França – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 As dez maiores atuações individuais em Copas do Mundo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/23/as-dez-maiores-atuacoes-individuais-em-copas-do-mundo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/23/as-dez-maiores-atuacoes-individuais-em-copas-do-mundo/#respond Thu, 23 Apr 2020 08:26:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8349

Foto: Acervo / FIFA

10º – Alcides Ghiggia (Uruguai – 1950)

É claro que eu não assisti a nenhum jogo completo da campanha uruguaia em 1950. Mas, ora bolas, o ponta direita da Celeste fez gols nas quatro partidas da campeã mundial. Mesmo descontando a bizarra primeira fase com apenas um adversário – a Bolívia, que levou de 8 a 0 no Independência, em Belo Horizonte. No jogo decisivo do quadrangular final, encarou um Maracanã abarrotado e deitou e rolou em cima do lateral Bigode. Assistência para Schiaffino e  gol da virada e do título, o do “Maracanazo”. Virou lenda e merece constar nesta lista, mesmo que na base da “licença poética”.

9º – Lotthar Matthaus (Alemanha – 1990)

A Copa na Itália não é das mais memoráveis, mas Matthaus compensou. Depois de ser o volante disciplinado que dificultou a vida de Maradona na final em 1986, foi o craque, capitão e camisa dez que liderou a Alemanha na vingança, quatro anos depois. Compensava o meio-campo esvaziado no 5-3-2 armado por Franz Beckenbauer com dinamismo e versatilidade. Quatro gols, liderança e protagonismo que lhe valeram a Bola de Ouro da “France Football” e, na carona, o primeiro prêmio de melhor da FIFA em 1991. Recordista de partidas em Copas, com 25 em cinco edições. Craque.

8º – Zinedine Zidane (França – 2006)

O primeiro não campeão da lista. Vencedor em 1998, com dois gols na final contra o Brasil, mas nem sombra do que fez o craque já veterano a partir das oitavas da Copa na Alemanha, oito anos depois: gols contra Espanha, Portugal e na final contra a Itália. Atuação majestosa, flutuando em campo nas quartas contra a então campeã, além da assistência para o gol da vitória, de Henry. Na prorrogação da decisão, uma cabeçada parou nas mãos de Buffon, outra no peito de Materazzi. Encerrando uma carreira brilhante que merecia uma última taça. Pena.

7º – Romário (Brasil – 1994)

Foram cinco gols, um pênalti sofrido contra a Rússia, um chute que Bebeto aproveitou no rebote contra Camarões, a assistência para Bebeto derrubar os Estados Unidos em casa num quatro de julho. Mais o “fingir de morto” no gol de Bebeto e o contorcionismo para deixar a bomba de Branco passar pelo seu corpo contra a Holanda nas quartas. Na final contra a Itália, o peso dos 24 anos sem título e a atuação quase perfeita de Baresi na marcação. Perdeu gol feito na prorrogação, mas assumiu a responsabilidade e converteu o pênalti na decisão. Definitivamente, foi a Copa do Baixinho.

6º – Johan Cruyff (Holanda – 1974)

O arquiteto do futebol moderno é o segundo e último sem taça da lista. Azar da Copa, embora tenha ficado bem entregue para os anfitriões Beckenbauer, Muller, Maier e Breitner. A arrancada no primeiro minuto da final desde a defesa – era o holandês mais recuado quando recebeu a bola – é a síntese do grande líder do “Carrossel” que influencia o jogo até hoje. A Holanda jogava no 4-3-Cruyff-2. Liderança, leitura de espaços, capacidade de ditar o ritmo e o tempo do jogo. Tudo isso sendo marrento, usando uniforme diferente e sendo um fumante compulsivo. Surreal.

5º – Pelé (Brasil – 1958)

Dezessete anos. Seis gols decisivos nas três partidas eliminatórias. Dois antológicos, contra País de Gales nas quartas e Suécia na final. Imagine o que isso renderia de visibilidade e milhões de euros para esses feitos hoje. A camisa verde e amarela, e a dez em particular, ganhou outro significado graças a um menino, que nem foi o melhor da seleção e da Copa. Mas brilhou intensamente na equipe de Feola que ganhou encaixe desde os primeiros segundos da estreia de Pelé, e também de Garrincha, contra a União Soviética. Começava a trajetória épica do maior de todos.

4º – Didi (Brasil – 1958)

Apenas o cidadão que tirou de Pelé, Garrincha e do francês Just Fontaine – até hoje o maior artilheiro de uma edição de Copa, com 13 gols – o prêmio de melhor jogador do Mundial na Suécia. O líder que calmamente pegou a bola no fundo das redes em uma final contra os anfitriões depois de sofrer o primeiro gol, acalmou os companheiros enquanto caminhava até o centro do campo e, logo após a saída, acertou um lançamento de quarenta metros para Garrincha acertar a trave. Meio-campista completo, de passes curtos e longos, dribles e elegância única. Um monstro de jogador!

3º – Pelé (Brasil – 1970)

Quatro gols e sete assistências. Mais três quase-gols históricos: a cabeçada para a defesa lendária de Banks, o chute do meio do campo por cobertura na estreia contra a Tchecoslováquia e a finta em Mazurkiewski sem tocar na bola e o chute para fora na semifinal diante dos uruguaios. A última Copa de Pelé foi a do atleta do século XX no esplendor da leitura de jogo e da liderança técnica. A grande referência da maior seleção de todos os tempos. Servindo Jairzinho contra a Inglaterra e Carlos Alberto no gol que consolidou o tri. Os mais simbólicos da campanha. A0s 29 anos, a consagração no México.

2º Mané Garrincha (Brasil – 1962)

Um gênio improvável decidindo o bi brasileiro no Chile que pareceu impossível com a lesão de Pelé vivendo o auge da carreira na segunda partida da Copa. Nas fases finais, um Mané impossível contra Inglaterra e na semifinal diante do anfitrião. Percebendo a necessidade da seleção envelhecida e ampliando o repertório além do famoso drible na direita em busca da linha de fundo. Marcou de cabeça e de pé esquerdo. Fez o inimaginável para alguém com problemas cognitivos e longe de levar uma vida de atleta, mesmo para os padrões dos anos 1960. Simplesmente genial.

1º Diego Maradona (Argentina – 1986)

Não foi só pelo gol mais belo, emblemático e tocante da história das Copas, representando cada cidadão argentino contra os ingleses pela derrota na Guerra das Ilhas Malvinas. Nem pela atuação magnífica na semifinal contra a Bélgica ou por causa da assistência para Burruchaga decidir a Copa contra os alemães no Estádio Azteca. Diego Armando Maradona foi o melhor da Copa de 1986 desde que tocou na bola pela primeira vez, na estreia contra os violentos sul-coreanos. Apanhou, compensou as limitações dos companheiros e desequilibrou. Ninguém jogou mais que ele em uma edição de Mundial. Ponto.

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Cinco momentos em que o acaso protegeu o Brasil-2002 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/13/cinco-momentos-em-que-o-acaso-protegeu-o-brasil-2002/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/13/cinco-momentos-em-que-o-acaso-protegeu-o-brasil-2002/#respond Mon, 13 Apr 2020 05:45:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8296

Foto: Divulgação / FIFA

Se em 1982 não era para ser, vinte anos depois tudo conspirou a favor da seleção brasileira. Mesmo com quatro treinadores no ciclo – Vanderlei Luxemburgo, Candinho, Emerson Leão e Luiz Felipe Scolari – e muita desorganização, sem grupo nem time definido até dois meses antes da viagem para a Ásia.

É óbvio que houve muitos méritos em campo e fora dele na conquista do título mundial, o quinto e último da seleção mais vencedora do planeta, mas o acaso protegeu a “Família Scolari” em momentos cruciais até a grande final, relembrada pela TV Globo no domingo. Por isso o blog lista cinco acontecimentos que ajudaram a construir a história do campeão mundial no Japão e na Coréia do Sul.

1 – O descarte de Romário

Felipão nunca explicou com clareza a razão de ter descartado Romário bem antes da lista final para o Mundial, apesar do clamor popular, especialmente no Rio de Janeiro, sede da CBF. A cada entrevista uma versão diferente, inclusive admitindo que quase cedeu ao último apelo emocionado do craque veterano. Mas sempre sinalizou que tinha a ver com gestão de vestiário, falta de confiança no jogador.

A decisão, porém, beneficiou mais o treinador no campo. Sem o heroi do tetra, Felipão pôde encaixar o trio de R’s – Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo Fenômeno –  que o encantou nos 4 a 2 sobre a Argentina num amistoso em Porto Alegre, ainda sob o comando de Luxemburgo em 1999. Com o Baixinho, o técnico poderia ser pressionado e antecipar em quatro anos um “quarteto mágico” só no papel que dificilmente funcionaria na prática. Até pela pouca mobilidade de Romário com 36 anos.  Com o título, Felipão saiu como heroi visionário que assumiu os riscos e tinha razão.

2 – A “descoberta” de Gilberto Silva e Kléberson

Felipão virou 2002 com um time na cabeça, usando a base da equipe que venceu a Venezuela por 3 a 0 em São Luís e esperando pela incógnita Ronaldo, em recuperação de seríssima lesão no joelho direito. Mas faltavam opções para fechar os 23 convocados. O caminho até então tinha sido tortuoso, com eliminação na Copa América para Honduras e sofrimento para se classificar para o Mundial, com vaga confirmada só em novembro.

Nos primeiros amistosos do ano, Felipão resolveu fazer experiências convocando jogadores que vinham se destacando no cenário nacional. Nas goleadas sobre Bolívia por 6 a 0 no Serra Dourada e 6 a 1 na Islância em Cuiabá, além do 1 a 0 sobre a Arábia Saudita, em Riad, acabou “descobrindo” Gilberto Silva e Kléberson. A dupla dos Atléticos – Mineiro e Paranaense, este campeão brasileiro – marcou cinco gols e foi convocada para a reserva de Emerson e Juninho Paulista. Terminaram a campanha como titulares e fundamentais. Mérito do treinador, mas também muita sorte em uma escolha forçada pelas circunstâncias.

3 – As eliminações das favoritas Argentina e França

O Brasil estreou no Mundial diante da Turquia com tantas incertezas que pensar em título era utópico. Principalmente porque havia duas seleções como favoritas destacadas: a Argentina intensa de Marcelo Bielsa, líder das Eliminatórias e inspiração para o 3-4-3 de Felipão, e a França campeã mundial de 1998, da Eurocopa em 2000 e da Copa das Confederações em 2001. Disparada a melhor seleção do planeta.

Mas a Albiceleste sucumbiu em um duro grupo com Inglaterra, Nigéria e Suécia e voltou para casa. Assim como a França de jogadores desgastados e Zinedine Zidane destruído pela temporada europeia com título da Liga dos Campeões e golaço na final. Eliminada sem ir às redes uma única vez contra Uruguai, Senegal e Dinamarca. Vexames que pavimentaram o caminho para a seleção brasileira.

4 – O gol anulado da Bélgica nas oitavas

O primeiro tempo da disputa das oitavas de final foi de tensão pura para a equipe de Felipão. Totalmente desorganizada, com um buraco entre os três zagueiros, os alas Cafu e Roberto Carlos, mais Gilberto Silva à frente da defesa, e os três talentos na frente que Juninho Paulista não conseguia cobrir.

A Bélgica jogava com personalidade e muitos espaços, por dentro e nas laterais. Aos 35 minutos, uma jogada trabalhada com toda liberdade desde a ligação direta do goleiro De Vliegers foi parar no setor direito e de lá o cruzamento na cabeça de Marc Wilmots. Disputa absolutamente normal com Roque Junior, bola na rede e gol anulado. Um absurdo que tranquilizou a seleção que, na volta do intervalo, mesmo sem jogar bem, achou dois gols no talento de Rivaldo e Ronaldo e também o time da reta final com Kléberson na vaga de Juninho.

5 – A ausência de Ballack na final

A decisão em Yokohama foi tensa e equilibrada. A rigor, definida pela noite feliz de Marcos, um dos herois da conquista com grandes defesas, e a falha grotesca de Oliver Kahn, eleito o melhor da Copa antes da final, no primeiro gol de Ronaldo. Artilheiro letal ao aproveitar os erros adversários e também os lampejos de Rivaldo, que não foi bem na primeira etapa.

Clássico mundial que poderia ser ainda mais duro se o craque da Alemanha entre os dez da linha estivesse em campo. Michael Ballack foi suspenso pelo segundo amarelo na semifinal contra a Coreia do Sul. O autor do gol que colocou a desacreditada equipe de Rudi Voller na final. Liderança técnica e anímica, uma ausência que isolou Miroslav Klose no ataque e tirou volume de jogo dos alemães. O golpe derradeiro da ventura que empurrou o Brasil para o título.

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Jorge Jesus é o tão esperado “Bernardinho” no futebol brasileiro http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/05/jorge-jesus-e-o-tao-esperado-bernardinho-no-futebol-brasileiro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/05/jorge-jesus-e-o-tao-esperado-bernardinho-no-futebol-brasileiro/#respond Wed, 05 Feb 2020 03:37:09 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7910

Foto: Ricardo Moreira / Photoarena / Agência O Globo

Julho de 2006. Depois da eliminação da seleção brasileira comandada por Carlos Alberto Parreira para a França de Zinedine Zidane que perderia a final da Copa do Mundo disputada na Alemanha para a Itália, o tema em debate no futebol brasileiro era o trabalho, ou a falta deste, que não sustentou o talento.

De fato, a preparação que começou em Weggis, na Suíça, foi atropelada por um grupo midiático, extenuado por temporadas duras na Europa, alguns acomodados por tantas conquistas e preocupados com recordes pessoais.
Em toda essa espécie de “inquisição” a cada Mundial que o Brasil perde, muitos exaltavam Luiz Felipe Scolari, campeão quatro anos antes e semifinalista com Portugal. Mas havia uma utopia no ar: e se Bernardinho assumisse a seleção de futebol?
O treinador do vôlei masculino vivia seu auge. Desde 2001 até então, vencera o Mundial em 2002, os Jogos Olímpicos de 2004, cinco das últimas seis ligas mundiais e em dezembro daquele ano seria bicampeão mundial no Japão atropelando os adversários com um estilo revolucionário que mudaria o esporte para sempre acelerando os ataques pelas mãos do levantador Ricardinho.
É óbvio que na nossa cultura resultadista e dentro de uma lógica simplista os resultados eram a grande credencial de Bernardinho para se tornar referência. E até o título olímpico no Rio de Janeiro em 2016 ele construiria uma trajetória lendária de um dos técnicos mais vencedores nos esportes coletivos em todos os tempos.
Nas principais competições foi sempre ouro ou prata. Na grande maioria terminou no pódio. Na reta final e atualmente, dirigindo o SESC-RJ, um pouco mais sereno. Por isso as aspas no “Bernardinho” do título do post.
A característica mais marcante, porém, era a exigência máxima e constante. Sem se acomodar com conquistas, obcecado por trabalho, inovação nos treinamentos, estudo dos adversários. Fazendo os comandados treinarem quando os períodos de escala nos aeroportos eram mais longos, logo depois de vitórias em que o desempenho não era satisfatório e nas manhãs que antecediam partidas decisivas. Em um esporte que, na grande maioria das vezes, a final é disputada um dia depois das semifinais. Tudo regado com muitas broncas à beira da quadra.
Não eram poucos os relatos de jogadores que, quando se sentiam em dificuldades na quadra, lembravam do tanto que trabalharam e se sacrificaram para estar ali e davam aqueles 10% a mais que faziam diferença e garantiam as conquistas. Eles podiam lamentar na hora do treino, mas sorriam com os trofeus e medalhas de gerações vitoriosas do vôlei.
Para muita gente era o que faltava no futebol: um “maluco” para botar as estrelas para correr, cobrar o máximo de suor e extrair o melhor de tanto talento. Bom lembrar que o Brasil de 1994 a 2005 teve sete de onze melhores do mundo. E ainda teria Kaká em 2007. Mas a preguiça foi um pecado letal na Alemanha há quase 14 anos. Por isso a aventura com Dunga estreando como treinador para exigir comprometimento.
Chegamos a 2020. Não temos mais o protagonismo, nem individualmente na Era Messi x Cristiano Ronaldo, nem no jogo coletivo. A reflexão depois dos 7 a 1 em 2014 teve um espasmo com Tite de 2016 até a Copa do Mundo de 2018. O insucesso e os privilégios concedidos a Neymar na Rússia minaram o trabalho, assim como o desempenho abaixo depois da Copa, mesmo com a conquista sul-americana em casa no ano passado.
Época em que Jorge Jesus chegou ao Flamengo. Uma incógnita que virou certeza em seis meses com as conquistas do Brasileiro com recorde de pontos e da Libertadores, feito inédito no país. Quebrando paradigmas, como a da necessidade de priorizar uma competição e rodar muito o elenco para evitar desgaste. Jesus escalou o melhor possível quase sempre e o time voou fisicamente durante a maior parte do tempo.
Começa 2020 colocando o elenco principal, estelar e reforçado, para entrar em campo uma semana depois da apresentação para a pré-temporada. O português antecipou o retorno das próprias férias em uma semana e, pensando na disputa da Supercopa do Brasil no dia 16 de fevereiro, resolveu utilizar os jogos pelo Carioca, inicialmente desprezado, como uma preparação.
Solução que carrega até alguma lógica, considerando que seria praticamente impossível encontrar um “sparring” para jogos-treinos, como foi o Madureira na intertemporada em junho. Mas também certo risco, por expor os atletas a jogos oficiais, com o adversário competindo forte e sem a possibilidade de fazer substituições livremente ao longo da partida.
Jorge Jesus matou no peito e ainda colocou o time para treinar intensamente por uma hora e meia na manhã da partida na segunda-feira. Corriqueiro na Europa de temperaturas amenas, não no calor escaldante do Rio de Janeiro. O Resende abriu o placar no segundo tempo e muitos pensaram que o time se entregaria ao cansaço e à falta de sintonia naturais com tão pouco tempo de trabalho.
A equipe contou com o auxílio luxuoso dos estreantes Michael e Pedro, mais Gerson que iniciou no banco para que Diego Ribas tivesse oportunidade entre os titulares. Todos vindo da reserva para reoxigenar a equipe que voou na reta final e virou a partida para 3 a 1 no Maracanã. Com Jesus muitas vezes vociferando à beira do campo exigindo sempre mais.
Difícil prever se a estratégia vai durar, mas de Jorge Jesus é possível esperar qualquer coisa. Ainda que, por coerência, ele deva segurar um pouco o esforço depois das disputas da Supercopa do Brasil e da Recopa Sul-Americana para que o time não chegue em dezembro com oitenta partidas disputadas ou mais. Justamente a grande reclamação depois da derrota para o Liverpool no Mundial de Clubes.
Mas serviu para mostrar para torcida, imprensa e para os próprios jogadores rubro-negros que o nível de exigência seguirá muito alto. Quem diria que o tão esperado correspondente a Bernardinho no futebol brasileiro viria quase 14 anos depois. De Portugal que foi de Felipão em 2006. Não na seleção, mas em um clube do país.
Não por acaso vencedor e com fome para mais conquistas. Sem refresco.
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Copa América reforça: futebol moderno em alto nível é dos clubes europeus http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/24/copa-america-reforca-futebol-moderno-em-alto-nivel-e-dos-clubes-europeus/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/24/copa-america-reforca-futebol-moderno-em-alto-nivel-e-dos-clubes-europeus/#respond Mon, 24 Jun 2019 09:46:56 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6749

França campeã mundial, Portugal vencedor da Eurocopa e Chile bi da Copa América. Qual destas seleções demonstrou um futebol de fato consistente dentro de suas propostas, independentemente da questão estética?

Pois é. Tirando um ou outro espasmo, aqui como lá, o desempenho médio ficou muito aquém do futebol moderno realmente em alto nível. Hoje privilégio dos grandes clubes europeus, mais especificamente a Liga dos Campeões. Ainda que a última final da maior competição continental que contou com ótimo rendimento ao menos de uma das equipes tenha sido a de 2016/17, com o espetáculo do Real Madrid nos 4 a 1 sobre a Juventus em Cardiff.

Nas duas últimas, muita tensão pelo que havia em jogo e uma disputa mais mental que técnica ou tática. É de se pensar se o período sem jogos entre o fim das ligas e a grande decisão europeia paradoxalmente não vem atrapalhando corpos e mentes acostumados a constante atividade.

Pode ser também um dos fatores que prejudicam o futebol de seleções. Os jogadores vêm de seus clubes carregando todos os condicionamentos, jogadas executadas sem pensar, até por conta do tempo e do espaço reduzidos, e precisam rememorar os movimentos praticados com seus compatriotas. Isso quando há uma base montada.

É bem provável que a Copa América 2019 tenha hoje o seu primeiro jogo realmente de bom nível, entre Chile e Uruguai no Maracanã, fechando o Grupo C e a primeira fase do torneio. A Celeste com o trabalho de Óscar Tabárez desde 2006 e a busca de um maior repertório além das jogadas aéreas e do jogo direto para Cavani e Suárez; a Roja tentando o tricampeonato com o terceiro treinador diferente – Sampaoli, Pizzi e agora Reinaldo Rueda. Mantendo, porém, uma base experiente e qualificada, a melhor da história do país. Apesar da decepcionante campanha nas Eliminatórias que limou a participação na Copa do Mundo na Rússia.

Equipes que tentam aproximar suas propostas: o Uruguai busca ficar mais com a bola, o Chile procura solidez defensiva e competitividade, mas sem abrir mão das próprias virtudes. Futebol versátil, de acordo com a demanda. Porque é o que a “elite” faz, mas com a possibilidade do dia a dia. Treina, repete, corrige, repensa, aprimora. Há tempo. Também o alto faturamento, no caso dos clubes mais ricos, para contratar quem possa adicionar talento e casar melhor com as características dos companheiros. Sem a “barreira” da pátria.

Para tornar tudo mais complicado, os principais torneios entre seleções acontecem no final da temporada europeia. Cada vez mais desgastante para pernas e cérebros, só deixando os “bagaços” para as seleções. Outro obstáculo para desenvolver um jogo mais elaborado. No torneio sul-americano disputado no Brasil, os gramados ruins são mais uma dificuldade.

Eis o ponto. É mais simples montar as retrancas modernas, com linhas compactas, sincronia de movimentos para negar espaços principalmente no “funil” e muita intensidade, pressionando o adversário com a bola. As seleções com mais camisa, tradição e/ou talento precisam de entrosamento, sintonia para se instalar no campo de ataque e criar as brechas para furar esses blocos cada vez mais sólidos. Uma solução seria a marcação por pressão perto da área adversária, para roubar a bola e acelerar com campo livre. Mas cadê as pernas para isso entre junho e julho, quando a maioria deveria estar de férias?

Não por acaso, Espanha e Alemanha conseguiram se impor em 2010 e 2014 com um jogo mais eficiente e plástico que o da França no ano passado. Trazendo suas bases de Barcelona/Real Madrid e Bayern de Munique/Borussia Dortmund, o “jogar sem pensar” dentro de uma proposta mais posicional, de controle pela posse, ficou mais viável e até proporcionando algum espetáculo. Aos franceses, com jogadores espalhados pela Europa e pela pressão por conta do fracasso em casa na final da Euro 2016, restou o pragmatismo, apelando para bola parada, velocidade de Mbappé e os lampejos de Griezmann e Pogba.

Por isso e também pela questão financeira, Guardiola, Klopp, Simeone, Pochettino, Ancelotti, Sarri e outros treinadores das prateleiras mais altas não se aventuram no futebol de seleções. Em momento de baixa, José Mourinho até considerou a hipótese, mas ainda com mercado e Fernando Santos em alta com as conquistas recentes por Portugal é bem possível que volte ao cenário em um grande clube. Até porque o salário não é baixo.

A Copa América deve “pegar” agora na reta final e a tendência é que termine deixando uma melhor impressão. Mas o futebol de seleções, que no início dos anos 1980 fez este blogueiro se apaixonar pelo esporte antes mesmo de escolher o time de coração, hoje vive um dilema. O jogo moderno exige uma fluidez que só é possível com treinos e jogos seguidos. Trabalho diário e no auge físico e técnico. Tudo que falta a treinadores e jogadores que representam seu países.

O nível mais baixo de desempenho não é “falta de amor” ou ser “mercenário”. Os mais abastados, na prática, nem precisam de suas seleções. Antes, sim, a presença na lista de convocados proporcionava contratos mais vantajosos. Hoje pode ser até um grande problema na avaliação individual de uma temporada – Messi é o maior exemplo. A realidade é dura e só tende a ficar mais complexa com o futebol mais intenso e o calendário inchado.

A Liga dos Campeões já é do tamanho da Copa do Mundo e tende a ser maior e melhor a cada ano.

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Griezmann joga na “função Messi”. O que fará em Barcelona? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/18/griezmann-joga-na-funcao-messi-o-que-fara-em-barcelona/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/18/griezmann-joga-na-funcao-messi-o-que-fara-em-barcelona/#respond Sat, 18 May 2019 10:44:54 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6547

Foto: FIFA.com

O PSG e o Manchester City, na voz do próprio Pep Guardiola, já se posicionaram sobre Antoine Griezmann: não têm interesse no alto investimento para contratar o craque que se despediu do Atlético de Madrid. E o próprio Diego Simeone, ex-treinador do francês, já sinalizou o provável destino: Barcelona.

Mesmo com as informações controversas vindas da Catalunha sobre a provável recepção do atacante no vestiário blaugrana, o anúncio oficial parece questão de tempo. Talvez depois do encerramento da liga espanhola. Mas já vislumbrando a armação do ataque do bicampeão espanhol e finalista da Copa do Rei com a nova peça é difícil imaginar um encaixe perfeito.

Porque Griezmann rende mais justamente na função que não deixa brecha para outro jogador: o atacante que joga com liberdade de movimentação atrás do centroavante, buscando os espaços às costas do meio-campo adversário para partir para cima da última linha defensiva com a bola dominada. Sim, na “função Messi”.

Griezmann na “função Messi”: recebe às costas do meio-campo adversário e parte para cima da defesa adversária com a bola no pé canhoto e um centroavante (Diego Costa) se movimentando no ataque (reprodução Fox Sports).

É assim que atua também na França campeã mundial, atrás de Giroud e acionando a velocidade de Mbappé. Ele precisa de uma referência na frente justamente para puxar a zaga para trás e criar os espaços por onde circula. De preferência partindo da meia direita para dentro conduzindo a bola com o pé esquerdo. Outra semelhança com o gênio argentino, além de ser o homem das bolas paradas.

Griezmann é ponta de origem e pode render aberto pela esquerda, buscando a linha de fundo com rapidez e habilidade. A dúvida é se teria a intensidade para “sprints” seguidos e fazer a recomposição no auxílio a Jordi Alba. Para uma negociação que deve ultrapassar os 100 milhões de euros, o ideal seria que o jogador fosse contratado para atuar onde entrega o melhor desempenho.

Não parece o caso. Seria mais um que se destaca em outro contexto, vai para o Barça ser coadjuvante de Messi e acaba eclipsado. Como Philippe Coutinho e Dembelé. A busca pelo “novo Neymar”, em talento e características, pode ser mais um tiro na água.

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França evolui e pode repetir ciclo histórico da geração de Zidane http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/03/26/franca-evolui-e-pode-repetir-ciclo-historico-da-geracao-de-zidane/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/03/26/franca-evolui-e-pode-repetir-ciclo-historico-da-geracao-de-zidane/#respond Tue, 26 Mar 2019 03:46:52 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6228

Foto: Michel Euler/AP

As goleadas por 4 a 1 sobre a Moldávia fora de casa e 4 a 0 contra a Islândia em Paris nas eliminatórias da Eurocopa são menos relevantes para a França campeã do mundo do que a nítida evolução no desempenho da equipe de Didier Deschamps.

Entrosamento por conta da manutenção da base vencedora na Copa do Mundo e confiança pela conquista que tirou o peso do fracasso da Euro 2016 disputada em casa. O time agora está nitidamente mais solto. Na Rússia, a variação do 4-2-3-1 para o 4-3-1-2, com Matuidi ora ponta, ora volante pela esquerda alinhado a Pogba e à frente de Kanté, era mais engessada, sem tanta mobilidade.

Mbappé ficava mais à direita e o corredor do lado oposto era aproveitado pelo lateral Lucas Hernández e eventualmente por Griezmann. Rigidez no posicionamento ao atacar para garantir a organização defensiva quando perdesse a bola. Agora há mais mobilidade. No primeiro gol sobre a Moldávia, Mbappé estava mais centralizado quando Griezmann tabelou com Pogba, infiltrou pela direita e marcou lindo gol.

Giroud é outro sem a pressão do Mundial. Mantém a importância no jogo aéreo ofensivo e defensivo, em alguns momentos recua para que Mbappé fique solto na frente para acelerar os contragolpes. Continua empurrando com sua presença física a última linha da defesa adversária para trás dando espaços para Mbappé, Griezmann, Pogba e Matuidi trabalharem. Mas voltou a fazer gols. Deixou dois nestas datas-FIFA. Agora tem 35 e só fica atrás de Thierry Henry (51) e Michel Platini (41) na artilharia dos Bleus.

A equipe de Deschamps continua forte no jogo aéreo que conta com participação decisiva da dupla Varane-Umtiti. Um gol de zagueiro em cada partida. Porém não dependem mais tanto da bola parada e dos cruzamentos para descomplicar as partidas. Também porque está menos tensa.

Situação parecida com a que viveu a geração de Zinedine Zidane. Pressão pelo título em casa na Copa de 1998, ainda mais por ter ficado de fora dos Mundiais de 1990 e 1994. Campanha um tanto sofrida até a epopéia dos 3 a 0 sobre o Brasil na final.

Mais solta e entrosada, venceu a Eurocopa 2000 e seguiu poderosa, ganhando inclusive a Copa das Confederações em 2001, até chegar ao Mundial na Ásia e decepcionar com a eliminação na primeira fase em grupo com Uruguai, Dinamarca e Senegal. Zidane chegou desgastado e lesionado, entrou em campo no sacrifício e pouco pôde fazer na despedida contra a Dinamarca. Virou o fio na hora errada.

Deschamps encerrou a carreira de jogador em 2001. Se despediu da seleção um ano antes, com a conquista da Euro. Não viveu a queda depois da ascensão. Agora no comando fora de campo espera fazer diferente e manter o domínio no futebol de seleções. A França hoje é a favorita para a conquista da Eurocopa 2020 e tem futebol para repetir o ciclo histórico da geração mais vencedora do país.

 

 

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Explicando o óbvio: elogiar Sampaoli não é apostar em títulos do Santos http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/01/28/explicando-o-obvio-elogiar-sampaoli-nao-e-apostar-em-titulos-do-santos/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/01/28/explicando-o-obvio-elogiar-sampaoli-nao-e-apostar-em-titulos-do-santos/#respond Mon, 28 Jan 2019 09:36:04 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5815

Compactação, amplitude, intensidade, igualdade ou superioridade numérica em todos os setores e fases do jogo, pressão pós-perda. Tudo que há de atual no futebol jogado no mais alto nível foi visto no Pacaembu, com o Santos como protagonista na vitória por 2 a 0 sobre o São Paulo.

É simples explicar uma demonstração de força tão precoce na temporada: Jorge Sampaoli é um treinador de segunda prateleira no futebol mundial em termos de conceitos. Alcançou este status comandando o Chile campeão da Copa América e quase eliminando o Brasil em casa nas oitavas da Copa de 2014. Só fica abaixo de gigantes como Pep Guardiola e Jurgen Klopp.

Por que está no Brasil e não duelando com os melhores nos grandes centros? A causa reside em uma escolha infeliz: trocar o Sevilla pela AFA. Comandar uma seleção argentina bagunçada e rachada, que trocou o coletivo pela simplificação de processos para beneficiar os talentos, especialmente de Messi. Uma clara incompatibilidade de propostas que não podia dar certo e o fracasso bateu à porta nas oitavas de final da Copa na Rússia contra a França de Mbappé.

O treinador encara o Santos como um recomeço na carreira. O estilo personalíssimo e obsessivo de comandar suas equipes, claramente inspirado em Marcelo Bielsa, costuma se dar melhor em equipes sem estrelas. Embora tenha reclamado das limitações financeiras do novo clube para contratar, Sampaoli trabalhou para entregar uma resposta rápida com o que tinha.

Na estreia faltou profundidade, já que a equipe vinha treinando com Derlis González e Bruno Henrique e se viu sem a dupla contra a Ferroviária. Mas como o paraguaio permaneceu, seu retorno e a estreia do venezuelano Soteldo diante do São Bento deram liga ao time. A ponto da dupla de estrangeiros ser escalada no ataque contra o São Paulo. Jogando no limite da última linha da defesa rival e sendo municiada por dentro pelos meias Sánchez, Diego Pituca e Jean Mota e nas laterais por Victor Ferraz e Orinho.

Quem observar apenas os gols do “San-São” pode imaginar que o alvinegro praiano está jogando mais do mesmo no Brasil: um gol de bola parada com Luiz Felipe e outro de contragolpe com González. Mas se assistir aos 90 minutos verá que o domínio foi absoluto.

Inclusive com adaptação à mudança no São Paulo, que passou a atuar com Diego Souza e Pablo no segundo tempo. A entrada de Felipe Aguilar repaginou o Santos com três zagueiros em uma típica solução “bielsista”: sempre ter um defensor a mais que o número de atacantes típicos do adversário. Deve ser uma alteração recorrente na temporada.

Eis a questão: como será o ano do Santos de Sampaoli? Muito trabalho de campo, mas orçamento limitado que pode complicar o técnico quando vierem as lesões e suspensões. Como o argentino de personalidade forte vai lidar com os momentos de oscilação? No Brasil, a euforia rapidamente se transforma em depressão e cobranças desmedidas quando os resultados não aparecem. Ainda mais de um time com início tão promissor.

Sem contar que o mata-mata costuma apresentar disputas baseadas mais na força mental e na qualidade individual do que no trabalho coletivo, normalmente comprometido pela tensão de jogos valendo tudo ou nada. E se o titulo paulista não vier?

O brasileiro em geral – torcida, dirigente, jornalista e até o jogador – pode apreciar novidades e um estilo ofensivo. Mas quando vale taça costuma ser conservador. Fazer o simples, fechar a casinha, goleiro é para jogar com as mãos e bola no talento para resolver. Quando o inovador é derrotado o peso da crítica normalmente é maior. Foi assim com Juan Carlos Osorio, é assim com Fernando Diniz, Roger Machado e outros. Tite caiu no gosto popular porque trabalha conceitos atuais, mas com cuidado e buscando equilíbrio. Nada muito arrojado. Sem “conceitinhos” e “pardalices”.

Sampaoli vai sobreviver? Seu futuro está condicionado às vitórias, como o de todos os treinadores. Há muitas variáveis nessa equação, inclusive o temperamento do treinador e a gestão de grupo quando os conceitos estiverem assimilados pelos atletas. Seria ótimo para o futebol brasileiro o domínio de um estrangeiro que arrastasse o nosso jogo para o século 21, atacando e defendendo. Mas o sistema quase sempre expurga a contracultura. Se vencer, o argentino será exceção.

Por tudo isso é necessário explicar o óbvio: os elogios de hoje não significam aposta em títulos do Santos em 2019. Está bonito de ver. Será lindo de torcer para os santistas?

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Copa e maturidade fazem PSG de Tuchel inverter status entre Neymar e Mbappé http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/01/22/copa-e-maturidade-fazem-psg-de-tuchel-inverter-status-entre-neymar-e-mbappe/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/01/22/copa-e-maturidade-fazem-psg-de-tuchel-inverter-status-entre-neymar-e-mbappe/#respond Tue, 22 Jan 2019 11:59:07 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5793

Quando Mbappé foi anunciado no PSG, este blog projetou o time francês ainda jogando em função de Neymar, mais experiente e afirmado no cenário mundial. Ao jovem que explodiu no Monaco restaria um posicionamento de relevância no ataque da equipe, porém com maior sacrifício tático.

Sem comparações, mas a expectativa era que simbolicamente Neymar seria Messi. Ou seja, o ponta articulador partindo do flanco para criar e finalizar, com total liberdade. Já a joia francesa seria o Neymar do Barcelona: coadjuvante de luxo, o ponteiro do lado oposto que acelera e busca as infiltrações em diagonal. Mas também com a responsabilidade de voltar e formar com o tripé de meio-campo uma segunda linha de quatro para bloquear as ações ofensivas dos adversários.

Justamente a opção do treinador Unai Emery na maior parte da temporada. Neymar solto com Cavani à frente, Mbappé se juntando à dupla, mas com maior entrega no trabalho coletivo. A contratação mais cara da história como a estrela, o garoto prodígio servindo de fiel escudeiro.

O reflexo nos números é inegável: Neymar marcou 19 gols e serviu 13 assistências em 20 aparições na liga francesa. Na Liga dos Campeões foram sete jogos, seis gols e três assistências. Desempenho excepcional prejudicado pela lesão no pé que fez o brasileiro retornar praticamente na Copa do Mundo.

Mbappé disputou 27 partidas (três saindo do banco de reservas), marcou 13 e entregou oito passes para gols na Ligue 1 e nos oito jogos que o Paris Saint-Geirman disputou na Champions anotou quatro gols e três assistências. Estatísticas respeitáveis para um atacante de 19 anos, mas bem inferiores ao seu companheiro e “tutor” no vestiário de estrelas do campeão francês e também das Copas da França e da Liga Francesa.

Mas veio a Copa do Mundo…França campeã e Mbappé como destaque e tendo a melhor atuação justamente na vitória mais simbólica dos Bleus na Rússia – 4 a 3 na Argentina pelas oitavas de final, com dois gols e desempenho fantástico, “varrendo” a defesa albiceleste com velocidade e técnica. Anotou quatro gols, inclusive na final contra a Croácia, e, para este que escreve, foi o melhor do Mundial.

Já Neymar, em que pese o tempo de inatividade, não teve o mesmo brilho nem conseguiu evitar a eliminação da seleção brasileira para a Bélgica nas quartas. Dois gols e uma assistência em cinco partidas. Ainda desgastou terrivelmente sua imagem por simulações de faltas e contusões e rodou o mundo piadas com o hábito de rolar no gramado e fazer caras e bocas quando sofre as infrações (ou não).

Na volta ao clube, um novo comandante: Thomas Tuchel. Com 45 anos e fama de “inventivo”, chegou valorizando todas as estrelas do elenco, elogiando muito Neymar. Com paciência, mas firmeza, mobiliza o grupo de jogadores, diminui as rusgas do brasileiro com Cavani e muda a mentalidade da equipe para a disputa da Champions, prioridade máxima na temporada.

O espírito ficou claro na vitória sobre o Liverpool na penúltima rodada da fase de grupos que praticamente garantiu a vaga no mata-mata em um grupo complicado que acabou jogando o bom Napoli de Carlo Ancelotti para a Liga Europa. Muita fibra, vibração e entrega para conquistar o único resultado que não complicaria a classificação. Nem a surpreendente eliminação na Copa da Liga para o Guingamp com derrota de virada por 2 a 1 muda essa impressão, até porque a “vingança” veio na Ligue 1 com uma goleada implacável: 9 a 0 e o time jogando sério o tempo todo, como um rolo compressor.

Nos dois triunfos simbólicos e em outras partidas da temporada fica bem clara uma mudança de status que se reflete no campo: agora é Mbappé quem joga livre na frente com Cavani e Neymar se sacrifica um pouco mais pelo time. Sem a bola, o camisa dez retorna e compõe uma segunda linha de quatro com Di María do lado oposto e Marquinhos ou Daniel Alves e Verratti no centro. No início da jornada 2018/19 chegou a atuar por dentro, como um “enganche”. Mas sempre municiando Mbappé.

Os números novamente apresentam as consequências do posicionamento em campo. Neymar segue com ótimo desempenho: 13 gols e seis assistências na liga. Na Champions foi às redes cinco vezes e serviu dois passes decisivos em seis partidas. Mas a joia francesa deu um salto, especialmente no campeonato por pontos corridos. São 17 gols e cinco assistências. No torneio continental, curiosamente, serviu mais que foi às redes: quatro assistências, três bolas nas redes adversárias.

É claro que a confiança com o título mundial e a melhor ambientação com os companheiros contribuíram significativamente para o progresso de Mbappé. Mas o posicionamento mais adiantado, com liberdade para procurar os lados e infiltrar em diagonal ou muitas vezes até ser a referência do ataque, com Cavani recuando para colaborar defensivamente quando o time recua as linhas para jogar em rápidas transições ofensivas, também colaborou para a evolução.

Até por temperamento, Neymar segue dando as cartas no vestiário e ajuda o companheiro a se soltar ainda mais. Mas o status mudou claramente: Mbappé é a estrela ascendente, com segurança e, principalmente, maturidade para desequilibrar e decidir nos momentos-chave. O brasileiro segue fundamental, mas terá que recuperar terreno em jogos grandes para voltar a ser o protagonista. Justamente o que o motivou a trocar Barcelona por Paris.

Se o sonho é ganhar a Bola de Ouro, Neymar ganhou um “inimigo íntimo”. O desafio é fazer com que essa disputa seja leal, sem prejudicar o rendimento coletivo. Até aqui vem funcionando, com os dois trocando muitos passes e comemorando juntos os gols. E Cavani sem reclamar do papel menor.

Todos parecem saber o lugar em campo e o valor do que entregam. Entenderam a nova “hierarquia”. Méritos também de Tuchel.

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Lesões de Mbappé e Neymar podem abalar PSG, mas também futebol de seleções http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/11/20/lesoes-de-mbappe-e-neymar-podem-abalar-psg-mas-tambem-futebol-de-selecoes/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/11/20/lesoes-de-mbappe-e-neymar-podem-abalar-psg-mas-tambem-futebol-de-selecoes/#respond Tue, 20 Nov 2018 21:48:12 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5538 Neymar Jr. e Kylian Mbappé. As duas contratações mais caras da história do futebol. 400 milhões de euros despejados no mercado pelo Paris Saint-Germain. Para dar o salto na Europa e buscar o título da Liga dos Campeões.

Primeira temporada com os dois, liderança do grupo com Bayern de Munique, mas duelo contra o Real Madrid logo nas oitavas de final. 3 a 1 em Madri, lesão grave de Neymar e eliminação na volta para o time de Zidane que ganharia o tricampeonato europeu. Títulos na França, mas demissão de Unai Emery.

Plano refeito, vem Thomas Tuchel. Mas de novo o sorteio não ajuda, desde a fase de grupos. Com Napoli, Liverpool e ainda o Estrela Vermelha no Grupo C. Disputa parelha, como esperado. Na penúltima rodada, confronto entre PSG e os Reds no Parc des Princes. Com a equipe francesa em terceiro lugar, um ponto atrás de Napoli e Liverpool, um à frente da Estrela Vermelha. Necessidade absoluta de vitória.

Oito dias antes, amistosos na data FIFA. França, eliminada da Liga das Nações, contra Uruguai. Brasil, com Tite fazendo seis mudanças em relação à partida anterior, diante de Camarões. Partidas com alguma relevância para as seleções dentro do ciclo até 2022. Já para os clubes…

Duas lesões, do brasileiro no adutor, do francês no ombro. De difícil recuperação em prazo tão curto, ao menos em tese. Prováveis ausências das estrelas milionárias. Simplesmente no jogo que pode ser chave em 2018/19. Em caso de eliminação prematura na Champions a temporada perde o sentido na metade. Um prejuízo incalculável, não só financeiro.

Se o pior acontecer, o PSG terá todos os motivos para questionar o futebol de seleções. E certamente ganhará eco de outros clubes bilionários, que há tempos reclamam de expor seus atletas, cada vez mais valiosos, em partidas que fazem pouca diferença no calendário.

Será difícil defender as seleções. Caberá à Conmebol seguir o caminho da UEFA e criar uma competição como a Liga das Nações para dar algum sentido às datas FIFA e usar como “álibi” para não contar com seus jogadores apenas na Copa do Mundo, Eurocopa e Copa América.

Ou torcer para o PSG, mesmo sem Mbappé e Neymar, surpreender o mundo e superar o atual vice-campeão europeu.

 

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É bom ver a Holanda renascer, mesmo com mais sorte que juízo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/11/19/e-bom-ver-a-holanda-renascer-mesmo-com-mais-sorte-que-juizo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/11/19/e-bom-ver-a-holanda-renascer-mesmo-com-mais-sorte-que-juizo/#respond Mon, 19 Nov 2018 22:40:01 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5536 A relevância da Holanda na história do futebol está mais na influência de sua escola na evolução do jogo nos últimos 50 anos do que nas três finais de Copa do Mundo. Tudo que vemos hoje no mais alto nível tem as digitais de Rinus Michels e Johan Cruyff. Não só no Barcelona ou em Guardiola. Até na antítese, como resposta.

Por isso é tão bom ver a seleção agora comandada por Ronald Koeman – campeão europeu de 1988 com Michels e líbero do “Dream Team” de Cruyff no Barcelona do início dos anos 1990 – renascer depois de ficar de fora do Mundial na Rússia.

Nada muito substancial, já que a Liga das Nações, mesmo sendo um avanço em relação aos insossos amistosos de datas FIFA, não é parâmetro para confirmar uma recuperação sólida. Mas, ora bolas, se classificou num grupo com as duas últimas campeãs mundiais. A França levando a sério e usando a base que comemorou na Rússia há menos de seis meses.

A Alemanha manteve o viés de queda e foi rebaixada. Deixa a impressão de que a manutenção de Joachim Low depois da vexatória eliminação na fase de grupos da Copa é um erro de difícil reparo. Que fica mais complicado conforme o tempo passa.

Mas foi bem em Gelsenkirchen. Leve pela falta de objetivos na partida e confortável atuando nos contragolpes. Linhas recuadas, saída em velocidade procurando Sané pela esquerda e Timo Werner circulando por todo o ataque. Assim fez 2 a 0 no primeiro tempo.

A Holanda renovada sentiu o peso da responsabilidade e esbarrou em um problema de sua escola que parecia encontrar soluções, especialmente nos 3 a 0 sobre a França: a proposta imutável de ficar com a bola e adiantar as linhas, mesmo que não haja qualidade para propor o jogo.

Trocava passes, batia no muro, perdia a bola e sofria nas transições defensivas. Mesmo com o mais que promissor zagueiro Matthijs De Ligt. Na frente, Memphis Depay tentava abrir espaços para as diagonais de Promes e Babel e as infiltrações de Wijnaldum, apoiadas por De Jong e pelos laterais Tete e Daley Blind.

Tinha posse (terminou com 54%), mas não volume. O empate que garantiu a classificação veio no abafa desorganizado nos minutos finais. Aproveitando o cansaço e uma queda natural de concentração da Alemanha, guiada apenas pelo profissionalismo dos jogadores e rivalidade histórica no confronto.

Duas bolas na área, gols de Promes e do zagueiro Van Dijk jogando no “modo Piqué”, como centroavante para aproveitar a estatura. Na oitava finalização holandesa contra 13 dos alemães. Mais sorte que juízo da equipe de Koeman, que se junta a Suíça, Portugal e Inglaterra no “Final Four” do torneio.

A possível conquista pode ser o gás que falta para a Holanda entrar em uma nova era. Ou voltar ao protagonismo de velhos e bons tempos.

(Estatísticas: Whoscored.com)

 

 

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