griezmann – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Início de temporada do Barcelona já preocupa e risco na Champions é real http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/04/inicio-de-temporada-do-barcelona-ja-preocupa-e-risco-na-champions-e-real/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/09/04/inicio-de-temporada-do-barcelona-ja-preocupa-e-risco-na-champions-e-real/#respond Wed, 04 Sep 2019 09:46:38 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7178

Uma vitória, um empate e uma derrota em três rodadas da liga espanhola. Os resultados iniciais do Barcelona em jogos oficiais não são bons para o altíssimo nível do clube, ainda mais na competição por pontos corridos que dominou nos últimos anos. Mas considerando as ausências por lesão de Messi e Suárez, mesmo já deixando o Atlético de Madrid abrir cinco pontos, não é algo inalcançável, longe disso. E a prioridade do clube catalão deve ser mesmo a Liga dos Campeões.

O problema é que Ernesto Valverde precisava de seus protagonistas no ataque para trabalhar o encaixe de Antoine Griezmann no trio e o ajuste da equipe que também precisa adaptar o jovem holandês Frenkie De Jong ao meio-campo que tem alternado Busquets, Rakitic e Arthur como companheiros de setor. A necessidade de um acerto rápido na temporada tem uma razão.

O Barça caiu no complicado Grupo F da Champions, com Borussia Dortmund e Internazionale, mais o Slavia Praga que deve ser o “sparring” e possível fiel da balança em termos de saldo de gols. A estreia já acontece no dia 17 contra os alemães no Signal Iduna Park.

O Dortmund tropeçou feio na terceira rodada da Bundesliga contra o debutante Union Berlin. Derrota por 3 a 1 que fez o Leipzig assumir a liderança como único 100% em três rodadas e o Bayern de Munique, que empatou na estreia em casa com o Hertha Berlin por 2 a 2, abrir um ponto de vantagem.

Mas continua sendo uma equipe competitiva, comandada por Lucien Favre e que conta com a experiência de Matts Hummels na zaga e Marco Reus na linha de meias de um 4-2-3-1 com Jason Sancho voando pela direita, já com três assistências na temporada, e servindo Paco Alcácer, que foi às redes quatro vezes.

Na segunda rodada, em dois de outubro, o Barcelona recebe no Camp Nou a Internazionale. A equipe agora comandada por Antonio Conte, treinador intenso e que costuma fazer suas equipes se tornarem competitivas rapidamente.

Já alcançou duas vitórias na Série A italiana trabalhando em um 3-5-2 com Candreva e Asamoah colocando muita intensidade pelas alas e a sacada de colocar um lateral no trio de zagueiros pela direita para dar mais rapidez e agilidade à retaguarda – no Chelsea era Azpilicueta, nos neroazzurri o escolhido é Danilo D’Ambrosio. Mas a força mesmo está na dupla de ataque formada por Lukaku e Lautaro Martínez, que já vem demonstrando bom entendimento e marcaram os gols da vitória sobre o Cagliari por 2 a 1.

Não são times da prateleira do Barcelona no cenário europeu e mundial, mas podem dar trabalho. Ainda mais para uma equipe que até aqui é uma grande incógnita. É possível dar engate imediato com o retorno de Messi, afastado por contusão na panturrilha que parecia corriqueira, porém tirou o craque da pré-temporada e das primeiras partidas.

Mas qualquer oscilação nas duas primeiras rodadas devem tornar os jogos de volta muito tensos. Uma terceira colocação e vaga na Liga Europa sempre parecem improváveis para os gigantes do continente, mas a dura realidade é que o sorteio desta vez não foi generoso e o contexto não é dos mais animadores.

A boa notícia até aqui é o início com muita personalidade do jovem guineense Ansu Fati, 16 anos e já marcando gol no time profissional do Barça. E pouco além disso. Ainda os problemas defensivos, a baixa intensidade de Busquets e a dependência da profundidade das descidas de Jordi Alba pela esquerda. Setor que deve ter Griezmann, protagonista com dois gols nos 5 a 2 sobre o Real Betis, mas atuando como “falso nove”.

Tudo parece em suspenso aguardando por Messi. Natural depender de um dos grandes da história e o argentino costuma dar boas respostas e desequilibrar, mas não deixa de ser preocupante. O risco na Champions é real e precisa ser levado a sério.

 

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A sombra da Champions no discurso de Messi em Barcelona http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/08/05/a-sombra-da-champions-no-discurso-de-messi-em-barcelona/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/08/05/a-sombra-da-champions-no-discurso-de-messi-em-barcelona/#respond Mon, 05 Aug 2019 09:49:12 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6998

Foto: Albert Gea/Reuters

Messi foi ao microfone no Camp Nou com quase 100 mil presentes antes da vitória por 2 a 1 sobre o Arsenal pelo Troféu Joan Gamper. Um discurso do grande ídolo para a torcida no estádio, em Barcelona e no mundo globalizado. Saudável, mas as palavras novamente refletiram o dilema que vive o clube desde 2015. Vale destacar os principais trechos:

“A verdade é que é difícil dizer algo hoje, depois da temporada passada. Mas eu não me arrependo de nada”. Realmente não é caso de arrependimento a dedicação à liga espanhola. O simbolismo de um time catalão dominar o campeonato é enorme. Questão de cultura, história.

Messi deixa isso claro em outro trecho de sua fala: “Creio que temos de dar valor à Liga que conquistamos, a oitava em 11 anos. Para qualquer clube, isto seria algo grandioso. Para esse clube também é muito importante. Talvez nós não estejamos dando a este feito o valor que merece, mas daqui a alguns anos entenderemos o quão difícil é fazer isso.”

Não há dúvida. Mesmo considerando que o grande rival Real Madrid historicamente prioriza a Liga dos Campeões, a superioridade do Barça é marcante. Como já dito neste blog, times dominantes com proposta de imposição de um estilo, dentro ou fora de casa, costumam se destacar nos campeonatos por pontos corridos. A regularidade de Messi em gols e assistências e a maneira com que intimida os adversários faz a equipe pontuar quase sempre e se manter no topo. Já há uma espécie de fórmula para levar a taça para a Catalunha.

A contradição, porém, acabou aparecendo nas palavras do gênio argentino: “A temporada passada, na verdade, terminou sendo um pouco amarga para todos nós pela forma como as coisas aconteceram”. Sim, a Champions e sua sombra. Depois de um 3 a 0 em casa, o duro revés para o Liverpool: 4 a 0 com uma falha juvenil no gol de Origi que decretou a eliminação. Golpe que acabou respingando na final da Copa do Rei, com a derrota para o Valencia.

A goleada sofrida em Anfield novamente deixou a impressão de um time com esgotamento físico e mental. Jordi Alba foi o símbolo, com uma atuação trágica que comprometeu o sistema defensivo e contribuiu pouco na frente. Porque se sacrificou durante toda a temporada sendo a única opção de profundidade pelos flancos. Jogando de uma linha de fundo à outra já aos 30 anos.

Antes da semifinal, o Barcelona deu um “sprint” para garantir logo o título espanhol. Válido, mas cobrou um preço alto. Quando os Reds comandados por Jurgen Klopp mostraram que deixariam tudo em campo e acreditavam na virada, o time de Ernesto Valverde baixou a guarda. Porque sabia que não teria forças para resistir.

A mesma sensação em Roma na temporada anterior. Os italianos impuseram um jogo físico e de intensidade máxima que desmontou o Barça e reverteu os 4 a 1 no Camp Nou com épicos 3 a 0. Porque na pretensão de ganhar o título espanhol invicto, Valverde administrou mal o elenco. Principalmente o “fominha” Messi. Quando a equipe mais precisou o maior jogador da história do clube novamente não teve pernas nem cabeça.

É preciso reaprender a jogar o principal torneio de clubes do planeta. O Barça se acostumou a enfrentar na Espanha oponentes que se entregam diante de sua força técnica e tática, mas também simbólica. Na Liga dos Campeões, Roma e Liverpool jogaram a vida em seus estádios. A lógica do agregado é diferente. Na competição nacional alguns times já fazem os cálculos sem contar com os pontos diante dos gigantes Barcelona e Real Madrid. A luta é menos intensa.

O mundo olha para o time catalão e para Messi e, pelo sarrafo alto criado por eles mesmos, não aceita só os títulos dentro da Espanha. Menos ainda com o tricampeonato continental dos merengues. Feito que rendeu prêmios individuais a Cristiano Ronaldo e Luka Modric. Mesmo com Messi bem acima nas estatísticas mais importantes. Simplesmente porque não basta.

Por isso, quando Messi encerra seu discurso afirmando que “este clube sempre luta por tudo” é possível compreender a mensagem de otimismo e esperança renovada para o torcedor. A missão institucional, digamos. Mas já passou da hora de priorizar realmente a Champions. Com um planejamento cuidadoso na gestão do elenco e aceitando correr riscos na liga. Sem deixar Messi e Alba no banco em algumas partidas e sempre recorrer a eles, aumentando os minutos da dupla na temporada porque é preciso vencer no Espanhol.

Chegou a hora de deixar a responsabilidade para jovens canteranos como Aleñá, Riqui Puig, Carles Pérez e Juan Miranda, caso este não vá para a Juventus. Mais Arthur e De Jong no meio-campo descansando Busquets e Rakitic. Messi também pode ser mais poupado, com Griezmann cumprindo a função de gerar jogo entrelinhas e Dembelé entrando na ponta.

E se perder a liga e a Copa do Rei, paciência. No “zeitgeist” do Barça não são mais a régua de medida da temporada. Melhor apostar tudo na Champions, mesmo com os riscos inerentes ao mata-mata. Inclusive um sorteio infeliz.

Para que o discurso de Messi em agosto de 2020 finalizado com o tradicional “Visca el Barça e Visca Catalunha” seja com sorriso largo, sem hesitações ou poréns. Mesmo com apenas um título. O mais importante.

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Coutinho ainda tem vaga no Barça ou a camisa sete logo será de Griezmann? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/16/coutinho-ainda-tem-vaga-no-barca-ou-a-camisa-sete-logo-sera-de-griezmann/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/16/coutinho-ainda-tem-vaga-no-barca-ou-a-camisa-sete-logo-sera-de-griezmann/#respond Tue, 16 Jul 2019 11:16:20 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6876

Foto: Getty Images

Antoine Griezmann enfim foi anunciado oficialmente pelo Barcelona. Operação demorada, intrincada e polêmica, com o Atlético de Madrid protestando contra o valor pago pela multa e ameaçando recorrer à FIFA por seus direitos. A negociação deve virar novela, mas é difícil imaginar um desfecho diferente da mudança do craque francês da capital espanhola para a Catalunha.

No anúncio, a imagem da camisa 17 que será destinada à mais recente contratação. A sete, que acompanha Griezmann na seleção e era dele no Atlético, ainda pertence a Philippe Coutinho. Mas por quanto tempo?

Difícil vislumbrar um quarteto ofensivo com Messi e Suárez. Até podemos pensar em Griezmann pela direita, Messi por dentro em função parecida com a que exerceu na seleção argentina na reta final da Copa América e Coutinho à esquerda formando um trio atrás do centroavante uruguaio em um 4-2-3-1.

A questão é que parece consenso entre o treinador Ernesto Valverde e direção do Barça que o meio-campo precisa de um trio que entregue organização e também proteção à defesa. Com Busquets, Rakitic, Arthur, Vidal e agora Frenkie De Jong, contratado ao Ajax. Pensando na baixa intensidade sem bola do provável trio de ataque com a entrada de Griezmann, o meio dá a impressão de que ainda precisa de um jogador de área a área com mais força e velocidade.

E Coutinho? A temporada no Barcelona e a Copa América pela seleção deixam claro que está cada vez mais difícil encontrar um lugar para o meia atacante. No 4-2-3-1 tem dificuldades para jogar como meia central, de costas para a marcação pressionada. Na função de meia por dentro um 4-1-4-1/4-3-3 o problema é a capacidade de colaborar sem bola quando o time recua as linhas. Baixa concentração e muitos espaços às costas que, na seleção, acabam sempre bem cobertos por Casemiro.

O melhor cenário seria executando a função de ponta articulador partindo da esquerda para tabelar, inverter o jogo para um ponteiro mais infiltrador do lado oposto ou finalizando com o pé direito em sua jogada característica. Se o Chelsea de Frank Lampard não estivesse punido pela FIFA nesta janela por acordos com menores de idade – o clube teve o recurso negado e apelou ao TAS (Tribunal Arbitral do Esporte), mas não deve ser julgado até o fechamento da janela de verão europeu – o brasileiro seria a reposição ideal à saída de Eden Hazard para o Real Madrid.

A ida para o PSG viabilizando a volta de Neymar ao Barcelona ainda está no horizonte e também seria interessante, sucedendo o craque brasileiro na mesma função e se juntando a Mbappé e Cavani no ataque. Mas o clube francês joga duro para permitir a saída da maior contratação da história do esporte e a negociação não será tão simples. O Manchester United seria outra possibilidade, mas não parece empolgar muito o jogador e seu agente Kia Joorabchian.

A luz parece vir de Liverpool. Para reviver o “quarteto fantástico” com Mané, Salah e Firmino que vinha encantando a Europa até Coutinho forçar a barra para realizar o sonho de jogar no Barça em janeiro de 2018. O problema é que a saída gerou desgaste com a torcida e a equipe se equilibrou no 4-3-3 com um meio-campo mais forte e intenso na conquista da Liga dos Campeões e na campanha histórica na Premier League. Mas Jurgen Klopp sempre se referiu ao brasileiro com carinho e admiração.

O fato é que o Barcelona precisa definir logo o que fazer com a contratação mais cara de sua história. A relação com a torcida é tensa, o meia foi considerado um dos “vilões” da eliminação na semifinal da Champions para o Liverpool e o resgate da imagem sem espaço entre os titulares fica mais difícil.

O futuro é duvidoso e a camisa sete do time catalão parece mesmo mais próxima de Griezmann, mesmo com toda diplomacia do clube e do craque que chega para ajudar o Barça a reconquistar a Champions. Coutinho falhou em sua única tentativa e deve pagar com a saída pela porta dos fundos.

 

 

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Griezmann joga na “função Messi”. O que fará em Barcelona? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/18/griezmann-joga-na-funcao-messi-o-que-fara-em-barcelona/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/18/griezmann-joga-na-funcao-messi-o-que-fara-em-barcelona/#respond Sat, 18 May 2019 10:44:54 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6547

Foto: FIFA.com

O PSG e o Manchester City, na voz do próprio Pep Guardiola, já se posicionaram sobre Antoine Griezmann: não têm interesse no alto investimento para contratar o craque que se despediu do Atlético de Madrid. E o próprio Diego Simeone, ex-treinador do francês, já sinalizou o provável destino: Barcelona.

Mesmo com as informações controversas vindas da Catalunha sobre a provável recepção do atacante no vestiário blaugrana, o anúncio oficial parece questão de tempo. Talvez depois do encerramento da liga espanhola. Mas já vislumbrando a armação do ataque do bicampeão espanhol e finalista da Copa do Rei com a nova peça é difícil imaginar um encaixe perfeito.

Porque Griezmann rende mais justamente na função que não deixa brecha para outro jogador: o atacante que joga com liberdade de movimentação atrás do centroavante, buscando os espaços às costas do meio-campo adversário para partir para cima da última linha defensiva com a bola dominada. Sim, na “função Messi”.

Griezmann na “função Messi”: recebe às costas do meio-campo adversário e parte para cima da defesa adversária com a bola no pé canhoto e um centroavante (Diego Costa) se movimentando no ataque (reprodução Fox Sports).

É assim que atua também na França campeã mundial, atrás de Giroud e acionando a velocidade de Mbappé. Ele precisa de uma referência na frente justamente para puxar a zaga para trás e criar os espaços por onde circula. De preferência partindo da meia direita para dentro conduzindo a bola com o pé esquerdo. Outra semelhança com o gênio argentino, além de ser o homem das bolas paradas.

Griezmann é ponta de origem e pode render aberto pela esquerda, buscando a linha de fundo com rapidez e habilidade. A dúvida é se teria a intensidade para “sprints” seguidos e fazer a recomposição no auxílio a Jordi Alba. Para uma negociação que deve ultrapassar os 100 milhões de euros, o ideal seria que o jogador fosse contratado para atuar onde entrega o melhor desempenho.

Não parece o caso. Seria mais um que se destaca em outro contexto, vai para o Barça ser coadjuvante de Messi e acaba eclipsado. Como Philippe Coutinho e Dembelé. A busca pelo “novo Neymar”, em talento e características, pode ser mais um tiro na água.

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França evolui e pode repetir ciclo histórico da geração de Zidane http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/03/26/franca-evolui-e-pode-repetir-ciclo-historico-da-geracao-de-zidane/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/03/26/franca-evolui-e-pode-repetir-ciclo-historico-da-geracao-de-zidane/#respond Tue, 26 Mar 2019 03:46:52 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6228

Foto: Michel Euler/AP

As goleadas por 4 a 1 sobre a Moldávia fora de casa e 4 a 0 contra a Islândia em Paris nas eliminatórias da Eurocopa são menos relevantes para a França campeã do mundo do que a nítida evolução no desempenho da equipe de Didier Deschamps.

Entrosamento por conta da manutenção da base vencedora na Copa do Mundo e confiança pela conquista que tirou o peso do fracasso da Euro 2016 disputada em casa. O time agora está nitidamente mais solto. Na Rússia, a variação do 4-2-3-1 para o 4-3-1-2, com Matuidi ora ponta, ora volante pela esquerda alinhado a Pogba e à frente de Kanté, era mais engessada, sem tanta mobilidade.

Mbappé ficava mais à direita e o corredor do lado oposto era aproveitado pelo lateral Lucas Hernández e eventualmente por Griezmann. Rigidez no posicionamento ao atacar para garantir a organização defensiva quando perdesse a bola. Agora há mais mobilidade. No primeiro gol sobre a Moldávia, Mbappé estava mais centralizado quando Griezmann tabelou com Pogba, infiltrou pela direita e marcou lindo gol.

Giroud é outro sem a pressão do Mundial. Mantém a importância no jogo aéreo ofensivo e defensivo, em alguns momentos recua para que Mbappé fique solto na frente para acelerar os contragolpes. Continua empurrando com sua presença física a última linha da defesa adversária para trás dando espaços para Mbappé, Griezmann, Pogba e Matuidi trabalharem. Mas voltou a fazer gols. Deixou dois nestas datas-FIFA. Agora tem 35 e só fica atrás de Thierry Henry (51) e Michel Platini (41) na artilharia dos Bleus.

A equipe de Deschamps continua forte no jogo aéreo que conta com participação decisiva da dupla Varane-Umtiti. Um gol de zagueiro em cada partida. Porém não dependem mais tanto da bola parada e dos cruzamentos para descomplicar as partidas. Também porque está menos tensa.

Situação parecida com a que viveu a geração de Zinedine Zidane. Pressão pelo título em casa na Copa de 1998, ainda mais por ter ficado de fora dos Mundiais de 1990 e 1994. Campanha um tanto sofrida até a epopéia dos 3 a 0 sobre o Brasil na final.

Mais solta e entrosada, venceu a Eurocopa 2000 e seguiu poderosa, ganhando inclusive a Copa das Confederações em 2001, até chegar ao Mundial na Ásia e decepcionar com a eliminação na primeira fase em grupo com Uruguai, Dinamarca e Senegal. Zidane chegou desgastado e lesionado, entrou em campo no sacrifício e pouco pôde fazer na despedida contra a Dinamarca. Virou o fio na hora errada.

Deschamps encerrou a carreira de jogador em 2001. Se despediu da seleção um ano antes, com a conquista da Euro. Não viveu a queda depois da ascensão. Agora no comando fora de campo espera fazer diferente e manter o domínio no futebol de seleções. A França hoje é a favorita para a conquista da Eurocopa 2020 e tem futebol para repetir o ciclo histórico da geração mais vencedora do país.

 

 

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O Atlético de Simeone no modo “Godín-torcida-cojones” de 2014 está de volta http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/20/o-atletico-de-simeone-no-modo-godin-torcida-cojones-de-2014-esta-de-volta/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/20/o-atletico-de-simeone-no-modo-godin-torcida-cojones-de-2014-esta-de-volta/#respond Wed, 20 Feb 2019 22:28:52 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5985 O título espanhol do Atlético de Madrid em 2013/14 é o maior feito de um clube europeu nesta década. Muito maior que a conquista da Premier League pelo Leicester City em 2015/16. Porque tinha a concorrência de Barcelona e Real Madrid – os dois grandes times desta era, comandados por Messi e Cristiano Ronaldo – no formato que exige regularidade. Com direito a classificação para a final da Liga dos Campeões e revés para os merengues depois de ficar a segundos do título até o empate com gol de Sergio Ramos que levaria a decisão para a prorrogação.

Nesta saga, o time de Diego Simeone tinha três grandes trunfos além da incrível organização tática: a eficiência nas jogadas aéreas com bola parada, especialmente de Godín – autor do gol do título no empate em 1 a 1 contra o Barcelona e na decisão da Champions; a força da torcida no Vicente Calderón, normalmente regida pelo treinador argentino. Estimulada pela fibra e concentração de uma equipe que nunca se entregava. “Cojones”, no popular em espanhol.

Pois foi tudo que o Atlético resgatou, desta vez no novo estádio, Wanda Metropolitano. Talvez pela presença do algoz Cristiano Ronaldo na Juventus, rival das oitavas de final da Liga dos Campeões. Ou apenas porque, por mais que Simeone tente fazer sua equipe jogar mais com a bola, esta é a melhor versão dos colchoneros. Ainda mais em mata-mata.

O time italiano teve mais posse de bola, ameaçou no primeiro tempo de maior equilíbrio em cobrança de falta de Cristiano Ronaldo. Exigiu concentração na compactação das linhas de quatro do Atlético para bloquear a boa circulação de bola da Juve, armada no 4-3-3 com muita movimentação do gênio português, auxiliados por Dybala e Mandzukic.

Mas na segunda etapa foi um verdadeiro atropelo. Técnico, tático, físico e até moral. Alavancado por uma vontade inquebrantável de sair de campo com a vitória. Gol perdido por Diego Costa, que deu lugar a Morata, que teve um gol anulado por falta em Chiellini assinalada pelo VAR, que também mudou para fora da área um pênalti marcado no primeiro tempo.Também bola no travessão em lindo toque por cobertura de Griezmann.

Tinha que ser na raça, na “empurrança”. Gols dos zagueiros Giménez e Godín (sempre ele) em cobranças de escanteios. Na comemoração do primeiro, Simeone perdeu a linha e fez o gesto dos “cojones”. Deselegante e politicamente incorreto, sim. Mas representando cada torcedor que criou uma atmosfera impressionante no estádio, que ajudou a engolir a Juve.

Um feito ainda mais incrível considerando os números finais: 62% de posse e 11 finalizações dos visitantes, mas apenas três no alvo contra cinco do time espanhol, num total de nove. Matemática que não retrata o que foram os 45 minutos finais em Madrid.

O Atlético leva dois gols a favor e nenhum sofrido para Turim, mas não contará com os suspensos Thomas e Diego Costa. A Juventus perdeu Alex Sandro e provavelmente Massimiliano Allegri vai improvisar De Sciglio na lateral esquerda.  Ou tentar algo mais ousado, porque vai precisar.

Depois dessa catarse no Wanda será bem complicado tirar essa vaga do time de Simeone. O espírito do “milagre” de 2014 está de volta.

(Estatísticas: UEFA.com)

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Mais solta e entrosada, França, agora sim, é a melhor seleção do mundo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/10/17/mais-solta-e-entrosada-franca-agora-sim-e-a-melhor-selecao-do-mundo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/10/17/mais-solta-e-entrosada-franca-agora-sim-e-a-melhor-selecao-do-mundo/#respond Wed, 17 Oct 2018 10:21:49 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5368

Foto: Gonzalo Fuentes/Reuters

Aconteceu também em 1998. Depois do alívio de vencer a Copa do Mundo em casa com desempenho médio não mais que razoável, sobrando apenas nos 3 a 0 sobre o Brasil na decisão, a França ganhou confiança e variações táticas. Afirmou o jovem atacante Thierry Henry e amadureceu Zidane como melhor jogador do planeta. Venceu a Eurocopa de 2000 e dominou o cenário até a queda brusca, também pela ausência de seu camisa dez e estrela máxima, na fase de grupos do Mundial na Ásia em 2002.

Na Rússia em 2018, uma nova geração talentosa carregava o peso da responsabilidade de alcançar uma grande conquista, depois da decepção em casa perdendo a final da Euro 2016 para Portugal. A seleção do treinador Didier Deschamps, capitão e líder em campo nas conquistas do final da década passada, foi excessivamente pragmática e até travada em boa parte da campanha. Fiel demais, quase aprisionada a sistema tático e modelo de jogo focados mais no resultado final que no desempenho.

Venceu sem maiores contestações, porém sem convencer. A Croácia ficou com todo “hype”, a ponto de dar a Luka Modric o prêmio de melhor do mundo. A Bélgica foi eliminada na semifinal em um jogo muito igual e também foi mais comentada e analisada. “Les Bleus” ficaram com o rótulo de “competitivos” destinados aos que não encantam.

Mas com o segundo título mundial, a paz combinada com a manutenção do trabalho e da base vencedora vem construindo uma França ainda mais forte.

Deschamps manteve o 4-2-3-1 “torto” que varia para o 4-3-3. Matuidi faz o “ponta volante” pela esquerda, mas em boa parte do tempo se alinha a Pogba à frente de Kanté formando um tripé no meio-campo. Na frente, Giroud é o pivô como contraponto físico para empurrar a última linha para trás.  Tudo para dar liberdade à dupla Griezmann-Mbappé e também compensar a baixa intensidade de Pogba sem a bola.

Só que agora a confiança e um compromisso menor com o posicionamento na perda da bola permitem uma maior mobilidade e o jogo flui melhor. Especialmente quando parte de Kylian Mbappé, que faz o que se esperava dele: já que Matuidi é meio-campista e procura pouco o fundo, abrindo mais o corredor para Lucas Hernandez ou Mendy, nada impede que o atacante do PSG saia da direita e circule por aquele setor para buscar a infiltração em diagonal.

Diferente do rigor da Copa do Mundo, agora a França tem mais mobilidade no ataque. Na imagem, Mbappé aparece pela esquerda no espaço deixado por Matuidi e Griezmann naturalmente procura o lado direito para formar com Giroud um trio na frente que conta com a aproximação de Pogba (reprodução Esporte Interativo).

Antoine Griezmann também não precisa ser o atacante atrás do centroavante o tempo todo. Pode também aparecer nos flancos e usar a habilidade do pé canhoto para buscar o drible e ser mais um a desarticular a marcação adversária. Até Giroud está mais solto, arriscando mais. O gol contra a Holanda na Liga das Nações encerrando uma sequência de dez partidas, incluindo toda a Copa do Mundo, ajudou no resgate da confiança.

A nova competição do calendário de seleções na Europa, ainda que, a rigor, mantenha o caráter de amistoso, tem ajudado os franceses a manterem o alto nível pela força do Grupo 1. Até aqui, dois confrontos com a Alemanha e um diante dos holandeses.

Nos 2 a 1 de virada sobre os alemães no Stade de France, o sofrimento contra um time repaginado depois de somar apenas um ponto nas duas primeiras rodadas. Joachim Low corrigiu o erro da Copa do Mundo e agora explora a velocidade e a capacidade de chegar ao fundo de Sané. O ponteiro deu trabalho demais a Pavard e foi junto com Gnabry os melhores alemães em campo.

Mas a França soube conter o volume ofensivo dos alemães, teve maturidade para lidar com a desvantagem no gol de pênalti de Toni Kroos logo aos 13 minutos de jogo. Também poder de superação para compensar uma péssima atuação de Pogba, que vacilou e perdeu a bola no contragolpe que gerou a penalidade para o rival. Griezmann decidiu no segundo tempo com um gol de cabeça e outro de pênalti bastante discutível de Hummels em Matuidi – não há VAR na Liga das Nações.

São sete pontos em três partidas, mas a melhor notícia é que, apesar das vitórias apertadas, o desempenho melhorou. A equipe está mais leve e entrosada. Também mais “cascuda”, dura de ser batida.

Ainda que a Bélgica mantenha o alto nível e a Espanha, agora com Luis Enrique no comando, seja a de maior potencial de crescimento no continente, a França reforça seu status de grande força no universo das seleções. Agora, sim, a melhor do mundo.

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Campanha campeã é maior que a bola jogada pela França pragmática http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/15/campanha-campea-e-maior-que-a-bola-jogada-pela-franca-pragmatica/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/15/campanha-campea-e-maior-que-a-bola-jogada-pela-franca-pragmatica/#respond Sun, 15 Jul 2018 17:43:48 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4940 Como esperado, o início de jogo em Luzhniki foi marcado pela tensão costumeira de uma final de Copa do Mundo e também pelo encaixe previsto dos desenhos táticos. França e Croácia marcando por zona, porém com duelos bem definidos. Especialmente no meio-campo: Kanté x Modric, Pogba x Rakitic e Griezmann x Brozovic. No 4-2-3-1 “torto” de Didier Deschamps, Matuidi esperava as descidas de Vrsaljko e auxiliava no combate a Modric. No 4-1-4-1 de Zlatko Dalic, Strinic até descia pela esquerda, mas tinha como maior preocupação a velocidade de Mbappé.

Mas os franceses encontravam dificuldade para acionar seu principal atacante. Recuavam as linhas, mas não encontravam espaços para acelerar. Muito pelos méritos do oponente. A Croácia adiantou as linhas, marcou e ocupou o campo de ataque e rodou a bola em busca de espaços.

Até Griezmann cavar uma falta inexistente. Na cobrança, Pogba, em posição legal, disputou com Mandzukic, que desviou marcando o primeiro gol contra em finais de Copa do Mundo. Os croatas teriam que subir a ladeira novamente. Mas a bola parada novamente ajudou na recuperação. Golaço de Perisic depois de limpar Kanté.

De novo a França recuou, novamente sofreu para encaixar um contragolpe. Outra vez foi salva pela bola parada. Pênalti de Perisic. Marcável como praticamente qualquer toque no braço segundo as novas e confusas orientações da FIFA para a arbitragem. O VAR entrou em cena e ajudou na interpretação de Nestor Pitana. Cobrança precisa de Griezmann.

A única finalização francesa em 45 minutos. Os croatas que tiveram 61% de posse tentaram sete vezes, só uma na direção da meta de Lloris. Nas redes. Primeiro tempo de superioridade croata.

Mas a França mais uma vez foi pragmática e letal. Coordenando melhor os contragolpes com o avanço e os sinais de desgaste físico e mental do adversário, acelerou pela direita com Mbappé, que serviu Pobga, meio-campista que iniciou a jogada com belo lançamento.

Depois a revelação da Copa, e também o craque para este que escreve, fez um gol de “ilusionista”. Mbappé posicionou o corpo para bater com efeito no ângulo esquerdo e acertou um chute rasteiro no canto direito de Subasic. Poderia ter fechado 4 a 1 como o Brasil de 1970 sobre a Itália. No entanto, Lloris vacilou e Mandzukic desviou para as redes. Mas certamente o atacante croata trocaria seus três gols pelo título mundial.

Que também é de Giroud. Virou titular por suas funções em campo: estatura nas disputas pelo alto na defesa e no ataque. Fundamental na Copa da bola parada. Também um pivô facilitando o trabalho de Mbappé e Griezmann. Forte e alto, empurra a defesa para trás e cria espaços às costas dos volantes para seus companheiros. Uma lição para quem parou no tempo e acha que o camisa nove só presta se fizer gol. Giroud não marcou nenhum e é o campeão.

A Croácia foi até o limite. Terminou com 61% de posse, 83% de efetividade nos passes contra apenas 74% dos fraceses. Finalizou 15 vezes contra oito – seis a três no alvo. Modric eleito melhor da Copa. Na decisão, porém, a Copa também foi da bola parada e da precisão técnica. Em disputas tão parelhas, o futebol não perdoa o “arame liso”.

França absoluta, mas com campanha melhor que o desempenho em campo. Maior que a bola jogada. Invencibilidade, vitórias em confrontos com os campeões Argentina e Uruguai. Superando a talentosa geração belga e goleando os croatas por 4 a 2. Sem prorrogação nem decisão por pênaltis.

Fica a impressão de que a obsessão pelo título depois da decepção em casa na Eurocopa em 2016 engessou um pouco a equipe. Pouca mobilidade ao atacar para garantir a organização na perda da bola, não desguarnecendo nenhum setor. Solidez defensiva para aumentar a competitividade.

Deu certo. E consagrou Deschamps, agora se juntando a Zagallo e Beckenbauer como os únicos campeões como jogador e treinador. Mesmo sem espetáculo, a missão foi cumprida.

(Estatisticas: FIFA)

 

 

 

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Prévia tática de França x Croácia: quem sairá do “encaixe perfeito”? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/13/previa-tatica-de-franca-x-croacia-quem-saira-do-encaixe-perfeito/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/13/previa-tatica-de-franca-x-croacia-quem-saira-do-encaixe-perfeito/#respond Fri, 13 Jul 2018 13:21:26 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4918 Pelo esforço absurdo de três prorrogações seguidas é impossível saber se Zlatko Dalic vai manter a formação titular da Croácia para a grande final. Mas também é improvável que algum jogador, a menos que esteja com uma lesão muscular grave por conta do esforço, queira ficar de fora do “filé” depois de roer o osso em 360 minutos, mais duas decisões por pênaltis.

Partindo do 4-1-4-1 da semifinal e da melhor atuação da seleção na Copa, os 3 a 0 sobre a Argentina, e do 4-2-3-1 da França que ganhou corpo desde a vitória sobre o Peru com Matuidi pela esquerda mais compondo o meio que formando o quarteto ofensivo, temos uma espécie de “encaixe perfeito” das equipes. Tanto no desenho tático quanto nas características dos atletas.

Ainda que Kanté e Brozovic tenham perseguido Messi em muitos momentos dos jogos, o volante do Chelsea tenha feito o mesmo com De Bruyne e Pogba sofrido com Fellaini na semifinal, França e Croácia marcam essencialmente por zona. Mas, de acordo com o posicionamento básico, os jogadores de cada setor acabam se encontrando e duelando ao longo da partida.

Ambas contam com laterais que não são brilhantes, mas equilibram bem as funções de ataque e defesa e se adequam caso precisem guardar posição ou descer pelo corredor. No embate de domingo é bem provável que Strinic fique mais atento à movimentação de Mbappé e Vrsaljko apoie mais, já que não há um atacante agudo pelo seu setor.

No meio-campo, os duelos mais prováveis são Kanté x Modric, Pogba x Rakitic e Griezmann x Brozovic. Pavard espera Perisic e Hernández faz o mesmo contra Rébic. Os zagueiros Lovren e Vida cuidam de Giroud e Varane e Umtiti ficam atentos aos movimentos de Mandzukic.

É óbvio que o futebol não acontece numa imagem estática como no campinho abaixo. Mas mesmo com o dinamismo da disputa, uma palavra será chave para desequilibrar o oponente: mobilidade.

Os franceses têm guardado mais o posicionamento, talvez pelo temor de serem pegos com as linhas desorganizadas na perda da bola. Um desperdício, já que este 4-2-3-1 “torto” tem como principal arma ofensiva o deslocamento de outros jogadores para o lado em que há um volante ou meia e não um ponteiro. Ou seja, o espaço deixado por Matuidi poderia ser melhor explorado por Griezmann, Giroud ou até mesmo Mbappé invertendo o flanco. Nos jogos apenas o lateral Hernández se projeta pela esquerda. Uma inversão entre Griezmann e Mbappé também pode ser interessante para deixar o jovem atacante do PSG mais solto para aproveitar na velocidade o trabalho de pivô de Giroud.

Já a Croácia na execução de seu modelo permite apenas como surpresa a inversão dos pontas Rébic e Perisic que buscam as diagonais aproveitando o espaço deixado pelo móvel Mandzukic, que sabe atuar como referência ou pelo lado. Modric e Rakitic também costumam trocar o posicionamento por dentro, de acordo com as características dos volantes adversários.

As estatísticas apontam a Croácia com maior posse de bola e efetividade nos passes, mas é a quarta que mais utiliza os cruzamentos, média de 26 por jogo – potencializada, logicamente, pelas prorrogações que disputou. Luka Modric é o meia que mais acerta passes e vai encontrar Kanté, o líder absoluto de desarmes e interceptações. Mbappé é o finalista que mais acerta dribles, Griezmann o que mais finaliza. Rakitic está no topo entre os que mais acertam inversões de jogo, fundamentais para desarticular sistemas defensivos organizados como o do oponente.

A França sofreu apenas quatro gols em 540 minutos – três da Argentina e um, de pênalti, da Austrália na estreia. A Croácia cinco em 630 – um de pênalti da Islândia (com time repleto de reservas), Dinamarca, em cobrança de lateral na área, e Inglaterra (falta), dois da Rússia, o de Mário Fernandes na típica jogada de bola parada que gerou tantos gols neste Mundial. A previsão, não o desejo, é de uma final com poucos gols, definida no detalhe, na precisão técnica. Talvez até mais uma prorrogação para os croatas.

A resistência física deve ser um fator preponderante. Didier Deschamps pode optar por uma proposta de maior intensidade na pressão pós perda da bola, velocidade na transição ofensiva para desgastar ainda mais o adversário, que tende a aproveitar seus talentosos meio-campistas para adicionar pausas ao ritmo do jogo que façam a equipe respirar e acelerar no momento certo.

O palpite do blog é vitória francesa. Em 120 minutos. Porque a Croácia mentalmente é dura de se curvar, mesmo com os músculos extenuados. Só que desta vez encontrará um rival que foi implacável até aqui com as fragilidades e oscilações de quem cruzou o seu caminho. Na Copa da força mental é um trunfo para definir quem leva a taça para casa.

França no 4-2-3-1 que deve ter mais mobilidade de Griezmann, Mbappé e Giroud aproveitando o espaço à esquerda deixado pelo recuo de Matuidi; Croácia no 4-1-4-1 com os ponteiros Rebic e Perisic invertendo o posicionamento e Modric e Rakitic tentando ditar o ritmo contra Kanté e Pogba. Nos sistemas que encaixam, a mobilidade pode fazer a diferença (Tactical Pad).

(Estatísticas: Footstats)

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Plano “alemão” da Inglaterra impede clima de final antecipada do outro lado http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/09/plano-alemao-da-inglaterra-impede-clima-de-final-antecipada-do-outro-lado/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/09/plano-alemao-da-inglaterra-impede-clima-de-final-antecipada-do-outro-lado/#respond Mon, 09 Jul 2018 11:34:51 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4877 Inglaterra e Bélgica viveram um cenário único na fase de grupos da Copa do Mundo na Rússia. Eram favoritas destacadas contra Tunísia e Panamá e cumpriram a missão matematicamente com duas vitórias. O confronto da última rodada, no penúltimo dia de disputa, permitiu que se olhasse para os chaveamentos a partir das oitavas de final e projetasse um caminho no torneio.

O Grupo H não apresentava nenhum favorito destacado, até porque a cabeça de chave Polônia já estava eliminada. O resultado prático foi um duelo entre ingleses e belgas repleto de jogadores reservas. Compreensível pela oportunidade de rodar o grupo, descansar titulares e evitar suspensões. Mas a partida mostrou claramente que nenhum dos dois fazia muita questão de vencer.

O golaço de Januzaj deu a liderança com 100% de aproveitamento aos belgas. Para as oitavas, um duelo teoricamente mais tranquilo contra o Japão. Mas depois Portugal de Cristiano Ronaldo e os campeões Argentina, França, Uruguai e Brasil poderiam cruzar o caminho até a grande decisão.

Já para os ingleses a tarefa era mais complicada por enfrentar a Colômbia, líder do grupo e que chegou às quartas de final em 2014 com o artilheiro James Rodríguez. Se conseguisse a vaga nas quartas, porém, na sequências os possíveis adversários seriam Suíça, Suécia, Rússia, Croácia, Dinamarca e a Espanha como única campeã mundial e, em tese, favorita.

Ambas estão nas semifinais. Com sofrimento e desgaste, ainda que a Bélgica não tenha disputado prorrogação, enquanto a Inglaterra viveu um drama até a disputa por penalidades contra os colombianos. Nas quartas, como esperado, triunfo mais tranquilo sobre a Suécia por 2 a 0.

Confirmando a força do jogo físico e a eficiência nas jogadas aéreas. São cinco gols neste tipo de ação dos 11 marcados até aqui. Com os zagueiros Stones e Maguire aparecendo na área adversária aproveitando a estatura. Mas também iniciando a construção desde a defesa, auxiliando Henderson e fazendo a bola chegar a Trippier e Ashley Young, os alas do 5-3-2 inglês. Ou diretamente a Dele Alli, Lingard e Sterling. O trio que se movimenta com rapidez e intensidade em torno de Harry Kane, artilheiro da Copa com seis gols, mas também um centroavante que recua para trabalhar com os meias e abre espaços para as infiltrações dos companheiros.

Chegou como candidata ao título, mas no segundo pelotão. Agora está a um jogo da final que não disputa desde a conquista do título em 1966 como anfitriã. Pegando um “atalho” que lembrou o pragmatismo alemão. Em 1974, mesmo jogando em casa e contando com a fantástica geração de Maier, Beckenbauer, Overath e Gerd Muller, preferiu ser derrotada pela Alemanha Oriental, num duelo com vários significados naqueles tempos de Muro de Berlim. Tudo para fugir de um grupo com o então campeão Brasil, a Argentina e a sensação Holanda, o Carrossel de Rinus Michels e Cruyff. Na disputa em outro grupo com Polônia, Suécia e Iugoslávia se classificou para a grande decisão. Com mais moral e em jogo único e decisivo, a vitória por 2 a 1 sobre os holandeses e a festa em casa.

A Inglaterra disputa a semifinal como favorita não pela tradição, que contou bem pouco nesta edição da Copa. Mas principalmente por chegar mais inteira que a Croácia sofrida e exaurida por duas prorrogações e disputas de pênaltis contra Dinamarca e Rússia que exigiram demais física e mentalmente. A maneira de jogar da seleção de Gareth Southgate exige concentração e vigor do oponente e, mesmo com a experiência e a capacidade de controlar o tempo e o espaço de Modric e Rakitic, os croatas devem sofrer. E se vencerem mais este obstáculo chegarão fortalecidos demais à decisão.

Por isso tratar o duelo entre França e Bélgica como uma espécie de final antecipada por serem os sobreviventes de uma disputa entre gigantes parece um tanto irreal. Até pelo cenário imprevisível desta semifinal, que pode se definir apenas nos penais e exaurir as equipes para a decisão.

A ausência do suspenso Meunier certamente será sentida por Roberto Martínez, mas o treinador espanhol pode transformar o desfalque numa chance de novamente surpreender o adversário. Pode enviar Chadli para o lado direito, fazer Carrasco retornar à ala esquerda e voltar ao 3-4-3 da primeira fase ou simplesmente deslocar Alderweireld para a lateral e colocar Vermaelen na zaga ao lado de Kompany mantendo o 4-3-3 da vitória sobre o Brasil.

Outra dúvida é se manterá o posicionamento de Lukaku pela direita e De Bruyne como “falso nove” fazendo companhia a Hazard no tridente ofensivo sem participar do trabalho sem a bola e apostar tudo no talento e na capacidade de desequilibrar na frente. Mesmo defendendo com apenas sete homens, cedendo espaços e obrigando o fantástico goleiro Courtois a trabalhar.

Um risco diante de uma França que se encontrou no 4-2-3-1 com um “ponta volante” pela esquerda. Aliás, é a única dúvida de Didier Deschamps: mantém Tolisso, que cumpriu bela atuação nos 2 a 0 sobre o Uruguai, ou faz Matuidi retornar naturalmente depois da suspensão. Quem entrar será a “liga” entre a dupla Kanté e Pogba e os três jogadores mais adiantados.

A “exterminadora de sul-americanos” vem mostrando maturidade no Mundial. Com a “casca” da derrota em casa para Portugal na final da Eurocopa há dois anos. Contra os uruguaios aproveitou bem os erros do adversário para se impor. Com Giroud atuando mais coletivamente, como um elemento a prender a defesa adversária, fazer pivô e abrir espaços para Mbappé e Griezmann, os grandes destaques individuais da nova favorita ao título. Um perigo nesta edição da Copa do Mundo.

Teremos uma final inédita e europeia. Emblemática. E justamente pelo equilíbrio é que não se pode garantir nada. Apenas alguma vantagem física da Inglaterra. Que executou seu plano “alemão” e encarou um chaveamento menos exigente. Pelo desempenho coletivo e de nomes surpreendentes como Trippier e o goleiro Pickford vem sendo consistente. Mesmo acusada de simular faltas e escolher adversários, algo distante da imagem ligada à fidalguia e elegância. Ao fair play.

Desta vez o English Team quer ganhar ou chegar o mais longe possível. A Croácia que se prepare e franceses ou belgas não celebrem tanto assim o triunfo amanhã. A final será dura.

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