palmeiras – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Futebol no Brasil continua mal jogado. Flamengo só é a melhor exceção http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/04/futebol-no-brasil-continua-mal-jogado-flamengo-so-e-a-melhor-excecao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/04/futebol-no-brasil-continua-mal-jogado-flamengo-so-e-a-melhor-excecao/#respond Thu, 04 Jun 2020 12:20:29 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8595

Foto: Gazeta Press

O companheiro Mauro Cezar Pereira foi parar no topo dos assuntos mais comentados no Twitter ontem à tarde por conta de sua análise sobre o futebol jogado no Brasil. No podcast “Posse de Bola”, aqui no UOL Esporte, ele afirmou que até 2019, com algumas exceções, os times escolheram a tese do “jogar feio e vencer”. Os Jorges, Jesus e Sampaoli, teriam mudado esse cenário no ano passado com seus trabalhos no Flamengo e no Santos, respectivamente.

Como temos uma amizade de alguns anos, inclusive trabalhando juntos na ESPN Brasil, chamei o Mauro em particular para entender melhor o que ele queria dizer. Pouco antes ele havia publicado um vídeo no seu canal no Youtube explicando de forma mais clara o ponto de vista.

Entendi, mas continuo discordando respeitosamente do Mauro. A meu ver, o futebol no Brasil continua mal jogado. O Flamengo só é a melhor exceção.

Até porque há uma espécie de cultura subterrânea no país que valoriza o jogar mal. Não feio. Aliás, muitas vezes se cria um falso dilema em torno do tema. Para evitar confrontos com profissionais do futebol pelos mais variados interesses, de preservar a fonte jornalística até a tentativa de cavar uma vaga em comissões técnicas de clubes, se apela para a “não-crítica”.

“Há várias maneiras de jogar e vencer”, “não existe certo e errado’ e por aí vai. São as senhas para elogiar qualquer coisa que alcance resultados por um período ou um campeonato. Um esforço para encontrar virtudes onde muitas vezes só há ideias ruins, mal planejadas e executadas, porém salvas por individualidades ou um contexto favorável.

No Brasil se criou uma espécie de conformismo, baseada em nosso jeito de ver futebol. Se os melhores jogadores vão para a Europa, cada vez mais cedo, que aqui vença o mais “macho”. O jogo vira um culto à virilidade. O torcedor, em geral, prefere a vitória sofrida, arrancada à forceps. A imposição do melhor futebol é algo chato, que torna tudo mais previsível. A velha ditadura da emoção, que vale mais que um trabalho bem feito.

A prova veio no ano passado mesmo. Quem não lembra da esperança de muitos que o Palmeiras com Mano Menezes pudesse alcançar um Flamengo que deixou alguns pontos pelo caminho na sequência dura de dois jogos por semana na reta final da temporada, jogando Brasileiro e Libertadores? Mesmo jogando mal quase sempre, o Alviverde pontuava e esperava enfrentar em casa o líder ainda com condições matemáticas na antepenúltima rodada. O desfecho acabou sendo decepcionante.

Ou ainda o delírio coletivo em torno de Vanderlei Luxemburgo, então treinador do Vasco, depois do empate por 4 a 4 no clássico carioca antecipado da 34ª rodada para que o Flamengo pudesse ir a Lima decidir a Libertadores contra o River Plate. Uma boa atuação cruzmaltina, dentro da proposta possível de um time inferior técnica e taticamente, em um clássico que costuma equilibrar forças. Contra uma equipe com boa vantagem na ponta da tabela da competição por pontos corridos e já mais focada na final continental.

Foi o suficiente para uma exaltação da estratégia de Luxemburgo. Como um último suspiro do status quo. O time inferior, mas “raçudo” e lutando até o final – o mínimo que se espera em um grande clássico nacional – arrancando o empate no fim, porém sofrendo quatro gols – foi alçado à condição de “heroi”. E o treinador tratado como um fantástico estrategista, como se tivesse encontrado a fórmula para parar aquela equipe que desafiava o padrão nacional de jogar futebol. Algo totalmente esporádico.

Isso vai além da natural torcida contra times muitos populares. Ou da resistência brasileira de admitir que países menos tradicionais em conquistas de Copas do Mundo, como Portugal, possam acrescentar algo ao futebol cinco vezes campeão do mundo. “Ganharam o quê?”

Jorge Jesus e o Flamengo ganharam. Brasileiro e Libertadores no mesmo ano, feito inédito desde o Santos de Pelé. Mas este conquistando a Taça Brasil disputando quatro ou seis jogos, não 38.  Quebrando paradigmas, como a utilização de reservas no campeonato por pontos corridos quando o clube chegava às fases decisivas das competições por mata-mata. Jesus poupou titulares poucas vezes.

A melhor exceção dos últimos anos. Como o Mauro Cezar inseriu este comentário em uma abordagem sobre a reprise dos 7 a 1 no fim de semana pelo Sportv, o período mais exato da análise seria desde 2014. Então teríamos o Corinthians de 2015 comandado por Tite e o Grêmio de Renato Gaúcho que venceu a Libertadores de 2017 como os únicos exemplos de equipes que venceram buscando um futebol diferente. Sem “fechar a casinha”, apelar para ligações diretas, usar com frequência a cobrança de lateral na área adversária e entregar a bola para o mais talentoso compensar a falta de ideias.

O Fla de Jesus mandou Felipão e Mano Menezes para casa. Também Fabio Carille, representante da identidade do Corinthians nos últimos anos que inclui Tite e o próprio Mano. E Renato Gaúcho só não caiu depois dos 5 a 0 na semifinal da Libertadores pelo tamanho que tem no Grêmio.

É inegável que o time rubro-negro abalou as estruturas. O Santos de Sampaoli também, mais pelo desempenho que por resultados. Justo também incluir o Athletico de Tiago Nunes campeão da Copa do Brasil. Mas a média continua baixa. Há iniciativas que valem a observação, como Eduardo Coudet no Internacional e a sequência de Fernando Diniz no São Paulo, mas a pandemia atrapalhou. Pode prejudicar o próprio Flamengo na volta.

Se acontecer, será a alegria e o alívio de muitos. E aí é impossível discordar do Mauro: de fato, a visão medíocre de futebol ainda impera. Vejamos até quando.

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Palmeiras-1996 e Santos-2010, os “meteoros” de 100 gols e futebol mágico http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/03/palmeiras-1996-e-santos-2010-os-meteoros-de-100-gols-e-futebol-magico/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/03/palmeiras-1996-e-santos-2010-os-meteoros-de-100-gols-e-futebol-magico/#respond Wed, 03 Jun 2020 14:39:20 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8584

Foto: Ricardo Saibun / Santos

Em 2014, Djalminha foi o convidado do “Bola da Vez” na ESPN Brasil e respondeu a este blogueiro sobre a montagem do Palmeiras de 1996. Segundo o próprio meia, o melhor time pelo qual atuou se encaixou muito rápido: “Foi mágica. No primeiro treino a gente já se olhava rindo, sem acreditar. Começamos goleando times amadores em jogos-treinos, mas quando começou o Paulista continuamos passando por cima de todo mundo”.

O entrevistado esqueceu de mencionar os 6 a 1 em Fortaleza sobre o Borussia Dortmund, campeão alemão de 1994/95 e que venceria a Liga dos Campeões de 1996/1997. Era janeiro e o Palmeiras já conquistava a Copa Euro-América.

Um “click”. Por mais que se cobre, com toda razão, que clubes e seleções respeitem processos e valorizem trabalhos a longo prazo, às vezes acontece de um time se encaixar muito rapidamente e jogar futebol encantador. A história mostra que o “efeito colateral” é durar pouco também.

Chega e vai logo embora. Um “meteoro”. Assim foi o Palmeiras comandado por Vanderlei Luxemburgo. O time de Cafu e Júnior voando pelas laterais, Djalminha organizando, Rivaldo infiltrando no espaço deixado pelo “pivô” Muller e Luizão na área para finalizar. Volúpia ofensiva compensada por Amaral e Flávio Conceição, os protetores dos zagueiros Sandro e Cléber. Velloso na meta.

Palmeiras de Luxemburgo no 4-2-2-2 típico dos anos 1990, mas com volúpia ofensiva incomum (Tactical Pad).

Combinação perfeita de características que fez tudo fluir no Paulista e até a decisão da Copa do Brasil. Foram 102 gols em 30 partidas no Paulista, mais 24 na Copa do Brasil. 27 vitórias, dois empates e apenas uma derrota no estadual. 83 pontos em 90 possíveis, 28 a mais que o vice São Paulo. Goleadas marcantes como os 7 a 1 sobre o Novorizontino, 8 a 0 no Botafogo, 6 a 0 no Santos. Apenas 19 gols sofridos. Estética e eficiência. Um time que fez o blogueiro faltar algumas aulas e também deixar de ver o time de coração.

No mata-mata nacional, 8 a 0 no Sergipe, 8 a 1 no agregado sobre o Atlético Mineiro nas oitavas, 5 a 1 no Paraná nas quartas. 100% de aproveitamento até cruzar com o Grêmio de Luiz Felipe Scolari, campeão da Libertadores no ano anterior e que venceria o Brasileiro naquele mesmo 1996. Vitória por 3 a 1 em São Paulo e revés por 2 a 1 em Porto Alegre. Na decisão contra o Cruzeiro, empate em Minas por 1 a 1 que fez do Palmeiras o favorito absoluto para a volta no Parque Antárctica.

A ausência de Muller, porém, diminuiu consideravelmente a fluência ofensiva. O “garçom” do ataque preferiu voltar ao São Paulo e foi desfalque sentido. Mesmo assim, o ataque palmeirense fez de Dida o melhor da final vencida pelo time mineiro comandado por Levir Culpi. De virada por 2 a 1. Foi o que faltou ao Palmeiras para tornar mais marcante aquele primeiro semestre espetacular.

O Santos teve melhor sorte, 14 anos depois. Mais um “raio” que caiu na Vila Belmiro. Novamente o clube sem capacidade para investir em grandes contratações resolveu investir nos jovens formados no clube. Paulo Henrique Ganso, com 20 anos, mas desde os 18 atuando no profissional, e Neymar, com dezoito completos em fevereiro, eram as esperanças da equipe comandada por Dorival Júnior, contratado no final de 2009.

De novo o “click”, o engate quase imediato. Em entrevista ao Uol Esporte, o treinador revelou uma conversa com o elenco antes do primeiro treinamento: “Reuni os jogadores embaixo de uma mangueira que temos lá no centro de treinamento do Santos e falei: ‘Quero falar uma coisa para vocês aqui, hoje, no nosso primeiro dia de trabalho. Esse time pode marcar a história do Santos Futebol Clube’.”

Com Robinho, emprestado pelo Manchester City, fazendo um papel parecido com o de Muller no Palmeiras em 1996. Um facilitador para os companheiros. Alternando com Neymar pelas pontas, se aproximando de Ganso para tabelas e contribuindo para um volume de jogo sufocante. André se mexia também, embora ficasse mais na área adversária para finalizar.

Pará e Alex Sandro nas laterais, Arouca um pouco mais fixo na proteção a Edu Dracena e Durval e Wesley se juntando ao quarteto ofensivo. Mas até o camisa cinco aparecia na frente. Dorival tentava fazer o time reagir rápido sem bola pressionando para recuperar logo a posse e voltar a atacar. Quando encaixava era arrebatador. E bonito de ver.

O Santos voltado para o ataque comandado por Dorival Júnior. No 4-2-3-1 que tinha Ganso na articulação e Robinho como um facilitador, alternando nos flancos com Neymar (Tactical Pad).

No Paulista, 15 vitórias, dois empates e duas derrotas na primeira fase. 61 gols marcados, média superior a três por jogo. Dez pontos na frente do Santo André, que seria o vice-campeão em uma final mais equilibrada que o previsto, até pelo “sapeca” santista sobre o São Paulo na semifinal: 6 a 2 no agregado. Na decisão, uma vitória por 3 a 2 para cada lado, título santista pela melhor campanha geral. No total, foram 72 gols marcados e 31 sofridos.

Na Copa do Brasil, os 10 a 0 sobre o Naviraiense foram o destaque logo na primeira fase, mas o time passou por Remo (4 a 0 sem necessidade de volta), Guarani – com destaque para os 8 a 1 na ida – e Atlético Mineiro antes da final contra o Vitória. Assim como na semifinal contra o Grêmio, derrota como visitante e vitória em casa, se impondo no saldo de gols. Um time instável, mas bem sucedido naquele período.

Também superando os 100 gols. Foram 105 nas duas competições. E, mais importante, levando as taças para a Baixada Santista. Ciclo encerrado com a demissão de Dorival depois de briga pública com Neymar. Mas consolidado como time histórico com Muricy Ramalho, ganhando pragmatismo e solidez defensiva que equilibrou o talento na frente. Já sem Robinho, mas com um Neymar mais maduro para decidir a Libertadores de 2011. O Palmeiras seguiu caminho parecido a partir de 1997 com Luiz Felipe Scolari, mas só alcançou a consagração no continente em 1999.

O encantamento, porém, ficou com os “meteoros”. Times que atraíam os olhares até de torcedores de outros clubes. Pelo arrojo, por atacar como se não houvesse amanhã. Sem administrar resultado, com ímpeto incomum. Por isso tão difícil de esquecer.

 

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Tite e Jorge Jesus: as melhores respostas do futebol brasileiro ao 7 a 1 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/01/tite-e-jorge-jesus-as-melhores-respostas-do-futebol-brasileiro-ao-7-a-1/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/01/tite-e-jorge-jesus-as-melhores-respostas-do-futebol-brasileiro-ao-7-a-1/#respond Mon, 01 Jun 2020 15:19:04 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8576

Foto: Luciano Belford / Agência O Dia

O Sportv reprisou os 7 a 1 de 2014. Seis anos transformaram a maior derrota brasileira e o grande vexame da história dos esportes coletivos em clichê, inclusive saindo da esfera do futebol para invadir as muitas mazelas do país – “todo dia um 7 a 1 diferente”.

A goleada retumbante no Mineirão em uma semifinal de Copa do Mundo foi o grande revés de uma maneira de ver o jogo. Ou de não ver. Luiz Felipe Scolari mandou os observadores Alexandre Gallo e Roque Júnior ao Maracanã assistirem ao confronto das quartas que dariam o adversário brasileiro: Alemanha x França.

O treinador, porém, não deu muita bola para o que os assistentes disseram. Preferiu acreditar na intuição. E na superstição. Também na mística da camisa verde e amarela e  na força da torcida. Gallo e Roque Júnior sugeriram reforçar o meio-campo. Felipão escolheu Bernard. Porque tinha “alegria nas pernas”. Porque deu certo contra o Uruguai na Copa das Confederações, um ano antes. Resolveu ir para cima, mesmo sem Thiago Silva, o melhor zagueiro, e Neymar, o grande craque da seleção.

Além da escolha errada, encontrou uma Alemanha com fome. Que tinha encontrado a melhor formação, com Lahm de volta à lateral direita e um trio de meio-campistas técnico e versátil: Schweinsteiger, Khedira e Toni Kroos. Klose como referência na frente, puxando Muller para uma função híbrida partindo da direita, mas circulando pelo ataque, e Ozil guardando um pouco mais o lado esquerdo, até porque Howedes praticamente não descia, era um lateral-zagueiro.

Na prática, o que se viu foi a seleção brasileira em uma espécie de 5-1-4. Luiz Gustavo muito afundado perto da defesa, quarteto ofensivo isolado – Bernard e Hulk nas pontas, Oscar por dentro e Fred na frente. E Fernandinho sozinho no meio, entre o trio alemão e levando botes toda hora. Para piorar, um David Luiz tresloucado, num delírio de “Exército de Um Homem Só”, abandonando a defesa para tentar resolver tudo sozinho.

A Alemanha foi absurdamente eficiente em contragolpes e finalizações. Uma tarde única que produziu o placar histórico. Mas estava claro que o Brasil não poderia manter a visão de futebol valorizando o periférico e olhando pouco para o jogo. Por mais que muitos insistam até hoje em passar a mão na cabeça de Felipão por amizade e usar o termo “apagão” para reduzir uma humilhação para nunca mais esquecer.

Mesmo com resistências, alguns agentes do futebol brasileiro se esforçaram para avançar, evoluir. Tite foi o primeiro e  mais significativo. Mesmo campeão da Libertadores e Mundial em 2012, sentiu na virada de 2013 para 2014 que precisava aprender, ampliar o repertório. Ele que já havia afirmado no Brasil a marcação por zona em detrimento dos encaixes com perseguições individuais típicos. Também valorizado a compactação entre os setores. Mas ainda era pouco.

Rodou a Europa, fez uma espécie de “estágio” com Carlo Ancelotti no Real Madrid, estudou muito o Barcelona que começava a sinalizar o “arrastão” do trio Messi-Suárez-Neymar e voltou com elementos para acrescentar ao seu estilo, especialmente na fase ofensiva. Pensou em aplicar na seleção, mas a CBF preferiu Dunga.

Acabou voltando ao Corinthians em 2015. Precisou queimar etapas de preparação para tornar a equipe competitiva nas fases preliminares da Libertadores, teve a Flórida Cup para atrapalhar, mas deu uma boa resposta inicial que cobrou caro mais à frente. A oscilação depois de superar São Paulo, San Lorenzo e Danúbio na fase de grupos veio com problemas internos, como atraso de salários. Custou o Paulista e a elminação para o Guaraní paraguaio nas oitavas.

No Brasileiro, um ajuste fino no acréscimo de conceitos formou um time fortíssimo. Competitivo e capaz de proporcionar momentos de espetáculo. O Corinthians do Renato Augusto organizador, de Elias infiltrador como meia em um 4-1-4-1. De Jadson “ponta articulador” partindo da direita para circular às costas dos volantes adversários e ainda abrindo o corredor para Fagner. Uma equipe que apostava demais nas triangulações nas ações de ataque. Campeã brasileira sobrando na reta final, com direito a 3 a 0 sobre o Atlético Mineiro no Independência para consolidar a conquista.

Com a demissão de Dunga depois do fracasso na Copa América Centenário, era a vez de Tite. Que passou por cima de convicções acerca do “modus operandi” da CBF em nome do sonho de dirigir a seleção. E levou suas ideias e o “modelo Corinthians” para comandar Neymar, Philippe Coutinho, Gabriel Jesus e companhia.

Obviamente sem deixar de pensar no entorno. Criou um clima positivo com jogadores e imprensa. E repaginou a seleção no mesmo 4-1-4-1, trazendo Renato Augusto para a função única de organizador. Paulinho era Elias, Casemiro era Ralf, Coutinho era Jadson, Jesus era Love. E Neymar não era Malcom, mas o grande protagonista.

De sexto lugar e ameaçado a ficar de fora da Copa em agosto de 2016 a líder absoluto das Eliminatórias com classificação antecipada. Mas o ciclo de apenas dois anos começou a cobrar o preço em novembro de 2017, com o empate sem gols com a Inglaterra em Wembley que revelou a dificuldade de furar a linha de cinco defensores. Problema que virou drama com o sorteio para a Copa na Rússia que colocou no caminho Suíça, Costa Rica e Sérvia. Todas que em algum momento jogaram com linha de cinco e poderiam repetir contra o favorito Brasil.

Tite tentou uma nova “revolução”. Acrescentando elementos do ataque de posição. Trocando o Renato Augusto com problemas físicos por Willian. Um ponta para abrir o campo pela direita, trazendo Coutinho para o meio com Paulinho. Mais posse de bola e um jogo planejado para furar retrancas.

Sofreu com o corte por lesão de Daniel Alves e a recuperação tardia de Neymar. Mas fez uma Copa digna comparada com a saga tortuosa de 2014. Ao menos Tite buscava soluções olhando para o campo. Douglas Costa, Roberto Firmino, o próprio Renato Augusto. Os que mudaram o segundo tempo contra a Bélgica e quase recuperaram os 2 a 0 da primeira etapa. Faltou a eficiência nas finalizações.

Tite seguiu no comando técnico da seleção. Uma rara permanência sem título da CBF. Justa, porque o saldo dos dois anos  foi bastante positivo. Hoje parece um passado distante em tempos tão acelerados, mas o treinador era ídolo antes do Mundial, especialmente depois da “revanche” contra os alemães a poucos meses da Copa. Para os incautos era visto até como um exemplo para os candidatos a presidente.

2019 trouxe o título da Copa América disputada no Brasil, mas também uma sensação de estagnação. Em desempenho e resultados. Tite manteve a ideia do ataque guardando posições, de se instalar no campo ofensivo e valorizar a posse. Mas Arthur não trouxe a dinâmica na circulação da bola e Firmino não se afirmou como “falso nove”, função que exerce com brilhantismo no Liverpool.

Com Tite dando a impressão de que havia batido no teto, o futebol cinco vezes campeão mundial ficou um tanto órfão. A ponto de Felipão, redivivo com o título brasileiro do Palmeiras, voltar a ser tratado por alguns como uma velha/nova solução. Chocante e desanimador. Era preciso reencontrar um norte. Buscar uma resposta.

Veio de Portugal. Ou melhor, da Arábia Saudita. Jorge Jesus deixou o Al Hilal e acertou com o Flamengo, que efetuou uma correção de rota após a opção infeliz por Abel Braga. Inspirada na onda de técnicos experientes e boleirões que veio com o sucesso de Scolari no ano anterior. Abel deixou De Arrascaeta no banco para manter Willian Arão ao lado de Cuéllar à frente da defesa. Não queria um “time de índios”.

Jesus sofreu com a adaptação em um início já com partidas decisivas na Copa do Brasil e na Libertadores. Caiu nos pênaltis contra o Athletico pelo mata-mata nacional, mas sobreviveu contra o Emelec nas oitavas sul-americanas e teve tempo para encaixar os quatro que chegaram para o segundo semestre – Rafinha, Pablo Marí, Filipe Luís e Gérson – com os quatro contratados em janeiro: Rodrigo Caio, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabriel Barbosa. Mantendo Diego Alves na meta e Everton Ribeiro como o ponta articulador.

Transformou Willian Arão em um ótimo primeiro volante. Com estatura para colaborar no jogo aéreo ofensivo e defensivo, qualidade técnica na saída de bola e capacidade de infiltração para momentos específicos visando surpreender os adversários.

Montou o melhor time brasileiro da década, superando o próprio Corinthians de Tite. Entregando respostas velhas e novas. Como reunir todos os talentos? Fazendo todos se comprometerem sem a  bola. Como não se expor defensivamente? Pressionando no ataque.

Como furar retrancas com linha de cinco na defesa? Aumentando a pressão, roubando bolas na frente e definindo rápido as jogadas. Ou variando taticamente sem trocar peças. O 4-1-3-2 básico pode se transformar em 4-2-3-1 ou 4-3-3. Bruno Henrique pode fazer dupla com Gabriel Barbosa ou trabalhar pelos flancos como ponteiro. Everton Ribeiro e Arrascaeta podem trabalhar por dentro. Gabriel abrir pela direita.

Deu certo com o ano histórico do feito inédito de vencer Brasileiro e Libertadores. E já entrava em uma segunda etapa de conquistas e evolução faturando as taças da Supercopa do Brasil, Recopa Sul-Americana e Taça Guanabara. Ampliando o repertório e as possibilidades com um elenco mais recheado. Parado pela pandemia e agora com futuro incerto.

Ainda assim, um salto tão grande, trazendo Jorge Sampaoli na carona, que fez os técnicos brasileiros parecerem mais anacrônicos que em 2014. Renato Gaúcho, o grande favorito para suceder Tite na seleção, foi humilhado na semifinal da Libertadores com 6 a 1 no agregado e superioridade clara dos rubro-negros até no empate por 1 a 1 em Porto Alegre. Com direito a nova vitória, no Brasileiro, por 1 a 0 em Porto Alegre com Jesus poupando oito titulares para a final do torneio continental contra o River Plate.

Jesus virou tudo de ponta a cabeça. Sem ser hoje um dos melhores treinadores do planeta. Longe da primeira prateleira, mas com um olhar europeu que, com respaldo da direção do Flamengo e qualidade do elenco para executar suas ideias em campo, se impôs de maneira contundente.

Primeiro Tite, depois Jorge Jesus. As melhores respostas no futebol brasileiro aos 7 a 1 que deveriam ser tratados como um corretivo pedagógico, mas são vistos como “tragédia”. Felizmente o tempo não pára e a evolução arrasta, ainda que lentamente. Qual será o próximo passo?

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Palmeiras é exceção no futebol brasileiro, mas não deixa de ser exemplo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/27/palmeiras-e-excecao-no-futebol-brasileiro-mas-nao-deixa-de-ser-exemplo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/27/palmeiras-e-excecao-no-futebol-brasileiro-mas-nao-deixa-de-ser-exemplo/#respond Wed, 27 May 2020 13:02:49 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8560

Foto: Cesar Greco / SEP

O Palmeiras empatou sem gols com a Internacional de Limeira no dia 14 de março. Jogo com público, nenhuma preocupação com distanciamento e os treinadores Vanderlei Luxemburgo e Elano se abraçando antes da partida.

Uma irresponsabilidade, mesmo considerando que ainda não havia uma morte oficial no país pela Covid-19. Afinal, praticamente o mundo todo já havia parado com o futebol e as últimas partidas foram jogadas com portões fechados.

Mas a partir da paralisação geral, o Palmeiras tem adotado uma postura correta nas decisões internas e externas.

A começar pelo compromisso de não demitir funcionários e fazer a redução de salários de cima para baixo. Cortou 25% dos vencimentos dos jogadores, do treinador Vanderlei Luxemburgo, do diretor Anderson Barros e do gerente Cícero Souza. Também dividiu o pagamento dos direitos de imagem, pagando a partir de agosto os valores de abril e maio.

Suspendeu contratos de trabalho por 30 dias, prorrogáveis pelo mesmo período, sem perda de remuneração – leia mais AQUI. O clube parou suas atividades e o jogadores treinam em casa, com acompanhamento online. Todo cuidado com as pessoas, evitando a possibilidade de contágio com o devido distanciamento social. Externamente, seguidas manifestações de que só retomará as atividades quando for liberado pelas autoridades e junto com os demais clubes paulistas.

Deveria ser o básico, não digno de elogios. Mas diante de algumas atitudes de seus pares, especialmente o Flamengo pela capacidade de investimento semelhante, o Palmeiras se tornou exemplo de conduta na pandemia.

É claro que o Alviverde é exceção no futebol brasileiro. Conta com a Crefisa, patrocinadora que funciona como “mecenas”, não só pagando um alto valor fixo, mas também auxiliando em momentos de dificuldades como empréstimo. Leila Pereira, a presidente da operadora de crédito, tem claras pretensões políticas no clube e sabe da importância de não falhar em um momento de dificuldade.

O Palmeiras também não tem custos com a manutenção do Allianz Parque, já que o estádio é administrado pela WTorre. Perde a receita de bilheteria dos jogos, porém sem o impacto nas contas de pagar por uma Arena sem uso.

Mas mesmo com essas vantagens, o clube paulista poderia ter outro comportamento. Inclusive político. Até pelo alinhamento que demonstrava antes com o governo federal, inclusive com o presidente da república no gramado com os jogadores levantando a taça de campeão brasileiro em 2018. Bolsonaro já demonstrou seguidas vezes que quer a volta do futebol, mesmo com curva ascendente de contágio no país, mas o Palmeiras segue firme no propósito de agir com responsabilidade.

O contexto é diferente dos demais clubes, mas a postura poderia ser parecida com os menos sensíveis à realidade de uma pandemia. Poderia ser elitista e excludente, sem considerar a necessidade dos mais humildes. Cortando onde a mão de obra é de mais fácil reposição. Mas o Palmeiras não entrou na vala comum e merece reconhecimento. Uma questão de princípios.

 

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A história que une Roberto Dinamite a Evair: criador e criatura http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/13/a-historia-que-une-roberto-dinamite-a-evair-criador-e-criatura/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/13/a-historia-que-une-roberto-dinamite-a-evair-criador-e-criatura/#respond Wed, 13 May 2020 14:03:26 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8479

Foto: NetVasco

“Foi difícil pensar só no jogo me vendo no Maracanã enfrentando o Vasco com ele em campo”. Palavras do jovem Evair à Rádio Globo do Rio de Janeiro, depois do Guarani fazer 3 a 0 sobre o time cruzmaltino no Maracanã, pelo jogo de ida das oitavas de final do Brasileiro de 1986.

O campeonato que revelaria o jovem artilheiro, então com 20 anos, que marcaria 24 gols e ficaria a um de Careca na artilharia. Vice também na competição com o time de Campinas, sendo derrotado nos pênaltis pelo São Paulo em eletrizante decisão no Brinco de Ouro.

Evair se referia a Roberto Dinamite, o grande ídolo da história do Vasco e maior artilheiro dos campeonatos brasileiros –  192 gols, entre outros feitos na carreira brilhante. Referência para tantos centroavantes que surgiram no Brasil naquele período. O camisa nove mineiro, nascido em Ouro Fino e que tinha o Santos como time na infância, marcaria dois gols naquele confronto que foi selado com outra vitória do Guarani, por 2 a 0 em Campinas.

Ambos tinham a mesma altura: 1,86 m. E Evair, de fato, em 1987 lembrava o Dinamite no início da carreira: porte físico, presença de área, precisão nas finalizações e alguma desenvoltura ao sair da referência no ataque para tabelar com seus companheiros.

Roberto já servia colegas de ataque no Vasco como Ramon, Amauri, Arthurzinho e Cláudio Adão. Mas foi com o jovem Romário, promovido aos 19 anos por Antonio Lopes em 1985, que Dinamite, aos 31 anos, construiu uma parceria que mudaria de vez as suas características em campo.

Em um 4-3-3, o então centroavante recuava para trabalhar como uma espécie de “enganche”, acionando o atacante que partia da esquerda infiltrando em diagonal para finalizar. Mas sem deixar de aparecer na área para concluir. Tanto que foi o artilheiro do Carioca de 1985, com um gol a mais que Romário, mesmo com o Vasco sequer chegando ao triangular decisivo daquela edição.

No ano seguinte, o inverso com Romário marcando 20 e Roberto, 19. O mesmo em 1987, com o Baixinho indo às redes 16 vezes e o Dinamite, 15. Parceria que se encerraria em 1988, com uma lesão de Roberto e depois Romário partindo para a Holanda jogar no PSV Eindhoven.

Até encerrar a carreira em 1993, Roberto atuou como esse centroavante que ficava mais adiantado quando o time não tinha a bola e recuava para articular, abrindo espaços para os companheiros no momento em que sua equipe atacava. Na prática, a movimentação de  um “falso nove”. Mais um no futebol brasileiro, assim como Neto no Corinthians campeão brasileiro de 1990.

“Nunca tinha pensado nisso, mas, de fato, ele cumpria essa função”, reconheceu Lopes em entrevista a este que escreve em 2012. Para aproveitar uma joia da base que viria a ser o melhor do mundo em 1994, o treinador descobriu um novo posicionamento para o centroavante vascaíno na reta final de sua carreira.

O Vasco de Antonio Lopes em 1986 que fez Roberto Dinamite recuar para que Romário infiltrasse em diagonal a partir da esquerda, formando uma das grandes duplas da história do futebol carioca (Tactical Pad).

Evair seguiu a vida no Guarani, sendo artilheiro do Paulista de 1988 e partindo para sua primeira experiência no futebol internacional, jogando pela Atalanta. Voltaria ao futebol brasileiro em 1991, para atuar no Palmeiras. Início difícil em um clube que sofria com 16 anos sem títulos. Chegou a ser afastado por “deficiência técnica” por Nelsinho Baptista.

Tudo mudou com a chegada de Vanderlei Luxemburgo em 1993. Treinador que havia sido estagiário de Antonio Lopes no início dos anos 1980, no próprio Vasco e também no América e no Olaria. Mas em 1986/87, trabalhando como técnico do sub-20 do Fluminense, testemunhou no Rio de Janeiro a grande fase da dupla Roberto-Romário, comandado pelo “mentor” Lopes.

Ao encontrar Evair no Palmeiras, junto com Edmundo e Edilson, se recordou da dinâmica do ataque cruzmaltino, que tinha Mauricinho pela direita completando o trio na frente. Em depoimento ao programa “Supertécnico” em 1999, Luxemburgo admitiu que se inspirou naquele Vasco para armar a dinâmica ofensiva de sua nova equipe.

Evair, mais experiente e com nítida evolução na leitura de espaços depois de passar pelo futebol italiano, recuava para trabalhar com os meio-campistas e permitia as entradas em diagonal de Edmundo e Edilson, depois Rivaldo no time que seria campeão paulista e brasileiro também em 1994. Mas sem deixar de se apresentar para as conclusões. Evair seria artilheiro do estadual daquele ano, com 23 gols. Virou ídolo eterno no Alviverde.

O Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo em 1993 tinha Evair fazendo o papel de “falso nove” para Edmundo e Edilson entrarem na área adversária (Tactical Pad).

Fechando uma espécie de “ciclo mágico”, Evair, aos 32 anos, encontraria Lopes no Vasco em 1997 para executar função semelhante, mais recuado para acionar o imparável Edmundo, craque e artilheiro recordista com 29 gols na campanha do terceiro título brasileiro do clube. Já aposentado, Roberto Dinamite viu o seu fã também virar ídolo no time da Cruz de Malta, ainda que em uma passagem efêmera de menos de seis meses.

De centroavante goleador a “falso nove” não menos letal na área adversária. Eis a pouco conhecida relação entre Roberto e Evair, na conexão entre Lopes e Luxemburgo. Criador e criatura.

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Clubes forçam volta e futebol brasileiro mostra sua face escravocrata http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/03/clubes-forcam-volta-e-futebol-brasileiro-mostra-sua-face-escravocrata/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/03/clubes-forcam-volta-e-futebol-brasileiro-mostra-sua-face-escravocrata/#respond Sun, 03 May 2020 18:35:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8424 “Jogador que não quiser jogar pede demissão”. Palavras do presidente do Internacional, Marcelo Medeiros.

No momento em que a pandemia deve acentuar a curva de contágio e colapsar de vez o sistema de saúde do país, os clubes brasileiros forçam a volta das atividades. No caso do Rio Grande do Sul, amparado pela irresponsável autorização da prefeitura de Porto Alegre. Mesmo sem contato físico, mas com circulação desnecessária.

Para viabilizar o retorno precoce, a aquisição de testes é obrigatória, assim como os equipamentos de proteção individual. Justo no Brasil de tamanha subnotificação dos casos por causa da limitação do material para confirmar se os sintomas são mesmo de Covid-19 e médicos e enfermeiros estão morrendo no trabalho por falta desta proteção.

Junte a isso as demissões de funcionários humildes no rico Flamengo, a dispensa de jovens da base no Corinthians e outras ações que escancaram a incompetência e/ou a insensibilidade dos gestores e temos a cara do futebol brasileiro: um ambiente que se acha descolado da sociedade, mas, no fundo, demonstra apenas a sua pior face.

Uma espécie de escravocracia moderna, na qual os agentes abaixo do guarda-chuva de quem manda são apenas números em uma planilha e precisam manter a roda girando. Mesmo que alguns paguem com a própria miséria e outros com a vida mesmo.

A ponto do Grêmio passar por cima da visão do ídolo maior, Renato Gaúcho, que desaconselhou a volta do futebol ao próprio Presidente da República, que admitiu a conversa publicamente. Dando mais uma prova de que um mínimo de racionalidade independe de posições políticas.

É preciso ressalvar as exceções, como Palmeiras, Bahia, Fluminense e outros, que tomaram medidas preventivas com reduções de salários e, cada um dentro de sua realidade orçamentária, aguardam a sinalização das autoridades de Saúde para retomar as atividades com segurança para todos. Física e financeira.

Inclusive dos próprios “artistas do espetáculo”. Porque voltar a jogar não envolve apenas o risco de contaminação. Um choque, um mal estar por desgaste, uma lesão grave terá que levar o atleta ao hospital para uma intervenção cirúrgica. E mesmo os mais modernos, voltados para as classes mais abastadas, estão sobrecarregados por causa da pandemia. E podem contaminar os jogadores.

Por maior que seja a saudade da bola rolando ao vivo e se compreenda que o cenário é complexo, inédito e precisa de um plano de ação, é preciso ter visão coletiva e bom senso. Exatamente o que falta ao futebol brasileiro desde sempre. Um meio onde a “síndrome de Macunaíma” sempre existiu. O microcosmo em que vence o mais esperto, onde crimes como racismo são relativizados pela “catarse” que acontece em um jogo.

Principalmente, onde privilégios são aceitos sem resistência e vale tudo para o show continuar. Mesmo que seja o circo sem pão no meio de uma crise sem precedentes. Para a qual ninguém se preparou. Muito menos os clubes que no papel são instituições sem fins lucrativos e resistem para se tornar empresas. Porque não querem perder as benesses históricas. Nem a licença para o absurdo que agora é usada como coringa para autorizar a insensibilidade máxima.

O Ministério da Saúde, acompanhando tendência do atual governo federal, adota posicionamento dúbio. Sugere a volta para tornar o distanciamento social menos degradante emocionalmente, mas dentro das normas estabelecidas. Ora, se for para seguir as regras não há como retomar um esporte de contato permanente!

E o mais triste é que há quem aprove. Os torcedores de dirigentes, os fanáticos acríticos ou os puxa-sacos mesmo. Dos que oprimem e ameaçam com desemprego quem apenas quer sobreviver ou só proteger os entes queridos.

Que a conta seja cobrada quando os caixões baixarem às sepulturas. Ou nem haja buracos para enfiar os corpos. Mas quem se importa? “E daí?”

 

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De Pelé a Cantona, dez filmes sobre futebol para ver ou rever http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/25/de-pele-a-cantona-dez-filmes-sobre-futebol-para-ver-ou-rever/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/25/de-pele-a-cantona-dez-filmes-sobre-futebol-para-ver-ou-rever/#respond Wed, 25 Mar 2020 11:40:35 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8209

Imagem: Reprodução

À Procura de Eric (2009) – Um carteiro apaixonado pelo Manchester United se imagina conversando com o ídolo Eric Cantona em uma alucinação depois de fumar maconha. O craque ajuda o homem a resolver seus problemas pessoais em uma abordagem que ressalta a importância do futebol na vida das pessoas mais simples.

Maldito Futebol Clube (2010) – A via crucis de 44 dias no Leeds United do lendário treinador Brian Clough, eternizado pelo bicampeonato do Nottingham Forrest na então Copa dos Campeões da Europa em 1979/80. Uma prova de que profissionais brilhantes também podem fazer escolhas infelizes na carreira. Enorme interpretação de Michael Sheen.

Todos os Corações do Mundo (1995) – Filme oficial da FIFA sobre a Copa do Mundo de 1994. Difícil dizer se há memória afetiva envolvida pelo primeiro título mundial da seleção para gerações de torcedores, mas a produção e as imagens são espetaculares. Cumpre com louvor a missão de capturar a emoção da paixão pelo esporte.

O Milagre de Berna (2003) – Através da família Lubenski, o filme conta a história da final da Copa do Mundo de 1954 disputada na Suíça, com a inesperada vitória da Alemanha sobre a Hungria. O primeiro título da gigante tetracampeã e oito vezes finalista. Retrata bem como o futebol é capaz de aproximar, mesmo em histórias pessoais complicadas.

O Casamento de Romeu e Julieta (2005) – Produção nacional, com Marco Ricca e Luana Piovani. Mais do que uma história sobre o amor de um corintiano fanático e uma palmeirense apaixonada, é um filme sobre a história de São Paulo. Mas essencialmente comédia, e das boas. E a cerimônia que dá nome à obra é uma prova de que é possível conviver sem ódio clubista.

O Negro no Futebol Brasileiro (2018) – Incrível documentário dirigido por Gustavo Acioli baseado no livro homônimo de Mário Filho. Aborda a luta contra o preconceito para conquistar um lugar no esporte. Desde a dificuldade para ser aceito nos clubes no inicio do século 20 até as manifestações racistas nos últimos anos. Depoimentos de Romário, Adriano, Júnior, Cláudio Adão, entre outros.

O Campeão Impossível (2016) – Diego Armando Maradona e a saga da conquista do mundial de 1986. Uma produção argentina. Já dá para medir o tamanho da paixão do filme. Mostra como uma seleção desacreditada, que se classificou na bacia das almas, conseguiu se unir em torno da estrela maior, que protagonizou a grande atuação individual de um jogador em Copas do Mundo.

Heleno (2012) – Rodrigo Santoro precisou aprender a jogar futebol para interpretar um personagem riquíssimo. Heleno de Freitas era um craque polêmico, indisciplinado e que teve final trágico e inesperado para quem era ídolo do Botafogo e tratado como símbolo sexual nos anos 1940. Baseado no livro “Nunca Houve um Homem como Heleno”, de Marcos Eduardo Neves.

Verão de 92 (2016) – O título da Eurocopa conquistado pela Dinamarca no momento mais inesperado, bem longe da seleção que encantou em 1986 e que só disputou a fase final na Suécia por conta da guerra civil na antiga Iugoslávia. Foca no trabalho do desacreditado treinador Richard Nielsen e no drama pessoal do meio-campista Kim Vilfort. Uma história que mereceu ir para as telas.

Pelé Eterno (2004) – Esqueça o controverso personagem Edson Arantes do Nascimento. Pelé, o atleta do Século 20, merecia uma grande produção com seus feitos e gols para eternizar o melhor e maior de todos os tempos, goste ou não a “geração internet” que acha que o mundo começou em 2000. Um deleite para quem ama este esporte sem preconceitos.

 

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Futebol em Quarentena – Os dez melhores times que vi em quatro décadas http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/futebol-em-quarentena-os-dez-melhores-times-que-vi-em-quatro-decadas/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/futebol-em-quarentena-os-dez-melhores-times-que-vi-em-quatro-decadas/#respond Tue, 17 Mar 2020 19:31:32 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8174

Foto: Javier Soriano / AFP

O futebol parou nos principais centros, inclusive no Brasil. Felizmente, a sensatez prevaleceu e quem puder ficar em casa para não arriscar um colapso nos atendimentos hospitalares por conta da pandemia do coronavirus, melhor para todos.

Mas o blog não pára e aproveita para olhar para trás e abrir espaços para postagens que em tempos velozes, de imediatismo e exigência do “quente”, do “gancho”, não costumam ter muito espaço.

Por isso a série “Futebol em Quarentena” trará rankings, análises de times históricos, jogos lendários, confrontos “dos sonhos” entre grandes equipes de épocas diferentes e o que mais pintar até a bola voltar a rolar no mundo – em breve, esperamos todos.

Para começar, a vontade da maioria do público que votou na enquete no Twitter:

Imagem: Reprodução / Twitter

Então seguem os melhores times (clubes) que vi em quase 40 anos acompanhando apaixonadamente o futebol. Com as devidas particularidades, incluindo memória afetiva. Lista é pessoal, sempre. E daqui a um ano pode mudar também… Vamos lá!

1º – Barcelona de Guardiola – 2010/11

Não foi a equipe mais vencedora comandada por Pep Guardiola na Catalunha, já que na primeira temporada do treinador novato (2008/09) veio a tríplice coroa. Mas mesmo perdendo a Copa do Rei para o Real Madrid de José Mourinho e Cristiano Ronaldo, o Barcelona da temporada 2010/11 foi um primor coletivo que iluminou ainda mais o talento de Xavi, Iniesta, Messi e Daniel Alves.

O gênio argentino, definitivamente como “falso nove”, destruiu as defesas adversárias e foi o elemento de desequilíbrio em um modelo de jogo que tangenciou a perfeição. Pressão pós-perda, posse de bola, construção do jogo desde o goleiro e criação de superioridade numérica no setor da bola, sempre buscando o homem livre. Cansava e atordoava os adversários e conseguia impor a maneira de jogar, mesmo nas raras derrotas. Combinação quase perfeita do melhor das escolas espanhola, holandesa e argentina.

2º – Milan de Arrigo Sacchi – 1988/1989

Os 5 a 0 sobre o Real Madrid pela semifinal da Liga dos Campeões no Giuseppe Meazza representam o melhor do fantástico time dos holandeses Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco Van Basten. Comandados por Sacchi, que revolucionou o futebol italiano atualizando ideias de Rinus Michels.

Defesa em linha, comandada por Franco Baresi, marcando por zona, adiantando e aproximando setores, muitas vezes jogando em trinta metros e trabalhando a bola voltado para o ataque. Combinando a cultural solidez defensiva do “Calcio” com um estímulo ao talento que só rivalizava com a genialidade de Maradona no Napoli. Em 1990, faturou o bicampeonato europeu, último a conseguir o feito antes do Real Madrid de Zinedine Zidane. Um alento e um deleite em tempos de futebol defensivo, simbolizado pela Copa do Mundo disputada na própria Itália.

3º – São Paulo de Telê Santana – 1992/1993

Ganhar duas vezes seguidas a Libertadores é raro. Numa época ainda de muita violência no futebol sul-americano, além das já habituais arbitragens “polêmicas” e pouco controle de doping era ainda mais complicado. E priorizando o futebol bem jogado, mais raro ainda.

O que não era difícil era rivalizar com os gigantes europeus num período anterior à Lei Bosman, que transformou os grandes clubes do Velho Continente em verdadeiras seleções transnacionais. O São Paulo de Telê Santana conseguiu ser competitivo e ter momentos de futebol arte. O melhor exemplo na final do Mundial de 1992, contra o Barcelona. Com Cafu e Muller abertos, Rai e Palhinha por dentro e o suporte de Toninho Cerezo. Tocando, girando, envolvendo e virando para cima do “Dream Team” de Johan Cruyff. Um tempo de supremacia tricolor no planeta.

4º – Arsenal “Invincibles” – 2003/04

Campeão invicto da Premier League, já muito competitiva à época. O que o Liverpool de Klopp e o Manchester City de Guardiola sonharam, mas não conseguiram, os Gunners de Arsene Wenger fizeram história. Não é um título de Champions, mas não deixa de ser um feito extraordinário.

Méritos do time de contra-ataques de almanaque, mas que nunca abdicava de atacar. Uma equipe completa e que vivia um momento coletivo extraordinário, que potencializava as individualidades de Patrick Vieira, Thierry Henry e Dennis Bergkamp. Com auxílio luxuoso de Robert Pirés, Gilberto Silva, Ashley Cole e Fredrik Ljungberg. Transpiração e inspiração para primeiro garantir a taça, depois a trajetória imaculada e histórica. Que dificilmente será repetida.

5º – Bayern de Munique de Jupp Heynckes – 2012/13

Um rolo compressor improvável, depois do revés nos pênaltis em casa para o Chelsea na final europeia em Munique e de perder a hegemonia na própria Alemanha para o Borussia Dortmund de Jurgen Klopp. Na temporada que Jupp Heynckes anunciou que se despediria dos gramados e o gigante bávaro foi atrás de Guardiola em seu “ano sabático”.

Parecia fim de festa. Mas com Robben e Ribéry desequilibrando pelas pontas, o Bayern atropelou o Barcelona com 7 a 0 no agregado e média de 40% de posse de bola. Mesmo sendo o segundo melhor no quesito na Europa, atrás justamente do time blaugrana. Provando ser uma equipe “camaleã”, que se adaptava às demandas das partidas, algo que seria tendência nos anos seguintes. Faturou a tríplice coroa, sendo o último título de outro clube que não Barcelona e Real Madrid na década até o Liverpool quebrar a sequência na temporada passada. Timaço!

6º – Flamengo de Zico – 1981/1982

O time que “unificou” os títulos depois do Santos de Pelé nos anos 1960. Em maio de 1982, era o último campeão da cidade (Taça Guanabara), estado (Rio de Janeiro), país (Brasil), continente e mundo. Com inovações táticas que virariam tendências.

Congestionando o meio-campo com um volante (Andrade) e quatro meias (Tita, Adílio, Zico e Lico), mais Nunes, o centroavante que caía pelas pontas abrindo espaços para os mais talentosos – incluindo os laterais Leandro e Júnior. Mas um camisa nove que aparecia para decidir as partidas mais importantes. Tocando, girando as peças e colocando os adversários na roda. Faltou um período maior de hegemonia no continente, mas o legado da maneira de jogar é imenso, influenciando a inesquecível seleção brasileira da Copa da Espanha.

7º – Liverpool de Jurgen Klopp – 2019/20

Uma construção paciente, qualificando o elenco, tornando a maneira de jogar mais versátil, adicionando pausas no estilo “rock’n’roll” do treinador alemão. Sofrendo com goleiros e zagueiros fracos inicialmente, para depois ir ao mercado e contratar Alisson e Virgil Van Dijk.

Para dar segurança a um ataque avassalador. Com Mohamed Salah, Roberto Firmino e Sadio Mané próximos uns dos outros e da meta adversária e os laterais Alexander-Arnold e Robertson abrindo o campo e sendo os principais municiadores de um time como volume de jogo sufocante e força mental para sair de várias situações difíceis. Venceu a Champions em 2019 e alcançou a melhor campanha do clube na história da Premier League, mas sem faturar o sonhado título nacional que deve vir agora, se a temporada na Inglaterra não for cancelada.

8º – Real Madrid de Zinedine Zidane – 2016/2017

Por motivo de: TRICAMPEÃO da Champions. Não é todo dia que acontece, mesmo descontando algumas atuações pouco inspiradas, pitadas de sorte e arbitragens polêmicas. Chama ainda mais atenção a manutenção da base nas três conquistas e o fato de ser a estreia de Zinedine Zidane no comando técnico de uma equipe de primeira divisão.

O auge na temporada 2016/17, com a conquista também do título espanhol. E o encaixe de Isco, armando um 4-3-1-2 muito móvel e mutante. E essencialmente técnico, com Carvajal e Marcelo abrindo o campo, Cristiano Ronaldo se juntando a Benzema na frente e muito controle no meio-campo, sustentado por Toni Kroos e Luka Modric. Todos suportados por Casemiro na proteção a Varane e Sergio Ramos. Se tudo desse errado, lá estava Keylor Navas para garantir. A camisa entortou varal algumas vezes, mas era um time com muito poder de decisão.

9º – Boca Juniors de Carlos Bianchi – 2000/2003

Um time “embaçado” para enfrentar, especialmente em mata-mata. Mas também capaz de ganhar o Apertura invicto, no início desta caminhada em 1998. Equipe que sabia amassar os adversários na Bombonera e cinicamente cozinhá-los como visitante. E, se tudo desse errado, ainda havia o “rei dos pênaltis” Oscar Córdoba na meta.

No ritmo de Juan Roman Riquelme. Craque um tanto tímido, de hábitos estranhos. Mas um “enganche” de enorme talento e leitura de jogo, inclusive da temperatura. O típico dez que dita o ritmo, acelerando ou escondendo a bola. Faturando a Libertadores em 2000, 2001 e 2003, superando o milionário Palmeiras e o Santos de Diego e Robinho. No último sem Riquelme e Palermo, mas com o jovem Carlos Tévez e Guillermo Schelotto. Uma máquina de faturar taças comandada por Bianchi, um estrategista copeiro que estava na hora certa e no clube certo para fazer história.

10º – Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo – 1996

Sim, o time alviverde mais vencedor comandado por Luxemburgo foi o de 1993/94. Este foi um “meteoro” que não durou seis meses. Mas, ora bolas! Futebol também é lúdico, capaz de fazer sonhar e encantar. E este que escreve chegou a faltar aulas e deixar de ver o time de coração para acompanhar esse futebol encantador.

Foram 102 gols e 13 goleadas de um time fulminante. Cafu e Júnior voando nas laterais, Djalminha e Rivaldo entregando talento no meio, Muller fazendo o pivô e Luizão perdendo e também fazendo muitos gols, tamanha era a superioridade coletiva e individual. Que encaixou no primeiro treinamento, segundo relato do próprio Djalminha a este que escreve em um “Bola da Vez” na ESPN Brasil em 2014. Só um título paulista, um revés doído para o Cruzeiro na final da Copa do Brasil, mas e daí? Nunca será esquecido e está na lista porque sim!

É isso!

Certamente muitos flamenguistas que acham que o futebol começou em 2019 vão cobrar: “Ain, e o time atual do Jorge Jesus?” Calma! Vamos esperar construir a história da equipe, ainda que ganhar Brasileiro com recorde nos pontos corridos e Libertadores no mesmo ano seja um feito espetacular. Mas vamos aguardar!

Para os mais inconformados, fica a promessa de uma análise mais detalhada do atual campeão nacional e continental em breve.

 

 

 

 

 

 

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Palmeiras e Flamengo sofrem com anticlímax e irresponsabilidade http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/14/palmeiras-e-flamengo-sofrem-com-anticlimax-e-irresponsabilidade/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/14/palmeiras-e-flamengo-sofrem-com-anticlimax-e-irresponsabilidade/#respond Sat, 14 Mar 2020 23:36:01 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8162 A pandemia de coronavirus parou o futebol nos principais centros do mundo e deveria ter interrompido a temporada também por aqui, diante dos riscos de contágio no Brasil que ainda não sofre com milhares de casos como a Itália, por exemplo.

Mas o calendário nacional segue, só parando as competições da Conmebol. Justamente a prioridade dos que disputam a Libertadores, como Flamengo e Palmeiras. De repente, só restou o estadual para jogar no curto prazo. Ou nem isso, se as federações tomarem providências baseadas no bom senso e parar tudo.

Natural desconcentrar, até desanimar, apesar do profissionalismo. Como será daqui por diante? Quanto tempo até solucionar o problema e não colocar vidas em risco? Haverá sequência do torneio continental?

O Palmeiras foi a Limeira, certamente com todas essas questões em mente. Estádio com público e jogadores e os treinadores Vanderlei Luxemburgo e Elano se cumprimentando antes da bola rolar. Uma irresponsabilidade.

Não faltou transpiração ao time alviverde. Novamente no 4-2-3-1 com Dudu livre para circular e se juntar a Willian, Luiz Adriano e Rony. Mais uma vez com dificuldades para circular a bola, tanto que Luxemburgo trocou Ramires e Bruno Henrique por Patrick de Paula e Zé Rafael. Ainda Luiz Adriano por Lucas Lima. Ou seja, refez o meio-campo para tentar criar.

Sofreu ainda mais depois que Airton foi expulso aos oito do segundo tempo e a equipe de Limeira se trancou de vez. Precisou das defesas de Rafael Pin, mas se virou bem. Faltou efetividade ao Palmeiras no “abafa”. 70% de posse, 15 finalizações a seis – seis a dois no alvo. Chute na trave de Dudu, de novo o destaque palmeirense, no primeiro tempo. Mas não foi às redes.

Sina que parecia a do Flamengo no Maracanã. Em um clima ainda mais fúnebre pelo estádio vazio e por estar em disputa apenas a Taça Rio. Segundo turno do Carioca que era objetivo para abreviar o torneio e se preparar para os grandes objetivos da temporada. Agora a pressa perdeu o sentido. Para piorar, o risco por conta do teste positivo do vice Mauricio Gomes de Mattos, que esteve com jogadores e comissão, que também se submeteram à verificação, mas o resultado só sairia depois da partida! Uma insanidade.

Tudo isso entrou em campo contra a Portuguesa fechada com linha de cinco atrás e time compacto em trinta metros guardando a meta de Milton Raphael. Sem Diego Alves, Gustavo Henrique, Filipe Luís, Gerson, Thiago Maia e Gabriel Barbosa, o time de Jorge Jesus foi preguiçoso na maior parte do tempo.

Nem com o gol do lateral esquerdo Maicon Douglas, em chute que desviou em Rafinha e saiu do alcance de César, a equipe saiu da letargia na construção das jogadas. Pouca mobilidade e intensidade apenas na pressão logo após a perda da bola, mas sem a “fome” de outros momentos. Deve mesmo ser difícil se acostumar com o ambiente do Maracanã cheio todo jogo e se deparar com arquibancadas vazias.

A virada veio no final, no cansaço do adversário de menor investimento. Desorganizado, com Michael e Vitinho abertos, Bruno Henrique e Lincoln por dentro e apenas Everton Ribeiro e De Arrascaeta no meio.  O time correu ao menos, pela invencibilidade de Jorge Jesus no estádio que parecia escorrer em um revés improvável.

O esforço foi suficiente para empatar com Vitinho, em chute que desviou no zagueiro Marcão. A virada veio em jogada exigida por Jesus e que pouco aconteceu no jogo: o passe entrelinhas. Antes a Portuguesa negava espaços e não havia esforço. Com o time da Ilha do Governador exausto, apareceu a brecha para Renê achar Arrascaeta e o chute no canto fechar os 2 a 1 já nos acréscimos.

Difícil vislumbrar algo mais à frente com o futuro tão incerto. Palmeiras e Flamengo, concentrados na Libertadores e candidatos a campanhas 100% na fase de grupos, viveram um sábado de anticlímax no futebol brasileiro. Melhor seguir o que foi feito em quase todo mundo e preservar a saúde de todos.

(Estatísticas: SofaScore)

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Palmeiras de Luxa não “foge” de Felipão/Mano. Ainda lembra Marcelo Oliveira http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/02/palmeiras-de-luxa-nao-foge-de-felipao-mano-ainda-lembra-marcelo-oliveira/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/02/palmeiras-de-luxa-nao-foge-de-felipao-mano-ainda-lembra-marcelo-oliveira/#respond Mon, 02 Mar 2020 09:02:54 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8072

Foto: Cesar Greco / Foto Arena / Estadão Conteúdo

Vanderlei Luxemburgo voltou ao Palmeiras depois de 10 anos prometendo resgatar o futebol ofensivo de seus tempos áureos nos anos 1990. Mais posse de bola, pressão no campo de ataque e presença no campo adversário.

Não foi a tônica dos últimos trabalhos do treinador veterano, mas o elenco mais forte e o propósito do clube depois do ano passado com Luiz Felipe Scolari e Mano Menezes pareciam forçar o treinador a uma mudança na prática.

Ao menos até aqui, nos confrontos contra as equipes de Série A – São Paulo, Red Bull Bragantino e Santos -, Luxemburgo e Palmeiras seguem com melhor desempenho quando encontram espaços para as transições ofensivas em velocidade.

Sim, o time é mais voltado para o ataque, não se entrincheira na defesa. Mas não “foge” muito de 2019 quando encontra dificuldades na circulação da bola com o adversário em fase defensiva, a saída de bola muitas vezes é confusa, embora com menos ligações diretas que a de Felipão, e as ações de ataque ainda ficam muito por conta das individualidades. Especialmente com Dudu.

O craque palmeirense começou o clássico com o Santos no Pacaembu alternando pelos flancos com Willian e Luiz Adriano no centro do ataque. Mas o problema era o espaço entre os setores bem aproveitado pelo Santos, mesmo mais lento e menos intenso com Jesualdo Ferreira.

Os últimos minutos do clássico foram malucos, com um buraco entre as intermediárias, erros técnicos que geravam contragolpes seguidos das equipes. Divertido, mas uma “pelada” considerando que estavam em campo o segundo e o terceiro colocados do último Brasileiro.

Em um cenário caótico, a consequência natural de trocar Raphael Veiga e Luiz Adriano por Gabriel Veron e o estreante Rony foi puxar Dudu para dentro, com liberdade e participando mais do jogo. O camisa sete encontrou alguns bons passes e preencheu o vácuo entre volantes e quarteto ofensivo.

O Palmeiras da parte final do clássico contra o Santos: um 4-2-4 com Dudu centralizado, participando mais do jogo e tentando preencher o buraco no meio-campo. Lembrou o time de 2015 com Marcelo Oliveira (Tactical Pad).

Lembrando o Palmeiras campeão da Copa do Brasil de 2015, comandado por Marcelo Oliveira. Mas aquele ainda tinha Robinho como uma espécie de ponta armador pela direita como contraponto, se juntando aos meio-campistas. Do lado oposto, o menino Gabriel Jesus partia da esquerda em diagonal.

Desta vez foram dois ponteiros agudos e um atacante móvel partindo do centro. No modo “briga de rua”, de um jogo mais direto e vertical, pode funcionar. Mas dentro de um modelo mais propositivo, de controle do jogo pela posse, parece um contrasenso. Ou coerente com o Luxemburgo atual.

Na coletiva depois do clássico, o técnico disse que a atuação foi normal e o trabalho está no caminho certo. Ainda é início de temporada, mas os primeiros testes em jogos grandes não foram muito promissores. Vejamos na estreia da Libertadores.

Com Dudu aberto ou por dentro? Veremos na Argentina, contra o Tigre na quarta-feira.

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