flamengo – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 “Balanço” do Fluminense machuca o Flamengo, mas erros cobraram preço alto http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/13/balanco-do-fluminense-machuca-o-flamengo-mas-erros-cobraram-preco-alto/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/13/balanco-do-fluminense-machuca-o-flamengo-mas-erros-cobraram-preco-alto/#respond Mon, 13 Jul 2020 04:21:58 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8761

Foto: Ayson Braga / Brazil Photo Press / Folhapress

O Flamengo teve 59% de posse de bola e as mesmas seis finalizações no alvo do Fluminense no primeiro clássico da decisão do Carioca. Mas o número total de finalizações deixa claro que os rubro-negros, outrora favoritos absolutos, sofreram muito apesar da vitória por 2 a 1 no Maracanã. Foram 13 tricolores e nove do rival.

A maioria no segundo tempo de ampla superioridade da equipe de Odair Hellmann no trabalho coletivo. Organização defensiva, pressão no adversário com a bola e rápidas transições ofensivas. Usando as inversões de jogo como grande arma para sair da pressão na construção do contragolpe e também para castigar a última linha defensiva do Fla.

Da direita para esquerda, principalmente. Pegando Egídio, Marcos Paulo e às vezes até Dodi contra Rafinha. Chegando ao fundo, bola para trás ou invertendo novamente para pegar um companheiro nas costas de Filipe Luís, centralizado na diagonal de cobertura.

Jogada que foi mais difícil de ser realizada no primeiro tempo, já que o Flamengo, depois de um bom começo tricolor, se instalou no campo de ataque e, mais adaptado às mudanças de Jorge Jesus, conseguiu se impor. Com Rafinha atacando e se juntando a Vitinho, obrigando Marcos Paulo a recuar e o Flu perder a referência de velocidade pelo lado, já que Nenê do lado oposto é menos rápido e intenso.

Trocando passes e criando espaços às costas de Hudson, o volante entre as linhas de quatro do 4-1-4-1 repetido por Hellmann, o Fla encontrou soluções para colocar no jogo Diego e Pedro – novidades nas vagas de Gerson, que começou no banco, e Bruno Henrique, poupado por dores musculares. Inicialmente, a marcação adiantada do Flu complicava a circulação de bola mais lenta com Diego e menos velocidade para atacar espaços às costas da defesa adversária com a presença de Pedro ao lado de Gabigol.

Até uma rápida troca de passes pegar Diego livre para servir Pedro, também com liberdade para abrir o placar. Erro de Gilberto, que saiu para “caçar” e desmontou a última linha. O primeiro erro letal no clássico decisivo.

A vantagem fez o Fla diminuir a intensidade. Difícil saber se é uma oscilação natural pela sequência de jogos, preocupação pela incerteza da permanência de Jorge Jesus ou simplesmente a falta da simbiose com a torcida ausente no estádio. Gabigol parece o mais afetado, sem a eletricidade de outros momentos apesar da evolução na leitura de jogo que tem permitido mais assistências que gols nesta volta. Parecia disperso, apenas uma finalização que fez Muriel trabalhar nos primeiros 45 minutos.

O Flu seguiu apostando em inversões. Um “balanço” que castigava a defesa rival, especialmente os laterais veteranos, e criava chances. Até Egídio cruzar, Gustavo Henrique – outra novidade no lugar de Léo Pereira – ficar olhando e Evanilson empatar. Rápido desmarque do atacante, mas também vacilo do zagueiro.

Foi a senha para Jesus mandar a campo Everton Ribeiro e Gerson, mais Michael para ganhar velocidade e improviso. Não melhorou muito e o Fluminense seguiu superior, apesar do início do cansaço. Yago Felipe e Dodi se multiplicavam na marcação e no apoio aos atacantes. Mas veio a falha decisiva.

Lançamento longo, Egídio hesita na disputa em velocidade com Gabigol, que liga o “turbo” e só para na assistência para Michael marcar o gol da vitória. Contragolpe isolado de um Flamengo diferente, sem o “punch” de antes. Mas ainda o melhor elenco do país e do continente que não perdoa erros bobos.

O Flu falhou atrás e não foi eficiente no ataque, também pelas boas defesas de Diego Alves. Goleiro que segurou o jogo no final porque desta vez as substituições de Hellmann mantiveram o ritmo e o perigo na frente. Especialmente Fernando Pacheco e Caio Paulista. Jesus ainda trocou Pedro por Pedro Rocha e apelaria até para três zagueiros com Léo Pereira entrando na vaga de Gabigol.

Mas Wagner Magalhães interpretou a demora do camisa nove rubro-negro para sair de campo como antijogo e aplicou o segundo amarelo expulsando o atleta que fica de fora da segunda partida. Um exagero “compensado” pelo pouco tempo de acréscimo depois da confusão.

Vitória que deixa o Flamengo mais perto do título, porém a atuação inconstante é mais um sinal de alerta. Algo não está funcionando na mecânica de jogo. Além dos méritos inegáveis do Flu, que vai complicando muito mais que o esperado. Mas para vencer e virar a história do avesso na quarta o tricolor não poderá errar tanto.

(Estatísticas: SofaScore)

 

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Estratégia de Jesus contra River e Al Hilal para em Muriel e Flu guerreiro http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/09/estrategia-de-jesus-contra-river-e-al-hilal-para-em-muriel-e-flu-guerreiro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/09/estrategia-de-jesus-contra-river-e-al-hilal-para-em-muriel-e-flu-guerreiro/#respond Thu, 09 Jul 2020 12:10:59 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8742

Imagem: Divulgação / Fluminense

“No intervalo conversamos, o ‘mister’ falou para não baixar a intensidade, porque o time deles iria cansar. E foi o que aconteceu. Aí a gente, com a nossa qualidade, conseguiu virar o jogo.”

Palavras de Bruno Henrique após a virada sobre o Al Hilal em Doha, no Catar, pela semifinal do Mundial de Clubes. Depois de terminar o primeiro tempo perdendo por 1 a 0, o Flamengo se impôs, inclusive fisicamente, e virou para 3 a 1.

Algumas declarações depois do triunfo histórico sobre o River Plate em Lima que valeu o título da Libertadores foram na mesma direção. O time argentino correu muito, dobrou a aposta na pressão sobre o adversário com a bola e a conta veio na metade final do segundo tempo e os dois gols de Gabriel Barbosa nos minutos derradeiros.

Na decisão da Taça Rio no Maracanã havia ainda mais motivos para acreditar no desgaste do oponente. O Fluminense teve um período menor de treinamentos na volta e Jorge Jesus agora conta com elenco mais robusto e cinco substituições para renovar as forças e atropelar.

Talvez por isso o treinador português tenha insistido tanto em focar no segundo tempo na análise do jogo em entrevista à Fla TV. Ele apenas se equivocou ao dizer que o time tricolor jogou só para não perder, ou ser derrotado por um placar magro.

Porque o time de Odair Hellmann tinha uma proposta clara de jogo: fechar espaços à frente da própria área com quatro defensores e os três volantes – Hudson, Yago Felipe e Dodi. Também recuando Nenê e Marcos Paulo pelas pontas e Evanilson para negar o passe fácil de Willian Arão, a opção de retorno ou desafogo do Fla.

Bola roubada, toques práticos e rápidos para sair da pressão e explorar os espaços às costas da última linha do rival. Deu trabalho, tanto que, dos quatro defensores do Fla, só Rodrigo Caio não levou cartão amarelo. O Flu valorizou também as bolas paradas, que permitiam que o time ocupasse o campo de ataque com mais jogadores. Assim fez Diego Alves trabalhar com Gilberto e depois o lateral aproveitou a falha coletiva rubro-negra no cruzamento de Egídio para abrir o placar.

Valeu-se também de um primeiro tempo muito abaixo do padrão do Flamengo. Não só pela boa marcação, mas por conta da assustadora lentidão e imprecisão na circulação da bola, mesmo sem pressão do adversário. Ainda que a estratégia fosse definir no segundo tempo, a intensidade ficou comprometida e foi possível perceber também um certo preciosismo, um ar blasé nas tentativas de tabelas e triangulações.

De fato, o Fluminense foi cansando ao longo da segunda etapa, mesmo sem abdicando do ataque dentro da sua proposta. E as substituições naturalmente deixaram o Flamengo mais forte. Entraram Michael, Pedro, Diego e Vitinho. Do setor ofensivo só ficou Gabriel, na esperança do gol decisivo.

Mas foi Pedro quem empatou, completando cruzamento de Filipe Luís. E Bruno Henrique, antes de dar lugar a Vitinho nos minutos finais, teve a bola da virada completando de cabeça a boa jogada de Michael pela direita.

Só que havia Muriel no caminho. O irmão de Alisson teve participação fundamental para respaldar o time aguerrido que renovou o fôlego, mas perdeu em técnica e tática com Fernando Pacheco, Caio Paulista, Yuri e Michel Araújo nas vagas de Evanilson, Marcos Paulo, Yago Felipe e Gilberto. O Flamengo teve chances para construir a virada que pretendia.

Ficou para os pênaltis e Muriel garantiu, defendendo as cobranças de Arão e Rafinha e sendo feliz no chute por cima de Léo Pereira, o pior rubro-negro em campo. Superando Diego Alves, o especialista que pegou os chutes de Dodi e Michel Araújo. Garantindo a conquista da Taça Rio e a realização das finais do Carioca.

Com o Flamengo ainda favorito. Será difícil para o Flu sustentar essa estratégia com entrega absoluta em dois jogos. A menos que os rubro-negros repitam em campo os muitos equívocos da diretoria do clube, que desrespeitou o regulamento da competição, que previa mando de campo na final do returno, e a Medida Provisória 984, que dá direito ao mandante de transmitir o jogo com exclusividade. Atropelou tudo, inclusive a ética, e a Fla TV também fez a transmissão – sem imagens, por decisão de última hora do STJD.

Uma soberba que respingou no time de Jorge Jesus e teve a resposta de quase sempre. O Fluminense foi digno e  guerreiro. Lutou com as armas possíveis e saiu vitorioso. Dentro e fora de campo.

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Seis anos do 7 a 1 e pouco aprendemos com a derrota. Só copiamos quem vence http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/08/seis-anos-do-7-a-1-e-pouco-aprendemos-com-a-derrota-so-copiamos-quem-vence/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/08/seis-anos-do-7-a-1-e-pouco-aprendemos-com-a-derrota-so-copiamos-quem-vence/#respond Wed, 08 Jul 2020 17:11:42 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8736

Imagem: Pedro Ugarte / AFP Photo

Seis de setembro de 2014. Menos de dois meses depois da maior derrota da história da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari dava entrevista coletiva no Maracanã como treinador do Grêmio. Este que escreve estava presente, trabalhando na cobertura do jogo para a ESPN Brasil. Altivo e refratário a qualquer questionamento sobre os 7 a 1, Felipão foi tratado pelos jornalistas dos veículos gaúchos, cariocas e nacionais como o dono da razão.

Afinal, seu time havia vencido o Flamengo de Vanderlei Luxemburgo por 1 a 0, gol de Luan, pelo Brasileiro. Encerrando uma série de cinco vitórias do time rubro-negro na competição. Era o primeiro triunfo do tricolor fora de casa sob o comando de Felipão e a equipe ocupava a sexta colocação, quatro à frente do Fla.

Grêmio que terminaria em sétimo e, no ano seguinte, Roger Machado seria o sucessor de Scolari e de um trabalho que deixou terra arrasada e a necessidade de reconstrução. O treinador novato encarou a missão e deixou base e conceitos que seriam aprimorados para em 2017 alcançar o auge com a conquista da Taça Libertadores. Com Renato Gaúcho no comando técnico.

Outro veterano e boleirão que viraria referência no ano seguinte. Junto com Felipão, de volta ao Brasil para comandar o Palmeiras que seria campeão brasileiro; A ponto de no final de 2018, o Flamengo, com nova diretoria liderada por Rodolfo Landim, o vitorioso na eleição para a sucessão de Eduardo Bandeira de Mello, escolher Abel Braga para ser o novo técnico.

Boleiro, perfil “paizão”, bom gestor de vestiário. Essa era a “moda” do futebol brasileiro no início de 2019. Reforçada com os títulos estaduais de Abel no Fla e Renato no Grêmio, mais o início avassalador do Palmeiras no Brasileiro. A ponto de na Copa América, disputada no Brasil, surgirem vozes críticas ao trabalho de Tite que tinham a coragem, quase audácia, de pedir a volta de Felipão no comando da seleção.

No dia 7 de julho, um dia antes de completar cinco anos do “Mineirazo” na semifinal da Copa do Mundo realizada no Brasil, a equipe de Tite conquistou o torneio continental como anfitrião. Sem saber que um furacão estava por vir.

Jorge Jesus no Flamengo. A união de qualidade, conceitos atuais e combinação de características dos jogadores que criou rapidamente um grande time. Cuja vitória de afirmação foi sobre o mesmo Palmeiras de Felipão. 3 a 0 no Maracanã que custou o emprego do técnico gaúcho.

Não foi o único. Fabio Carille, campeão brasileiro em 2017 e tri paulista, também ficou desempregado depois de uma goleada para os rubro-negros por 4 a 1. Assim como Mano Menezes, que caiu na antepenúltima rodada do Brasileiro por conta da derrota do Palmeiras em casa por 3 a 1 para a equipe de Jorge Jesus.

Ambos que carregaram um “hype” nos anos anteriores. Mano pelos títulos da Copa do Brasil pelo Cruzeiro, Carille pelas conquistas no Corinthians e sendo o ponta-de-lança de uma moda que veio antes dos técnicos veteranos: os “jovens, modernos e estudiosos” que ocuparam postos em grandes clubes e sinalizaram uma revolução no futebol brasileiro.

Nem era o caso. Carille simplesmente resgatou a  “identidade Corinthians” que assimilou e ajudou a implementar como auxiliar de Mano e Tite. Em entrevistas, deixava claro que não costumava acompanhar muito o que acontecia nos grandes centros da Europa. Enquanto vencia, essa prática não era criticada pela maioria na imprensa. Muitas vezes foi defendida, como se nossa realidade medíocre fosse imutável e qualquer influência do exterior não pudesse vingar.

Jorge Jesus chegou e virou tudo do avesso. Mas mesmo ele, apesar de toda excelência no desempenho do Flamengo, foi alvo de críticas, senões e “o trabalho é bom, mas…”, só calando a maioria das ressalvas quando alcançou o feito inédito de vencer Brasileiro e Libertadores no mesmo ano. Quebrando um paradigma que já tinha virado uma espécie de dogma: não seria possível disputar ambas em alto nível. Só rodando o elenco e poupando titulares em várias partidas do campeonato por pontos corridos.

Solução de Renato Gaúcho no Grêmio e também tratada como modelo. De Felipão no Palmeiras e depois do próprio Abel no início do Brasileiro pelo Flamengo. Pulverizada com os 5 a 0 na semifinal da Libertadores, com o time de Jesus atropelando a equipe do treinador que era tratado como o sucessor inevitável de Tite na seleção. Renato só não caiu no Grêmio depois do massacre no Maracanã por tudo que conquistou no clube, como jogador e técnico.

Jorge Jesus agora é a referência. Inclusive para a seleção brasileira. Porque venceu. E Tite, hoje questionado, já foi ídolo e tratado como um modelo de ética e competência até para ocupar a Presidência da República. Porque varreu os adversários nas Eliminatórias. A eliminação na Copa do Mundo para a Bélgica em um jogo igual, com tempos distintos, foi suficiente para colocá-lo em xeque.

E só conseguiu o tão sonhado posto na CBF porque em meados de 2016 era o último treinador campeão brasileiro, comandando o Corinthians. A bola da vez e sem concorrentes diretos. Se tivesse perdido o título para o Atlético Mineiro de Levir Culpi em 2015, mesmo com a evolução em métodos e no modelo de jogo depois de um ano “sabático” de estudos, talvez a oportunidade não tivesse surgido.

Enquanto tudo isso acontecia, o trauma e a reflexão sobre os 7 a 1 foi se diluindo com a passagem do tempo. A narrativa do “acidente” se fortaleceu, até pela queda dos alemães depois do ápice com o título mundial. A ponto de Felipão, o grande responsável pelas fragilidades da seleção anfitriã e pelas escolhas infelizes na escalação para o jogo do Mineirão, ser novamente tratado como solução e referência.

Seguimos olhando resultados e navegando ao sabor dos ventos. Na tentativa e erro em loop. O Flamengo se equivocou com Abel, agora acerta com Jesus, que pode voltar para Portugal treinar o Benfica. Se acontecer, quem será a próxima referência? A nova moda ou o “hype” da vez?

Não aprendemos nada, ou muito pouco. Só copiamos, ou tentamos copiar, quem vence. Só respeitamos quem sai com os três pontos. Um imediatismo que faz esquecer tudo muito rápido. O futebol é dinâmico, mas nem tanto.

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Queda do Flu torna Flamengo o maior favorito ao Carioca dos últimos 40 anos http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/06/queda-do-flu-torna-flamengo-o-maior-favorito-ao-carioca-dos-ultimos-40-anos/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/06/queda-do-flu-torna-flamengo-o-maior-favorito-ao-carioca-dos-ultimos-40-anos/#respond Mon, 06 Jul 2020 13:17:05 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8730

Foto: AGIF

Se o Flamengo confirmar o favoritismo na quarta-feira e vencer a Taça Rio garantindo o título estadual, a conquista não será invicta por causa do triunfo do Fluminense sobre o time sub-23 no primeiro turno. Equipe tricolor que foi a que mais colocou uma vitória rubro-negra em risco, nos 3 a 2 da semifinal da Taça Guanabara. A única a colocar a equipe de Jorge Jesus nas cordas.

Mas o time tricolor que chega à decisão do returno é bem diferente em desempenho da que demonstrava clara evolução antes da parada e era a única esperança de algum equilíbrio no estadual. Não só pela longa inatividade, mas também por conta dos poucos treinamentos, consequência da madura e correta decisão de não voltar a treinar dentro de um contexto de milhares de mortes no Rio de Janeiro por Covid-19.

A equipe de Odair  Hellmann não conseguiu ir às redes desde a volta e sofreu para segurar o Botafogo e o empate sem gols que garantiu a vaga na final da Taça Rio. O Botafogo de Paulo Autuori, com Honda controlando o meio-campo, teve chances com Pedro Raul e carimbou a trave de Muriel com Bruno Nazário.

Fred também teve grande oportunidade no segundo tempo e, nos minutos finais, o Flu parecia melhor condicionado fisicamente. Mas, no geral, a atuação foi fraca e e resposta negativa. Mesmo com a mudança de Hellmann para uma espécie de 4-3-1-2 com variações – 4-1-4-1 com Nenê voltando pela direita ou 4-4-2, com o camisa 77 se juntando a Fred na frente e Yago Felipe fechando o lado direito e Wellington Silva o flanco oposto.

A queda do Flu entrega ao Flamengo o maior favoritismo ao título carioca dos últimos 40 anos. Usando o próprio time rubro-negro, que sobrou e venceu os dois estaduais de 1979, como “nota de corte”. É claro que o contexto também tornou tudo mais favorável ao atual campeão brasileiro e da Libertadores.

Se a temporada tivesse seguido normalmente, o Fla teria priorizado a fase de grupos do torneio continental. Porque o estadual não foi valorizado desde o início. Nem tanto pelo time sub-23 nas primeiras partidas, necessidade para que o elenco principal completasse as férias de 30 dias.

Depois Jesus escalou os titulares contra o Resende, com sete dias de treinamentos, para colocá-los em ritmo de competição pensando na Supercopa do Brasil e na Recopa Sul-Americana. Na conquista dos três títulos em dez dias no mês de fevereiro, o Fla mandou a campo apenas dois titulares, Léo Pereira e Gabriel Barbosa, na final da Taça Guanabara contra o Boavista.

E o plano inicial de vencer também a Taça Rio tinha como objetivo abreviar o torneio e ganhar um tempo de preparação para o início do Brasileiro. Mas a pandemia fez do Carioca a única competição no horizonte, também por uma volta açodada, até irresponsável.

É claro que o Flamengo tem outras vantagens, como ter voltado antes a treinar e disputar todas as partidas no Maracanã. Mas em qualquer contexto e estádio é difícil imaginar esse time já histórico se complicando contra alguma equipe de menor investimento.

O esquadrão de Zico no início dos anos 1980 tinha o Vasco de Roberto Dinamite como a pedra no sapato. O Fluminense tricampeão de 1983 a 1985 protagonizou duelos equilibrados com Fla, Vasco e até o Bangu, não permitindo uma visão de nítida superioridade. Assim como o Vasco tricampeão de 1992 a 1994, campeões invictos como o Botafogo de 1989 e o próprio Flamengo de 1996 e 2011. Ou o Botafogo das 12 vitórias seguidas na Taça GB em 1997. Mesmo o Flamengo de Abel Braga no ano passado sequer chegou à decisão do turno. Todos tiveram rivais que criaram algum tipo de dificuldade.

O Flamengo de Jorge Jesus sobra como nenhum outro nas últimas quatro décadas. Por conta das circunstâncias, mas também da própria competência no departamento de futebol – apesar dos muitos equívocos em outros setores do clube. Um time forte que, com as contratações de 2020, agora conta com o melhor elenco do continente. Para ganhar os títulos mais importantes da temporada e o Carioca, se fosse possível conciliar.

Agora virou prioridade e parece favas contadas. Uma mera formalidade na quarta. Por mais que se respeite a história do Flu e o time atual, reforçado pelo ídolo Fred, que pode se agigantar em um jogo decisivo. Na camisa e na tradição, porque no futebol a desvantagem é abissal.

 

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Não são os dez reais. Problema é a mensagem que o Flamengo transmite http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/04/nao-sao-os-dez-reais-problema-e-a-mensagem-que-o-flamengo-transmite/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/04/nao-sao-os-dez-reais-problema-e-a-mensagem-que-o-flamengo-transmite/#respond Sat, 04 Jul 2020 12:45:01 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8721

O Flamengo é uma instituição centenária. Clube com mais de 40 milhões de torcedores. Para muitos uma religião. A vingança das derrotas da vida, como bem definiu Moraes Moreira ao cantar sobre Zico.

Transcende o futebol na sociedade. Tem algo de lúdico, até messiânico em alguns momentos. Precisa transmitir valores através dos ídolos, mas também de seus dirigentes pelas decisões que tomam.

Não é uma empresa. E mesmo estas hoje precisam de responsabilidade em suas ações públicas. Imagine um clube, com toda sua função social.

No incêndio do Ninho que vitimou fatalmente dez jovens em fevereiro do ano passado, este colunista escreveu aqui que o Flamengo não é Boate Kiss. Além do contexto da tragédia, há também uma questão filosófica que não permite ao clube se comportar da mesma maneira. Porque há uma mensagem a ser passada.

O Flamengo tem direito legal de buscar o menor custo financeiro na indenização das famílias dos jovens mortos no CT. Mas a mensagem que passa é que elas são um problema a se resolver, não pessoas que perderam seus amados que tinham sua integridade física como a responsabilidade mais básica do clube.

O Flamengo tem o direito legal de não pagar nenhuma premiação aos funcionários que não entram em campo atrás das vitórias ou participam diretamente dos jogos. Mas quando faz um acordo prévio e ameaça não cumprir, a mensagem é de que seus colaboradores são apenas dados em uma planilha, que podem ser apagados a qualquer momento.

O mesmo no momento das demissões dos 62 funcionários em meio a uma pandemia. Depois de divulgar que suportaria noventa dias num “teste de estresse”, não esperou mais que 45 dias para dispensar pessoas que dificilmente conseguiriam reposição no mercado de trabalho. Tem o direito legal de dispensar? Claro, até porque outros clubes e empresas fizeram igual ou pior. Mas o passivo na empatia, que já era grande, aumentou.

O Flamengo tem o direito legal de querer retomar as atividades do time de futebol e buscar junto à Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ) o retorno mais rápido possível do Campeonato Carioca. Há contas a pagar, marcas de patrocinadores para exibir…Mas a mensagem que passa em um contexto de milhares de mortos, jogando no Maracanã ao lado de um hospital de campanha, é a de que se aceita jogar em meio a cadáveres. E não adianta falar em protocolos, higiene e segurança. O Flamengo não é uma ilha, está inserida na realidade da cidade, do estado e do país.

O presidente do Flamengo tem o direito legal de usar a sua boa relação com o Presidente da República para sugerir uma solução que resolva em um primeiro momento seu imbróglio na negociação das transmissões dos jogos pelo estadual. E a Medida Provisória que é consequência desse diálogo pode até beneficiar outros clubes ou mesmo revolucionar o futebol brasileiro. Mas a mensagem que o clube passa é de que os demais times, que deveriam ser seus pares, são meras peças de um jogo no tabuleiro. Não há consenso, nem debate. Apenas o jeitinho do mais “malandro” e com maior poder de barganha para se dar bem.

Agora a ideia de cobrar dez reais a quem não é sócio pela transmissão de Flamengo x Volta Redonda, pela semifinal da Taça Rio no domingo às 16h, através de um aplicativo. Não é um valor alto e, se agora o direito de transmitir é do mandante, não há nenhum problema legal.

Mas justo em meio a uma crise econômica gravíssima? Depois da torcida comprar a briga contra a Globo e fazer da transmissão de Flamengo x Boavista pela Fla TV uma vitória maior do que os três pontos conquistados no campo?

Sabe qual é a mensagem que passa? A de que o torcedor é um mero número de cartão de crédito. Inclusive aquele lá no interior do Brasil, que não tem os recursos mínimos para ter acesso ao conteúdo. Mesmo que disponha dos dez reais. Esse mesmo torcedor que engrossa o caldo para que o clube siga recebendo um alto valor da mesma Globo, no Campeonato Brasileiro, para a transmissão em TV aberta. Aí ele conta, não é?

Ainda que hoje, diante da repercussão negativa, Rodolfo Landim e seus diretores recuem e tornem a transmissão novamente gratuita, o estrago já está feito. Porque o que vale e demonstra os valores de uma pessoa, de um grupo ou de uma instituição são os atos espontâneos. E esses tem sido os piores desta diretoria. Os remendos depois são puro marketing. Reposicionamento de marca.

O Flamengo é bem maior que isso. E é triste ver que justo no momento em que se agiganta no campo do futebol o clube se amesquinhe em seus atos mais simbólicos. A mensagem é a pior possível e envergonha os torcedores mais conscientes.

Alguns fanáticos que idolatram dirigentes se o time estiver vencendo talvez acordem agora, ao serem atingidos no bolso. Tem gente que só entende de dinheiro mesmo.

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Flamengo amplia repertório e Gerson ganha protagonismo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/01/flamengo-amplia-repertorio-e-gerson-ganha-protagonismo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/01/flamengo-amplia-repertorio-e-gerson-ganha-protagonismo/#respond Thu, 02 Jul 2020 02:29:02 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8714 A grande conquista do Flamengo em 2020 até aqui foi a Recopa Sul-Americana. Título continental superando o Independiente Del Valle por 3 a 0 no Maracanã, Também a atuação mais emblemática, por ter que se virar com um a menos desde os 23 minutos de jogo, depois da expulsão de Willian Arão, com 1 a 0 no placar.

O protagonista foi Gerson. Com apenas Gabriel Barbosa na frente, o camisa oito ganhou mais campo para chegar à frente por dentro. No 4-4-1, Thiago Maia entrou na vaga de Pedro e ficou mais fixo à frente da defesa. Everton Ribeiro e De Arrascaeta pelos lados e Gerson, que costuma organizar mais recuado, apareceu na área do time equatoriano para ir às redes duas vezes e fazer a diferença.

Não por acaso, nos jogos seguintes até a parada e agora na volta, contra Bangu e Boavista, Jorge Jesus vem trabalhando para fazer Gerson se juntar ao quarteto ofensivo com mais frequência. Sem Gabriel Barbosa, sentindo dores musculares, Pedro ficou na referência e, em vários momentos, Everton Ribeiro, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gerson buscaram passes mais rápidos por dentro para furar as linhas de marcação do adversário protegendo a própria área.

É o trabalho de ampliação do repertório, além de automatizar mais os movimentos coletivos. De saída da defesa com Arão e os zagueiros Rodrigo Caio e Léo Pereira; da circulação da bola mais rápida e colocar ainda mais intensidade e coordenação do trabalho de pressão logo após a perda da bola. Ainda jogadas ensaiadas com bola parada, outra arma para furar retrancas.

Diante de um adversário frágil, o volume de jogo foi sufocante. Mas ainda faltam a sintonia fina e a evolução técnica depois da longa inatividade. Bruno Henrique destoou um pouco, Pedro rondou a área do oponente, abriu o placar em bela combinação do ataque e se esforçou. Mas ainda precisa se adaptar mais à dinâmica ofensiva. Outros erros bobos, seja no último passe, seja na finalização.

Mas Gerson foi o destaque absoluto. Articulando, circulando, dando opção aos atacantes e infiltrando. Desviou na área para Pedro marcar o primeiro gol. Depois completou com um petardo no ângulo mais uma bela jogada. Com participação de Michael, que entrou na vaga de Everton Ribeiro no intervalo e criou jogadas pelas duas pontas, alternando com Vitinho, que substituiu Pedro.

As cinco substituições de Jorge Jesus fizeram o time manter o ritmo e o controle. Gerson deu lugar a Diego logo depois do golaço. Um luxo que o treinador português pode se dar pelo abismo entre o melhor time do país e do continente sobre os rivais locais.

Não foi uma exibição inspirada no Maracanã para o alto nível do Flamengo, nem poderia ser pelo contexto. Os 2 a 0, porém, confirmam a liderança geral nos dois turnos, possibilitando a conquista do Carioca se faturar a Taça Rio.

O espetáculo ficou por conta de Gerson. O “joker” versátil que desequilibrou mais uma vez. Com mais liberdade, um dos meio-campistas mais completos do país pode ser ainda mais influente no jogo rubro-negro.

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Revés do Flu e chance de definir logo o Carioca podem atrapalhar o Flamengo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/29/reves-do-flu-e-chance-de-definir-logo-o-carioca-podem-atrapalhar-o-flamengo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/29/reves-do-flu-e-chance-de-definir-logo-o-carioca-podem-atrapalhar-o-flamengo/#respond Mon, 29 Jun 2020 12:24:31 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8700

Imagem: Thiago Ribeiro / AGIF

O Flamengo liderou a pressão pela volta do Carioca em meio à pandemia com milhares de contaminados e mortos no Rio de Janeiro, sem contar a subnotificação por conta de testes insuficientes para o volume de casos.

O atual campeão brasileiro e da Libertadores retomou os treinamentos inicialmente sem autorização da Prefeitura. Foi o primeiro a voltar a entrar em campo, no dia 18 para vencer o Bangu por 3 a 0 no Maracanã. Os outros três grandes retornaram só dez dias depois.

Com a derrota do Fluminense para o Volta Redonda por 3 a 0 no Estádio Nílton Santos, o Flamengo ultrapassou o rival na classificação geral e, caso vença o Boavista, termina como maior pontuador das fases de grupos dos dois turnos e pode definir o título vencendo a Taça Rio, depois da conquista da Taça Guanabara.

Se não tiver mais nenhuma mudança, o calendário será de semifinal no próximo fim de semana e decisão no domingo seguinte, dia 12 de julho. Caso resolva logo o Carioca, o time rubro-negro teria quase um mês de inatividade até o início do Brasileiro, marcado para o segundo fim de semana de agosto, dias 8 a 9 – podendo ser prorrogado para o seguinte, 15 e 16, a pedido dos times paulistas.

Depois de mais de 90 dias sem partidas seria válido outros 30 de inatividade após quatro jogos? Definir rapidamente o Carioca era interessante no cenário antes da pandemia, com disputa de Libertadores em paralelo e a possibilidade de ganhar tempo de preparação para a competição mais longa, por pontos corridos.

Agora a chance de se tornar uma desvantagem é enorme, já que os demais concorrentes estariam recuperando ritmo com a retomada dos torneios locais e emendariam as decisões com a principal competição nacional. E o Flamengo parado…

É claro que comemorar um título sempre é saudável e os profissionais têm o direito de buscar decidir o mais rápido possível, sem dar chance para uma “zebra”. Mas hoje para a equipe de Jorge Jesus seria mais produtivo disputar uma decisão em duas partidas. De preferência contra um grande, jogando Série A. Nível mais alto de competição.

O Fla é o maior vencedor do Carioca, com 35 títulos. Quatro à frente do Fluminense. O campeonato está longe de ser a prioridade na temporada, embora tenha ganhado relevância pelo contexto sem Libertadores e Copa do Brasil. O favoritismo é absoluto em qualquer circunstância e hoje a conquista pode ser tratada como obrigação.

No momento, porém, a necessidade de seguir jogando é maior que a de festejar e depois só treinar por mais um mês. A pressa pode ser castigada no início do campeonato mais importante.

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Cinco substituições vão aumentar distância também entre treinadores http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/19/cinco-substituicoes-vao-aumentar-distancia-tambem-entre-treinadores/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/19/cinco-substituicoes-vao-aumentar-distancia-tambem-entre-treinadores/#respond Fri, 19 Jun 2020 14:52:19 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8662

Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

Você leu AQUI que o acréscimo de duas substituições no futebol tende a aumentar a distância entre times de maior e menor investimento. No Brasil e no mundo, especialmente nas competições por pontos corridos. Elencos caros, mais homogêneos, ganham duas possibilidades para impor a superioridade natural.

Mas é claro que tudo vai depender também do treinador. Se ele ganha um certo alívio na gestão do grupo, já que quem está na reserva fica menos insatisfeito pelo acréscimo de oportunidades em campo, o trabalho aumenta.

Desde a avaliação de desgaste físico dos atletas para planejar as substituições até o ensaio de cada situação possível dentro do jogo: o que fazer se estiver perdendo contra um time retrancado, vencendo diante de um rival do mesmo nível ou próximo, com um homem a mais ou ao menos?

Na controversa volta do futebol brasileiro no Rio de Janeiro, Jorge Jesus usou as cinco mudanças no Flamengo. Manteve a linha de defesa, que segundo o português precisa de mais coordenação por jogar adiantada, e a estrela Gabriel Barbosa, que quer sempre estar em campo – aí entra a sensibilidade na administração dos egos.

Trocou Willian Arão, Gerson, Everton Ribeiro, De Arrascaeta e Bruno Henrique pelos seus substitutos naturais: Thiago Maia, Diego, Michael, Vitinho e Pedro Rocha. O mesmo 4-1-3-2 com as devidas variações táticas. Contra o Bangu, abrindo o placar no primeiro tempo com De Arrascaeta e sendo pouco ameaçado no Maracanã, Jesus não precisou ser criativo. E aproveitou bem a reoxigenação da equipe para marcar dois gols na reta final da partida: Bruno Henrique e Pedro Rocha, o primeiro deste com a camisa rubro-negra.

É bem provável que no Carioca o técnico não seja exigido em sua criatividade, mas nas demais competições, quando voltarem, os mais variados contextos vão se apresentar e caberá a cada profissional, amparado por sua comissão, encontrar soluções para entregar desempenho e resultado.

E aí poderemos notar melhor a diferença entre quem pensa e treina e os que vão encher o time de volantes e zagueiros para defender resultado ou empilhar atacantes aleatoriamente para correr atrás do prejuízo.

Os que entendem a necessidade de se organizar para atacar, sem entregar tudo à intuição e ao talento individual dos jogadores, vão levar vantagem. E a esperança é que os que estavam na zona de conforto e no ano passado foram fustigados pelos trabalhos de Jorge Jesus e Sampaoli busquem atualização. Porque será obrigatório mostrar serviço.

Se não entenderem a profundidade da chance de mudar meio time no futebol vão ficar para trás. De vez.

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Flamengo volta sem torcida, TV, rivais…Sozinho. Landim deve estar feliz http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/17/flamengo-volta-sem-torcida-tv-rivais-sozinho-landim-deve-estar-feliz/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/17/flamengo-volta-sem-torcida-tv-rivais-sozinho-landim-deve-estar-feliz/#respond Wed, 17 Jun 2020 10:51:20 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8658

Foto: Paula Reis / Flamengo

Noventa e cinco dias depois da paralisação por conta da pandemia, o Campeonato Carioca será retomado na quinta, dia 18, com Bangu x Flamengo no Maracanã. Quarta rodada da fase de grupos da Taça Rio.

Tudo definido em um arbitral a toque de caixa, sem consenso. Fluminense e Botafogo isolados, Flamengo liderando a pressão para voltar. O Vasco seguindo por interesses comuns e os times de menor investimento sempre “fieis” ao presidente da FERJ, hoje Rubens Lopes.

O Flamengo se acha pronto. Voltou aos treinos, inicialmente sem autorização da Prefeitura, se vangloria por seus protocolos de segurança. Quer jogar a qualquer custo. Mesmo sem todas as medidas de prevenção definidas pelo governo do Rio de Janeiro, contra todas as recomendações de órgãos de fiscalização. Com adversários sem retomar os treinos. Ainda com muitas mortes por Covid-19 no município e no Estado e perspectivas de crescimento do número de casos com a flexibilização do distanciamento social.

Nada importa. Só o Flamengo, expondo sua marca e a dos patrocinadores. Mostrando que é e continuará poderoso por estar sempre um passo à frente dos rivais. Uma ilha de excelência. Nas declarações dos dirigentes, especialmente do presidente Rodolfo Landim, sempre “nós”, “o Flamengo”. Como se jogasse sozinho.

Na quinta estará sem torcida, por força das circunstâncias. Sem TV, por não fechar acordo para a transmissão do Grupo Globo. Se o Bangu não comparecesse talvez nem fizesse falta. O Flamengo colocaria os reservas de seu forte elenco e organizaria um coletivo. Um Narciso se admirando no espelho.

O Flamengo já não tem rivais no Rio de Janeiro. Nesta edição do Carioca, o Fluminense se coloca como um possível oponente por conta de um regulamento esdrúxulo: pela classificação geral pode provocar uma final, mesmo que os rubro-negros conquistem os dois turnos. Tudo por causa de uma vitória tricolor sobre o time sub-23 do Fla enquanto as estrelas campeãs do Brasileiro e da Libertadores voltavam de férias.

É óbvio que o clube tem seus méritos, ambições e o estadual só ganha alguma relevância agora porque é o que pode ser disputado, até pela impossibilidade de deslocamentos pelo país. Não é errado desejar ser o melhor e construir uma hegemonia nacional e internacional. Longe disso.

Mas é preciso entender que o futebol não se disputa apenas com sparrings ou figurantes. Ainda mais no Brasil que costuma valorizar mais o equilíbrio que a qualidade. O Flamengo passou de 2013 a 2019 se organizando em gestão, porém sem grandes conquistas. Agora que venceu quer construir uma dinastia sem precedentes no país. Desejo justo e saudável, mas não atropelando tudo que vê pela frente, inclusive a ética e o senso coletivo.

O Flamengo de Landim dá a impressão de que se jogasse na NBA entraria com uma petição para ter a primeira escolha do “draft”, mesmo sendo o campeão. Os concorrentes que se danem, fiquem lá em baixo.

Por isso a visão elitista, a proximidade com o poder – da federação, do Estado e da União. Um isolamento esportivo, que no momento se opõe ao distanciamento social necessário. Um egoísmo em todas as instâncias que não costuma dar muito certo – vide o “Soberano” São Paulo, absoluto na década passada e agora sofrendo com excesso de crises e falta de títulos.

O Flamengo retorna sem torcida, sem TV e sem rivais. Sozinho. Landim deve estar feliz.

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Permanência de Jorge Jesus no Flamengo renova também o incômodo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/08/permanencia-de-jorge-jesus-no-flamengo-renova-tambem-o-incomodo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/08/permanencia-de-jorge-jesus-no-flamengo-renova-tambem-o-incomodo/#respond Mon, 08 Jun 2020 11:18:58 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8620

Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

Bastou que a pauta da renovação do contrato de Jorge Jesus com o Flamengo surgisse com mais força nos veículos de comunicação e nas redes sociais para que alguns comentários “curiosos” começassem a brotar aqui e ali. Sempre com um viés que não se costuma ver sobre outros treinadores no Brasil.

Começou com Vanderlei Luxemburgo, em entrevista à Rádio Bandeirantes, afirmando que Abel Braga conseguiria o mesmo sucesso que o português se contasse com as contratações rubro-negras no segundo semestre – Rafinha, Pablo Marí, Filipe Luís e Gérson.

Algo muito questionável, considerando que Abel resistia em encaixar De Arrascaeta no time por não querer montar um “time de índio” e, mesmo em um torneio de nível técnico muito inferior como o Carioca, a equipe não chegou nem perto do nível de desempenho do segundo semestre.

Depois o ex-jogador e hoje comentarista Denilson questionou os valores da renovação do técnico campeão brasileiro, da Libertadores, da Supercopa do Brasil e da Recopa Sul-Americana. Ainda que, de fato, a cotação alta do euro possa tornar os 3,5 milhões pagos a Jesus e sua comissão técnica um montante considerável, o esforço de um clube ainda saudável financeiramente e com possibilidades de aumento de receitas em breve é mais que justificável. Afinal, trata-se de um profissional que mudou o patamar da equipe.

Sim, a diretoria do clube segue empilhando equívocos no trato de outras questões, como a empatia com as famílias dos jovens mortos no Ninho do Urubu, as demissões durante a pandemia após garantir três meses de resistência à crise e a pressa na volta do futebol sem perspectivas de achatamento da curva de contágio da Covid-19. Mas acertou nesta empreitada, inclusive na paciência para esperar o momento correto de fechar a negociação. Poderia ter saído ainda mais caro se o acordo fosse sacramentado no início de 2020, antes da parada forçada.

Por fim, o ex-treinador Emerson Leão, em progama no Esporte Interativo, definiu Jesus como “treinador de time rico”: “Joga com craques, que decidem partidas individuais”. Seja lá o que ele quis dizer, a afirmação é estranha, para dizer o mínimo, já que o maior mérito do português foi justamente fazer as estrelas trabalharem coletivamente.

É claro que todos esses depoimentos foram dados em meio a muitos elogios ao trabalho realizado no Flamengo. E obviamente os três personagens têm todo o direito de externar seus pontos de vista. Muito menos a intenção é transformar Jorge Jesus em uma figura intocável.

Mas desde a chegada do técnico ao Brasil, sempre que ele se torna um tema com maior destaque alguém aparece para tentar colocar algum asterisco. Por que o incômodo?

O fato de envolver o time de maior torcida do país sempre pesa. A repercussão é grande, a torcida está  atenta e repercute, gera engajamento. No caso de algumas figuras às vezes pode retomar uma visibilidade perdida. E clubes populares também atraem aquele desejo de que as coisas não funcionem tão bem.

Ainda mais o Flamengo, que tem a frase de Alexandre Kalil, ex-presidente do Atlético Mineiro e hoje prefeito de Belo Horizonte, afirmando que se o clube carioca se organizasse acabaria com a competição no futebol brasileiro, sempre vagando no imaginário popular.

Jorge Jesus é a personificação do sucesso do Fla na sua reestruturação financeira. Foi quem comandou em campo a transformação dos investimentos em títulos. Da provocação do “cheirinho” dos rivais nos gritos de campeão. Foram quatro em menos de um ano, sem contar a Taça Guanabara 2020.

E logo um estrangeiro, no país cinco vezes campeão do mundo que acha que não precisa aprender nada com ninguém. E de Portugal que, segundo o próprio Luxemburgo, “não ganhou nada” – talvez tenha esquecido das conquistas continentais de Benfica e Porto ou dos recentes títulos de Eurocopa e Liga das Nações comandados por Cristiano Ronaldo.

Para piorar, quebrando paradigmas como a impossibilidade, segundo palavras e atos dos profissionais daqui, de vencer Brasileiro e Libertadores no mesmo ano. Porque se chegasse longe na competição sul-americana era obrigatório deixar o campeonato nacional por pontos corridos de lado, utilizando time reserva apenas para garantir uma campanha digna, no máximo aspirando a uma vaga na Libertadores do ano seguinte.

E Jorge Jesus ainda adiciona um tom arrogante em suas entrevistas, para aumentar a raiva dos que torcem o nariz. Sem ataques pessoais, mas afirmando suas qualidades – às vezes carregando um pouco nas tintas, convenhamos. Algo que pode até ser justificado por conta das muitas ressalvas que colocaram sobre seu nome desde a chegada ao Brasil.

O português também desnudou limitações dos treinadores brasileiros. Ele e Jorge Sampaoli subiram o sarrafo e deixaram claro que o nosso teto de exigência estava baixo. No caminho para os títulos, algumas vitórias provocaram demissões de profissionais que eram tratados como referências: Luiz Felipe Scolari, campeão brasileiro de 2018; Mano Menezes, bicampeão da Copa do Brasil em 2017/18 com o Cruzeiro; Fabio Carille, campeão brasileiro em 2017 no Corinthians. Renato Gaúcho não caiu no Grêmio por tudo que representa, mas os 6 a 1 no agregado da semifinal continental abalaram as estruturas do clube gaúcho e mudaram parâmetros e planejamentos.

E tudo isso com enorme visibilidade. Não só aqui, mas também em Portugal. Com os jogos de Brasileiro e Libertadores sendo analisados lá. Escancarando os problemas táticos e estratégicos dos adversários do Flamengo. Falhas primárias dos sistemas defensivos, erros de posicionamento nas jogadas de bola parada, espaços generosos entre os setores. Problemas detectados às vezes com certo sarcasmo pelos comentaristas lusos.

De fato, é um “combo” para lá de incômodo. Toda a cadeia produtiva do futebol foi desafiada pelos feitos de Jorge Jesus no Flamengo. Inclusive nós, jornalistas, que somos obrigados a fazer um esforço na qualificação da análise. Não dá para reduzir tudo ao talento dos jogadores. O campo não mostra isso. As digitais do comando técnico são muito claras.

Jesus renovou contrato até junho de 2021. Mais um ano no Brasil. Com chances, sim, de cair o desempenho pelo contexto da volta do futebol pós-pandemia. Mas uma possibilidade considerável, até pela provável manutenção do elenco, de seguir vencendo e entregando rendimento.

Para alegria de milhões de rubro-negros e daqueles que apreciam um futebol bem jogado independentemente de preferências clubisticas, mas também angustiante para muita gente. Um processo inevitável.

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