Libertadores – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Seis anos do 7 a 1 e pouco aprendemos com a derrota. Só copiamos quem vence http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/08/seis-anos-do-7-a-1-e-pouco-aprendemos-com-a-derrota-so-copiamos-quem-vence/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/08/seis-anos-do-7-a-1-e-pouco-aprendemos-com-a-derrota-so-copiamos-quem-vence/#respond Wed, 08 Jul 2020 17:11:42 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8736

Imagem: Pedro Ugarte / AFP Photo

Seis de setembro de 2014. Menos de dois meses depois da maior derrota da história da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari dava entrevista coletiva no Maracanã como treinador do Grêmio. Este que escreve estava presente, trabalhando na cobertura do jogo para a ESPN Brasil. Altivo e refratário a qualquer questionamento sobre os 7 a 1, Felipão foi tratado pelos jornalistas dos veículos gaúchos, cariocas e nacionais como o dono da razão.

Afinal, seu time havia vencido o Flamengo de Vanderlei Luxemburgo por 1 a 0, gol de Luan, pelo Brasileiro. Encerrando uma série de cinco vitórias do time rubro-negro na competição. Era o primeiro triunfo do tricolor fora de casa sob o comando de Felipão e a equipe ocupava a sexta colocação, quatro à frente do Fla.

Grêmio que terminaria em sétimo e, no ano seguinte, Roger Machado seria o sucessor de Scolari e de um trabalho que deixou terra arrasada e a necessidade de reconstrução. O treinador novato encarou a missão e deixou base e conceitos que seriam aprimorados para em 2017 alcançar o auge com a conquista da Taça Libertadores. Com Renato Gaúcho no comando técnico.

Outro veterano e boleirão que viraria referência no ano seguinte. Junto com Felipão, de volta ao Brasil para comandar o Palmeiras que seria campeão brasileiro; A ponto de no final de 2018, o Flamengo, com nova diretoria liderada por Rodolfo Landim, o vitorioso na eleição para a sucessão de Eduardo Bandeira de Mello, escolher Abel Braga para ser o novo técnico.

Boleiro, perfil “paizão”, bom gestor de vestiário. Essa era a “moda” do futebol brasileiro no início de 2019. Reforçada com os títulos estaduais de Abel no Fla e Renato no Grêmio, mais o início avassalador do Palmeiras no Brasileiro. A ponto de na Copa América, disputada no Brasil, surgirem vozes críticas ao trabalho de Tite que tinham a coragem, quase audácia, de pedir a volta de Felipão no comando da seleção.

No dia 7 de julho, um dia antes de completar cinco anos do “Mineirazo” na semifinal da Copa do Mundo realizada no Brasil, a equipe de Tite conquistou o torneio continental como anfitrião. Sem saber que um furacão estava por vir.

Jorge Jesus no Flamengo. A união de qualidade, conceitos atuais e combinação de características dos jogadores que criou rapidamente um grande time. Cuja vitória de afirmação foi sobre o mesmo Palmeiras de Felipão. 3 a 0 no Maracanã que custou o emprego do técnico gaúcho.

Não foi o único. Fabio Carille, campeão brasileiro em 2017 e tri paulista, também ficou desempregado depois de uma goleada para os rubro-negros por 4 a 1. Assim como Mano Menezes, que caiu na antepenúltima rodada do Brasileiro por conta da derrota do Palmeiras em casa por 3 a 1 para a equipe de Jorge Jesus.

Ambos que carregaram um “hype” nos anos anteriores. Mano pelos títulos da Copa do Brasil pelo Cruzeiro, Carille pelas conquistas no Corinthians e sendo o ponta-de-lança de uma moda que veio antes dos técnicos veteranos: os “jovens, modernos e estudiosos” que ocuparam postos em grandes clubes e sinalizaram uma revolução no futebol brasileiro.

Nem era o caso. Carille simplesmente resgatou a  “identidade Corinthians” que assimilou e ajudou a implementar como auxiliar de Mano e Tite. Em entrevistas, deixava claro que não costumava acompanhar muito o que acontecia nos grandes centros da Europa. Enquanto vencia, essa prática não era criticada pela maioria na imprensa. Muitas vezes foi defendida, como se nossa realidade medíocre fosse imutável e qualquer influência do exterior não pudesse vingar.

Jorge Jesus chegou e virou tudo do avesso. Mas mesmo ele, apesar de toda excelência no desempenho do Flamengo, foi alvo de críticas, senões e “o trabalho é bom, mas…”, só calando a maioria das ressalvas quando alcançou o feito inédito de vencer Brasileiro e Libertadores no mesmo ano. Quebrando um paradigma que já tinha virado uma espécie de dogma: não seria possível disputar ambas em alto nível. Só rodando o elenco e poupando titulares em várias partidas do campeonato por pontos corridos.

Solução de Renato Gaúcho no Grêmio e também tratada como modelo. De Felipão no Palmeiras e depois do próprio Abel no início do Brasileiro pelo Flamengo. Pulverizada com os 5 a 0 na semifinal da Libertadores, com o time de Jesus atropelando a equipe do treinador que era tratado como o sucessor inevitável de Tite na seleção. Renato só não caiu no Grêmio depois do massacre no Maracanã por tudo que conquistou no clube, como jogador e técnico.

Jorge Jesus agora é a referência. Inclusive para a seleção brasileira. Porque venceu. E Tite, hoje questionado, já foi ídolo e tratado como um modelo de ética e competência até para ocupar a Presidência da República. Porque varreu os adversários nas Eliminatórias. A eliminação na Copa do Mundo para a Bélgica em um jogo igual, com tempos distintos, foi suficiente para colocá-lo em xeque.

E só conseguiu o tão sonhado posto na CBF porque em meados de 2016 era o último treinador campeão brasileiro, comandando o Corinthians. A bola da vez e sem concorrentes diretos. Se tivesse perdido o título para o Atlético Mineiro de Levir Culpi em 2015, mesmo com a evolução em métodos e no modelo de jogo depois de um ano “sabático” de estudos, talvez a oportunidade não tivesse surgido.

Enquanto tudo isso acontecia, o trauma e a reflexão sobre os 7 a 1 foi se diluindo com a passagem do tempo. A narrativa do “acidente” se fortaleceu, até pela queda dos alemães depois do ápice com o título mundial. A ponto de Felipão, o grande responsável pelas fragilidades da seleção anfitriã e pelas escolhas infelizes na escalação para o jogo do Mineirão, ser novamente tratado como solução e referência.

Seguimos olhando resultados e navegando ao sabor dos ventos. Na tentativa e erro em loop. O Flamengo se equivocou com Abel, agora acerta com Jesus, que pode voltar para Portugal treinar o Benfica. Se acontecer, quem será a próxima referência? A nova moda ou o “hype” da vez?

Não aprendemos nada, ou muito pouco. Só copiamos, ou tentamos copiar, quem vence. Só respeitamos quem sai com os três pontos. Um imediatismo que faz esquecer tudo muito rápido. O futebol é dinâmico, mas nem tanto.

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Permanência de Jorge Jesus no Flamengo renova também o incômodo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/08/permanencia-de-jorge-jesus-no-flamengo-renova-tambem-o-incomodo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/08/permanencia-de-jorge-jesus-no-flamengo-renova-tambem-o-incomodo/#respond Mon, 08 Jun 2020 11:18:58 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8620

Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

Bastou que a pauta da renovação do contrato de Jorge Jesus com o Flamengo surgisse com mais força nos veículos de comunicação e nas redes sociais para que alguns comentários “curiosos” começassem a brotar aqui e ali. Sempre com um viés que não se costuma ver sobre outros treinadores no Brasil.

Começou com Vanderlei Luxemburgo, em entrevista à Rádio Bandeirantes, afirmando que Abel Braga conseguiria o mesmo sucesso que o português se contasse com as contratações rubro-negras no segundo semestre – Rafinha, Pablo Marí, Filipe Luís e Gérson.

Algo muito questionável, considerando que Abel resistia em encaixar De Arrascaeta no time por não querer montar um “time de índio” e, mesmo em um torneio de nível técnico muito inferior como o Carioca, a equipe não chegou nem perto do nível de desempenho do segundo semestre.

Depois o ex-jogador e hoje comentarista Denilson questionou os valores da renovação do técnico campeão brasileiro, da Libertadores, da Supercopa do Brasil e da Recopa Sul-Americana. Ainda que, de fato, a cotação alta do euro possa tornar os 3,5 milhões pagos a Jesus e sua comissão técnica um montante considerável, o esforço de um clube ainda saudável financeiramente e com possibilidades de aumento de receitas em breve é mais que justificável. Afinal, trata-se de um profissional que mudou o patamar da equipe.

Sim, a diretoria do clube segue empilhando equívocos no trato de outras questões, como a empatia com as famílias dos jovens mortos no Ninho do Urubu, as demissões durante a pandemia após garantir três meses de resistência à crise e a pressa na volta do futebol sem perspectivas de achatamento da curva de contágio da Covid-19. Mas acertou nesta empreitada, inclusive na paciência para esperar o momento correto de fechar a negociação. Poderia ter saído ainda mais caro se o acordo fosse sacramentado no início de 2020, antes da parada forçada.

Por fim, o ex-treinador Emerson Leão, em progama no Esporte Interativo, definiu Jesus como “treinador de time rico”: “Joga com craques, que decidem partidas individuais”. Seja lá o que ele quis dizer, a afirmação é estranha, para dizer o mínimo, já que o maior mérito do português foi justamente fazer as estrelas trabalharem coletivamente.

É claro que todos esses depoimentos foram dados em meio a muitos elogios ao trabalho realizado no Flamengo. E obviamente os três personagens têm todo o direito de externar seus pontos de vista. Muito menos a intenção é transformar Jorge Jesus em uma figura intocável.

Mas desde a chegada do técnico ao Brasil, sempre que ele se torna um tema com maior destaque alguém aparece para tentar colocar algum asterisco. Por que o incômodo?

O fato de envolver o time de maior torcida do país sempre pesa. A repercussão é grande, a torcida está  atenta e repercute, gera engajamento. No caso de algumas figuras às vezes pode retomar uma visibilidade perdida. E clubes populares também atraem aquele desejo de que as coisas não funcionem tão bem.

Ainda mais o Flamengo, que tem a frase de Alexandre Kalil, ex-presidente do Atlético Mineiro e hoje prefeito de Belo Horizonte, afirmando que se o clube carioca se organizasse acabaria com a competição no futebol brasileiro, sempre vagando no imaginário popular.

Jorge Jesus é a personificação do sucesso do Fla na sua reestruturação financeira. Foi quem comandou em campo a transformação dos investimentos em títulos. Da provocação do “cheirinho” dos rivais nos gritos de campeão. Foram quatro em menos de um ano, sem contar a Taça Guanabara 2020.

E logo um estrangeiro, no país cinco vezes campeão do mundo que acha que não precisa aprender nada com ninguém. E de Portugal que, segundo o próprio Luxemburgo, “não ganhou nada” – talvez tenha esquecido das conquistas continentais de Benfica e Porto ou dos recentes títulos de Eurocopa e Liga das Nações comandados por Cristiano Ronaldo.

Para piorar, quebrando paradigmas como a impossibilidade, segundo palavras e atos dos profissionais daqui, de vencer Brasileiro e Libertadores no mesmo ano. Porque se chegasse longe na competição sul-americana era obrigatório deixar o campeonato nacional por pontos corridos de lado, utilizando time reserva apenas para garantir uma campanha digna, no máximo aspirando a uma vaga na Libertadores do ano seguinte.

E Jorge Jesus ainda adiciona um tom arrogante em suas entrevistas, para aumentar a raiva dos que torcem o nariz. Sem ataques pessoais, mas afirmando suas qualidades – às vezes carregando um pouco nas tintas, convenhamos. Algo que pode até ser justificado por conta das muitas ressalvas que colocaram sobre seu nome desde a chegada ao Brasil.

O português também desnudou limitações dos treinadores brasileiros. Ele e Jorge Sampaoli subiram o sarrafo e deixaram claro que o nosso teto de exigência estava baixo. No caminho para os títulos, algumas vitórias provocaram demissões de profissionais que eram tratados como referências: Luiz Felipe Scolari, campeão brasileiro de 2018; Mano Menezes, bicampeão da Copa do Brasil em 2017/18 com o Cruzeiro; Fabio Carille, campeão brasileiro em 2017 no Corinthians. Renato Gaúcho não caiu no Grêmio por tudo que representa, mas os 6 a 1 no agregado da semifinal continental abalaram as estruturas do clube gaúcho e mudaram parâmetros e planejamentos.

E tudo isso com enorme visibilidade. Não só aqui, mas também em Portugal. Com os jogos de Brasileiro e Libertadores sendo analisados lá. Escancarando os problemas táticos e estratégicos dos adversários do Flamengo. Falhas primárias dos sistemas defensivos, erros de posicionamento nas jogadas de bola parada, espaços generosos entre os setores. Problemas detectados às vezes com certo sarcasmo pelos comentaristas lusos.

De fato, é um “combo” para lá de incômodo. Toda a cadeia produtiva do futebol foi desafiada pelos feitos de Jorge Jesus no Flamengo. Inclusive nós, jornalistas, que somos obrigados a fazer um esforço na qualificação da análise. Não dá para reduzir tudo ao talento dos jogadores. O campo não mostra isso. As digitais do comando técnico são muito claras.

Jesus renovou contrato até junho de 2021. Mais um ano no Brasil. Com chances, sim, de cair o desempenho pelo contexto da volta do futebol pós-pandemia. Mas uma possibilidade considerável, até pela provável manutenção do elenco, de seguir vencendo e entregando rendimento.

Para alegria de milhões de rubro-negros e daqueles que apreciam um futebol bem jogado independentemente de preferências clubisticas, mas também angustiante para muita gente. Um processo inevitável.

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De Ronaldo a Adriano, 2009 foi o ano “The Last Dance” no futebol brasileiro http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/05/de-ronaldo-a-adriano-2009-foi-o-ano-the-last-dance-no-futebol-brasileiro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/05/de-ronaldo-a-adriano-2009-foi-o-ano-the-last-dance-no-futebol-brasileiro/#respond Fri, 05 Jun 2020 13:38:04 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8601

Foto: Folha Imagem

“The Last Dance” (“Arremesso Final” no Brasil) é a série da Netflix que apresenta com incríveis registros de bastidores a trajetória do Chicago Bulls de Michael Jordan  na conquista de seis títulos da NBA em oito anos. A “última dança” é a temporada 1997/98, definida em lendária cesta de Jordan contra o Utah Jazz. O brilho final de um mito dos esportes em todos os tempos.

Difícil encontrar história semelhante no esporte nacional, até por nuances como a pausa de Jordan para jogar beisebol em 1994, depois da morte do pai, e o anúncio do manager Jerry Krause, antes da última temporada começar, de que o treinador Phil Jacskon não seguiria na franquia. Sem contar a aposentadoria da estrela maior até a aventura no Washington Wizard de 2001 a 2003.

Mas o futebol brasileiro teve um ano especial que consagrou em seus campos pela última vez grandes estrelas do esporte. Cada um dentro de sua escala de grandeza.

2009 começou com Ronaldo Fenômeno voltando ao Brasil para liderar o Corinthians na sua volta à Série A e marcando um processo de reconstrução que levaria o time mais popular de São Paulo às maiores conquistas de sua história.

Mesmo com problemas físicos por conta das sérias lesões nos joelhos e a dificuldade de manter o peso ideal, Ronaldo foi protagonista nas conquistas do Paulista, este de forma invicta, e Copa do Brasil. Os últimos títulos da carreira de um dos maiores atacantes da história do futebol mundial. Com direito a gol antológico encobrindo Fabio Costa contra o Santos na Vila Belmiro pela decisão estadual.

Se o primeiro semestre foi do Corinthians do Fenômeno, o segundo reservou uma grande surpresa: o Flamengo campeão brasileiro depois de 17 anos, comandado por Adriano Imperador, que deixou a Internazionale para jogar pelo time de coração. Bem assessorado por Petkovic, de volta ao clube aos 36 anos para receber uma dívida ainda da primeira passagem, entre 2000 e 2002.

Apesar da gestão caótica, com direito à efetivação do interino Andrade depois da demissão de Cuca, o time conseguiu uma impressionante arrancada no returno que aproveitou as oscilações de São Paulo e Internacional para alcançar o título. O derradeiro protagonismo da dupla improvável e também o único do ídolo que virou treinador.

O ano do futebol no Brasil ainda teve o Mineirão como palco da última conquista de Libertadores do tetracampeão Estudiantes de La Plata. Vencendo o Cruzeiro por 2 a 1 depois de um empate sem gols na Argentina.

Liderado por Juan Sebastián Verón. Ou “La Brujita”, por ser filho de “La Bruja”, o também ídolo Juan Ramón Verón, tricampeão continental de 1968 a 1970. Aos 34 anos comandou o meio-campo na virada histórica com gol de Mauro Boselli. A última grande conquista de uma carreira com indas e vindas, assim como a de Jordan – sem comparações, é claro.

2009 foi o ano “The Last Dance” no futebol brasileiro.  Se não efetivamente da despedida dos campos de Ronaldo, Adriano, Petkovic ou Verón, marcaram os últimos momentos memoráveis de suas carreiras. De contribuições decisivas em conquistas relevantes. Para cada um, a “última dança” inesquecível.

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Futebol no Brasil continua mal jogado. Flamengo só é a melhor exceção http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/04/futebol-no-brasil-continua-mal-jogado-flamengo-so-e-a-melhor-excecao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/04/futebol-no-brasil-continua-mal-jogado-flamengo-so-e-a-melhor-excecao/#respond Thu, 04 Jun 2020 12:20:29 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8595

Foto: Gazeta Press

O companheiro Mauro Cezar Pereira foi parar no topo dos assuntos mais comentados no Twitter ontem à tarde por conta de sua análise sobre o futebol jogado no Brasil. No podcast “Posse de Bola”, aqui no UOL Esporte, ele afirmou que até 2019, com algumas exceções, os times escolheram a tese do “jogar feio e vencer”. Os Jorges, Jesus e Sampaoli, teriam mudado esse cenário no ano passado com seus trabalhos no Flamengo e no Santos, respectivamente.

Como temos uma amizade de alguns anos, inclusive trabalhando juntos na ESPN Brasil, chamei o Mauro em particular para entender melhor o que ele queria dizer. Pouco antes ele havia publicado um vídeo no seu canal no Youtube explicando de forma mais clara o ponto de vista.

Entendi, mas continuo discordando respeitosamente do Mauro. A meu ver, o futebol no Brasil continua mal jogado. O Flamengo só é a melhor exceção.

Até porque há uma espécie de cultura subterrânea no país que valoriza o jogar mal. Não feio. Aliás, muitas vezes se cria um falso dilema em torno do tema. Para evitar confrontos com profissionais do futebol pelos mais variados interesses, de preservar a fonte jornalística até a tentativa de cavar uma vaga em comissões técnicas de clubes, se apela para a “não-crítica”.

“Há várias maneiras de jogar e vencer”, “não existe certo e errado’ e por aí vai. São as senhas para elogiar qualquer coisa que alcance resultados por um período ou um campeonato. Um esforço para encontrar virtudes onde muitas vezes só há ideias ruins, mal planejadas e executadas, porém salvas por individualidades ou um contexto favorável.

No Brasil se criou uma espécie de conformismo, baseada em nosso jeito de ver futebol. Se os melhores jogadores vão para a Europa, cada vez mais cedo, que aqui vença o mais “macho”. O jogo vira um culto à virilidade. O torcedor, em geral, prefere a vitória sofrida, arrancada à forceps. A imposição do melhor futebol é algo chato, que torna tudo mais previsível. A velha ditadura da emoção, que vale mais que um trabalho bem feito.

A prova veio no ano passado mesmo. Quem não lembra da esperança de muitos que o Palmeiras com Mano Menezes pudesse alcançar um Flamengo que deixou alguns pontos pelo caminho na sequência dura de dois jogos por semana na reta final da temporada, jogando Brasileiro e Libertadores? Mesmo jogando mal quase sempre, o Alviverde pontuava e esperava enfrentar em casa o líder ainda com condições matemáticas na antepenúltima rodada. O desfecho acabou sendo decepcionante.

Ou ainda o delírio coletivo em torno de Vanderlei Luxemburgo, então treinador do Vasco, depois do empate por 4 a 4 no clássico carioca antecipado da 34ª rodada para que o Flamengo pudesse ir a Lima decidir a Libertadores contra o River Plate. Uma boa atuação cruzmaltina, dentro da proposta possível de um time inferior técnica e taticamente, em um clássico que costuma equilibrar forças. Contra uma equipe com boa vantagem na ponta da tabela da competição por pontos corridos e já mais focada na final continental.

Foi o suficiente para uma exaltação da estratégia de Luxemburgo. Como um último suspiro do status quo. O time inferior, mas “raçudo” e lutando até o final – o mínimo que se espera em um grande clássico nacional – arrancando o empate no fim, porém sofrendo quatro gols – foi alçado à condição de “heroi”. E o treinador tratado como um fantástico estrategista, como se tivesse encontrado a fórmula para parar aquela equipe que desafiava o padrão nacional de jogar futebol. Algo totalmente esporádico.

Isso vai além da natural torcida contra times muitos populares. Ou da resistência brasileira de admitir que países menos tradicionais em conquistas de Copas do Mundo, como Portugal, possam acrescentar algo ao futebol cinco vezes campeão do mundo. “Ganharam o quê?”

Jorge Jesus e o Flamengo ganharam. Brasileiro e Libertadores no mesmo ano, feito inédito desde o Santos de Pelé. Mas este conquistando a Taça Brasil disputando quatro ou seis jogos, não 38.  Quebrando paradigmas, como a utilização de reservas no campeonato por pontos corridos quando o clube chegava às fases decisivas das competições por mata-mata. Jesus poupou titulares poucas vezes.

A melhor exceção dos últimos anos. Como o Mauro Cezar inseriu este comentário em uma abordagem sobre a reprise dos 7 a 1 no fim de semana pelo Sportv, o período mais exato da análise seria desde 2014. Então teríamos o Corinthians de 2015 comandado por Tite e o Grêmio de Renato Gaúcho que venceu a Libertadores de 2017 como os únicos exemplos de equipes que venceram buscando um futebol diferente. Sem “fechar a casinha”, apelar para ligações diretas, usar com frequência a cobrança de lateral na área adversária e entregar a bola para o mais talentoso compensar a falta de ideias.

O Fla de Jesus mandou Felipão e Mano Menezes para casa. Também Fabio Carille, representante da identidade do Corinthians nos últimos anos que inclui Tite e o próprio Mano. E Renato Gaúcho só não caiu depois dos 5 a 0 na semifinal da Libertadores pelo tamanho que tem no Grêmio.

É inegável que o time rubro-negro abalou as estruturas. O Santos de Sampaoli também, mais pelo desempenho que por resultados. Justo também incluir o Athletico de Tiago Nunes campeão da Copa do Brasil. Mas a média continua baixa. Há iniciativas que valem a observação, como Eduardo Coudet no Internacional e a sequência de Fernando Diniz no São Paulo, mas a pandemia atrapalhou. Pode prejudicar o próprio Flamengo na volta.

Se acontecer, será a alegria e o alívio de muitos. E aí é impossível discordar do Mauro: de fato, a visão medíocre de futebol ainda impera. Vejamos até quando.

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“Quem vai marcar?” A pergunta fedendo a mofo que o Flamengo enterrou de vez http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/08/quem-vai-marcar-a-pergunta-fedendo-a-mofo-que-o-flamengo-enterrou-de-vez/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/08/quem-vai-marcar-a-pergunta-fedendo-a-mofo-que-o-flamengo-enterrou-de-vez/#respond Fri, 08 May 2020 16:02:06 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8457

Foto: Diego Vara / Reuters

“Eu não gosto de time de índio, não. Só atacar é meio complicado. É bom em determinadas situações, mas você não pode entrar no campo em desequilíbrio”.

Palavras de Abel Braga, ainda como treinador do Flamengo, no dia 26 de janeiro do ano passado. A declaração veio logo depois da defesa da titularidade de Willian Arão ao lado de Cuéllar na dupla de volantes e a dificuldade alegada de reunir Everton Ribeiro, De Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabriel Barbosa no setor ofensivo.

“Quem vai marcar?” Frase resgatada na Live que este que escreve participou no canal do companheiro Mauro Cezar Pereira no Youtube. Lembrando as seleções de 1970 e 1982, mas também sobre o futebol atual.

Esse questionamento vem desde os primórdios do futebol brasileiro. Porque nossa escola sempre foi de criar compensações defensivas para dar liberdade aos mais talentosos. Desde a “diagonal” de Flávio Costa no Brasil vice-campeão em 1950, com Bauer dando proteção à defesa e liberando Zizinho e Jair Rosa Pinto na criação das jogadas.

Passando por Zagallo como “falso ponta” em 1958/1962 para que Garrincha e Pelé desequilibrassem. Até o 3-4-1-2 de Luiz Felipe Scolari que soltava Rivaldo e os Ronaldos no último título mundial na Ásia, em 2002. Um marca, outro joga. Um “carrega o piano” para outro “solar”. Um suja o calção para o outro desfilar. Ou seja, quem tem talento é privilegiado e o menos dotado tecnicamente faz o “serviço sujo”. Nada mais brasileiro em sua essência.

Mas em campo fazia algum sentido pela maneira de se defender. Todos voltavam até o próprio campo, com os zagueiros muito recuados. Para que a meta não ficasse tão ameaçada, era necessário ter jogadores especialistas nos desarmes e interceptações. Ou rápidos na cobertura de laterais que nos anos 1990/2000 se transformavam em alas, cada vez mais liberados para atacar.

O Cruzeiro de Vanderlei Luxemburgo em 2003 é um símbolo do futebol da época. Os laterais Maurinho e Leandro apoiando o tempo todo, às vezes ao mesmo tempo. Alex, o meia articulador clássico, o “dez”, jogando livre para municiar a dupla de ataque ou ele mesmo partir para a finalização. Amparados pelo trio de volantes Maldonado-Augusto Recife-Wendel, que protegia a zaga. Cinco atacam, cinco defendem.

Mas a grande evolução do esporte nos últimos doze anos é justamente a transformação do jogo em um fluxo contínuo de ataque-defesa. Ataca pronto para fazer a transição defensiva pressionando o adversário que acabou de recuperar a bola para tomá-la e voltar a atacar. Pressão e contrapressão. Virando a chave toda hora e mudando o comportamento rapidamente.

Assim é possível ser mais intenso nas ações porque a corrida de trinta metros para recompor, voltando da ocupação do campo de ataque até o posicionamento defensivo próximo da própria área, é mais rara e o desgaste menor. O jogador corre os mesmos 14 quilômetros por jogo, porém dentro de uma ocupação mais inteligente do campo. O movimento coletivo que divide as atribuições defensivas.

Desta forma, os jogadores mais ofensivos não precisam ser exímios marcadores. Porque a pressão é para dificultar o passe e não o desarme que evita a conclusão ou o passe decisivo lá atrás. A volta do ponteiro acompanhando o lateral, algo tão criticado pelos mais puristas, não precisa ser constante, já que o atacante vai buscar o defensor lá no campo deste.

Por isso Jorge Jesus não teve problema nenhum em reunir Everton Ribeiro, De Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabriel Barbosa na frente. Mais Gerson, o meia pelo centro do 4-1-3-2 que é a base para outras tantas variações táticas.

Willian Arão, aquele que Abel via como o volante a mais para proteger a retaguarda, agora é o meio-campista que fica mais próximo da última linha de defesa, mas também com autorização para descer e apoiar os atacantes. Porque se houver a perda da bola, ele não terá que voltar desesperado, já que a pressão dos companheiros mais ofensivos pode gerar a retomada da bola. No mínimo o retardo do contragolpe do oponente.

Um time ofensivo, porém competitivo. O primeiro campeão brasileiro e da Libertadores desde o Santos de Pelé, capaz de duelar em alto nível com o Liverpool de Jurgen Klopp no Mundial de Clubes. Conquistando mais três taças em 2020 até a bola parar.

No nosso resultadismo de todo dia, só mesmo tal retrospecto para calar qualquer crítica anacrônica, cheirando a mofo. Mostrando que o “time de índio” é apenas uma equipe que se defende atacando, em um processo de 90 minutos. Quebrando de vez o paradigma e tornando esse debate até ridículo. Enterrou de vez.

Eis a grande contribuição do Flamengo de Jorge Jesus ao futebol brasileiro e que já gerava tentativas de respostas, como o Internacional de Eduardo Coudet e o que se esperava de Jorge Sampaoli no Atlético Mineiro, depois do que fez em 2019 no Santos, mesmo sem títulos.

Que a volta do futebol pós-pandemia traga a evolução definitiva do nosso jogo. Sem olhar para trás.

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Vasco 1997/2000: “Era de Ouro” teve feito inédito no futebol brasileiro http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/29/vasco-1997-2000-era-de-ouro-teve-feito-inedito-no-futebol-brasileiro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/29/vasco-1997-2000-era-de-ouro-teve-feito-inedito-no-futebol-brasileiro/#respond Wed, 29 Apr 2020 12:06:18 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8397

O  Vasco mais lendário é o “Expresso da Vitória” nos anos 1940, pelo ineditismo do título sul-americano em 1948, segurando no Chile “La Maquina” do River Plate. A primeira conquista brasileira fora do território nacional, incluindo a seleção, que teria a base cruzmaltina, incluindo o treinador Flávio Costa, na Copa do Mundo de 1950.

O melhor que vi em campo foi o campeão da Taça Guanabara de 1987. Time comandado por Joel Santana que tinha Acácio; Paulo Roberto, Donato, Fernando e Mazinho; Dunga, Geovani e Tita; Mauricinho, Roberto Dinamite e Romário.

Sim, aquele que por um jogo me fez mudar de lado nas arquibancadas do Maracanã no “Clássico dos Milhões” que valeu a conquista do primeiro turno do Carioca. Com duas mudanças – Henrique no lugar de Dunga e Luis Carlos no lugar de Mauricinho – venceria o estadual sob o comando de Sebastião Lazaroni. Mas reconheço que isso é memória afetiva pura, apesar da qualidade técnica desses jogadores.

A “Era de Ouro” vascaína se deu mesmo entre 1997 e 2000 e teve seu auge com a conquista da Libertadores em 1998, ano do centenário do clube. Feito inédito entre os brasileiros até hoje. Fruto do amadurecimento de um trabalho que vinha desde 1996.

Com Antonio Lopes, hoje coordenador de futebol do Vasco aos 78 anos. Treinador que assumiu o time em sua quarta passagem com a missão de organizar a equipe em torno do talento de Edmundo, aproveitando a joia de 21 anos contratada ao Sport, Juninho Pernambucano e utilizando os jovens revelados nas divisões de base.

Depois do insucesso no Carioca de 1997, vencido pelo Botafogo no famoso gol de Dimba e com a lendária resposta dos alvinegros à reboladinha de Edmundo na frente de Gonçalves no primeiro jogo da decisão, Antonio Lopes, com a ajuda do então vice de futebol Eurico Miranda, arregaçou as mangas para formar uma equipe competitiva no Brasileiro.

Sem muito dinheiro em caixa, mas sempre contando com o auxílio financeiro dos beneméritos do clube, geralmente portugueses ou descendentes abastados do Rio de Janeiro, o clube buscou mesclar experiência, juventude e a “fome” de jogadores vindos de times pequenos.

“Fui buscar o Odvan no Americano e o Nasa no Madureira. O Mauro Galvão que estava sem jogar no Grêmio. O mesmo com Evair no Atlético Mineiro e juntei com a base que estava no clube e formei o time campeão”, revelou Lopes em entrevista ao “Triangulação”, podcast que este que escreve participa com os colegas e amigos Eugenio Leal e Rodrigo Coutinho.

Ainda traria Valber do São Paulo para ser uma espécie de “coringa”. Equipe que foi ganhando variações ao longo da campanha do título nacional. Revezando Valber, Maricá e Filipe Alvim na lateral direita, recuando Nasa para cobrir Felipe, jovem talento que foi ganhando cada vez mais liberdade com o tempo.

Na frente, Evair recuou para fazer dupla com Ramon ou Pedrinho para municiar a estrela iluminada daquele segundo semestre no futebol brasileiro: Edmundo, que seria artilheiro da competição, marcando 29 gols e quebrando o recorde de Reinaldo, do Atlético Mineiro. Os três últimos na goleada histórica por 4 a 1 sobre o Flamengo no quadrangular semifinal daquela edição.

O Vasco de 1997 tinha Nasa cobrindo Felipe pela esquerda e Evair recuando para dar ainda mais liberdade ao iluminado Edmundo no ataque (Tactical Pad).

Em alguns jogos era possível ver o time cruzmaltino numa espécie de “Árvore de Natal”: um 4-3-2-1 com Valber, Odvan, Mauro Galvão e Nasa na defesa; Luisinho como o volante mais plantado, Juninho e Felipe como espécies de “carrileros” a dar suporte a Evair e Ramon que encostavam no Edmundo que acabou virando o atacante de referência, muitas vezes sustentando sozinho o ataque e puxando contragolpes para decidir partidas.

No ano seguinte, Edmundo partiu para a Fiorentina, Evair se sentiu desvalorizado por Lopes e preferiu seguir para a Portuguesa. Ambos perderam a chance de fazer parte de algo histórico. Com Donizete e Luizão, Lopes montou uma equipe menos brilhante no ataque, porém muito mais competitiva.

Porque a dupla de ataque participava mais sem a bola e era muito objetiva nos contragolpes. O time mais combativo permitiu que Mauro Galvão ganhasse liberdade para organizar as jogadas e chegar ao ataque e Felipe muitas vezes atuasse solto em campo, até saindo do lado esquerdo. Principalmente quando Pedrinho era o meia pela esquerda e abria como ponta, permitindo que o lateral criasse mais por dentro. Pela direita, o meia Vagner foi o improvisado da vez na lateral.

A campanha do título continental teve a final contra o Barcelona de Guayaquil, mas triunfos sobre os campeões das três edições anteriores: Grêmio, Cruzeiro e o River Plate na semifinal que consagrou o gol “monumental” de Juninho em Buenos Aires que colocou o Vasco na decisão.

O pernambucano que passou por todo esse período áureo como um pilar e o jogador com características que fizeram a equipe dar liga. Um meia que preenchia um espaço enorme em campo. Marcando, articulando e finalizando. Um meio-campista raro, jogando de área a área naquele período do futebol brasileiro em que o setor era dividido entre volantes marcadores e meias atacantes no típico 4-2-2-2.

Na Libertadores, um time mais competitivo, com Donizete e Luizão participando da marcação, mas Mauro Galvão saindo para articular as jogadas e Felipe ganhando ainda mais liberdade pela esquerda, com o meia Vagner improvisado do lado oposto (Tactical Pad).

Equipe campeã estadual e derrotada no Mundial em Tóquio por um Real Madrid estelar em jogo equilibrado que teve gol de Juninho e Felipe sendo o pesadelo do lateral Panucci. O Vasco merecia melhor sorte no segundo tempo, mas os 2 a 1 com gol contra de Nasa no primeiro tempo e uma pintura de Raúl González, driblando Vitor e Odvan, não podem ser considerados injustos.

A recuperação veio com a conquista do Rio-São Paulo em 1999, mas a derrota para o Flamengo no Carioca e a eliminação nas oitavas da Libertadores para o Palmeiras, que seria o campeão daquela edição, comprometeram a temporada. Mas o convite para participar do primeiro Mundial organizado pela FIFA em janeiro como o campeão da Libertadores de 1998 se transformou na esperança de um ano histórico.

Ainda mais com o retorno de Romário, após saída litigiosa do Flamengo. Jorginho, campeão mundial em 1994, veio para ocupar a lateral direita, Gilberto foi contratado para ocupar a lateral esquerda e Felipe virar meio-campista de vez, ao lado de Juninho e Ramon. Com a proteção do inesgotável Amaral. Na zaga, Júnior Baiano para atuar com Mauro Galvão. Na meta, caiu no colo do jovem Helton a vaga de Carlos Germano, que não renovara o contrato com o clube e foi para o Santos.

Uma seleção que atropelou o Manchester United no Maracanã, com gol antológico de Edmundo, e só foi parada por outra: o Corinthians bicampeão brasileiro que venceu o torneio na histórica decisão por pênaltis no Maracanã, com Marcelinho Carioca e Edmundo desperdiçando as últimas cobranças.

O revés no Rio-São Paulo para o Palmeiras custou o emprego de Antonio Lopes. Chegou Abel Braga que, mesmo com estilo “paizão” não conseguiu apaziguar os conflitos entre Edmundo e Romário. Mas conquistou a Taça Guanabara e partiu para treinar o Olympique de Marseille. Alcir Portela foi efetivado e a equipe, totalmente desestruturada e com alguns jogadores sem se falar, viram um Flamengo bem inferior tecnicamente vencer a Taça Rio e o Carioca.

Era a senha para mudanças, com o suporte do patrocínio do Nations Bank. Chegaram o treinador Osvaldo de Oliveira, mais Clebson, Jorginho Paulista, Euler e Juninho Paulista. E Jorginho readaptado ao meio-campo, como atuou na Europa e no Japão. Para formar a equipe que faria campanha sólida no Brasileiro e na Copa Mercosul, com direito a goleada fora de casa sobre o River Plate por 4 a 1.

Mas a oscilação da equipe na reta final, até pela natural queda física de um elenco que disputou 88 jogos em 2000, e um desentendimento entre Oswaldo e Eurico Miranda depois dos 2 a 2 contra o Cruzeiro pela ida da semifinal da Copa João Havelange fizeram o Vasco ter um novo treinador em dezembro: Joel Santana.

O “papai” que resgatou Nasa para a terceira decisão contra o Palmeiras depois de vitória por 2 a 0 em São Januário e derrota por 1 a 0 em São Paulo. 3 a 0 para o time alviverde no primeiro tempo e parecia que o clube acumularia mais um vice-campeonato, para o deleite dos rivais cariocas.

Mas, com Viola em campo, Juninho voando e Romário iluminado nas finalizações, o time construiu a mais épica das viradas: 4 a 3, no campo do adversário e com um homem a menos após a expulsão de Junior Baiano.

Com a confiança no topo, o time partiu para o título brasileiro com inapeláveis 3 a 1 sobre o Cruzeiro de Luiz Felipe Scolari no Mineirão lotado na volta da semifinal e a confirmação da conquista sobre o surpreendente São Caetano. Em janeiro de 2001, por conta do acidente em São Januário na partida de volta da decisão. No Maracanã, 3 a 1 com o gol decisivo de Romário, o 66º do artilheiro daquela temporada.

Com Nasa novamente fazendo a função de volante-zagueiro, o Vasco venceu Mercosul e Copa João Havelange com laterais ofensivos, Juninho Pernambucano articulando e Juninho Paulista formando um trio infernal com Euler e Romário (Tactical Pad).

De uma equipe que marcou 176 gols, média de dois por partida, e foi campeã ou vice em tudo que disputou naquela temporada. Um grande feito, mas o início de uma queda vertiginosa por conta de más gestões, incluindo de Eurico Miranda, que virou presidente e mandou e desmandou de 2002 a 2008, e do grande ídolo Roberto Dinamite. O buraco de dívidas que atormentam o clube se avolumaram neste período.

Poderia e deveria ter sido diferente. As conquistas geraram receitas que poderiam ter dado estabilidade e estrutura ao clube. Mas na época a prática comum era formar times vencedores mesmo sem poder sustentá-los. Ou pagando, porém sem planejamento a médio/longo prazo.

O Vasco ao menos conseguiu vencer. E construiu uma história belíssima, com o apogeu em 1998. A festa do centenário com Libertadores ninguém mais pode ostentar no país. Só o time da Cruz de Malta.

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São Paulo 5×1 U. Católica (1993) – A obra-prima da carreira de Telê Santana http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/24/sao-paulo-5x1-u-catolica-1993-a-obra-prima-da-carreira-de-tele-santana/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/24/sao-paulo-5x1-u-catolica-1993-a-obra-prima-da-carreira-de-tele-santana/#respond Fri, 24 Apr 2020 11:20:38 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8355

É natural que Telê Santana seja lembrado pelos torcedores em geral por sua passagem pela seleção brasileira, marcante em duas Copas do Mundo, mesmo sem título. Mas o treinador contribuiu para o futebol nacional até quando não venceu, armando grandes equipes.

Não só no Atlético Mineiro no único título brasileiro, em 1971, ou no Grêmio que encerrou em 1977 a hegemonia de oito títulos estaduais do rival Internacional, então dominante no cenário nacional. Telê foi o mentor do Palmeiras que enfiou 4 a 1 no Flamengo de Zico no Maracanã em 1979, do Galo de melhor campanha na fase de grupos da Copa União de 1987 e do Fla que perdeu o título estadual para o Botafogo em 1989, porém brindou a torcida com futebol ofensivo, utilizando Zico como um armador mais recuado.

No Fluminense, time de coração, estreou como técnico sendo campeão carioca em 1969 e armando a base que seria campeã brasileira em 1970, com Paulo Amaral. Sempre apostando em futebol limpo, sem antijogo e voltado para o ataque.

Embora tenha demonstrado a partir de 1986 que aprendera com alguns equívocos da Copa do Mundo na Espanha, tornando suas equipes mais competitivas e com maiores cuidados defensivos, foi no processo de amadurecimento no São Paulo que, com mais de 60 anos e vinte como treinador, Telê chegou ao auge da carreira.

Dois paulistas, um brasileiro, duas Libertadores e dois Mundiais de Clubes. Mais uma Supercopa, duas Recopas Sul-Americanas e ainda a última final de Libertadores em 1994, perdida na decisão por pênaltis para o Vélez Sarsfield de Carlos Bianchi. Em cinco anos até a isquemia cerebral em janeiro de 1996 que o impossibilitou de trabalhar, a trajetória mais vitoriosa no Brasil depois do Santos de Pelé.

O triunfo mais emblemática talvez tenha sido a do primeiro título mundial, em 1992 sobre o Barcelona comandado por Johan Cruyff. De virada, em Tóquio, com dois gols históricos de Raí. Um triunfo para se colocar no topo do planeta, sem dúvidas.

Mas a grande obra-prima desse time e da trajetória de Telê, a consolidação da maneira de jogar se impondo com autoridade em um jogo grande, se deu no Morumbi em 1993. Partida de ida da final da Libertadores contra a Universidad Católica.

Não foi exatamente uma atuação perfeita, já que a equipe cedeu muitas chances ao time chileno e fez do goleiro Zetti um dos destaques da partida. Mas transição defensiva nunca foi o forte das equipes de Telê, até pela liberdade que dava aos jogadores de defesa para atacar. A solução encontrada para compensar ao longo do tempo, utilizando volantes mais marcadores, como Dinho e Pintado, nem sempre cobria os buracos da retaguarda.

Mas na fase ofensiva era bonito de ver como o quarteto formado por Cafu, Palhinha, Raí e Muller se entendia no olhar, sabendo o tempo certo de se apresentar para a tabela ou se lançar às costas da defesa adversária. Um sincronismo perfeito. Ainda que o primeiro gol tenha saído só aos 30 minutos e sido contra, de López, a equipe tricolor já havia criado e cedido oportunidades.

O segundo, ainda no primeiro tempo, na típica infiltração em velocidade do lateral direito Vitor, com chute também desviado. Um placar para tranquilizar e preparar o recital que viria na segunda etapa. Com golaço do zagueiro Gilmar em bela jogada individual pela esquerda. Contando com a cobertura do lateral Ronaldo Luiz e de Dinho.

Depois Palhinha acionou Cafu, que cruzou para Raí escorar de peito. E Muller marcou o quinto encobrindo o goleiro. Zetti faria uma sequência de quatro defesas à la Rodolfo Rodríguez, goleiro uruguaio que jogou no Santos e ficou famoso por um milagre parecido na Vila Belmiro contra o América de Rio Preto. E quase pegou o pênalti inventado pela arbitragem no final convertido por Almada que decretou o placar final em 5 a 1. Numa decisão continental!

No Chile, derrota por 2 a 0 e o título com sabor amargo de despedida para Raí, que partiria para o Paris Saint-Germain. Mas deixou nas retinas dos são-paulinos e fãs do futebol bem jogado uma exibição de gala, o auge de uma equipe histórica.

O ataque sem centroavante, nem definição clara das funções, que normalmente tinha Cafu pela direita, Raí mais centralizado, ora fazendo o papel de centroavante pela boa estatura e capacidade de proteger a bola, ora aparecendo na área como um dez para finalizar. Sintonia perfeita com Palhinha, que circulava por todo campo e era o articulador da equipe.

Muller era quem ficava mais avançado, normalmente pela esquerda. Já com a inteligência desenvolvida na passagem pelo futebol italiano, aprendendo a jogar em espaços mais reduzidos com deslocamentos e passes curtos que aceleravam os ataques. Era engraçado à época, na divulgação da escalação do time, tentarem encaixar os quatro no 4-2-2-2 típico da época, colocando Raí e Cafu como meias e Muller e Palhinha como atacantes. Na prática era algo mais próximo de um 4-2-3-1.

O São Paulo dinâmico de Telê Santana, maduro em 1993 para ser bicampeão da Libertadores e pronto para movimentar seu quarteto ofensivo, com Muller mais avançado pela esquerda, e alternar zagueiros, laterais e volantes no apoio (Tactical Pad).

No apoio ao quarteto, um grande revezamento que englobava todos os jogadores de linha. Os zagueiros Válber e Gilmar desciam alternadamente, o mesmo com os laterais Vitor e Ronaldo Luiz e os volantes Dinho e Pintado. Três iam, três ficavam. Às vezes eram surpreendidos, mas normalmente criavam um volume de jogo que sufocava os rivais, especialmente no Morumbi.

Para consagrar Telê, um treinador perfeccionista, às vezes um tanto invasivo na vida dos atletas. Talvez não seja tão grande para o futebol brasileiro quanto nomes como Zagallo e Luiz Felipe Scolari, nem se adaptasse aos tempos atuais se estivesse vivo e na ativa. Mas na sua época foi gigante e influente. Deixando um legado de integridade e amor pelo esporte. Não só por 1982.

Conquistando no São Paulo os títulos que seu trabalho sempre mereceu. Justiça tardia, mas inesquecível.

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Flamengo de Jorge Jesus é mais Cláudio Coutinho e menos Carpegiani http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/21/flamengo-de-jorge-jesus-e-mais-claudio-coutinho-e-menos-carpegiani/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/21/flamengo-de-jorge-jesus-e-mais-claudio-coutinho-e-menos-carpegiani/#respond Tue, 21 Apr 2020 12:25:19 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8339

Foto: Acervo / Jornal do Brasil

Com as conquistas da Libertadores e do Brasileiro no mesmo ano, algo que nenhum time brasileiro alcançou desde o Santos de Pelé, o Flamengo de Jorge Jesus entrou para a história do futebol nacional e provocou comparações com times do passado.

Entre os rubro-negros, o paralelo óbvio é com a outra equipe lendária do clube, a campeão sul-americana e mundial em 1981, com o “bônus”  do título brasileiro no ano seguinte. Análises e mais análises sobre um possível duelo entre os Flamengos, quase sempre tendo como vencedora a equipe de quase quarenta anos atrás. Com Zico sendo o fator de desequilíbrio.

Pode ser, embora comparar times de épocas diferentes seja sempre um exercício complicado. Porque sem contextualização ou equiparação temporal, a tendência seria o time atual passar por cima fisicamente. Ainda mais pela marcação adiantada e com pressão no homem da bola que Zico, em entrevista a este blogueiro para o livro “1981” lançado em parceria com Mauro Beting e a Maquinária Editora em 2011, admitiu ser uma dificuldade grande para o time que liderou em campo. Jogo mais intenso normalmente praticado por equipes do sul do país, assim como as argentinas e uruguaias.

Mais racional é tentar buscar semelhanças entre as propostas de jogo. E analisando a trajetória vencedora que começa em 1978, com a conquista do título estadual – quando eles ainda valiam muito em um calendário sem Copa do Brasil – no gol inesquecível do zagueiro Rondinelli sobre o Vasco, um Flamengo anterior ao que Paulo César Carpegiani herdou de Dino Sani lembra mais a equipe atual. Ou uma versão desta dentro das variações táticas do treinador português.

O time campeão brasileiro de 1980, comandado por Cláudio Coutinho. Gaúcho com formação militar, preparador físico da seleção do tri em 1970 que conheceu o professor americano Kenneth Cooper e passou a adotar o então moderno método de avaliação física. Foi parar no Olympique de Marseille e de lá para a seleção olímpica, primeiro como preparador, depois supervisor e, por fim, treinador em uma emergência por conta da demissão de Zizinho.

Mesmo sem medalha, terminando em quarto lugar, acabou indicado para suceder Carlos Froner no Flamengo e assumiu em setembro de 1976. Trazendo a visão pós-Copa de 1974, impactada pela revolução do futebol holandês simbolizada por Rinus Michels. O coletivo acima do individual, organização para atacar e defender quase em ato contínuo e versatilidade dos jogadores, utilizando o termo “polivalência”, além de outros que acabaram virando folclore, como “overlapping” (ultrapassagem do lateral pelo ponta) e “ponto futuro” – local onde a bola chegaria em uma jogada ensaiada.

O Fla de Coutinho amadureceu primeiro com o revés estadual para o Vasco em 1977, depois as conquistas estaduais que levaram o técnico a comandar a seleção brasileiro na Copa do Mundo de 1978 e na Copa América no ano seguinte. 1979 dos dois títulos cariocas em calendário confuso, mas também do sofrimento pela eliminação para o Palmeiras de Telê Santana no Brasileiro de 1979 com uma goleada por 4 a 1. Com o domínio local, o Brasileiro virou obsessão.

Chegou em 1980 com início oscilante até Nunes chegar para ser o camisa nove que daria o “click” na formação titular que engrenou até a decisão contra o Atlético Mineiro. Passando pela “vingança” contra o Palmeiras com implacável 6 a 2 no Maracanã. A grande atuação coletiva que consolidou o modelo de jogo.

Time que já tinha clara preocupação com conceitos atuais como amplitude, profundidade e superioridade numérica, ainda que esses termos nunca tenham saído da boca de Coutinho. O “overlapping” pela direita se dava com Tita por dentro atraindo o lateral adversário e deixando o corredor para Toninho Baiano. Forte, rápido e incansável em busca da linha de fundo.

Do lado oposto, Júlio César era o ponteiro aberto e driblador, típico da época. Júnior fazia o papel de lateral “construtor”, apoiando por dentro e se juntando aos meio-campistas Andrade, Paulo César Carpegiani, Zico e ainda Tita que tinha liberdade de circulação. Cinco homens contra três, no máximo quatro do oponente no trabalho entre as intermediárias.

O Flamengo de Coutinho campeão brasileiro de 1980, com Toninho e Júlio César abrindo o campo e Junior e Tita atacando por dentro, criando superioridade numérica no meio-campo ao se juntar a Andrade, Carpegiani e Zico, que infiltrava no espaço deixado por Nunes, o centroavante móvel (Tactical Pad).

Na frente, Nunes se movimentava pelos flancos e abria espaços para a infiltração de Zico, craque, ídolo e artilheiro da equipe e daquela edição do torneio nacional com 21 gols. Sem a bola, compactação dos setores, momentos de pressão sobre o adversário com a bola e linhas adiantadas. Na fase ofensiva, toque de bola refinado e algum controle pela posse, porém com definição mais rápida dos ataques.

Que versão do Flamengo atual é parecida? Aquela em que Bruno Henrique ocupa mais o setor esquerdo, bem aberto, embora também entrando em diagonal para finalizar. Fazendo Gabriel Barbosa procurar naturalmente o lado direito e abrindo espaços por dentro para De Arrascaeta. Everton Ribeiro, assim como Tita, sai da direita para articular por dentro, colaborando com Willian Arão e Gerson. Mais Filipe Luís, o lateral que pensa mais o jogo. Na direita, Rafinha ataca mais o corredor aberto e busca o fundo.

Uma das variações de Jorge Jesus no Fla atual tem Bruno Henrique aberto pela esquerda e Gabriel Barbosa procurando mais à direita e abrindo espaços para De Arrascaeta infiltrar pelo meio. Everton Ribeiro sai da ponta para dentro armar o time com Gerson, protegido por Willian Arão. No corredor, Rafinha apoia mais aberto buscando o fundo. Do lado oposto, Filipe Luís é um lateral mais construtor (Tactical Pad).

A conexão entre Coutinho e Jesus, claro, é a escola holandesa. O brasileiro no contato com o Ajax e a “Laranja Mecânica”, o português no estágio em 1993 com Johan Cruyff, a grande referência do atual treinador rubro-negro.

Paulo César Carpegiani também tinha seus pontos de contato com a Holanda: primeiro esteve em campo na derrota da seleção brasileira por 2 a 0 para a equipe de Rinus Michels em 1974, depois jogou em 1976 com Marinho Peres, que trabalhara com Michels e Cruyff no Barcelona e agregou conceitos ao Internacional de Rubens Minelli e Falcão na conquista do bicampeonato brasileiro naquele mesmo ano.

Carpegiani, claro, entendia a necessidade de rotação, porém gostava mais da bola e com toques mais curtos, embora tivesse precisão também nos lançamentos. O estilo do jogador falou alto na rápida transição para o comando técnico – aposentadoria por lesão no joelho aos 31 anos, curto período como auxiliar de Dino Sani e logo estava treinando os ex-companheiros.

Tanto que sacou o ponteiro Baroninho para encaixar o meia Lico. A ideia era soltar todas as peças à frente do volante Andrade. Aproveitando a mobilidade de Adílio, que herdou a posição de Carpegiani, porém sem o mesmo perfil organizador.

A estreia da equipe mais móvel foi espetacular nos históricos 6 a 0 sobre o Botafogo. O rival foi para o intervalo levando quatro gols e sem entender o que acontecera. Os laterais Leandro e Júnior atacando abertos ou por dentro, Andrade e Zico mais centralizados e o trio Tita-Adílio-Lico girando por todo campo, assim como Nunes mantendo a movimentação pelas pontas. Algo muito fora dos padrões da época.

Proposta que se consagrou nos 3 a 0 sobre o Liverpool em Tóquio, embora em organização mais conservadora: um 4-2-3-1 com Adílio mais próximo de Andrade, até para auxiliar Júnior que jogou sentindo o joelho direito. Tita e Lico guardando mais as posições pelos flancos e Zico buscando os espaços às costas dos meio-campistas britânicos para acionar Nunes em diagonal.

Foi no Brasileiro de 1982, disputado no primeiro semestre, antes da Copa do Mundo na Espanha, que o novo modelo de jogo foi consolidado. Com a mesma mobilidade, mas adquirindo alguns padrões. Como Nunes bem aberto, quase como um ponteiro,  e Tita, que havia abandonado a seleção brasileira por não aceitar ser ponta e Telê avisar que no meio não havia vaga, jogando por dentro.

Era a solução encontrada por Carpegiani para aproveitar um jogador de temperamento complicado, mas também de boa técnica e poder de finalização interessante. Ele e Zico articulavam pelo meio e alternavam na chegada à área adversária com Lico e Adílio, que circulava por todo campo com vitalidade impressionante. Às vezes alternando com Zico, que recuava para organizar. Ideias à frente do tempo e vencedoras.

Na vitória sobre o São Paulo por 4 a 3 no Morumbi pelo Brasileiro de 1982, um flagrante do Flamengo móvel de Carpegiani: Júnior atacando por dentro dando suporte a Adílio, com Zico dando opção mais à direita e Lico e Tita, em tese os ponteiros, centralizados. E o centroavante Nunes? Dando opção bem aberto e mais recuado pela esquerda (Reprodução TV Globo).

Mas que guardavam poucas semelhanças com o time atual. Porque era mais intuitivo e concentrava mais jogadores no trabalho entre as intermediárias. Às vezes afunilando demais os ataques e se expondo por atacar com os dois laterais simultaneamente.

A equipe de Cláudio Coutinho, um ano antes, era mais coordenada. Faltou paciência ao treinador para ver o auge da equipe que formou. Irritado com a diretoria, partiu no início de 1981 para uma aventura nos Estados Unidos, comandando o Los Angeles Aztecs. Voltou em novembro daquele ano e foi receber os campeões da Libertadores no aeroporto no dia 24. Três dias depois, convidou Junior para comer  peixe depois de um mergulho para pesca submarina nas Ilhas Cagarras, arquipélago próximo da praia de Ipanema. Não voltou. Faleceu, por afogamento, aos 42 anos.

Deixou, no entanto, um legado no Flamengo mais vencedor da história. Que o time de Jorge Jesus tentou igualar ou até superar quase quatro décadas depois. Cinco troféus em nove meses, antes da pandemia. Como será na volta? A maior torcida do país sonha com um final ainda mais feliz.

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O que há de sorte e competência no trabalho de Jorge Jesus no Flamengo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/31/o-que-ha-de-sorte-e-competencia-no-trabalho-de-jorge-jesus-no-flamengo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/31/o-que-ha-de-sorte-e-competencia-no-trabalho-de-jorge-jesus-no-flamengo/#respond Tue, 31 Mar 2020 12:09:28 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8236

Foto: Lucas Figueiredo / CBF

A bola parou no Brasil, mas o Flamengo e Jorge Jesus não deixam de ser pautas. Nem diminuem as aspas sobre o treinador português e a equipe que comanda.

Roberto Carlos disse que o Palmeiras de 1993/94 “ganharia bem” da atual equipe rubro-negra. Enderson Moreira, novo técnico do Cruzeiro, afirmou que exageram nos elogios a Jesus e até Douglas Costa apareceu para comparar ironicamente o Flamengo ao Real Madrid.

Com a renovação de contrato de Jesus em pauta e especulações sobre o valor de contrato oferecido pelo clube e a pedida do técnico, surgem aqui e ali debates sobre a importância dele em todo o processo. Natural no Brasil, onde ainda impera uma análise que se concentra na capacidade individual dos jogadores, alguém achar que “com craques é fácil”. Como se não houvesse casos e mais casos de fracassos de elencos estelares.

No futebol e na vida, qualquer carreira bem sucedida precisa ter o mágico instante em que as circunstâncias permitem que o talento se apresente. O encontro entre sorte e competência.

Por isso o blog mergulha em uma retrospectiva da trajetória de Jorge Jesus no Flamengo para registrar os momentos decisivos em que o contexto ajudou, mas a qualidade do trabalho fez com que a oportunidade fosse aproveitada com sucesso e resultasse no melhor time brasileiro deste século, o primeiro depois do Santos de Pelé a conquistar Brasileiro e Libertadores no mesmo ano.

Sorte: a pausa para a Copa América permitiu que o português tivesse um período apenas de treinamentos. Entre o dia 20 de junho, quando começou a trabalhar com o elenco, e dez de julho, a estreia contra o Athletico na Arena da Baixada pela Copa do Brasil, o treinador pôde analisar o grupo de jogadores, detectar carências e trabalhar o modelo de jogo.  Caso fosse contratado com as competições em andamento poderia ter mais dificuldades.

Competência: com nove dias de trabalho, o jogo-treino contra o Madureira na Gávea já mostrou mudanças sensíveis na intensidade e na organização da equipe, já adiantando a última linha de defesa,  pressionando após a perda da bola e atacando com mais jogadores. Ciente de que o presidente do clube, Rodolfo Landim, tratava pessoalmente da contratação de Filipe Luís, Jesus pediu um meio-campista e um zagueiro e a diretoria se mobilizou atrás de Gerson e Pablo Marí.

Sorte: os jogadores que viriam a ser decisivos na campanha vencedora já estavam no clube. E Gabriel Barbosa e De Arrascaeta foram contratações bancadas pelo vice Marcos Braz, mesmo sem a total aprovação de Abel Braga, antecessor de Jorge Jesus. As quatro contratações para 2020, incluindo Rodrigo Caio e Bruno Henrique, já se mostravam certeiras mesmo com a desorganização coletiva.

E por mais que soe cruel, é inegável que a saída de Diego Ribas por lesão colaborou para o treinador encontrar a formação ideal. Ninguém pode comemorar uma fratura no tornozelo (esquerdo), mas sem o camisa dez a circulação de bola ficou mais rápida e as responsabilidades mais divididas na organização do meio-campo.

Competência: com as entradas de Rafinha, Filipe Luís, Pablo Marí e Gerson e a permanência de Diego Alves, Cuéllar (depois Willian Arão) e Everton Ribeiro, Jesus encontrou a equipe titular combinando as características dos jogadores quase à perfeição. A grande chave para o encaixe rápido da equipe.

Rafinha é um lateral mais intenso, de chegada à linha de fundo, e Filipe Luís mais construtor, capaz de trabalhar por dentro; Rodrigo Caio é um zagueiro técnico e rápido, Pablo Marí mais alto e com bom passe; Cuéllar, depois Arão, atua mais na proteção da retaguarda e ajudando na saída de bola e Gerson, como um meia mais recuado e centralizado no 4-1-3-2, organiza as ações de ataque e se junta ao quarteto ofensivo; Everton Ribeiro é um meia articulador, mais próximo de Gerson, e De Arrascaeta o mais agressivo, se juntando à dupla de ataque; Gabriel Barbosa e Bruno Henrique são rápidos e bons finalizadores, mas o camisa nove é mais centroavante e o companheiro mais ponta, embora possam inverter o posicionamento e já tivessem um entrosamento dos tempos de Santos.

Sorte: o campeão Palmeiras e líder absoluto nas primeiras nove rodadas do Brasileiro voltou da parada fora do prumo, caindo em desempenho e perdendo pontos que criaram o “vácuo” para a recuperação rubro-negra. A inconstância do Santos de Sampaoli também ajudou.

Competência: sem a melhora de rendimento as vitórias seguidas contra Grêmio, Vasco e Ceará não viabilizariam a chegada à liderança do campeonato antes do duelo com o time alviverde. Os 3 a 0 com grande atuação que decretaram a demissão de Luiz Felipe Scolari marcaram bem a diferença que ficaria ainda mais nítida no returno até a confirmação da conquista na 34ª rodada que terminaria com recorde de pontos: 90.

Sorte: depois do sofrimento nas oitavas da Libertadores contra o Emelec, o cruzamento com times brasileiros – Internacional e Grêmio – justamente quando a equipe começou a sobrar no país. Sem confrontos na altitude ou que obrigasse a viagens mais longas, que poderiam comprometer o desempenho no Brasileiro, que não deixou de ser prioridade com o sucesso no torneio sul-americano.

Competência: praticamente sem oscilar na competição por pontos corridos, o time voou contra as equipes gaúchas no mata-mata sul-americano. Não seria nenhum absurdo alcançar quatro vitórias, já que teve muitas chances no Beira-Rio e na Arena do Grêmio. Mas os dois empates por 1 a 1 foram suficientes, já que em casa os 2 a 0 sobre o Colorado abriram boa vantagem na ida e a volta da semifinal no Maracanã teve os históricos e implacáveis 5 a 0.

Sorte: na final da Libertadores em Lima, os pouco mais de 30 minutos entre o gol de Borré aos 14 e o final do primeiro tempo, foram de total domínio do River Plate. O time argentino dobrou a aposta na pressão sobre o adversário com a bola, Palacios engoliu Gerson e o Flamengo, com o peso de 38 anos sem chegar à decisão, baixou a guarda. A equipe de Marcelo Gallardo não foi contundente para definir o jogo e o título. No segundo tempo, a entrada de Diego no lugar de Gerson foi essencial e a substituição infeliz de Marcelo Gallardo trocando Borré por Lucas Pratto matou de vez a força ofensiva do rival.

Competência: Jorge Jesus soube acalmar os jogadores no intervalo, corrigir posicionamento e convencê-los de que era importante se manter vivo no jogo e esperar o oponente cansar. Também reforçou a confiança na capacidade ofensiva do time: “pelo menos um gol vamos fazer”. O time atacou com paciência e sem se desorganizar. Acabou premiado com o empate em jogada bem trabalhada e a virada por confiar em Gabriel Barbosa, mesmo anulado por Pinola em 88 minutos da partida.

Sorte: com o mercado retraído e a moral de time campeão e saudável financeiramente, o Flamengo nadou de braçadas no mercado para reforçar um elenco desequilibrado. Com jogadores optando pelo clube mesmo sabendo que iniciariam a temporada na reserva e apenas a saída de Pablo Marí entre os titulares, Jesus ganhou o melhor elenco do país e do continente.

Competência: colocou o time em campo com uma semana de treinamentos usando os jogos do Carioca como preparação para a disputa da Supercopa do Brasil contra o Athletico e da Recopa Sul-Americana diante do Independiente del Valle. Queimou etapas aproveitando o entrosamento da equipe, mas já criando variações táticas e inserindo novas peças como Pedro e Michael, mas faturou os dois títulos. E ainda a Taça Guanabara, mesmo utilizando um time sub-23 nas quatro primeiras rodadas. Chega a cinco conquistas com apenas quatro derrotas em nove meses.

Jorge Jesus não revolucionou o futebol brasileiro, apenas trouxe conceitos atuais que foram bem assimilados por seus comandados. Os sete titulares, mais Diego e Vitinho, com vivência no futebol europeu ajudaram na adaptação, obviamente. É evidente também que a qualidade técnica foi importante. Sempre é fundamental.

Mas daí a menosprezar o trabalho da comissão técnica e reduzir o treinador a um mero “distribuidor de camisas” vai uma distância grande. Cheira a inveja e xenofobia.  Desnecessário e pouco inteligente, já que é possível observar e reter o que pode ser útil para outro treinador em contexto diferente. Não é vergonha aprender e Jesus já mostrou o quanto pode contribuir para a evolução do nosso futebol. Basta saber ouvir e enxergar.

 

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Futebol em Quarentena – Os dez melhores times que vi em quatro décadas http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/futebol-em-quarentena-os-dez-melhores-times-que-vi-em-quatro-decadas/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/futebol-em-quarentena-os-dez-melhores-times-que-vi-em-quatro-decadas/#respond Tue, 17 Mar 2020 19:31:32 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8174

Foto: Javier Soriano / AFP

O futebol parou nos principais centros, inclusive no Brasil. Felizmente, a sensatez prevaleceu e quem puder ficar em casa para não arriscar um colapso nos atendimentos hospitalares por conta da pandemia do coronavirus, melhor para todos.

Mas o blog não pára e aproveita para olhar para trás e abrir espaços para postagens que em tempos velozes, de imediatismo e exigência do “quente”, do “gancho”, não costumam ter muito espaço.

Por isso a série “Futebol em Quarentena” trará rankings, análises de times históricos, jogos lendários, confrontos “dos sonhos” entre grandes equipes de épocas diferentes e o que mais pintar até a bola voltar a rolar no mundo – em breve, esperamos todos.

Para começar, a vontade da maioria do público que votou na enquete no Twitter:

Imagem: Reprodução / Twitter

Então seguem os melhores times (clubes) que vi em quase 40 anos acompanhando apaixonadamente o futebol. Com as devidas particularidades, incluindo memória afetiva. Lista é pessoal, sempre. E daqui a um ano pode mudar também… Vamos lá!

1º – Barcelona de Guardiola – 2010/11

Não foi a equipe mais vencedora comandada por Pep Guardiola na Catalunha, já que na primeira temporada do treinador novato (2008/09) veio a tríplice coroa. Mas mesmo perdendo a Copa do Rei para o Real Madrid de José Mourinho e Cristiano Ronaldo, o Barcelona da temporada 2010/11 foi um primor coletivo que iluminou ainda mais o talento de Xavi, Iniesta, Messi e Daniel Alves.

O gênio argentino, definitivamente como “falso nove”, destruiu as defesas adversárias e foi o elemento de desequilíbrio em um modelo de jogo que tangenciou a perfeição. Pressão pós-perda, posse de bola, construção do jogo desde o goleiro e criação de superioridade numérica no setor da bola, sempre buscando o homem livre. Cansava e atordoava os adversários e conseguia impor a maneira de jogar, mesmo nas raras derrotas. Combinação quase perfeita do melhor das escolas espanhola, holandesa e argentina.

2º – Milan de Arrigo Sacchi – 1988/1989

Os 5 a 0 sobre o Real Madrid pela semifinal da Liga dos Campeões no Giuseppe Meazza representam o melhor do fantástico time dos holandeses Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco Van Basten. Comandados por Sacchi, que revolucionou o futebol italiano atualizando ideias de Rinus Michels.

Defesa em linha, comandada por Franco Baresi, marcando por zona, adiantando e aproximando setores, muitas vezes jogando em trinta metros e trabalhando a bola voltado para o ataque. Combinando a cultural solidez defensiva do “Calcio” com um estímulo ao talento que só rivalizava com a genialidade de Maradona no Napoli. Em 1990, faturou o bicampeonato europeu, último a conseguir o feito antes do Real Madrid de Zinedine Zidane. Um alento e um deleite em tempos de futebol defensivo, simbolizado pela Copa do Mundo disputada na própria Itália.

3º – São Paulo de Telê Santana – 1992/1993

Ganhar duas vezes seguidas a Libertadores é raro. Numa época ainda de muita violência no futebol sul-americano, além das já habituais arbitragens “polêmicas” e pouco controle de doping era ainda mais complicado. E priorizando o futebol bem jogado, mais raro ainda.

O que não era difícil era rivalizar com os gigantes europeus num período anterior à Lei Bosman, que transformou os grandes clubes do Velho Continente em verdadeiras seleções transnacionais. O São Paulo de Telê Santana conseguiu ser competitivo e ter momentos de futebol arte. O melhor exemplo na final do Mundial de 1992, contra o Barcelona. Com Cafu e Muller abertos, Rai e Palhinha por dentro e o suporte de Toninho Cerezo. Tocando, girando, envolvendo e virando para cima do “Dream Team” de Johan Cruyff. Um tempo de supremacia tricolor no planeta.

4º – Arsenal “Invincibles” – 2003/04

Campeão invicto da Premier League, já muito competitiva à época. O que o Liverpool de Klopp e o Manchester City de Guardiola sonharam, mas não conseguiram, os Gunners de Arsene Wenger fizeram história. Não é um título de Champions, mas não deixa de ser um feito extraordinário.

Méritos do time de contra-ataques de almanaque, mas que nunca abdicava de atacar. Uma equipe completa e que vivia um momento coletivo extraordinário, que potencializava as individualidades de Patrick Vieira, Thierry Henry e Dennis Bergkamp. Com auxílio luxuoso de Robert Pirés, Gilberto Silva, Ashley Cole e Fredrik Ljungberg. Transpiração e inspiração para primeiro garantir a taça, depois a trajetória imaculada e histórica. Que dificilmente será repetida.

5º – Bayern de Munique de Jupp Heynckes – 2012/13

Um rolo compressor improvável, depois do revés nos pênaltis em casa para o Chelsea na final europeia em Munique e de perder a hegemonia na própria Alemanha para o Borussia Dortmund de Jurgen Klopp. Na temporada que Jupp Heynckes anunciou que se despediria dos gramados e o gigante bávaro foi atrás de Guardiola em seu “ano sabático”.

Parecia fim de festa. Mas com Robben e Ribéry desequilibrando pelas pontas, o Bayern atropelou o Barcelona com 7 a 0 no agregado e média de 40% de posse de bola. Mesmo sendo o segundo melhor no quesito na Europa, atrás justamente do time blaugrana. Provando ser uma equipe “camaleã”, que se adaptava às demandas das partidas, algo que seria tendência nos anos seguintes. Faturou a tríplice coroa, sendo o último título de outro clube que não Barcelona e Real Madrid na década até o Liverpool quebrar a sequência na temporada passada. Timaço!

6º – Flamengo de Zico – 1981/1982

O time que “unificou” os títulos depois do Santos de Pelé nos anos 1960. Em maio de 1982, era o último campeão da cidade (Taça Guanabara), estado (Rio de Janeiro), país (Brasil), continente e mundo. Com inovações táticas que virariam tendências.

Congestionando o meio-campo com um volante (Andrade) e quatro meias (Tita, Adílio, Zico e Lico), mais Nunes, o centroavante que caía pelas pontas abrindo espaços para os mais talentosos – incluindo os laterais Leandro e Júnior. Mas um camisa nove que aparecia para decidir as partidas mais importantes. Tocando, girando as peças e colocando os adversários na roda. Faltou um período maior de hegemonia no continente, mas o legado da maneira de jogar é imenso, influenciando a inesquecível seleção brasileira da Copa da Espanha.

7º – Liverpool de Jurgen Klopp – 2019/20

Uma construção paciente, qualificando o elenco, tornando a maneira de jogar mais versátil, adicionando pausas no estilo “rock’n’roll” do treinador alemão. Sofrendo com goleiros e zagueiros fracos inicialmente, para depois ir ao mercado e contratar Alisson e Virgil Van Dijk.

Para dar segurança a um ataque avassalador. Com Mohamed Salah, Roberto Firmino e Sadio Mané próximos uns dos outros e da meta adversária e os laterais Alexander-Arnold e Robertson abrindo o campo e sendo os principais municiadores de um time como volume de jogo sufocante e força mental para sair de várias situações difíceis. Venceu a Champions em 2019 e alcançou a melhor campanha do clube na história da Premier League, mas sem faturar o sonhado título nacional que deve vir agora, se a temporada na Inglaterra não for cancelada.

8º – Real Madrid de Zinedine Zidane – 2016/2017

Por motivo de: TRICAMPEÃO da Champions. Não é todo dia que acontece, mesmo descontando algumas atuações pouco inspiradas, pitadas de sorte e arbitragens polêmicas. Chama ainda mais atenção a manutenção da base nas três conquistas e o fato de ser a estreia de Zinedine Zidane no comando técnico de uma equipe de primeira divisão.

O auge na temporada 2016/17, com a conquista também do título espanhol. E o encaixe de Isco, armando um 4-3-1-2 muito móvel e mutante. E essencialmente técnico, com Carvajal e Marcelo abrindo o campo, Cristiano Ronaldo se juntando a Benzema na frente e muito controle no meio-campo, sustentado por Toni Kroos e Luka Modric. Todos suportados por Casemiro na proteção a Varane e Sergio Ramos. Se tudo desse errado, lá estava Keylor Navas para garantir. A camisa entortou varal algumas vezes, mas era um time com muito poder de decisão.

9º – Boca Juniors de Carlos Bianchi – 2000/2003

Um time “embaçado” para enfrentar, especialmente em mata-mata. Mas também capaz de ganhar o Apertura invicto, no início desta caminhada em 1998. Equipe que sabia amassar os adversários na Bombonera e cinicamente cozinhá-los como visitante. E, se tudo desse errado, ainda havia o “rei dos pênaltis” Oscar Córdoba na meta.

No ritmo de Juan Roman Riquelme. Craque um tanto tímido, de hábitos estranhos. Mas um “enganche” de enorme talento e leitura de jogo, inclusive da temperatura. O típico dez que dita o ritmo, acelerando ou escondendo a bola. Faturando a Libertadores em 2000, 2001 e 2003, superando o milionário Palmeiras e o Santos de Diego e Robinho. No último sem Riquelme e Palermo, mas com o jovem Carlos Tévez e Guillermo Schelotto. Uma máquina de faturar taças comandada por Bianchi, um estrategista copeiro que estava na hora certa e no clube certo para fazer história.

10º – Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo – 1996

Sim, o time alviverde mais vencedor comandado por Luxemburgo foi o de 1993/94. Este foi um “meteoro” que não durou seis meses. Mas, ora bolas! Futebol também é lúdico, capaz de fazer sonhar e encantar. E este que escreve chegou a faltar aulas e deixar de ver o time de coração para acompanhar esse futebol encantador.

Foram 102 gols e 13 goleadas de um time fulminante. Cafu e Júnior voando nas laterais, Djalminha e Rivaldo entregando talento no meio, Muller fazendo o pivô e Luizão perdendo e também fazendo muitos gols, tamanha era a superioridade coletiva e individual. Que encaixou no primeiro treinamento, segundo relato do próprio Djalminha a este que escreve em um “Bola da Vez” na ESPN Brasil em 2014. Só um título paulista, um revés doído para o Cruzeiro na final da Copa do Brasil, mas e daí? Nunca será esquecido e está na lista porque sim!

É isso!

Certamente muitos flamenguistas que acham que o futebol começou em 2019 vão cobrar: “Ain, e o time atual do Jorge Jesus?” Calma! Vamos esperar construir a história da equipe, ainda que ganhar Brasileiro com recorde nos pontos corridos e Libertadores no mesmo ano seja um feito espetacular. Mas vamos aguardar!

Para os mais inconformados, fica a promessa de uma análise mais detalhada do atual campeão nacional e continental em breve.

 

 

 

 

 

 

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