messi – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Sincerão – Olimpo do futebol só tem três: o rei, o artista e o arquiteto http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/01/sincerao-olimpo-do-futebol-so-tem-tres-o-rei-o-artista-e-o-arquiteto/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/01/sincerao-olimpo-do-futebol-so-tem-tres-o-rei-o-artista-e-o-arquiteto/#respond Wed, 01 Jul 2020 14:07:37 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8707

Foto: Acervo FIFA

Este colunista participou do quadro Sincerão do UOL Esporte e muitos questionaram por que Pelé, Maradona e Cruyff não foram citados no Top 5 de meio-campistas, nem de atacantes.

Justo. Talvez tenha sido mesmo um equívoco, mas há duas razões para tal.

Primeiro porque vejo esses três gênios como pontas-de-lança, exercendo aquela função híbrida de meia e atacante. O “camisa dez” que arma e finaliza. Zico, meu ídolo de infância e outra ausência sentida por muitos, se encaixa igualmente neste perfil. Messi também, mas em campo sempre funcionou mais como atacante, partindo da direita para dentro em busca da finalização ou da assistência.

Mas também porque os três fazem parte do Olimpo do futebol. Só eles, ao menos por enquanto. Ainda que o Olimpo abrigue doze deuses do panteão grego, É claro que Messi e Cristiano Ronaldo são candidatíssimos a pleitear vagas neste grupo muito seleto, mas é preciso esperar o fim de suas carreiras para que o distanciamento histórico entregue à dimensão dos feitos da dupla dos gênios do Século 21 até aqui.

Pelé é o rei. Entregou desempenho e resultados a longo prazo como nenhum outro. Colocou o Santos no mapa da bola e foi campeão e protagonista em duas Copas do Mundo, na época o grande parâmetro para medir os maiores. Transformou o jogo sendo um atleta completo que jogava futebol. Artilheiro implacável, domínio de todos os fundamentos do esporte.

Maradona é o artista. Genial, inquieto, imperfeito, errático. Capaz de lances espetaculares no campo e comportamentos nada exemplares fora dele. Quando quis ser competitivo foi a estrela máxima em uma edição de Copa do Mundo, no México em 1986. E também colocou um time outrora minúsculo no imaginário popular. Por isso é Deus em Napoli, assim como na Argentina. O grande ídolo da história do esporte.

E Johan Cruyff é o arquiteto. Craque cerebral, treinador dentro do campo, frasista nato. Pensou e reinventou o futebol muitas vezes, ancorado em princípios inegociáveis, como ter a bola para controlar o jogo. A conexão Holanda 1974 – Barcelona de 1992 – Pep Guardiola é única e pedra fundamental para o futebol há meio século.

É claro que há outros craques e gênios, e rankings são sempre discutíveis. Mas para este que escreve só esses três merecem ocupar o topo. Por seus feitos e legados. Esclarecido?

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Era Jürgen Klopp é de futebol intenso, mas também inteligente e adaptável http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/26/era-jurgen-klopp-e-de-futebol-intenso-mas-tambem-inteligente-e-adaptavel/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/26/era-jurgen-klopp-e-de-futebol-intenso-mas-tambem-inteligente-e-adaptavel/#respond Fri, 26 Jun 2020 12:37:57 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8690

Foto: Reuters

Há recortes históricos que com um mínimo distanciamento do tempo podem ser definidos como uma mudança de paradigma. Mesmo em um esporte tão complexo e instável como o futebol.

O Barcelona foi para o intervalo em Anfield perdendo por 1 a 0 pelo jogo de volta da semifinal da Liga dos Campeões 2018/19. Havia vencido por 3 a 0 no Camp Nou e ainda tinha uma boa vantagem a administrar fora de casa. Se fizesse um gol o Liverpool teria que fazer mais quatro.

E a imagem no vestiário do time catalão era de absoluto desespero. Ainda que o trauma da eliminação na edição anterior do torneio continental para a Roma também ecoasse,  estava claro no semblante de Messi, Suárez, Jordi Alba e outros que a tragédia parecia inevitável. O discurso, sem muita convicção, era de que era preciso retomar o ritmo no estilo Barcelona, de posse de bola. Mas todos sabiam que na prática isso seria impossível. Os 4 a 0 no final foram apenas a consequência natural.

Porque vivemos a Era Jürgen Klopp no futebol. O que não quer dizer necessariamente que seja o treinador que vence tudo que disputa. Não foi assim com Rinus Michels, nem Cruyff, Arrigo Sacchi, Alex Ferguson ou José Mourinho. Talvez Pep Guardiola, com currículo impressionante e único, seja a exceção. Ainda assim, já se vão quase nove anos sem vencer a Champions.

Notamos a ascendência das ideias de um treinador no esporte quando praticamente em qualquer partida é possível notar as digitais dele no que acontece em campo.

Repare que cada vez falamos menos em posse de bola como critério para observar o domínio de uma equipe sobre a outra. Melhor dizendo, ter a bola ainda é um indício, mas cada vez mais importante é atacar com volume e agredindo o adversário. Não tocando e circulando sem “machucar”.

O Jurgen Klopp do Borussia Dortmund e do início do trabalho no Liverpool era do futebol “rock’n’roll”. Intensidade máxima, “gegenpressing” e uma fome como se houvesse amanhã. Só que em muitas partidas isso tudo virava pressa, ansiedade. Ou um desperdício de energia que cobrava o preço ao final do jogo ou do campeonato.

Mas Klopp é inteligente e tem sensibilidade para notar a direção dos ventos. Também sabe ouvir, embora não abra mão de suas convicções. Estava nítido que seria preciso se adaptar ao que pede cada jogo. Como ele percebeu na própria Premier League com outros treinadores, como Antonio Conte e o próprio Guardiola, que venceu no Manchester City combinando elementos inegociáveis do seu modelo de jogo com a intensidade do futebol praticado na Inglaterra. Também com a eletricidade de Klopp.

Pausas. Era preciso ter momentos de circulação da bola para variar a intensidade do jogo. Passar de lado para abrir o campo e as linhas do oponente não é pecado. Klopp fez o Liverpool voltar a ser temido. Junto com a camisa pesada, natural que alguns adversários apelassem para retrancas. Linha de cinco, dez jogadores atrás da linha da bola e protegendo a própria área. Acelerar o tempo todo muitas vezes significava dar de cara com o muro. Em loop, até cansar.

Klopp viu a solução nas inversões de bola de seus laterais: Alexander-Arnold e Robertson fazem a troca de corredor com frequência e eficiência. Também se juntam na frente ao tridente Salah-Firmino-Mané. Com o brasileiro recuando para colaborar na articulação e os dois ponteiros buscando as infiltrações em diagonal. Cabe aos zagueiros e aos meio-campistas se impor fisicamente, mas também colaborar com a manutenção da posse quando é preciso. Henderson cresceu demais nesta proposta, tanto como volante mais fixo como um meia pela direita.

Antes o treinador alemão queria um ambiente difícil de respirar em campo. Agora ele entende que há momentos em que é preciso encher e esvaziar os pulmões para pensar melhor e fazer o que é necessário em campo. Sem a loucura de antes, que lembrava o piloto inglês Nigel Mansell nos anos 1980/90 na F-1: batia recordes seguidos de volta mais rápida para perder a prova por falta de combustível ou em uma manobra arriscada e pouco inteligente.

É claro que o talento continua sendo fundamental. Sem Alisson e Van Dijk é bem provável que o Liverpool continuasse com a defesa como elo fraco e comprometedor no mais alto nível competitivo. Mas encontrar as peças certas que o dinheiro pode comprar também é sinal de amadurecimento.

Isso tudo constroi o Liverpool campeão inglês, depois de 30 anos. A primeira conquista na Era Premier League. Com sete rodadas de antecedência, 23 pontos de vantagem sobre o então bicampeão City. Time de Guardiola que caiu diante do Chelsea por 2 a 1. Justamente os Blues, algozes dos Reds em 2014, no lendário escorregão de Steven Gerrard que negou mais uma vez a conquista do título. Como o pontinho da temporada passada.

Desta vez não houve margem para erro. Cada jogo da liga foi tratado como uma decisão. Com a natural oscilação que os times ingleses costumam sofrer quando disputam o Mundial de Clubes. Viagem, desgaste, os jogos seguidos na virada do ano. Cobrou o preço nas copas nacionais e também na Champions. Mas estava claro desde o início que esta temporada era a da dedicação aos pontos corridos. Da redenção.

Veio em meio a uma pandemia. A retomada do campeonato serviu para fazer justiça ao melhor time. E também a Klopp, a mente dominante desta era do futebol intenso, vertical. Mas também inteligente e adaptável. De acordo com a demanda. A do Liverpool andava reprimida, agora é só alegria. Ou alívio, pelo contexto do mundo.

Mas em qualquer campo onde a bola role haverá o toque de Jürgen Klopp. Carisma incrível, sorriso franco, uma certa loucura cativante. Mas acima de tudo um grande treinador de futebol. O melhor do planeta. Agora o “zeitgeist”, ou o espírito do tempo, está com ele.

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Por que possível volta de Neymar ao Barcelona não é garantia de sucesso http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/04/por-que-possivel-volta-de-neymar-ao-barcelona-nao-e-garantia-de-sucesso/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/04/por-que-possivel-volta-de-neymar-ao-barcelona-nao-e-garantia-de-sucesso/#respond Mon, 04 May 2020 16:59:23 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8429

Foto: Getty Images

A informação é do jornal “Mundo Deportivo”: Neymar recusou “luvas” de 100 milhões de euros para renovar o contrato com o Paris Saint-Germain para além do atual, que termina em junho de 2022. Mantendo os 50 milhões de euros por ano em salários.

Segundo a publicação, a negativa tem como pano de fundo o interesse do craque brasileiro em voltar a Barcelona. Estaria disposto, inclusive, a reduzir o salário pela metade para realizar o sonho de retornar ao clube catalão.

Desejo legítimo, que faz parte do negócio e do esporte. Mas a possível transferência, ainda mais complicada em tempos de crise pela pandemia, não é garantia de sucesso para o brasileiro, nem para o time de Lionel Messi comandado hoje por Quique Setién.

Primeiro porque os quase seis de distância em relação à temporada perfeita de Neymar no Barça, a 2014/15, no futebol atual é uma eternidade. O jogo evoluiu, os protagonistas envelheceram. O trio MSN, incluindo Luís Suárez, não seria mais uma novidade e a proposta de jogo de Luis Enrique não é mais a que vigora em Barcelona.

Na última temporada, 2016/17, a coisa já não fluía tão bem, com Neymar insatisfeito por se sacrificar para a equipe aberto na ponta e com maiores atribuições defensivas. Significava evolução com jogador, mas a sensação de ser cada vez mais coadjuvante pesava contra.

O próprio Neymar mudou. Muito mais meia articulador que atacante, buscando menos a linha de fundo ou a infiltração em diagonal para finalizar. No PSG, Neymar é o “Messi” de Mbappé. Difícil voltar a ser a “flecha” com mais cinco anos e também um histórico de lesões pesando nas pernas. Sem contar a antipatia de boa parte da torcida e má vontade da imprensa catalã que não existia em 2015.

E ainda a obrigação de colocar intensidade atacando, defendendo e pressionando após a perda para compensar a letargia cada vez mais acentuada do camisa dez e estrela máxima assim que a equipe entra em transição defensiva.

Não é tarefa simples. No campo, pode ser tão complexa quanto a operação financeira e convencer o PSG a abrir mão de uma das estrelas do projeto ambicioso do clube. Por ora segue como especulação, mas cabe a reflexão sobre o “pensamento” mágico que muitas vezes se impõe no futebol. Que desconsidera contexto e acha que o que deu certo em uma época será sempre bem sucedido.

A história mostra que não é assim, mas há quem nunca aprenda. Às vezes o “déjà-vu” fica só na vontade.

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Dezoito dias, quatro jogos. O maior evento esportivo do século 21 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/27/dezoito-dias-quatro-jogos-o-maior-evento-esportivo-do-seculo-21/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/27/dezoito-dias-quatro-jogos-o-maior-evento-esportivo-do-seculo-21/#respond Mon, 27 Apr 2020 12:18:08 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8390

Foto: AP

Os dois maiores times do mundo e grandes rivais do mesmo país. Com os dois melhores treinadores e os dois grandes craques do planeta com forte antagonismo. Decidindo liga e copa nacionais e ainda uma vaga em final continental. Tudo isso em menos de um mês. Dezoito dias, para ser mais preciso.

Um sonho para qualquer fã de futebol, não? Pois é, aconteceu há nove anos. E como o ápice no duelo mais marcante em um dia 27 de abril como hoje.

Barcelona e Real Madrid. Pep Guardiola versus José Mourinho. Lionel Messi contra Cristiano Ronaldo. Em 16 de abril no jogo mais importante do campeonato por pontos corridos, quatro dias depois decidindo a Copa do Rei. Nos dias 27 de abril e três de maio, definindo uma vaga na decisão da Liga dos Campeões contra o Manchester United.

Para aumentar o fogo da panela de pressão, em novembro o Barça havia enfiado 5×0 no Camp Nou. A “maneta” humilhante que mostrou para Mourinho que, mesmo com elenco estelar, não era possível encarar de peito aberto a equipe de Guardiola. Como fizera com a Internazionale da tríplice coroa na temporada anterior em Milão, no San Siro: vitória por 3 a 1 em disputa equilibrada.

A receita para o próximo encontro era encontrar um meio termo entre a proposta corajosa em casa e a retranca “handebol” do time italiano depois que perdeu Thiago Motta no jogo de volta em Barcelona e administrou a derrota por 1 a 0 que garantiu vaga aos neroazzurri na decisão da Champions 2009/10.

O problema era enfrentar o time catalão em sua melhor versão. No 4-3-3 e com o jogo posicional que tinha o comando de Xavi Hernández e o ponto de desequilíbrio com Messi voando na função de “falso nove” totalmente assimilada e destruindo os adversários nas entrelinhas, entre a defesa e o meio-campo. Quem marcaria o gênio argentino: os volantes ou os zagueiros?

Mourinho definiu que um jogador ocuparia esse espaço e o negaria ao craque do rival. Primeiro foi Pepe, depois Xabi Alonso. Quem não preenchesse a “zona Messi” fecharia com Khedira por dentro a linha de quatro no 4-1-4-1 compacto que tinha Ozil e Di María pelas pontas e Cristiano Ronaldo na frente.

Mas o treinador português sabia que não bastava o duelo técnico e tático. Os “jogos mentais” seriam muito necessários para desestabilizar o outro lado. Provocações antes e durante as partidas tensas, com momentos de violência no jogo e fora dele. Entre atletas e comissões técnicas, Uma guerra.

Apesar da surpresa com a mudança radical de estratégia do rival, o Barcelona se deu melhor no primeiro duelo: empate por 1 a 1 no Santiago Bernabéu, gols de pênalti de Messi e Cristiano Ronaldo, na partida que manteve os oito pontos de vantagem e encaminhou o tricampeonato de La Liga. Resultado comemorado, mesmo sem conseguir manter a vantagem no placar e numérica depois da expulsão do zagueiro Albiol na penalidade máxima cometida sobre Villa.

No entanto, a única partida valendo taça ao final da disputa foi vencida pelo Real Madrid. Na prorrogação, a Copa do Rei em Valencia, no Estádio Mestalla. Gol de Cristiano Ronaldo completando de cabeça um cruzamento de Di María pela esquerda.

Com o time branco incomodando ainda mais o rival com coragem, objetividade nas ações ofensivas e uma entrega absoluta sem a bola. Concentração total e resiliência para buscar a vitória, mesmo com a consciência de que não teria mais que 35% de posse no jogo. Faturando um título depois de três anos. O primeiro decidido por Cristiano Ronaldo em sua mítica passagem por Madri.

Tudo isso foi levado para a disputa mais importante, pela Champions. A ida no Bernabéu, há exatos nove anos, foi novamente muito nervosa. Aditivada por novas provocações de Mourinho que Guardiola prometeu responder no campo.

A solução de Pep foi proteger mais a bola e a defesa. Com Puyol improvisado na lateral esquerda e Keita entregando mais vigor físico no meio-campo. Também invertendo os ponteiros, com Villa à direita para cima de Marcelo e Pedro pela esquerda contra Arbeloa. O Real tinha Lass Diarra na vaga de Khedira no meio-campo, com Alonso fazendo o papel de negar a entrelinha a Messi e Pepe fazendo a função de meia por dentro à esquerda. Mais dinâmica na marcação, menos qualidade nas transições ofensivas.

O duelo mais importante, pela Liga dos Campeões no Bernabéu, teve o Barcelona no 4-3-3 com Puyol na lateral esquerda, Keita no meio-campo e inicialmente ponteiros invertidos – Villa à direita, Pedro pela esquerda. Mais posse e cuidados defensivos contra o Real no 4-1-4-1 de Mourinho, mas com Xabi Alonso entre as linhas vigiando Messi e a melhor saída pela esquerda, com Di María e Marcelo (Tactical Pad).

O escape de Mourinho de novo era o lado esquerdo com Marcelo fazendo Villa voltar para ajudar sem bola e Di María incomodando Daniel Alves. O lateral, que nunca teve a marcação como grande virtude, teve problemas e exagerou nas faltas. Até demorou a levar o cartão amarelo. E o pau quebrou também na saída para o vestiário, com o goleiro reserva do Barça, Pinto, dando um tapa no rosto de Arbeloa e jogadores e membros das comissões participando da briga.

A tensão seguiu no segundo tempo até a expulsão de Pepe pela entrada, no mínimo, imprudente em Daniel Alves. Força desproporcional que rendeu o cartão vermelho e o domínio do Barcelona sobre um Real que tinha voltado melhor no segundo tempo com Adebayor na vaga de Ozil. E Cristiano Ronaldo sempre dando trabalho para o goleiro Victor Valdés.

Com um a mais e o Real também sem Mourinho, expulso de tanto reclamar da arbitragem, a posse e a movimentação da equipe de Guardiola enfim encontraram espaços para acionar Messi.  Affelay entrou na vaga de Pedro, que havia voltado ao setor direito. Por ali o holandês com a camisa vinte aproveitou falha de Marcelo e cruzou para Messi abrir o placar.

O golpe final veio na arrancada irresistível do argentino passando por Diarra, Sergio Ramos, Albiol e Marcelo antes de tocar na saída de Casillas. Gol antológico que praticamente sacramentou a vaga na final europeia, confirmada com o empate por 1 a 1 no Camp Nou – gols de Pedro e Marcelo. O último e menos memorável dos quatro duelos históricos. O Barça venceria a Champions novamente contra o United, repetindo 2008/09. Desta vez com triunfo maiúsculo por 3 a 1 em Wembley. O grande recital do “Pep Team”.

Mas nada foi maior que aquela sequência de superclássicos. No esporte no século 21. Nem as Copas do Mundo ou Jogos Olímpicos. O mundo parou para ver o grande embate, o clássico ficou ainda maior com o passar dos anos, assim como o protagonismo de Messi e Cristiano Ronaldo.

Em tempos de bola parada pela pandemia, a saudade só aumenta.

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Tá com saudades de um joguinho ao vivo, né, minha filha? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/17/ta-com-saudades-de-um-joguinho-ao-vivo-ne-minha-filha/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/17/ta-com-saudades-de-um-joguinho-ao-vivo-ne-minha-filha/#respond Fri, 17 Apr 2020 11:23:06 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8312

Foto: Zanone Fraissat / Folhapress

Há algum tempo eu me peguei pensando sobre a razão de muitos jogadores em atividade não receberem o devido valor. Seria só por conta da memória seletiva do saudosismo, da necessidade de um distanciamento histórico para uma análise mais criteriosa ou porque Messi e Cristiano Ronaldo subiram o sarrafo do nível de exigência?

Por exemplo, um craque multicampeão como Toni Kroos muitas vezes ser colocado abaixo de outros alemães que não foram tão talentosos, nem vencedores. Como Wolfgan Overath, lenda do Colônia e o meia criativo da seleção campeã mundial de 1974. Ou Bernd Schuster, campeão da Eurocopa em 1980 e que fez história no futebol espanhol, porém sem o brilho do atual camisa oito e maestro do Real Madrid.

Ou James Rodríguez ser menos reconhecido que Carlos Valderrama na Colômbia. Mesmo que o meia do Real Madrid tenha o cabeludo como ídolo, já o superou há tempos, inclusive nos feitos em Copas do Mundo. Nem vou citar Neymar no Brasil, humilhado diante de muitos jogadores apenas bons do país que atuaram há décadas.

A minha conclusão foi que vimos pouco do passado e tendemos a guardar os melhores momentos, selecionar as impressões e sensações, enquanto os que estão (ou estavam) jogando são dissecados duas vezes por semana com estatísticas e análise de desempenho mais criteriosa.

Então me questionei se não víamos jogos demais e se isso era saudável ou matava a nossa capacidade de sonhar. A fantasia tão necessária ao amor pelo jogo. Como será que gênios como Pelé, Maradona, Cruyff, Di Stéfano e Garrincha passariam por esse escrutínio diário? Será que termos acesso diário a partidas de futebol, espalhadas para encher grades de programação de emissoras de TV, não estaria banalizando o esporte?

E agora estamos aqui…Entendendo perfeitamente a gravidade da situação, até pelas notícias do mundo todo chegando em tempo real e fazendo parte das nossas vidas e preocupações…mas com aquela saudade IMENSA de um joguinho ao vivo.

Sem saber o resultado final, muito menos os herois e vilões. Ainda que rever os jogos do passado sempre nos permita um novo olhar, mais crítico ou condescendente, a abstinência da incerteza que nutre o esporte mais apaixonante começa a pesar.

O último jogo analisado neste blog foi a vitória do Fluminense sobre o Vasco no Maracanã com portões fechados. No dia 15 de março, praticamente há um mês. Parece que foi ano passado. E mesmo com a consciência de que o futebol só deve voltar quando liberado por autoridades conscientes, amparadas pela Ciência, não pressionados por questões comerciais e priorizando as vidas, a ansiedade já bate na porta.

Mesmo sem torcida e com jogadores voltando de um período que já supera as férias anuais. Em um clima diferente, talvez até fúnebre ou mórbido. Só aquele joguinho que às vezes por excesso de oferta era até descartado. Sabe aquela máxima surrada de que só se valoriza quando perde?

O título deste post virou meme, quase sempre apontando banalidades do cotidiano que não podemos fazer por estarmos trancados em casa para preservar a nossa vida e a do próximo. Mas estão fazendo falta, justamente porque fazem parte da vida.

Confesso que hoje eu precisava mesmo era de um abraço. Do Drauzio Varella ou de qualquer pessoa com empatia. Por tantas incertezas sobre o futuro, mas também pela falta do futebol. Matéria-prima do ofício, mas fundamentalmente um objeto de paixão. A saudade tá grande, né, minha filha?

 

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As dez maiores duplas de ataque da história http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/15/as-dez-maiores-duplas-de-ataque-da-historia/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/15/as-dez-maiores-duplas-de-ataque-da-historia/#respond Wed, 15 Apr 2020 11:10:28 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8305

Dupla de ataque é diferente de dupla de atacantes. Aqui entram jogadores que eram os mais avançados de suas equipes ou, dentro de um 4-3-3 ou 4-2-4, os que mais se procuravam para tabelas – o centroavante e o ponta-de-lança. Então duplas como Garrincha-Pelé, Ronaldo-Zidane ou Neymar-Messi, por exemplo, não fazem parte da lista. Questão de critério.

Então vamos ao “Top 10”, desta vez indo da décima à primeira colocação para os preguiçosos e/ou ansiosos ao menos passarem os olhos até o final.

[E, sim, este que escreve reconhece há um pouco de “pachequismo” envolvido, neste caso.]

10º – Bergkamp & Henry – Dos “Invincibles” de Arsène Wenger em 2003/04. Talento, velocidade, explosão, elegância e muita eficiência diante dos goleiros. Responsáveis por 34 gols e 17 assistências naquela campanha mágica.

9º Maradona & Careca – Um gênio e um grande centroavante fazendo história no Napoli mais vencedor, com título italiano e da Copa da UEFA, que hoje corresponde à Liga Europa. Foram a maior dor de cabeça de Arrigo Sacchi nos grandes duelos com o Milan no final dos anos 1980.

8º Ronaldo & Romário – Efêmera, porém espetacular, com os dois maiores atacantes do futebol brasileiro depois da Era Pelé, protagonistas nos dois últimos títulos mundias da seleção. Um bom entendimento em campo, especialmente no ano mágico de 1997.

7º Messi & Suárez – Desde 2014, viveram o melhor momento no Barcelona formando o tridente com Neymar que venceu a tríplice coroa e o Mundial de Clubes, mas ainda sintonizados e vencedores nas temporadas seguintes, com quatro ligas e quatro Copas na Espanha.

6º Cristiano Ronaldo & Benzema – Nada menos que quatro títulos de Liga dos Campeões em cinco temporadas. Demoraram a engrenar, já que chegaram juntos ao Real Madrid para a temporada 2009/10. Afinaram a sintonia com Ancelotti e arrebentaram com Zidane.

5º Ronaldo & Rivaldo – Nem tanto por 1998, já que Bebeto é que formava a dupla com o Fenômeno. Mas em 2002 eram os mais avançados e acionados por Ronaldinho Gaúcho. Marcaram 13 dos 18 gols da seleção de Luiz Felipe Scolari e resolveram na decisão com a Alemanha.

4º Gullit & Van Basten – Ganharam tudo no Milan e ainda a Eurocopa de 1988 com a Holanda de Rinus Michels. Entendimento no olhar, movimentação inteligente, inteligência nas tabelas e força no jogo aéreo. Não fossem os muitos problemas físicos e teriam sido ainda mais espetaculares.

3º Di Stéfano & Puskas – Dois dos maiores jogadores da história vencendo juntos duas Copas dos Campeões da Europa e quatro títulos espanhois pelo Real Madrid. Sintonia perfeita em campo, com um abrindo espaços para o outro e ainda forte amizade na vida pessoal. Monstros.

2º Bebeto & Romário – Carregaram nas costas a responsabilidade de acabar com um longo jejum de títulos da seleção brasileira. Primeiro em 1989, na Copa América em casa; cinco anos depois o Mundial nos Estados Unidos. De quebra uma prata olímpica em 1988. Se entendiam no olhar e sem o suporte de grandes meio-campistas.

1º- Pelé & Coutinho – Sem eles essa lista talvez nem existisse. Criaram no imaginário popular do Brasil e do mundo o simbolismo da dupla de ataque, com tabelas espetaculares, gols em profusão e muitos títulos pelo Santos. Faltou o protagonismo de Coutinho também na seleção, mas ainda assim viraram lendas.

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Luizão foi um bom camisa nove, mas errou feio ao falar sobre centroavantes http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/06/luizao-foi-um-bom-camisa-nove-mas-errou-feio-ao-falar-sobre-centroavantes/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/06/luizao-foi-um-bom-camisa-nove-mas-errou-feio-ao-falar-sobre-centroavantes/#respond Mon, 06 Apr 2020 11:35:35 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8257

Foto: Pedro Ivo Almeida / UOL

“O Brasil não tem centroavante hoje. Não temos e sentimos muita falta disso. O Brasil foi pentacampeão mundial sempre com um 9, uma referência. […] Gabriel Jesus e Firmino não começaram a carreira como centroavantes. Eles são adaptados ali”.

Palavras do ex-jogador Luizão no programa “Última Palavra” no canal Fox Sports. Campeão mundial em 2002 e um bom centroavante, artilheiro e vencedor por Palmeiras, Vasco, Corinthians, São Paulo e Flamengo.

Mas errou feio ao falar sobre a sua posição. Em relação ao passado e aos tempos atuais. E não venham com o velho, surrado e furado papo de “ele jogou, você nunca chutou uma bola e não pode criticar”. Posso, sim. Primeiro pela liberdade de expressão, segundo porque ele já parou de jogar e está ali analisando o cenário futebolístico. E precisa ter conhecimento para não dizer bobagem.

E ele disse. “O Brasil foi pentacampeão mundial sempre com um 9, uma referência”. Quem era a referência em 1970, justamente a seleção considerada a melhor não só brasileira, mas de todas as Copas?

A resposta: ninguém. Tostão era um meia-atacante, um “ponta-de-lança”. Na equipe montada por Zagallo tinha a função de se movimentar, abrir espaços. Procurar o lado esquerdo, ajudando Rivellino, já que o lateral Everaldo praticamente não atacava. Deixava o corredor central para Pelé e as infiltrações em diagonal de Jairzinho.

Fez apenas dois gols no Mundial, na vitória por 4 a 2 sobre o Peru nas quartas de final da Copa no México. Foi muito mais importante, porém, facilitando o trabalho dos companheiros. Muito longe de ser o tal “homem-gol”.

A rigor, o único centroavante típico campeão mundial pelo Brasil foi Vavá, em 1958 e 1962. E mesmo ele também se movimentava. Com Zagallo mais recuado, ele dava dois passos para o lado esquerdo para que o jovem Pelé entrasse para concluir. Quatro anos depois, também ajudou com mobilidade para que Garrincha brilhasse.

Ronaldo e Romário foram craques geniais, atacantes completos – ou quase, já que o Fenômeno, por conta de um trauma por bolada, passou a ter medo de cabecear. Não atuavam exatamente na referência. Em 1994 o ataque era uma dupla, com Bebeto. Ambos criavam e finalizavam. No último título mundial brasileiro, o 3-4-3 da primeira fase precisou ser desmontado e Rivaldo ganhou mais liberdade para sair da esquerda e também formar uma dupla com Ronaldo.

Em algumas Copas, ter uma referência mais atrapalhou que colaborou. No Mundial de 1982, na Espanha, o grande time de Telê Santana contava com Serginho Chulapa. Artilheiro do Brasileiro daquele ano pelo São Paulo ao lado de Zico, mas com menos jogos. Um típico homem-gol, jogador do último toque para as redes. Alto, forte, sempre rondando a área adversária.

E perdeu gols de forma constrangedora. O mais grave justamente na derrota para a Itália, no primeiro tempo, tomando à frente de Zico. Livre, na cara do goleiro Zoff. Fora as muitas chances desperdiçadas nos demais jogos, especialmente na estreia contra a União Soviética. Apenas dois gols, contra a semiamadora Nova Zelândia e diante da Argentina, completando com total liberdade um cruzamento perfeito de Falcão.

Para muitos analistas, se a seleção tivesse um típico ponta pela direita em alto nível, o ataque e o time ficariam mais equilibrados com Sócrates e Zico se alternando como “falso nove”. Ou jogando com um atacante mais móvel, como Careca ou Nunes, que se deslocasse para a direita, no espaço deixado pelo “quadrado mágico” no meio. A referência não colaborou em nada.

O mesmo em 2014. Fred chegou ao Mundial longe do bom momento de 2012, quando foi campeão e artilheiro do Brasileiro com o Fluminense, e 2013, também vencedor e goleador da Copa das Confederações pela seleção. Na Copa, apenas um gol, nos 4 a 1 sobre Camarões. E uma falta de mobilidade que facilitou a marcação, sobrecarregou Neymar e desequilibrou a equipe de Felipão até a tragédia dos 7 a 1.

A crítica a Gabriel Jesus na última Copa do Mundo é válida. De fato, terminar o Mundial sem gols não é para se orgulhar. Os citados acima, em má fase ou não jogando como centroavante, ao menos foram às redes. A juventude do atacante de 21 anos atenua, mas não justifica a falta de contundência.

Mas fazer gols não era a única função de Jesus. Assim como Tostão em 1970, sem comparações, a tarefa era facilitar com mobilidade o trabalho de Neymar e Philippe Coutinho, as duas grandes estrelas. Algo muito comum no futebol mundial, como Suárez trabalhando para Messi no Barcelona e Benzema para Cristiano Ronaldo no Real Madrid tri da Liga dos Campeões.

E Giroud na França campeã mundial. O camisa nove alto e forte não marcou gols no torneio disputado na Rússia, assim como Gabriel Jesus. No entanto, o posicionamento no centro do ataque empurrou as defesas adversárias para trás e criou os espaços que Mbappé, Griezmann e Pogba precisavam para desequilibrar.

Roberto Firmino, também criticado por Luizão, é o nove do Liverpool, atual campeão da Champions e virtual da Premier League, se houver um final para esta edição do Inglês. Faz gols, mas a função principal é recuar, articular e deixar brechas para as infiltrações em diagonal de Salah e Mané.

Jogar exclusivamente para um goleador no centro do ataque é coisa do passado. As equipes hoje são muito mais móveis e dinâmicas, até pela falta de espaços. O ideal é tirar a referência justamente para dificultar a retaguarda do oponente. Lewandowski, Cavani, Diego Costa, Icardi, Aguero…Todos marcam gols, mas também se mexem bastante.

Assim como Luizão, que nos anos 1990 já procurava os flancos e deixava Rivaldo, Muller e Djalminha brilharem no lendário Palmeiras de 1996. O mesmo no Vasco campeão da Libertadores de 1998 com Donizete e Ramon ou Pedrinho e no Corinthians campeão brasileiro e mundial em 1999/2000 com Marcelinho Carioca, Edilson e Ricardinho. E aparecendo na área para ser decisivo e colocar o Brasil no Mundial de Japão/Coreia do Sul com dois gols sobre a Venezuela na última rodada das eliminatórias, em 2001.

Jogava bem, mas mandou mal na análise sobre a sua posição. Mais uma prova de que jogar e comentar são tarefas distintas. Uma não é, nem pode ser, consequência natural da outra. Só o feeling não basta, é preciso saber.

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Saudosistas x “Geração Z”: uma briga insuportável http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/03/saudosistas-x-geracao-z-uma-briga-insuportavel/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/03/saudosistas-x-geracao-z-uma-briga-insuportavel/#respond Fri, 03 Apr 2020 12:06:16 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8249

Foto: AFA

Sem jogos e noticiário mais quente sobre futebol, as pautas e os debates se voltam um pouco para o passado e é muito comum a comparação entre passado e presente.

E como quase todo debate neste país, a polarização aparece. Se na política ela é até necessária porque o conflito está (ou deveria estar) intrínseco, no futebol muitas vezes surge para marcar território. Com todos se comunicando e produzindo conteúdo ao mesmo tempo, a radicalização é uma ferramenta para chamar atenção.

É daí que costuma emergir a guerra entre saudosistas e a “Geração Z”, ou aqueles que já nasceram dentro do mundo globalizado e conectado e acha que tudo que existia antes é jurássico e desconectado na realidade atual.

Ambos podem ser insuportáveis na discussão sobre futebol. Porque a nostalgia é mais que saudável. Se deixar transportar para momentos mais lúdicos, de proximidade com entes queridos que muitas vezes nem estão mais entre nós. A experiência infantil de ir ao estádio com o pai, de não ter preocupações no cotidiano e passar uma semana pensando naquele clássico.

Hoje o peso da responsabilidade de ganhar o dinheiro do ingresso (ou do plano de sócio-torcedor), de onde vai estacionar o carro e como vai garantir a segurança dos filhos, de fato, é capaz de tirar um pouco o prazer do programa. Sem contar o olhar adulto, que sabe do muito de podre que há por trás do esporte no campo. Não mais as retinas encantadas que só reparavam na grandiosidade do estádio, na festa das torcidas e nos movimentos dos craques.

Os agentes da época também têm suas razões para sentir saudades. Estavam no auge físico, no esplendor, na crista da onda. Eram procurados, tinham prestígio. Natural um jornalista mais experiente defender os profissionais veteranos ainda na ativa, ainda que ultrapassados. Questão de identificação.

Tudo isso é compreensível. Só não pode contaminar a observação sobre o jogo. Se aquele tempo era bom para você, indivíduo, não quer dizer que tenha visto um futebol melhor. O nosso narcisismo ajuda a colocar a época em que vivemos mais intensamente o esporte como algo superior e inalcançável para as gerações seguintes. “Quem viu, viu. Eu vi!”

Assim como os jovens que acham que o mundo começou no ano em que nasceram e tratam qualquer coisa que estejam testemunhando na TV e na internet como “maior da História”. Os craques, os jogos, as competições. Tudo é grandioso e precisa crescer ainda mais na histeria coletiva das redes. Para engajar.

E a cada semana surge um novo fenômeno sem precedentes, porque são movidos a hiperestímulos. E como precisam causar, chamar atenção, é obrigatório desafiar os ícones do passado.  E quase sempre descontextualizando e achando que a realidade atual sempre existiu.

Então se o Pelé não jogou em um grande time europeu, como ele poderia ser o melhor do mundo se hoje todos os premiados atuam no Velho Continente? Maior da história ganhando estaduais e Copa do Mundo, mas sem vencer a Liga dos Campeões? Impossível!

É aí que aparece o saudosista colocando o pé na porta e dizendo que os craques que brilham hoje no futebol europeu não conseguiriam sequer ser titulares nos times pequenos de São Paulo que enfrentaram o Pelé. Que o futebol era mais técnico e hoje é só físico. Daí para a falsa dicotomia “Raiz x Nutella” é um pulo. Cansativo…

O esporte evolui, como tudo. O que vemos como consequências que podem ser tratadas como negativas são resultados da complexidade. Se com a internet a informação está disponível e não há mais segredos nem surpresas, é natural que o jogo seja mais dinâmico e haja menos espaços. A evolução na preparação também contribui, o que gera uma reação em cadeia que influencia todo processo e cria novos problemas para resolver.

A “Geração Z” acha isso tudo natural e interessante. O saudosista até acompanha, mas como seu coração está em outro tempo a tendência é reclamar.

O fato é que nunca saberemos se Gerson, o “Canhotinha de Ouro” da Copa de 1970 que fazia aqueles lançamentos de trinta metros quase parado e com muito tempo para pensar, hoje seria um meio-campista de alto nível internacional ou um jogador anacrônico, como Paulo Henrique Ganso, por exemplo. Pela inteligência a chance de vingar seria grande, mas o atleta é um todo, cada vez mais mental. Como ele lidaria com o cenário atual?

Assim como é difícil imaginar Messi ou Cristiano Ronaldo na realidade dos anos 1960/70. Com uniformes de baixa qualidade, bola pesada, gramados maltratados, menos proteção de arbitragem agora com VAR e as múltiplas câmeras de TV em jogos transmitidos para o mundo todo. Poderiam suportar e vencer ou simplesmente desistir lá no início da trajetória.

Comparar o futebol de épocas diferentes só vale como diversão. Ou para alimentar o sonho de ver os craques juntos. Como jogariam Messi e Maradona na seleção argentina? Ou como seria uma dupla de ataque formada por Cristiano Ronaldo e Di Stéfano no Real Madrid. Ou tentar pensar na livre circulação dos talentos do passado se houvesse Lei Bosman. Ou o gostoso exercício de adivinhação sobre quem ganharia em um jogo entre um esquadrão de quarenta anos atrás e um timaço atual.

Dá para entender a irritação de quem viu muitos craques testemunhar na internet os mais jovens desprezando tudo que não conhecem. E com jogos na íntegra disponíveis essa falta de curiosidade (ou preguiça mesmo) incomoda muito. Pior ainda é outro hábito dessa geração: opinar sem conhecer. O achismo se naturalizou e tudo virou questão de opinião.

Mas o nariz permanentemente torcido e o desdém dos saudosistas também são difíceis de aturar. É de se questionar como seguem torcendo ou até trabalhando com futebol se não há mais nenhum prazer envolvido. Muitos veem apenas para ter como argumentar contra e manter seus ídolos em um pedestal. Deve ser triste viver assim…

Impossível ter respostas exatas. Ainda bem. A única certeza é que essa briga, virtual ou real, é chata demais. Fuja dela, mesmo não tendo muito o que fazer trancado em casa. É inútil e só irrita.

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Por que Messi é a evolução de Zico, mas não chega ao nível de Pelé http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/28/por-que-messi-e-a-evolucao-de-zico-mas-nao-chega-ao-nivel-de-pele/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/28/por-que-messi-e-a-evolucao-de-zico-mas-nao-chega-ao-nivel-de-pele/#respond Sat, 28 Mar 2020 11:50:14 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8221

Foto: Getty Images

Ponta-de-lança: função no futebol do meio-campista que joga à frente dos seus companheiros no setor, armando jogadas e se aproximando dos atacantes, fazendo dupla na área adversária com o centroavante. Cria e finaliza. Ora arco, ora flecha.

Era assim que jogavam Pelé, Puskas, Maradona, Bobby Charlton, Tostão, Leivinha, Alex…No futebol brasileiro, Zico foi a grande referência depois de Pelé como este meia que organiza e chega no ataque. Faz gols e serve assistências. Com muita objetividade. “Meu negócio não era fazer graça, não. Era fazer gol”. Assim definiu seu estilo o próprio “Galinho de Quintino”.

Por isso é até hoje o maior artilheiro da história do Flamengo e do Maracanã. O quinto da seleção brasileira, atrás de Pelé, Ronaldo, Neymar e Romário. A eficiência nas cobranças de faltas e pênaltis ajudou muito a alimentar essas estatísticas.

Em determinado momento da história ficou a impressão de que essa maneira de jogar havia entrado em extinção, com meias jogando mais abertos ou se transformando em atacantes. Ou recuando para pensar o jogo de trás, como o próprio Zico fez em 1989, o último ano dele como profissional, antes de se aventurar como técnico e jogador no futebol japonês.

Até que surge Lionel Messi na segunda metade dos anos 2000. Inicialmente como um rápido ponteiro canhoto partindo do setor direito. Assim contribuiu, aos 19 anos, com o Barcelona de Ronaldinho Gaúcho campeão espanhol e da Liga dos Campeões da temporada 2005/06. Também conquistou o Mundial sub-20 e o ouro olímpico pela seleção argentina.

Com a chegada de Pep Guardiola e a saída de Ronaldinho, ganhou a camisa dez. Inicialmente mantendo o posicionamento pela direita em um ataque com Samuel Eto’o e Thierry Henry, mas na reta final da temporada 2008/09 sendo puxado para o centro do ataque. Mas não como centroavante, até para não jogar de costas e ser obrigado a disputar fisicamente com os zagueiros tendo apenas 1,70 m.

O futebol de Messi explodiu na função de “falso nove”. A mesma executada por Sindelar, Hidegkuti, Di Stéfano, Johan Cruyff, Francesco Totti…Basicamente um ponta-de-lança, mas sem o centroavante na frente. Com liberdade para circular entre a defesa e o meio-campo adversário.

Assim destruiu o Real Madrid nos 6 a 2 dentro do Santiago Bernabéu e desequilibrou a final da Champions contra o Manchester United de Cristiano Ronaldo, marcando o segundo gol nos 2 a 0 em Roma. Na temporada seguinte, com a contratação de Ibrahimovic, Messi jogou como ponta direita, mas suas melhores atuações foram como um típico “dez”, atuando atrás do camisa nove.

Em 2010/11, a afirmação definitiva como “falso nove”, se entendendo perfeitamente com Xavi e Iniesta e preenchendo por dentro o ataque com os ponteiros Pedro e Villa. De novo decidiu contra os merengues no Bernabéu, mas desta vez pela semifinal da Champions com dois gols. Na decisão, novamente os Red Devils pela frente. Mais um gol e uma taça para o currículo, que ganhou outra liga espanhola e só faltou a Copa do Rei, conquistada pelo Real com gol de Cristiano Ronaldo, para fechar novamente a tríplice coroa.

O auge de Zico no Flamengo foi em 1981/1982. Campeão e artilheiro da Libertadores e do Brasileiro, melhor jogador do Mundial de Clubes contra o Liverpool em Tóquio. Jogando em função muito parecida com a do “falso nove”. Porque Nunes era um centroavante bastante móvel, que procurava os lados do campo tanto para abrir espaços como infiltrar em diagonal para finalizar.

Curiosamente, Zico também começou a carreira atuando na ponta direita. E na Copa de 1982 circulou muito por este setor dentro do revezamento que fazia com Falcão, Cerezo e Sócrates para preencher o espaço que não era ocupado pela ponteiro. Ou até foi, em 1979 no final do ciclo com Cláudio Coutinho no comando técnico, antes de Telê Santana assumir. Com dois pontas abertos – Nilton Batata, do Santos, pela direita – e Zico e Sócrates alternando como “falso nove”.

Zico e Messi não têm semelhanças apenas nas zonas de campo ocupadas, mas principalmente no estilo. Objetivo, voltados para o gol. Zico era dois centímetros mais alto, porém nunca usou a força física para se impor. O grande segredo era chegar na área, não estar nela. Tirar a referência dos zagueiros adversários.

Este que escreve aprendeu a amar o futebol com Zico. Vendo ele brilhar na seleção brasileira é que escolhi o Flamengo como time de coração. Quando garoto, perguntava para o coleguinha da escola: “quem é o Zico do seu time?”

Por isso o encantamento ao me deparar com o futebol de Messi. Porque ele faz tudo melhor, mais rápido e com menos espaços que o Galinho. Muitas vezes lembrando o jeito de correr e os gestos técnicos. Até a maneira de movimentar os braços na condução da bola e na finalização. Uma espécie de Zico versão 2.0.

Agora com eficiência até nas cobranças de falta. Já são 53 gols na carreira. A coincidência infeliz é a falta de títulos com a seleção principal. Ainda assim, Messi é o maior artilheiro da história da albiceleste com 70 gols.

Nas últimas temporadas, Messi tem feito uma dupla com Luis Suárez. Nas escalações, um trio de ataque. Inicialmente com Neymar, depois Dembelé, Philippe Coutinho. Agora Griezmann. Mas com todos esses jogadores atuando pela esquerda voltando para compor o meio-campo e dar liberdade ao camisa dez, que continua partindo da direita. Mas com liberdade para organizar as jogadas, em vários momentos aparecendo na meia esquerda para acionar Jordi Alba, ainda a grande opção de profundidade do time catalão. Na prática, continua sendo um “dez” que arma e finaliza.

Por ser argentino, o maior jogador e artilheiro da história do Barcelona é comparado com mais frequência a Diego Maradona. Mas os estilos eram bem diferentes, embora ambos sejam parecidos na tendência a sempre levar para o pé canhoto e marcar menos gols de cabeça. Maradona, porém, era mais artístico, lúdico. Em campo circulava mais, procurava as zonas vazias pelos flancos para receber a bola e arrancar driblando.

Messi tem arte nos pés, mas a cabeça dele é voltada para o gol adversário. Como a de Zico. Talvez o brasileiro, mais abnegado e trabalhador, tenha se esforçado para ser mais completo. Chutava com os dois pés com eficiência semelhante e fazia gols também de cabeça.

Messi usou a testa no segundo gol contra o United na final da Champions há 11 anos e o pé direito para tocar por cima de Neuer depois do drible antológico em Boateng na semifinal contra o Bayern de Munique comandado por Guardiola em 2014/15, mas tem perfil mais minimalista, procura aperfeiçoar o que já tem. Consegue mais com um pouco menos. Nesse ponto lembra Romário.

Zico e Messi carregam outra semelhança: precisaram crescer fisicamente e ganhar corpo para enfrentar o futebol profissional. Com ajuda da Ciência, mas principalmente do esforço pessoal para superar adversidades. Sorte de Flamengo e Barcelona que perceberam que havia ali o essencial: talento.

Messi tem procurado nos últimos anos exercer a liderança, não só a técnica e campo. E também tem perfil parecido com o de Zico. Dez e faixa de capitão. Mais discreto, menos espalhafatoso – como era Maradona, por exemplo. No entanto, quando abre a boca cobra forte de companheiros e até dirigentes, como aconteceu recentemente com Abidal.

E Pelé? Para muitos o argentino já está no mesmo nível ou até ultrapassou. Este que escreve vê o “Rei do Futebol”, o atleta do Século 20, ainda um nível acima. Pelé era um jogador à frente da sua época. Nas imagens parece alguém dos tempos atuais, em físico, raciocínio rápido e excelência, mas jogando nos anos 1960/1970.

Dominando todos os fundamentos, como Zico. Mas um nível acima, em desempenho e resultados. Pelé, sim, era outro patamar. Messi é chamado de extraterrestre. Se for mesmo é de uma espécie inferior à do tricampeão mundial com a seleção brasileira. Por mais que seja sempre instigante desafiar alguns paradigmas, o impacto de Pelé no futebol ainda é inigualável. Um gênio atemporal.

Ninguém é uma esfinge ou um observador neutro. A conexão entre o garoto encantado pelo futebol de Zico e o jornalista que analisa Messi gera a preferência pelo recordista da premiação individual da FIFA. O melhor que vi em ação desde que acompanho apaixonadamente o esporte há quase quatro décadas. Porque prefiro os pontas-de-lança aos atacantes.

E Messi é o símbolo da evolução da função no século 21. Porque tudo evolui, inclusive o futebol. Melhor assim.

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Futebol em Quarentena – Seis partidas que mudaram a história do jogo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/19/futebol-em-quarentena-seis-partidas-que-mudaram-a-historia-do-jogo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/19/futebol-em-quarentena-seis-partidas-que-mudaram-a-historia-do-jogo/#respond Thu, 19 Mar 2020 14:36:55 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8183

Foto: Filippo Monteforte / Getty Images

Dando continuidade à série “Futebol em Quarentena” no blog, uma reflexão olhando para trás enquanto a bola não volta a rolar, seguem os seis jogos que mudaram a história do jogo.

Ou os que marcaram alterações táticas mais significativas dentro de um esporte que felizmente se transforma constantemente, mesmo que muitas vezes só percebamos depois, com o tão necessário distanciamento histórico.

Vamos a eles!

Inglaterra 3×6 Hungria – Amistoso, 1953

A alcunha de “Jogo do Século” hoje soa um exagero até absurdo. Mas foi o grande primeiro impacto no futebol a imposição dos húngaros campeões olímpicos em 1952, nos Jogos de Helsinke.

A Inglaterra no WM e vivendo das ações individuais, especialmente de Stanley Matthews, foi engolida pela gênese do 4-2-4, com Hidegkuti com a camisa nove recuando para articular, abrindo espaços para os goleadores Kocsis e Puskas e desmontando a marcação individual do “English Team”, invicto em seus domínios contra seleções não britânicas.

O legado foi o de transformações que iam do aquecimento antes da partida, do uso de chuteiras mais leves e simples até a utilização de quatro defensores na última linha que o Brasil aproveitaria em 1958 com Vicente Feola, auxiliar do húngaro Béla Guttmann no São Paulo.

Brasil 1×0 Inglaterra – Copa do Mundo, 1970

Não era confronto eliminatório, mas o duelo no Estádio Jalisco, no México, carregava o simbolismo de colocar frente a frente os vencedores das últimas três Copas do Mundo.

Os “inventores” do futebol e então campeões, representando o chamado “futebol-força” – embora houvesse muita técnica nos Bobbies (Moore e Charlton) – e os precursores do 4-4-2 que viraria padrão no futebol britânico contra os brasileiros trazendo um jogo mais artístico, porém sustentados pelo planejamento tático mais cuidadoso de Zagallo, se defendendo num 4-5-1, e uma preparação física de vanguarda para a época.

A jogada fantástica de Tostão pela esquerda que passou por Pelé e chegou a Jairzinho no gol da vitória e a defesa portentosa de Gordon Banks em cabeçada de Pelé ficaram para a história, mas naquela partida a melhor seleção de todos os tempos consolidou sua maneira de jogar em uma espécie de “batismo de fogo” e ganhou confiança para buscar o tri.

Itália 3×2 Brasil – Copa do Mundo, 1982

Talvez a partida mais representativo de todas. O jogo que marcou gerações e, de certa forma, pauta o futebol brasileiro até hoje. Criando a falsa dicotomia “ganhar feio ou perder bonito”.

O confronto entre a seleção de Telê Santana que sonhava combinar a dinâmica do “Carrossel Holandês” de 1974 com o improviso canarinho e a Azzurra de Enzo Bearzot, que ainda acreditava no “gioco all’italiana”: Scirea como líbero, marcação individual no craque adversário (Gentile x Zico) e os demais por encaixe, Conti como “ala tornante” (ponta que volta), Cabrini o “terzino fluidificante” (lateral que apoia) e Antognioni sendo uma mistura de “regista” (maestro) e “trequartista” (ponta-de-lança).

Assim superaram o Brasil encantador de Leandro, Júnior, Sócrates, Zico, Falcão e Éder, porém irregular e com sérios problemas defensivos – em especial, as muitas falhas de Junior no posicionamento como lateral que resultaram em dois dos três gols de Paolo Rossi. Para muitos, a vitória italiana resultou no futebol mais defensivo que viveu seu ápice (ou anticlímax) na Copa do Mundo de 1990.

Barcelona 1×0 Internazionale – Liga dos Campeões 2009/10

Aqui um enorme salto no tempo, de quase três décadas, e a mudança de protagonismo do futebol de seleções para o de clubes. E da Copa do Mundo para a Liga dos Campeões.

O Barcelona venceu, mas não levou a vaga para a decisão contra o Bayern de Munique. A Internazionale de José Mourinho havia superado o time de Pep Guardiola, que assombrara o mundo vencendo a tríplice coroa em sua primeira temporada num time de primeira divisão combinando elementos das escolas holandesa, espanhola e argentina, por 3 a 1 em Milão.

Aos 28 minutos no Camp Nou, Thiago Motta foi expulso e Mourinho apelou para uma linha “de handebol” que chegou a aglutinar oito jogadores guardando a meta de Julio César. A “retranca inteligente”, negando os espaços mais perigosos ao oponente, passou a ser utilizada em larga escala depois disso, com os quatro defensores ficando mais próximos e centralizados e os dois pontas voltando como laterais. Tudo para evitar as infiltrações. Xeque-mate do português sobre o catalão.

Barcelona 5×0 Real Madrid – La Liga, 2010/11

A resposta de Guardiola no ano seguinte. Aproveitando a arrogância de Mourinho, que acreditou que com Cristiano Ronaldo e o elenco milionário do Real Madrid poderia encarar um Barcelona ainda melhor coletivamente no Camp Nou.

Levou um “rondo” de 90 minutos, com Messi deitando e rolando entre a defesa e o meio-campo do rival e servindo seus companheiros. Pedro, Xavi, Villa duas vezes e o jovem Jeffren para fechar a “maneta” e esfregar na cara dos merengues o sucesso de sua cantera. O estado de arte do jogo posicional com posse, pressão pós-perda e a ocupação perfeita dos espaços sem deixar o adversário respirar.

O maior espetáculo de melhor time que vi em ação. E saiu barato para o Madrid. Mourinho tentou resgatar a retranca da Inter nos confrontos seguintes, mas só foi bem sucedido na final da Copa do Rei. No duelo mais importante, pela semifinal da Champions, Messi desequilibrou com dois gols no Santiago Bernabéu. Os 5 a 0, porém, foram mais emblemáticos.

Bayern de Munique 0x4 Real Madrid – Liga dos Campeões 2013/14

A resposta mais completa e avassaladora a Guardiola não foi de Mourinho, nem de Klopp – o treinador que mais venceu o catalão, porém em jogos quase sempre muito duros, parelhos.

Carlo Ancelotti conseguiu com o Real Madrid que venceria “La Decima” fechar espaços à frente da própria área como a Inter de 2010. Com duas linhas de quatro muito próximas e Gareth Bale se desdobrando fechando espaços pela direita, mas se juntando a Benzema e Cristiano Ronaldo em um tridente ofensivo que atropelou o Bayern num 4-2-4 e com posse de bola inócua.

Contragolpes demolidores, com passes rápidos e objetivos para fugir da pressão pós-perda do time alemão. E eficiência na bola parada procurando o implacável Sergio Ramos. Guardiola até hoje admite ser sua pior derrota pelos erros que cometeu. Mas a estratégia de Ancelotti, mais versátil e completa, serviu como mais uma transformação no futebol que graças a esses treinadores evoluiu 30 anos na última década.

 

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