Italia – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Afinal, o que faltou à seleção de Telê em 1982? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/11/afinal-o-que-faltou-a-selecao-de-tele-em-1982/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/11/afinal-o-que-faltou-a-selecao-de-tele-em-1982/#respond Sat, 11 Apr 2020 13:30:26 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8285

Itália 3×2 Brasil certamente foi o jogo que mais revi na vida. Assim que coloquei internet banda larga em casa, a primeira partida na íntegra a fazer download, pelo E-mule. Narração em italiano.

Não é absurdo dizer que foi o jogo que ajudou a moldar meu caráter e reforçar a paixão pelo futebol. Porque foram as primeiras lágrimas por causa do esporte.

Antes de ser torcedor do Flamengo eu era fã do Zico. Da seleção. O Galinho não era derrotado com a camisa verde e amarela desde um amistoso contra a União Soviética no Maracanã em 1980. Passei a acompanhar o rubro-negro mais de perto a partir do segundo semestre de 1981.

Com as conquistas do Carioca, da Libertadores, do Mundial e do Brasileiro no ano seguinte, na minha cabeça de menino de nove anos – e na época a criança era ingênua mesmo – o Zico era um super-herói que nunca perdia. Ou sempre tinha uma nova chance de ser campeão.

Ao perguntar para o meu avô quando seria o próximo jogo e ele me explicar que havia acabado e o camisa dez da seleção voltaria para casa com seus companheiros, o chão se abriu no meu mundo de sonhos. E ao ver um vizinho sempre com sorriso no rosto chorando como criança sentado na calçada eu tive contato pela primeira vez com algo próximo do luto. Impossível esquecer.

Afinal, o que faltou à seleção comandada por Telê Santana para se classificar naquela segunda fase e passar para a semifinal contra a Polônia?

Por incrível que pareça, a cada vez que revejo a partida, lembro da trajetória da seleção até o Mundial na Espanha e dos quatro jogos anteriores, a análise vai perdendo camadas e se simplificando. A rigor, faltou a cabeçada de Oscar no último ataque sair do alcance do goleiro Zoff. Ou o arqueiro veterano dar o rebote para Zico, o brasileiro mais próximo da meta italiana.

Pode parecer simplismo. Mas já notou como as narrativas são criadas a partir do resultado puro, nu?

Imagine que o Brasil empatasse em 3 a 3, se classificasse e partisse para o título mundial. Como seria lembrado o jogo do Sarriá? Talvez como os que o escrete canarinho não venceu nas campanhas vitoriosas. Com um pouco mais de drama que os empates sem gols contra Inglaterra em 1958 e Tchecoslováquia quatro anos depois. Ou o 1 a 1 com a Suécia em 1994.

Seria rotulado como “um susto” ou “a pior atuação na campanha”. Sem dissecar cada jogada, detalhar cada erro ou apontar mudanças na equipe que poderiam resolver questões táticas ou erros individuais.

Mas perdeu. E o olhar muda. Vai em retrospectiva. O que aconteceu de errado no caminho que não percebemos e estourou nos três gols de Paolo Rossi?

Seria o goleiro Valdir Peres? Mas ele não falhou em nenhum gol da Azzurra, só na estreia contra a União Soviética. Depois de brilhar na excursão europeia, no amistoso contra a Alemanha no Maracanã e, na própria Copa, contra a Argentina. Valdir era pior que o Félix de 1970, por exemplo?

Ou o problema foi Serginho Chulapa? Virou titular pela lesão de Careca, tinha sido o vice-artilheiro do Brasileiro daquele ano, poucos meses antes, com 20 gols – um a menos que Zico, que jogou cinco partidas a mais. Que até conseguiu marcar dois sobre Nova Zelândia e Argentina.

Péssima atuação contra a Itália, atrapalhando Zico em uma chance cristalina, tentando um calcanhar maluco no segundo tempo e saindo em seguida para a entrada de Paulo Isidoro. Mas vejamos a França em seus dois títulos mundiais. Venceu, de certa forma, apesar de seus centroavantes Dugarry e Giroud. O Brasil de Telê poderia ter sobrevivido mesmo sem um camisa nove brilhante e/ou móvel.

Até a mudança tática para encaixar Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico no meio-campo tinha encontrado soluções ao longo dos jogos. Dos últimos nove gols brasileiros desde o jogo contra a Nova Zelândia, seis foram criados ou finalizados pelo lado direito. Os dois contra a Itália, de Sócrates e Falcão. O revezamento no setor passou a funcionar e a movimentação era justamente a maior virtude coletiva daquela seleção.

E não dá para responsabilizar a ausência de Paulo Isidoro no trabalho defensivo com Leandro nos gols italianos. No primeiro, logo no início da partida, a inversão de Conti para Cabrini já encontra o lateral esquerdo na zona de marcação de Leandro, que não saiu para pressionar e permitiu o cruzamento.

Do lado oposto talvez estivesse o grande problema de Telê naquela tarde quente em Barcelona. A atuação defensiva de Júnior foi trágica. Curioso que o lateral liberado para atacar e que armava como mais um meio-campista costumava sofrer quando encontrava um ponta típico, veloz e driblador.

Bruno Conti era canhoto e circulava pelo campo, mais articulador. Não era de partir para cima. Os equívocos de Junior foram fundamentalmente de posicionamento. No primeiro gol, Rossi infiltra entre ele e Luisinho. No terceiro ele demora a sair na linha de impedimento e dá condições ao iluminado camisa 20 do rival.

Ainda daria condições a Antognoni no gol mal anulado que decretaria os 4 a 2 nos minutos finais e deixou Rossi livre em chance cristalina que o artilheiro desperdiçou na segunda etapa. Um desastre tão grande quanto Eder. Destaque da seleção nos jogos anteriores, claramente sentiu o jogo e pouco produziu, mesmo enfrentando o improvisado meio-campista Oriali, que virou lateral para que Gentile perseguisse Zico por todo campo. Só apareceu colocando a bola na cabeça de Oscar no final do jogo.

Seria o gol redentor de todos os pecados. A “raça” do zagueiro seria exaltada e ele entraria na galeria de “herois do tetra”. Mas Zoff pegou “pelo rabo” em uma das grandes defesas da história das Copas. A maior da carreira, segundo o próprio goleiro.

Talvez Telê pudesse ter pedido um pouco mais de cuidados a partir dos jogos eliminatórios, com Leandro e Junior alternando apoio nas laterais, o mesmo com Cerezo e Falcão à frente da defesa. Ou exigido concentração, para evitar falhas como a do próprio Cerezo no segundo gol, entregando nos pés de Rossi com o time saindo para o ataque. Ou o gol derradeiro, com todos dentro da própria área, porém deixando o centroavante adversário livre.

Mas não houve irresponsabilidade, nem ataques desnecessários com o placar favorável. O Brasil de Telê Santana era competitivo e contava com jogadores experientes e vencedores. Pouco tempo antes, Leandro, Junior e Zico seguraram o Grêmio na final do Brasileiro em Porto Alegre. Com solidez defensiva e posse de bola.

Simplesmente não era para ser. O Brasil já venceu Copas com mais problemas coletivos e na preparação, como em 2002, por exemplo. Poucos lembram, mas Ronaldo tem uma atuação ridícula contra a Inglaterra nas quartas. Mal tocou na bola. Não fossem Rivaldo e Ronaldinho e a equipe de Felipão talvez tivesse voltado para casa. A história que fica é o penta com Fenômeno heroi, o que também é justo.

O fato é que a Itália era forte e a má campanha na primeira fase contra Peru, Polônia e Camarões foi ilusória, ou um contratempo natural. A base de Enzo Bearzot era a mesma da campanha do quarto lugar na Argentina em 1978. Vencendo os donos da casa na primeira fase, perdendo para a Holanda jogando melhor e sendo alijada da final. Segundo Zico, a melhor seleção daquele Mundial.

O timaço de Zoff, Scirea, Cabrini, Tardelli, Antognoni, Conti e Rossi na sua melhor versão. Foi a grande atuação italiana na campanha do tri e o maior jogo daquela Copa. A Itália não venceu uma equipe ordinária, o Brasil não perdeu para qualquer um.

Porque o futebol é assim. Por isso tão apaixonante. Por isso eu não esqueci e vou lembrar mais uma vez hoje, acompanhando a transmissão do Sportv a partir das 17h30.

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Os dez maiores jogadores do século 21 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/05/os-dez-maiores-jogadores-do-seculo-21/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/05/os-dez-maiores-jogadores-do-seculo-21/#respond Sun, 05 Apr 2020 12:27:36 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8253

Foto: Reuters

Antes que comece a gritaria é bom lembrar: “Melhor” tem relação exclusiva com a qualidade, quem joga mais. “Maior” tem a ver com feitos, conquistas dentro de um patamar igual ou bem próximo no talento.

Dito isso, vamos à lista:

1º – Cristiano Ronaldo – Ele não é melhor que Messi, mas compensa menos talento com mais força mental, trabalho, liderança positiva e conquistas. Em clubes e seleção. Venceu no Manchester United, no Real Madrid e agora na Juventus, ainda que apenas dentro da Itália. O “Mr. Champions”, com cinco conquistas. Pela seleção portuguesa, títulos da Eurocopa e Liga das Nações. Só tem uma Bola de Ouro a menos que Messi pela escolha “política” de Luka Modric em 2018. O maior jogador nascido na Europa em toda a história.

2º – Lionel Messi – O melhor que este que escreve viu jogar em quase quarenta anos acompanhando futebol. O maior jogador do grande clube do século 21. Mas para fazer rankings é preciso ter parâmetros e a escolha é pessoal. E o futebol de seleções ainda é muito relevante e aí está o grande porém da carreira do argentino. Mesmo sendo o maior artilheiro da albiceleste e descontando a bagunça da AFA e os gols perdidos pelos companheiros nas grandes decisões, a falta de uma conquista relevante pesa na disputa já lendária com CR7.

Cabe mais um parágrafo necessário sobre a dupla:

Sim, ainda falta uma Copa do Mundo para os dois. Pela maior tradição da Argentina, essa lacuna pesa mais para Messi. Mas rivalizar jogando em altíssimo nível e quebrando recordes por mais de uma década, só eles. Uma história que certamente será tema de filmes quando os dois se aposentarem. Nem precisa de distanciamento histórico para ter a dimensão do que fizeram, inclusive aumentar relevância da Liga dos Campeões no esporte.

Seguindo:

3º – Ronaldinho Gaúcho – Campeão mundial com o Brasil, da Liga dos Campeões pelo Barcelona e da Libertadores com o Atlético Mineiro. Currículo único, trajetória particularíssima. Talento puro que enquanto conseguiu ser competitivo encantou a ponto de concorrer ao Olimpo de Pelé e Maradona. A chance era ser bicampeão em 2006 com a seleção na Copa da Alemanha como protagonista. Mas falhou miseravelmente e algo se desconectou, vivendo de espasmos de genialidade. Uma pena.

4º – Ronaldo Fenômeno – Talvez não tenha sido melhor que Rivaldo em 2002. Mas a recuperação espetacular e o título mundial com artilharia absoluta depois de ter o joelho direito praticamente condenado para jogar no mais alto nível é a grande história do futebol deste século. De um atacante que até 1999 foi o Fenômeno que mudou a rotação do jogo. Depois viveu de lampejos e briga com a balança, mas ainda um atacante genial. Sem as grandes arrancadas, aprimorou a finalização para seguir brilhando.

5º – Zinedine Zidane – Outro que teve a chance de subir à primeira prateleira da história. A partir das oitavas em 2006, uma das grandes performances individuais em Copas do Mundo. Atuação magistral contra o Brasil favorito nas quartas. A chance da consagração na final, mas uma cabeçada na bola parou em Buffon e a que acertou em Materazzi encerrou o sonho e a carreira vitoriosa, com direito a gol antológico pelo Real Madrid na final da Champions 2001/02. O grande feito do francês no século.

6º – Xavi Hernández – Craque da Eurocopa 2008 na grande virada de chave histórica da Espanha. Da “Fúria” que passava longe das conquistas para a “Roja” bi do continente e campeã mundial em 2010. Fora os muitos títulos com o Barcelona. Com Pep Guardiola deu um salto de qualidade e se tornou ainda mais líder e o grande facilitador para o talento de Messi. Controlador do jogo e da bola. Toca e desloca, tic-tac. Uma pena ter se destacado na Era Messi x CR7. Merecia ao menos uma Bola de Ouro.

7º – Andrés Iniesta – Quatro anos mais novo que Xavi, viveu seu auge na Euro de 2012, com protagonismo na conquista. Sem contar o gol do título mundial na prorrogação contra a Holanda na África do Sul dois anos antes. Outro currículo impressionante de quem também jogou para ser melhor do mundo ao menos por uma temporada. Sabia ditar o ritmo como “oito”, mas também alternar pelos lados com intensidade. O estilo que dava liga a Xavi e Messi no Barcelona histórico.

8º – Kaká – O último Bola de Ouro antes do domínio de Messi e Cristiano Ronaldo. O único inquestionável na concorrência com os dois gênios. Pela temporada espetacular de 2006/07, a melhor da carreira. Imparável nos “sprints” que podiam ser de área a área, inteligente na movimentação ofensiva do 4-3-2-1 de Carlo Ancelotti no Milan. O último grande momento de uma carreira abreviada no mais alto nível por problemas físicos. Faltou também uma grande Copa do Mundo como protagonista.

9º – Toni Kroos – Mais um grande meio-campista do século. Multicampeão por Bayern de Munique, Real Madrid e seleção alemã. Capaz de executar no mais alto nível todas as funções no meio-campo, de área a área. Outro que seria mais reconhecido se não houvesse uma dupla de protagonistas tão absoluta. Os 7 a 1 são tratados sempre como a nossa tragédia, mas aquela tarde no Mineirão foi do meia alemão, com eficiência assombrosa em tudo que executou. Cracaço!

10º Andrea Pirlo – O “regista” do Milan bicampeão da Champions e da Itália campeã mundial de 2006. Ainda levou a Azzurra nas costas até a final da Euro 2012, aos 33 anos. Três anos depois estaria em uma final de Champions pela Juventus contra o Barcelona. O camisa dez que foi recuando e influenciou no jogo ao mostrar que os espaços mais atrás para organizar e articular poderiam ser preciosos e decisivos. Passes curtos e longos, acelerando e cadenciando. Um monstro!

 

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Futebol em Quarentena – Seis partidas que mudaram a história do jogo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/19/futebol-em-quarentena-seis-partidas-que-mudaram-a-historia-do-jogo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/19/futebol-em-quarentena-seis-partidas-que-mudaram-a-historia-do-jogo/#respond Thu, 19 Mar 2020 14:36:55 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8183

Foto: Filippo Monteforte / Getty Images

Dando continuidade à série “Futebol em Quarentena” no blog, uma reflexão olhando para trás enquanto a bola não volta a rolar, seguem os seis jogos que mudaram a história do jogo.

Ou os que marcaram alterações táticas mais significativas dentro de um esporte que felizmente se transforma constantemente, mesmo que muitas vezes só percebamos depois, com o tão necessário distanciamento histórico.

Vamos a eles!

Inglaterra 3×6 Hungria – Amistoso, 1953

A alcunha de “Jogo do Século” hoje soa um exagero até absurdo. Mas foi o grande primeiro impacto no futebol a imposição dos húngaros campeões olímpicos em 1952, nos Jogos de Helsinke.

A Inglaterra no WM e vivendo das ações individuais, especialmente de Stanley Matthews, foi engolida pela gênese do 4-2-4, com Hidegkuti com a camisa nove recuando para articular, abrindo espaços para os goleadores Kocsis e Puskas e desmontando a marcação individual do “English Team”, invicto em seus domínios contra seleções não britânicas.

O legado foi o de transformações que iam do aquecimento antes da partida, do uso de chuteiras mais leves e simples até a utilização de quatro defensores na última linha que o Brasil aproveitaria em 1958 com Vicente Feola, auxiliar do húngaro Béla Guttmann no São Paulo.

Brasil 1×0 Inglaterra – Copa do Mundo, 1970

Não era confronto eliminatório, mas o duelo no Estádio Jalisco, no México, carregava o simbolismo de colocar frente a frente os vencedores das últimas três Copas do Mundo.

Os “inventores” do futebol e então campeões, representando o chamado “futebol-força” – embora houvesse muita técnica nos Bobbies (Moore e Charlton) – e os precursores do 4-4-2 que viraria padrão no futebol britânico contra os brasileiros trazendo um jogo mais artístico, porém sustentados pelo planejamento tático mais cuidadoso de Zagallo, se defendendo num 4-5-1, e uma preparação física de vanguarda para a época.

A jogada fantástica de Tostão pela esquerda que passou por Pelé e chegou a Jairzinho no gol da vitória e a defesa portentosa de Gordon Banks em cabeçada de Pelé ficaram para a história, mas naquela partida a melhor seleção de todos os tempos consolidou sua maneira de jogar em uma espécie de “batismo de fogo” e ganhou confiança para buscar o tri.

Itália 3×2 Brasil – Copa do Mundo, 1982

Talvez a partida mais representativo de todas. O jogo que marcou gerações e, de certa forma, pauta o futebol brasileiro até hoje. Criando a falsa dicotomia “ganhar feio ou perder bonito”.

O confronto entre a seleção de Telê Santana que sonhava combinar a dinâmica do “Carrossel Holandês” de 1974 com o improviso canarinho e a Azzurra de Enzo Bearzot, que ainda acreditava no “gioco all’italiana”: Scirea como líbero, marcação individual no craque adversário (Gentile x Zico) e os demais por encaixe, Conti como “ala tornante” (ponta que volta), Cabrini o “terzino fluidificante” (lateral que apoia) e Antognioni sendo uma mistura de “regista” (maestro) e “trequartista” (ponta-de-lança).

Assim superaram o Brasil encantador de Leandro, Júnior, Sócrates, Zico, Falcão e Éder, porém irregular e com sérios problemas defensivos – em especial, as muitas falhas de Junior no posicionamento como lateral que resultaram em dois dos três gols de Paolo Rossi. Para muitos, a vitória italiana resultou no futebol mais defensivo que viveu seu ápice (ou anticlímax) na Copa do Mundo de 1990.

Barcelona 1×0 Internazionale – Liga dos Campeões 2009/10

Aqui um enorme salto no tempo, de quase três décadas, e a mudança de protagonismo do futebol de seleções para o de clubes. E da Copa do Mundo para a Liga dos Campeões.

O Barcelona venceu, mas não levou a vaga para a decisão contra o Bayern de Munique. A Internazionale de José Mourinho havia superado o time de Pep Guardiola, que assombrara o mundo vencendo a tríplice coroa em sua primeira temporada num time de primeira divisão combinando elementos das escolas holandesa, espanhola e argentina, por 3 a 1 em Milão.

Aos 28 minutos no Camp Nou, Thiago Motta foi expulso e Mourinho apelou para uma linha “de handebol” que chegou a aglutinar oito jogadores guardando a meta de Julio César. A “retranca inteligente”, negando os espaços mais perigosos ao oponente, passou a ser utilizada em larga escala depois disso, com os quatro defensores ficando mais próximos e centralizados e os dois pontas voltando como laterais. Tudo para evitar as infiltrações. Xeque-mate do português sobre o catalão.

Barcelona 5×0 Real Madrid – La Liga, 2010/11

A resposta de Guardiola no ano seguinte. Aproveitando a arrogância de Mourinho, que acreditou que com Cristiano Ronaldo e o elenco milionário do Real Madrid poderia encarar um Barcelona ainda melhor coletivamente no Camp Nou.

Levou um “rondo” de 90 minutos, com Messi deitando e rolando entre a defesa e o meio-campo do rival e servindo seus companheiros. Pedro, Xavi, Villa duas vezes e o jovem Jeffren para fechar a “maneta” e esfregar na cara dos merengues o sucesso de sua cantera. O estado de arte do jogo posicional com posse, pressão pós-perda e a ocupação perfeita dos espaços sem deixar o adversário respirar.

O maior espetáculo de melhor time que vi em ação. E saiu barato para o Madrid. Mourinho tentou resgatar a retranca da Inter nos confrontos seguintes, mas só foi bem sucedido na final da Copa do Rei. No duelo mais importante, pela semifinal da Champions, Messi desequilibrou com dois gols no Santiago Bernabéu. Os 5 a 0, porém, foram mais emblemáticos.

Bayern de Munique 0x4 Real Madrid – Liga dos Campeões 2013/14

A resposta mais completa e avassaladora a Guardiola não foi de Mourinho, nem de Klopp – o treinador que mais venceu o catalão, porém em jogos quase sempre muito duros, parelhos.

Carlo Ancelotti conseguiu com o Real Madrid que venceria “La Decima” fechar espaços à frente da própria área como a Inter de 2010. Com duas linhas de quatro muito próximas e Gareth Bale se desdobrando fechando espaços pela direita, mas se juntando a Benzema e Cristiano Ronaldo em um tridente ofensivo que atropelou o Bayern num 4-2-4 e com posse de bola inócua.

Contragolpes demolidores, com passes rápidos e objetivos para fugir da pressão pós-perda do time alemão. E eficiência na bola parada procurando o implacável Sergio Ramos. Guardiola até hoje admite ser sua pior derrota pelos erros que cometeu. Mas a estratégia de Ancelotti, mais versátil e completa, serviu como mais uma transformação no futebol que graças a esses treinadores evoluiu 30 anos na última década.

 

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Muito além da Juventus: futebol italiano vive melhor momento na década http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/16/muito-alem-da-juventus-futebol-italiano-vive-melhor-momento-na-decada/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/12/16/muito-alem-da-juventus-futebol-italiano-vive-melhor-momento-na-decada/#respond Mon, 16 Dec 2019 10:42:38 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7734

Foto: Sergei Supinsky / AFP

O choro de Gianluigi Buffon em novembro de 2017 com a eliminação da Itália na repescagem para a Copa do Mundo na Rússia era comovente, devastador. Mas também passava uma imagem de terra arrasada no futebol quatro vezes campeão do mundo.

Apesar da Juventus, uma ilha de excelência com estádio próprio, trabalho sério e profissional e time forte, uma verdadeira seleção transnacional. Mas mesmo o domínio absoluto da então hexacampeã, hoje octa, era um sinal de fracasso geral. Também atrapalhou, de certa forma, a “Vecchia Signora” em suas duas tentativas de vencer a Liga dos Campeões. Sem competição em bom nível no país, como duelar com os gigantes Barcelona (2014/15) e Real Madrid (2016/17)? A impressão era de que o teto havia chegado. Consequência também do fundo do poço da Azzurra.

A transformação começou a acontecer com a chegada de Cristiano Ronaldo à Juve para a jornada 2018/19. Pelo simbolismo de contar com um dos dois grandes protagonistas do futebol mundial na década, rivalizando com Messi. Depois com a reconstrução da seleção com Roberto Mancini, tentando tirar proveito do esforço de renovação e de se jogar um futebol mais atual no país, algo eclipsado pela superioridade da Juventus.

2019 vai se encerrando com o melhor momento do futebol italiano na década. O vice-campeonato da Eurocopa em 2012 foi muito mais um espasmo, com a emblemática vitória sobre a Alemanha, que seria campeã mundial dois anos depois no Brasil, construída muito mais com lampejos de Pirlo e Balotelli e na tradição em confrontos com o grande rival europeu do que pela consistência. Tanto que cairia na primeira fase na Copa de 2014.

Agora a liga ganha equilíbrio, apesar da queda do Napoli – sem Carlo Ancelotti, demitido mesmo não perdendo para o dominante Liverpool na fase de grupos da Champions e agora sucedido por Genaro Gattuso, uma escolha para lá de questionável. A Internazionale é que tenta tirar o protagonismo da Juventus, agora comandada por Maurizio Sarri, e disputa ponto a ponto pela liderança do campeonato nacional.

O time de Antonio Conte, Romelu Lukaku e Lautaro Martínez é forte, com capacidade para se tornar mais competitivo a médio/longo prazo. Apesar da decepcionante eliminação na fase de grupos da Liga dos Campeões. Como atenuante, a falta de sorte ao cair com Barcelona e Borussia Dortmund. Sim, o time alemão que teve seu último grande momento no continente em 2013, comandado por Jurgen Klopp, com o vice-campeonato para o rival Bayern de Munique, mas que em 2016/17 superou o Real Madrid e na temporada passada ficou acima do Atlético de Madrid em seus grupos. Os nerazzurri não foram superados por qualquer um.

A Inter vai para a Liga Europa, se juntando à Roma. Ao contrário da surpreendente Atalanta, que conseguiu a segunda vaga no grupo do Manchester City, atropelando fora de casa o Shakhtar Donetsk por 3 a 0 e ultrapassando na última rodada o time ucraniano e o Dinamo Zagreb. Acompanhando Juventus e Napoli no mata-mata. Mais um sintoma da evolução do futebol no país. Sem tanto pragmatismo e dosando a cultura defensiva com mais posse e ocupação do campo de ataque.

Crescimento que se reflete na seleção. Ainda sem uma clara demonstração de força, mas muita esperança por conta da ótima campanha nas eliminatórias da Eurocopa. Nenhum adversário entre as principais forças do continente: Finlândia, Grécia, Bosnia, Armênia e Liechtenstein. Mas não é todo dia que se consegue 100% de aproveitamento em dez jogos, marcando 37 gols e sofrendo apenas quatro.

A equipe de Roberto Mancini tem vocação ofensiva e busca jogar com posse de bola, no ritmo do “regista” Jorginho, brasileiro naturalizado que atua no Chelsea, e de Verratti, que organiza o meio-campo no trabalho entre as intermediárias. Mas também sabe explorar transições rápidas,  com solidez defensiva e acionando na frente jogadores como o jovem Zaniolo, revelação da Roma, e mais Immobile, Insigne e Belotti. Um 4-3-3 que ainda precisa de um grande teste, mas renova esperanças.

Principalmente pelo crescimento do nível geral. Ainda que o gigante Milan derrape na sua tentativa de retomada e a Juventus tenha decepcionado ao cair na última edição da Champions para a sensação Ajax, os sinais são claros. A rodada no meio da semana encerra o ano na Itália que parece respirar novos ares, ao menos no esporte.  Um ensaio de redenção que faz bem ao futebol mundial.

 

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Classe de Jorginho no Chelsea de Sarri mostra o tamanho do vacilo de Tite http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/08/11/classe-de-jorginho-no-chelsea-mostra-o-tamanho-do-vacilo-de-tite/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/08/11/classe-de-jorginho-no-chelsea-mostra-o-tamanho-do-vacilo-de-tite/#respond Sat, 11 Aug 2018 15:54:55 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5056 Não foi surpresa para quem acompanhava  o Napoli comandado por Maurizio Sarri, que só não venceu o Italiano porque existe a Juventus. Na estreia pelo Chelsea na Premier League, o ítalo-brasileiro Jorginho ditou o ritmo no meio-campo atuando fixo à frente da defesa e ainda marcou o segundo gol sobre o Huddersfield cobrando pênalti.

O primeiro da vitória por 3 a 0 fora de casa foi de Kanté, jogando como meia pela direita no 4-3-3. Pisando na área adversária para finalizar bela jogada pela esquerda de Willian, já que Hazard, voltando de férias, começou no banco de reservas. Entrou na vaga do brasileiro e num rápido contragolpe serviu Pedro para fechar o placar.

Para quem viu o Milan da “árvore de Natal” de Carlo Ancelotti e com Kaká no auge vai lembrar de Pirlo armando o jogo de trás e Gattuso e Ambrosini marcando por ele para que o “regista” recebesse a bola limpa. É a mesma lógica com Jorginho, Kanté e Barkley. O primeiro é o que pensa. Com classe e inteligência.

Ainda que a dinâmica do futebol atual, especialmente o inglês, não garanta tanta liberdade para os jogadores mais recuados. Há muito mais pressão, no campo todo. O Chelsea de Sarri teve alguns problemas para transformar a posse de bola (64%) em infiltrações.

Subiu de três finalizações para doze,  quatro no alvo, na segunda etapa com mais espaços para os contragolpes. Mas ainda precisa se adaptar ao jogo de transições, bate-volta na Inglaterra. Para uma estreia como visitante, porém, já foi bem interessante. Inclusive para o goleiro Kepa, milionária reposição a Courtois. David Luiz também foi bem na última linha defensiva, agora com quatro homens. Mais responsável no balanço defensivo.

Tudo no ritmo de Jorginho. O volante que pensa e passa. Que o futebol brasileiro não vinha produzindo até Arthur. O novo camisa cinco dos Blues foi moldado na Itália. Mesmo antenado e atento ao que acontece nas principais ligas europeias, Tite demorou a perceber. Quando notou, ele já estava identificado com o futebol italiano e percebeu mais chances de ser titular na Azzurra. Mesmo ficando fora da Copa do Mundo. Um vacilo sem tamanho do treinador da CBF e sua comissão técnica.

Não que a seleção possa abrir mão de Casemiro, mas seria possível compor, adaptar. Bastava demonstrar interesse real de contar com ele entre os convocados com regularidade. Não deu tempo. Como atenuante para Tite, o fato de assumir com dois anos de atraso e gastar um ano para colocar o Brasil na Copa e outro para se colocar como uma seleção competitiva em alto nível. Sem muitas brechas para experiências.

Seja como for, a boa atuação no Chelsea é a prova de que adaptação rápida não é problema para Jorginho. Desfrutemos então de sua classe pela TV no futebol europeu. É o que resta.

(Estatísticas: BBC)

 

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O abismo de centímetros entre Romário e Neymar http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/10/o-abismo-de-centimetros-entre-romario-de-neymar/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/10/o-abismo-de-centimetros-entre-romario-de-neymar/#respond Tue, 10 Jul 2018 10:10:21 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4882

17 de julho de 1994. Rose Bowl, Pasadena, Estados Unidos. Brasil e Itália decidem a Copa do Mundo. Disputam o tetracampeonato, repetindo a final de 1970. Um tira-teima depois da vitória da Azzurra sobre a seleção de Telê Santana em 1982. Disputa direta entre Romário e Roberto Baggio pelo prêmio de melhor jogador da Copa e, consequentemente, do mundo naquele ano.

Arrigo Sacchi voltava a contar com Franco Baresi na defesa depois de uma milagrosa recuperação de uma lesão séria no joelho. Um extraordinário defensor, mas não deixava de ser incógnita quanto à sua condição física e ao ritmo de jogo para uma final de Copa. Ainda mais no calor sufocante de verão americano naquela tarde de domingo.

Era a chance de Romário brilhar, já que Roberto Baggio também sofria com desgaste físico, inclusive atuando com uma proteção na perna direita. Mas o Baixinho não repetiu o bom desempenho de toda a campanha brasileira. Cinco gols e uma assistência para Bebeto marcar o gol salvador contra os Estados Unidos em 4 de julho.

Baresi controlou bem as arrancadas de Romário ao longo dos 90 minutos. Na prorrogação, com Viola e mais fôlego, os espaços apareceram. Surgiu a chance de se consagrar completando passe de Cafu. Mas o camisa onze perdeu na pequena área. Uma chance que não costumava desperdiçar. Decisão por pênaltis, a primeira da história das Copas. Com personalidade, pediu ao treinador Carlos Alberto Parreira para cobrar. Não bateu bem, mas deu sorte de Pagliuca saltar para o outro canto e a bola tocar na trave direita e cair dentro do gol. A última cobrança, de Baggio, entrou para a história e o Brasil comemorou o tetracampeonato.

Foi a consagração de Romário. Prometeu classificar o Brasil e fez dois gols no Uruguai na última partida das Eliminatórias. Garantiu a conquista do tetra e não decepcionou. Todos os méritos para ele.

Mas imaginemos que aquele chute, por um detalhe do futebol e da vida, tocasse na trave e fosse para fora. Pênalti perdido pelo melhor do time. Poderia abalar a seleção pressionada por críticas e 24 anos sem títulos. A Itália poderia ter se aproveitado e virado a história do avesso.

Centímetros que salvaram um Romário sempre polêmico. Criticado em 1990 por não ter cuidado bem de uma fratura na perna jogando pelo PSV. Disputou pelada com gesso, tratou com a sua rezadeira Dona Nazaré da Vila da Penha. Foi para o Mundial na Itália, mas não rendeu o esperado. Disputou apenas o jogo contra a Escócia. Já tinha perdido a vaga de titular no ano anterior para Careca por ter sido expulso contra o Chile em Santiago pela Eliminatória,  complicando a equipe de Sebastião Lazaroni que precisou vencer no Maracanã na famosa partida da farsa do goleiro Rojas e da “fogueteira”.

Romário que teve seus privilégios nos Estados Unidos. Não só a liberação de treinos físicos e outras atividades que entendiavam o Baixinho. Jornais da época publicaram fotos de uma “namorada” que o atacante teria levado para a concentração da seleção, mesmo em dias que não eram de folga. Segundo as fontes, Parreira e Zagallo sabiam, o capitão Dunga também. Tudo foi abafado para não perturbar a estrela máxima da seleção.

Não é difícil prever o que aconteceria caso o Brasil não fosse campeão do mundo. Na caça às bruxas de sempre, o maior alvo seria o centro das atenções. Alguma dúvida de que tudo que hoje é tratado como “folclórico” seria motivo para demonização, mesmo sendo decisivo nas partidas anteriores?

É bom lembrar que a capacidade e a personalidade de Ronaldo Fenômeno também foi questionada pela convulsão e atuação apática na final da Copa de 1998 até escrever uma das maiores histórias de redenção do esporte com o título e a artilharia em 2002. Até de “amarelão” foi chamado, em colunas e mesas redondas. Sem contar as vaias em 1997 e 1998 quando não rendia.

Ronaldinho virou vilão em 2006. Rivaldo foi perseguido em 1996 pelo desempenho pífio na seleção olímpica. Kaká já foi alvo de pipocas no São Paulo e também criticado pelo desempenho com a camisa verde e amarela em 2006. Todos Bolas de Ouro, como Romário. Até Pelé, que teria um busto em cada esquina em qualquer país do mundo que ama futebol, é criticado e ironizado no Brasil.

Todos tinham um outro craque para dividir um pouco os holofotes. Pelé teve Garrincha, Romário teve Bebeto, depois Ronaldo. Fenômeno que teve Rivaldo, mais tarde Ronaldinho Gaúcho que chegou a dividir o bastão com Kaká.

E chegamos a Neymar. Estrela única do futebol brasileiro atual. A referência na bola e na mídia. Com idiossincrasias e privilégios, como quase todo destaque. Como Messi na Argentina e no Barcelona, Cristiano Ronaldo em Portugal e no Real Madrid. Como Romário por onde passou.

Criticado no inicio da Copa por individualismo, simulações, irritação. A partir do jogo contra a Sérvia, até por estar pendurado com um cartão amarelo, focou no futebol e foi importante para a classificação brasileira. Diante do México, a melhor atuação com gol e o chute que Ochoa deu rebote e Firmino completou. Pisado por Layun, pode ter exagerado na reclamação, mas não a ponto de transformar o agressor em vítima como Juan Carlos Osorio tentou fazer parecer.

Com o camisa dez brasileiro mais concentrado e rendendo, as críticas ficaram mais discretas. Ou veladas. Afinal, a cobrança era para que ele jogasse futebol e esquecesse as polêmicas, os enroscos. Foi o que fez. Mas quem persegue fica à espreita esperando o momento do bote. Ele veio.

Contra a Bélgica, atuação irregular como todo time. Mal no primeiro tempo pela desvantagem de 2 a 0. Mesmo com 26 anos, não tem o perfil de liderança de pegar a bola e conduzir a equipe. Nem Romário tinha. Em 1994, esta era a função de Dunga.

Melhorou na etapa final como toda a equipe. No ataque derradeiro, o belo chute que parou na defesa ainda mais espetacular do goleiro Courtois. Tocou na bola o suficiente para desviá-la e impedir o empate. Centímetros. De braço. De história.

Imaginemos Neymar empatando o jogo no final. Deixando o Brasil com vantagem física e emocional para a prorrogação. Com chances de marcar pelo menos mais um que garantisse a vaga nas semifinais. Alguém imagina como seria o discurso? No mínimo, exaltando a personalidade no momento decisivo.

Certamente lembrariam do desempenho fantástico nas disputas de mata-mata do título do Barcelona na Liga dos Campeões 2014/15. Superior a Messi, inclusive. Artilheiro junto com os dois gênios da geração. Gol em final. Ou a conquista da Libertadores de 2011 também marcando na decisão contra o Peñarol. Ou quando assumiu a responsabilidade e conduziu o Barcelona aos 6 a 1 sobre o PSG em 2017, arbitragem à parte. Feitos que Romário, por exemplo, não ostenta em seu currículo. Na única final europeia, derrota do seu Barcelona por 4 a 0 para o Milan.

De certa forma, Neymar também ajudou a colocar o Brasil na Copa. Ausente de boa parte dos jogos da Era Dunga nas Eliminatórias, assumiu a responsabilidade no início do trabalho de Tite. Quando os resultados eram fundamentais para tirar da incômoda sexta posição, fez um gol de pênalti, deu assistência no terceiro e participou da jogada do segundo, ambos de Gabriel Jesus nos 3 a 0 sobre o Equador em Quito. Nos 2 a 1 sobre a Colômbia, cobrou escanteio na cabeça de Miranda e marcou o gol da vitória. Terminou com seis gols, um a menos que Gabriel Jesus. Hoje parece quase nada, mas teve seu peso naquele momento de dificuldade.

Não aconteceu para Neymar na Rússia. E veio a onda de dedos apontados. Piadas e memes. De todo o planeta. Reduzindo Neymar a um pseudocraque que rola pelos gramados. Um mero produto da mídia mimado e que engana os incautos e pachecos. Marrento e antipático. Como se outros talentos não fossem. Como Romário.

Centímetros. Que salvaram Romário em 1994 na sua última Copa do Mundo. Em 1998, pelo temperamento complicado e por tudo que aprontou nos Estados Unidos e depois, não contou com a paciência de Zagallo para aguardar a recuperação de uma lesão na panturrilha. Em 2000, por conta de uma desavença com Vanderlei Luxemburgo no Flamengo em 1995, ficou de fora da Olimpíada. Dois anos depois, descartado por Luiz Felipe Scolari, viu o penta pela TV. Tudo porque era “difícil”. Também simulava faltas e pênaltis. Dobrava os joelhos e jogava o corpo para a frente. Mas aí entrava na cota da “malandragem”…

Como foi tetra virou mito. Com a fama de “jogar e decidir”, ainda que ostente poucos títulos para os 22 anos de carreira profissional. Merece o reconhecimento. Mas sabemos que um detalhe poderia ter jogado um dos maiores atacantes de todos os tempos no limbo da história.

Neymar corre este risco. Mesmo superando Romário na artilharia da seleção, agora com 57 gols – e homenageou o artilheiro aposentado na comemoração. Todos que não aceitam sua personalidade contraditória aproveitam o momento de baixa para a vingança. Ou apenas aproveitam para colocar em prática a crueldade de afirmar teses em cima da imagem dos outros.

Por centímetros do braço de Courtois. Com final diferente do efeito dos centímetros que levaram a bola da trave para dentro na cobrança de pênalti de Romário em 1994. Um chute não tão bom que entrou, outro perfeito interceptado na trajetória que parecia inevitável. Medida que cria um abismo entre dois dos maiores da história do futebol cinco vezes campeão do mundo.

No Brasil do pensamento binário, no qual quem não odeia é passador de pano, é bom deixar claro: este post não é uma crítica a Romário. Este que escreve viu ainda garoto, em 1984, marcando gols pelos então “juniores” (sub-20) do Vasco nas preliminares do Maracanã. E tantas vezes testemunhou no estádio o talento do gênio da grande área do século 20. Um ídolo.

Muito menos a intenção é blindar Neymar. Quem acompanha o blog sabe que este que escreve evita mencionar o nome do personagem que mais atrai cliques na internet. Oportunismo aqui passa longe. E para massacrar já há gente até demais. Mas não discordo de quem considera Neymar mal orientado e assessorado. Na bolha em que vive há quase uma década ele precisa de uma voz que o conecte à realidade para evitar certos desgastes desnecessários. Já passou da hora de amadurecer.

O texto e o “se” que o norteia propõem apenas uma reflexão sobre a nossa capacidade de idolatrar ou ridicularizar por um resultado. Definido por detalhe, pelo imponderável. Tão pouco. Centímetros.

 

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Gabriel Jesus é mais uma vítima do trauma de 1982: a crítica “preventiva” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/04/gabriel-jesus-e-mais-uma-vitima-do-trauma-de-1982-a-critica-preventiva/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/04/gabriel-jesus-e-mais-uma-vitima-do-trauma-de-1982-a-critica-preventiva/#respond Wed, 04 Jul 2018 09:54:53 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4828

Carl Recine / Agência Reuters

Careca, Romário e Ronaldo. Grandes destaques individuais do Brasil nas Copas do Mundo de 1986 a 2002. Centroavantes, por coincidência. Canto do Cisne do Fenômeno e o início do ocaso de Adriano Imperador, em tese o sucessor, em 2006. Luís Fabiano em 2010 e Fred em 2014. Típicas referências na área. O jogador que fica no centro do ataque para finalizar.

Nos acostumamos com os fazedores de gols. Os mais talentosos não só por isto. Mas estão no imaginário popular. “O centroavante é o mais importante”, como diz a canção. Só que tudo muda. O futebol, o contexto, as necessidades.

Até Roberto Firmino calar boa parte da desconfiança habitual acerca de um jogador que faz sua carreira na Europa sem história em um grande clube brasileiro, Gabriel Jesus era quase unanimidade. Joia do Palmeiras contratada por Guardiola no Manchester City. Artilheiro da “Era Tite” ao lado de Neymar com dez gols, inclusive o da vitória sobre a Alemanha no amistoso em março tratado como decisão. Quando Diego Souza foi testado na função e Jô fazia seus gols pelo campeão brasileiro Corinthians, o questionado era Firmino.

Mas bastaram quatro jogos na Copa do Mundo sem gols e assistências, embora tenha tocado na bola antes de Philippe Coutinho colocar nas redes e aliviar a angústia contra a Costa Rica, para Jesus começar a ser criticado. Ou perseguido. Aos 21 anos, em sua primeira Copa do Mundo.

Até porque os alvos anteriores colocaram uma enorme pedra sobre as críticas. Thiago Silva, o “chorão”, com uma Copa perfeita até aqui, com exceção do erro de posicionamento no gol da Suíça na estreia. Inclusive e principalmente pela liderança com personalidade. E Neymar, o “mimado”,  optou por focar totalmente no futebol. Corte de cabelo discreto, sem reclamações e simulações. Muito pelo temor de levar o segundo cartão amarelo e ficar de fora de um jogo decisivo por suspensão. Dois gols e voltando a desequilibrar.

Então é Gabriel Jesus a bola da vez. Porque a seleção brasileira precisa ter um problema, uma deficiência para ser apontada. Uma espécie de defesa contra o “oba oba”. Ou o ufanismo associado a Galvão Bueno, a voz global que desde 1990 alimenta a empolgação em tempos de Copa do Mundo.

Mas o trauma vem de antes e é transferido de geração para geração. O registro histórico do Mundial na Espanha em 1982 é de uma torcida iludida, alimentada pela mídia na época. Inclusive radialistas cariocas estimulando o povo a organizar bolões em que as apostas focavam apenas no placar da vitória brasileira e quem faria os gols.

Como sempre, o mito é um pouco maior que os fatos. Havia críticas, sim. A Waldir Peres pela insegurança nas duas primeiras partidas, contra União Soviética e Escócia. A Serginho Chulapa, por marcar gol apenas contra a Nova Zelândia. Também a Telê Santana pela mudança de sistema, com Cerezo entrando na vaga de Paulo Isidoro  e abrindo um buraco pelo lado direito, sobrecarregando o lateral Leandro. Impossível esquecer de Zé da Galera, personagem de Jô Soares, bradando “Bota ponta, Telê!”

A euforia tomou conta mesmo depois dos 3 a 1 sobre a Argentina. Porque Waldir Peres fez grandes defesas, Serginho marcou o segundo gol de cabeça em uma jogada bem arquitetada pela direita, entre Zico e Falcão. Vitória sobre os então campeões do mundo com o reforço do jovem gênio Diego Maradona.

Veio a derrota para a Itália e duas figuras acabaram capitalizando com aquela decepção: João Saldanha e Zezé Moreira. O jornalista por apontar defeitos brasileiros em seus comentários no rádio e nas colunas em jornais e o treinador por elogiar a Itália como observador de Telê e ser até ironizado. Nada intencional, apenas opiniões embasadas em meio a um carnaval fora de época.

Junte a isso o “Maracanazo” em 1950 com a foto dos jogadores brasileiros na capa do jornal “O Mundo” na manhã da final contra o Uruguai já sagrando os campeões mundiais e pronto! Nascia ali um temor de elogiar a seleção e tratá-la como favorita. Favoritismo que não significa título conquistado.

O resultado é que há muita gente querendo ser João Saldanha ou radicalizar sendo uma espécie de “Profeta do Apocalipse”. Missão fácil e sedutora. Afinal, a chance de acerto é enorme – antes eram 31. Agora são sete contra uma (7 a 1!). Basta o Brasil perder para dizer “Eu avisei!”

Bem mais cômodo do que ter a opinião associada a Galvão Bueno, acusado de manipular o povo através do simplismo resultadista de elogiar sem limites na vitória e vilanizar e demonizar nos reveses. Ou, nas palavras do narrador, “vender emoções”.

Gabriel Jesus está no olho do furacão. Porque centroavante tem que fazer gol. Mesmo que desta vez a estrela do time seja o camisa dez e o nove também jogue em função dele. E do time. Como na movimentação abrindo espaços para o passe de Coutinho e a infiltração de Paulinho no primeiro gol sobre a Sérvia.

Contribuição para o time difícil de quantificar. Não é gol, nem assistência. Mas facilita a equipe. Como a volta pela esquerda fechando a inversão de bola para o lateral direito adversário. Ou a pressão no zagueiro que força o chutão e a bola retomada pela equipe de Tite. A solidez defensiva passa também por Gabriel Jesus. O futebol atual é assim, gostem ou não.

Não é “passar pano”. Nem garantir titularidade. Se Firmino entrar e melhorar o desempenho da equipe com e sem a bola, marcando gols ou não, ótimo para o Brasil. Talvez a mudança ensaiada contra o México, com Neymar solto e Jesus pela esquerda, como na reta final da Olimpíada, possa ser a melhor solução para incrementar o rendimento ofensivo.

E vale voltar novamente a 1982: Paolo Rossi era o centroavante contestado nos quatro primeiros jogos da Itália na Copa do Mundo. Nenhum gol. Até marcar três no Brasil, dois na Polônia e um na final contra a Alemanha para terminar como artilheiro e craque do Mundial.

O que se questiona, de fato, é a crítica “preventiva” e o foco apenas no aspecto negativo. O ponto branco no quadro escuro ou vice-versa. O tradicional “parece tudo bem, mas…” Seguindo a máxima de Millôr Fernandes: “Jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”. Princípio que esquece que quem critica sempre tem a mesma credibilidade de quem elogia sempre. Porque no futebol e na vida não há lugar para maniqueísmo.

Ainda que o extremismo esteja cada vez mais presente. E o ódio. As pessoas se unem mais nas redes sociais pelo que detestam do que pelo que amam. Se prefere Messi é preciso odiar Cristiano Ronaldo. Ou Neymar. E por aí vai. No esporte, na política, em tudo.

Gabriel Jesus é o vilão do momento. Mais uma vítima, no fim das contas. Antes o prodígio de origem humilde, agora o “amarelão”. Porque com a nove não pode errar. Ou com qualquer número da camisa verde e amarela, entidade que parece centralizar todas as paranoias de um país.

 

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Ventura? Itália brinca com a sorte e pune geração nem tão fraca assim http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/11/14/ventura-italia-brinca-com-a-sorte-e-pune-geracao-nem-tao-fraca-assim/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/11/14/ventura-italia-brinca-com-a-sorte-e-pune-geracao-nem-tao-fraca-assim/#respond Tue, 14 Nov 2017 11:44:35 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3693

Foto: Divulgação/FIGC

A Itália não tem uma geração talentosa para duelar com a renovada Espanha por uma vaga na Copa do Mundo. Mas não precisava de tanto assim para superar uma Suécia sem Ibrahimovic na repescagem das eliminatórias.

Buffon na meta, uma defesa experiente, Jorginho e Verratti no meio-campo e bons nomes como Bernardeschi, Belotti e Insigne na frente. Mais que suficiente para colocar a Azzurra em mais uma Copa do Mundo. O que aconteceria na sequência dependeria do sorteio e de como a seleção chegaria à Rússia.

Em 2010 chegou na África do Sul em crise. No Brasil em 2014, o calor e o grupo complicado, com a surpreendente Costa Rica terminando na liderança, frustraram os planos.

Mas há uma referência mais recente que mostra que a crise não deveria ser tão feia: a Eurocopa 2016. Da grande atuação contra a então envelhecida Espanha e do belo duelo tático contra a Alemanha nas quartas-de-final. Perdendo apenas nos pênaltis para a atual campeã mundial. Há pouco mais de um ano, com praticamente os mesmos jogadores. E Antonio Conte no comando técnico.

Eis o ponto de desequilíbrio. Ainda que a saída do treinador para o Chelsea tenha sido traumática, a escolha do sucessor não podia ter sido tão aleatória. Giampiero Ventura, aos 69 anos, assumiu a seleção quatro vezes campeã mundial com a seguinte sequências de times no currículo nos últimos dez anos: Verona, Pisa, Bari e Torino.

Com todo respeito que essas equipes merecem, principalmente a história do clube de Turim, é muito pouco para o peso do cargo. Ainda que se compreenda a lógica diferente na Europa, na qual os melhores treinadores trabalham em clubes e não nas seleções, a federação italiana foi, no mínimo, infeliz. Com um Maurizio Sarri ali tão perto…

O resultado prático foi uma seleção armada num 4-4-2 com jeito de 4-2-4, com o meio-campo esvaziado logo diante da Espanha de Busquets, Isco, Iniesta, David Silva.. Se não há tantas opções de qualidade é obrigatório fazer o simples: organização e eficiência nas transições, defensivas e ofensivas. O que a Itália ensinou para o mundo e virou sua marca, até um clichê para falar do futebol praticado no país. Difícil entender.

Na decisão contra a Suécia no San Siro, a escolha de Immobile, um atacante de velocidade que precisa de espaço para receber às costas da retaguarda, para enfrentar uma equipe com sistema defensivo posicionado na maior parte do tempo para administrar a vantagem mínima construída no jogo de ida. Nos minutos finais, a imagem patética do volante De Rossi apontando para Insigne, talvez o mais talentoso atacante, como o jogador que deveria entrar e não ele. Apenas mostrando o óbvio.

É claro que, ainda assim, era possível fazer dois gols nos suecos em Milão e ao menos garantir o básico. Mas a Itália brincou com a sorte ao escolher Ventura. Agora paga com as lágrimas de Buffon, que não merecia se aposentar com tamanha decepção, e um dos grandes vexames de sua história. Repetindo o insucesso de 1957 ao perder a vaga para o Mundial da Suécia para a Irlanda do Norte e superando o papelão da constrangedora eliminação para a Coréia do Norte na Copa de 1966.

Vão falar em “geração fraca”, crise no Calcio e outras teses apocalípticas. Mas a liga, apesar do domínio da Juventus, tem mostrado evolução no futebol jogado, não só por causa dos estrangeiros. Basta ver o Napoli para notar que os conceitos mais atuais do jogo estão presentes. O erro maior foi a falta de cuidado e respeito com a própria história na hora de definir quem lideraria um dos maiores patrimônios do futebol mundial à beira do campo. Pecado mortal.

 

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História mostra que favoritismo um ano antes da Copa do Mundo é pura ilusão http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/09/04/historia-mostra-que-favoritismo-um-ano-antes-da-copa-do-mundo-e-pura-ilusao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/09/04/historia-mostra-que-favoritismo-um-ano-antes-da-copa-do-mundo-e-pura-ilusao/#respond Mon, 04 Sep 2017 09:50:30 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3268 Entre dezembro de 1981 e outubro de 1983, a Itália disputou 16 partidas. Nenhuma vitória nas seis primeiras, sem triunfos nas seis últimas. Venceu apenas quatro: Argentina, Brasil, Polônia e Alemanha. Exatamente as que lhe deram o terceiro título mundial na Copa da Espanha.

Favoritismo? Zero, mesmo com a manutenção de boa parte do grupo da Copa de 1978 que venceu a campeão e anfitriã Argentina e terminou em quarto perdendo dois jogos, para Holanda e Brasil, por detalhes. Mas nas Eliminatórias ficou atrás da antiga Iugoslávia. Não há dúvidas, era zebra. Até pelo escândalo de manipulação de resultados, o “Totonero”, que comprometeu o futebol do país.

Parecido com o de 2006 que rebaixou a campeã Juventus e também tirou qualquer favoritismo de uma Azzurra igualmente forte e talentosa comandada por Marcelo Lippi. Outro título inesperado, quando o Brasil era favorito.

Aliás, chegar como principal candidato só fez bem ao Brasil no Chile em 1962. Ainda assim, com superação da ausência de Pelé. Garrincha e o “apito amigo” contra a Espanha ajudaram a construir o bicampeonato. O último, sendo o outro em 1934/38 dos italianos.

A Alemanha pode repetir o feito na Rússia. A conquista da Copa das Confederações reforçou a impressão de que a renovação está sendo bem conduzida por Joachim Low. Com Kimmich no lugar de Lahm e Toni Kroos suprindo a aposentadoria de Schweinsteiger. Mais Draxler, Brant, Stindl, Werner, Hector se juntando a Ozil, Muller, Hummels, Neuer.

Se em 2014 a chegada de Pep Guardiola ao Bayern de Munique foi influência clara no modelo de jogo alemão, desta vez a inspiração, ou variação do estilo, parece vir da Inglaterra, mas de um treinador italiano: o 5-4-1/3-4-3 do Chelsea de Antonio Conte. Para propor o jogo ou reagir de acordo com as circunstâncias. Um time inteligente.

Como já era há três anos, mas foi um tanto menosprezado pelo revés na Eurocopa dois anos antes na semifinal contra a Itália de Balotelli. A ponto de transformar a final da Copa das Confederações entre Brasil e Espanha em uma espécie de “tira-teima” entre a campeã mundial e bi da Eurocopa e o anfitrião buscando recuperar protagonismo.

A seleção de Luiz Felipe Scolari venceu e foi mais uma a se iludir com a conquista. Como Dunga em 2009 e Parreira em 2005. A convicção de que o grupo estava fechado e o trabalho pronto só necessitando de manutenção foi ilusória. Porque o que define os rumos do Mundial é a temporada europeia que se encerra com a Copa.

Basta lembrar a queda de rendimento de Paulinho e Fred e o período de adaptação de Neymar no Barcelona que minaram as forças de um trabalho de um ano e meio, incompleto. Assim como o de Tite agora, que acabou de completar doze meses. Dois anos perdidos com Dunga que podem fazer falta.

Porque haverá menos testes e chances de observação. Ou tempo para o amadurecimento da proposta de jogo. É um processo que vai queimando etapas por necessidade. O treinador assumiu precisando de resultados e evolução rápida. Pelo próprio mérito, as nove vitórias seguidas nas Eliminatórias alçaram a equipe diretamente do risco de ficar de fora de sua primeira Copa do Mundo à condição de uma das favoritas.

Mais rápido que isso só em 1993, quando os 2 a 0 sobre o Uruguai com atuação antológica de Romário levaram o escrete canarinho do futuro incerto ao protagonismo. Em uma partida, por conta de um atacante genial que depois confirmou seu estrelato com a taça que não vinha há 24 anos e a Bola de Ouro como melhor do mundo.

Mas a grande favorita era a Itália de Roberto Baggio, o grande jogador do ano anterior. Assim como em 2002 as apostas recaíam sobre Argentina e França, que em 1998 superou em casa o Brasil de Ronaldo, candidatíssimo ao bi. Sob o comando de Platini, os franceses eram os favoritos em 1986. Mas havia um Maradona pelo caminho. Gênio que colocou a Argentina na final em 1990, mas havia uma Alemanha na decisão para confirmar a alternância de poder.

Resumo da ópera: falar em favoritismo no ano anterior é puro chute. Até porque este Mundial tende a não repetir os dois últimos, com as vencedoras tendo como bases as melhores equipes do mundo à época. Espanha do Barcelona e Alemanha do Bayern de Munique. Com entrosamento, movimentos já executados de memória. Seleções maduras, com craques no esplendor.

Mesmo os espanhois em 2010 não chegaram com tal status. Nema conquista da Euro 2008 minimizou o fato de não fazer parte do seleto grupo de campeões. A derrota para os Estados Unidos que tirou a chance de um duelo contra o Brasil de Dunga no ano anterior fez da grande seleção daquele período uma incógnita. Talvez por isso tenha triunfado.

Agora a Alemanha titular, em tese, tem apenas Neuer, Kimmich, Hummels e Muller do time bávaro. Na Espanha,  Barcelona e Real Madrid dominam naturalmente, mas o time merengue bicampeão europeu também cede apenas quatro: Carvajal, Sergio Ramos, Isco e Asensio. A França poderia se basear em PSG e Monaco, mas as mudanças na janela de transferência pulverizaram qualquer chance de ter uma ou duas equipes como referências.

O Brasil, como bem disse Renato Augusto numa coletiva recente, está “no bolo”. É candidato, como foi até no fiasco de 1990. Um ano antes, vencera a Copa América e Itália e Holanda, outras favoritas. Mas sucumbiu no Mundial pela queda técnica e lesões de seus grandes destaques: Bebeto, Careca e Romário.

Contexto, circunstâncias, o imponderável.Tudo isso pesa em um ano. Por isso é tão difícil pensar em junho de 2018. O dinamismo do mundo atual já é absurdo. No futebol mais ainda. Mais prudente celebrar a evolução brasileira e evitar falar em grupo fechado, sistema definido ou qualquer coisa que sugira uma estabilidade que não se sustenta. Serve apenas como linha mestra para não se perder no planejamento.

A Copa não começa agora. Melhor segurar a ansiedade e respeitar a sequência e o tempo de cada seleção. A pressa, neste caso, é ainda mais inimiga.

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Dois falsos 9, laterais pontas, show de Isco. O “caos ordenado” da Espanha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/09/02/dois-falsos-9-laterais-pontas-show-de-isco-o-caos-ordenado-da-espanha/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/09/02/dois-falsos-9-laterais-pontas-show-de-isco-o-caos-ordenado-da-espanha/#respond Sat, 02 Sep 2017 21:09:34 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3262 A Itália de Gianpiero Ventura resolveu encarar de peito aberto a Espanha no Santiago Bernabéu. De Rossi plantado à frente da retaguarda, Verratti na armação; Candreva e Insigne pelas pontas, Belotti e Immobile na frente. Bem diferente do sistema com três zagueiros, linhas próximas, rapidez e objetividade nas transições ofensivas dos tempos de Antonio Conte que acabaram na grande vitória por 2 a 0 sobre os espanhois nas oitavas de final da Eurocopa 2016.

A Espanha de Julen Lopetegui respondeu com a radicalização da fórmula da vitória na final continental de 2012. Se há cinco anos Cesc Fábregas era o falso nove nos 4 a 0 em Kiev que deram o bicampeonato para a “Roja”, desta vez havia dois: Iniesta e David Silva, os mais veteranos do setor ofensivo, ficavam mais adiantados quando a equipe perdia a bola e se transformavam nos articuladores quando a recuperava.

A dupla era ultrapassada por Asensio e Isco, os pontas que se alternavam pelos lados e voltavam para formar a segunda linha de quatro com Busquets e Koke. Na retomada, buscavam as diagonais ou os espaços entre as linhas. Carvajal e Jordi Alba também passavam voando pelos flancos. Abrindo o campo e confundindo ainda mais a espaçada marcação da Azzurra.

O resultado foi um espetáculo de posse de bola com verticalidade, mobilidade, tabelas e triangulações efetivas. Qualidade ocupando o campo de ataque ou jogando nos contragolpes. Mesmo que o conceito de “falso nove” moderno seja do Barcelona de Pep Guardiola com Messi, ficou clara a mudança de bastão para o Real Madrid de Zinedine Zidane no modelo de jogo da seleção.

Especialmente por causa de Isco, o melhor jogador em atividade no planeta entre os “terráqueos” – ou seja, tirando Messi e Cristiano Ronaldo do debate. Impressionante a evolução técnica e tática do meia. A naturalidade com que circula às costas dos volantes adversários, sai da ponta para dentro servindo os companheiros ou finalizando. Com bola parada ou rolando. Golaços em cobrança de falta e jogada individual.

O destaque absoluto dos 3 a 0 – com Morata, que entrou na vaga de Iniesta e o time voltou a ter uma referência na frente – que encaminham a vaga direta para o Mundial na Rússia e podem sinalizar o futuro da Espanha que domina o cenário entre os clubes e tem potencial para voltar a ser protagonista entre as seleções. O “caos ordenado” atacando por todos os lados e tirando a referência da retaguarda do oponente. A Itália não faz a mínima ideia do que a atropelou.

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