nas finalizações. Todos fazendo melhor e mais rápido o que os craques de outrora faziam.

Mas é difícil de aceitar. Eles não são da época de menino ou jovem do senhor de hoje, que sabe dos esquemas e falcatruas que sempre existiram, mas em cifras menores que as atuais. Que não se conforma por ter estudado tanto e hoje trabalhar mais do que deveria para receber uma migalha perto dos salários milionários dos superastros. Que declara ódio ao futebol moderno, mas esquece que para o seu avô o jogo que ele venerava já não era como o de antigamente.

Quem viveu o amadorismo reclamou da virada para o profissionalismo. Quem viu Zizinho não achou graça em Pelé. Os súditos do Rei criticaram a geração “perdedora” de 1982, que desdenham até hoje da conquista de 1994 e os integrantes desta geração criticam os craques atuais por usarem chuteiras coloridas, tirarem selfies e ficarem conectados em seus celulares nos vestiários.

A tese de que se não fosse o êxodo teríamos esquadrões no país e dominaríamos como no passado também é questionável. É duro, mas quem dá as cartas hoje e nos últimos dez anos são um argentino e um português. Neymar é o terceiro, ainda bem distante. A arte também está mais lá do que cá. E temos que agradecer pelo avanço na tecnologia nos permitir assistir tudo isso semanalmente. A evolução…

O tempo passou. E o futebol não tem culpa de ter envelhecido melhor que nós. Se reinventando, encontrando novas soluções para driblar novos problemas e seguir como o esporte mais apaixonante do planeta. Sem traumas, sem olhar para trás com amargura ou arrependimento. Vivendo e curtindo o hoje, que sempre é melhor que ontem. Que tenhamos maturidade para aprender com eles. O futebol e o tempo.

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Vitória do City é a prova de que Guardiola se reinventou e Mourinho não http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/12/10/vitoria-do-city-e-a-prova-de-que-guardiola-se-reinventou-e-mourinho-nao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/12/10/vitoria-do-city-e-a-prova-de-que-guardiola-se-reinventou-e-mourinho-nao/#respond Sun, 10 Dec 2017 19:02:35 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3839 O primeiro tempo do clássico de Manchester no Old Trafford foi um típico duelo Pep Guardiola x José Mourinho. City ocupando o campo de ataque, trocando passes e buscando surpreender o United com uma configuração inusitada do trio ofensivo: Sané pela direita, Sterling centralizado como uma espécie de “falso nove” entre a defesa e o meio-campo adversário e Gabriel Jesus à esquerda.

Provavelmente guiado pelo desenho tático dos Red Devils, desarmando o sistema com três zagueiros e voltando ao 4-2-3-1 com Smalling e Rojo na zaga e Lingard centralizado atrás de Lukaku. Sem tanta necessidade de esgarçar a marcação, os citizens tentaram explorar os ponteiros com pés invertidos buscando as diagonais.

Mas com 75% de posse de bola e num universo de nove finalizações, o gol saiu na bola parada. Cobrança de escanteio, desvio de Otamendi e gol de David Silva, aparecendo livre na falha de Ashley Young na tática de impedimento.

Só então o time da casa se aventurou no ataque e finalizou a gol, com Martial, que iniciou pela direita, mas logo depois da desvantagem no placar trocou com Rashford. Pela direita, a joia do lado vermelho de Manchester aproveitou falha grotesca de Fabian Delph no domínio para empatar já nos acréscimos. De novo Mourinho vivendo dos elos fracos dos adversários. Um exagero na especulação.

Guardiola foi ainda mais ousado na volta do intervalo ao trocar Kompany, sempre às voltas com problemas físicos, por Gundogan. Fernandinho foi para a zaga. O jogo ficou mais equilibrado, com United se aventurando um pouco mais. Também com uma substituição na zaga: Rojo por Lindelof.

Smalling trocou de lado na zaga. E deu azar no corte de Lukaku defendendo a própria área. A bola bateu nas suas costas e sobrou para Otamendi livre. Com a vantagem, entrou em ação o Guardiola mais pragmático.

Tirou Jesus, colocou Mangala. Preencheu o meio-campo com a volta de Fernandinho ao setor e abriu Sterling e Sané para os contragolpes. Também se protegeu do mais que previsível ataque aéreo do United na necessidade de reverter o resultado. Ibrahimovic no lugar de Lingard e Juan Mata substituiu Ander Herrera.

No abafa, quase o empate com Mata e Lukaku, mas Ederson salvou mostrando que é candidato, sim, à titularidade na seleção brasileira. Guardiola tirou Sané, exausto, mas deixou Aguero no banco. Colocou Bernardo Silva, que desperdiçou dois contragolpes cristalinos. Ainda falta um pouco de rapidez na tomada de decisão ao português para a intensa Premier League. De Gea ainda salvou em bela finalização do meia De Bruyne em mais uma rápida transição ofensiva.

Nos minutos finais, a frieza e o foco no resultado mantendo a bola perto da bandeira de escanteio. Lembrou times argentinos na Libertadores, principalmente o Boca Juniors de Riquelme. Gastando tempo pela noção do tamanho da vitória.

Os 11 pontos de vantagem no topo da tabela praticamente encaminham a conquista nacional. A campanha até aqui é espetacular e histórica: 15 vitórias – 14 seguidas – e só um empate. Reflexo da superioridade do City com um elenco renovado, mas também da reinvenção de Guardiola. Treinador que mantém seus princípios de jogo, mas se recicla para transformar o protagonismo em vitórias.

Seu time ataca de todas as formas, com bola no chão e pelo alto. Se preciso for, reforça o sistema defensivo e gasta o tempo. Provando de vez que não é romântico. Sempre quis vencer, mas agora sem exigir tanto que seja à sua maneira. Como for possível.

Por isso está à frente de Mourinho, que não abandona a persona anti-Guardiola, o homem que pára o ônibus e parece estacionado. O português tem elenco e orçamento para fazer mais nos clássicos. Ainda pragmático e mirando o resultado. Porém mais eficiente, como Guardiola vai se impondo na Premier League.

(Estatísticas: BBC)

 

 

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