paulocesarcarpegiani – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Flamengo de Jorge Jesus é mais Cláudio Coutinho e menos Carpegiani http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/21/flamengo-de-jorge-jesus-e-mais-claudio-coutinho-e-menos-carpegiani/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/21/flamengo-de-jorge-jesus-e-mais-claudio-coutinho-e-menos-carpegiani/#respond Tue, 21 Apr 2020 12:25:19 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8339

Foto: Acervo / Jornal do Brasil

Com as conquistas da Libertadores e do Brasileiro no mesmo ano, algo que nenhum time brasileiro alcançou desde o Santos de Pelé, o Flamengo de Jorge Jesus entrou para a história do futebol nacional e provocou comparações com times do passado.

Entre os rubro-negros, o paralelo óbvio é com a outra equipe lendária do clube, a campeão sul-americana e mundial em 1981, com o “bônus”  do título brasileiro no ano seguinte. Análises e mais análises sobre um possível duelo entre os Flamengos, quase sempre tendo como vencedora a equipe de quase quarenta anos atrás. Com Zico sendo o fator de desequilíbrio.

Pode ser, embora comparar times de épocas diferentes seja sempre um exercício complicado. Porque sem contextualização ou equiparação temporal, a tendência seria o time atual passar por cima fisicamente. Ainda mais pela marcação adiantada e com pressão no homem da bola que Zico, em entrevista a este blogueiro para o livro “1981” lançado em parceria com Mauro Beting e a Maquinária Editora em 2011, admitiu ser uma dificuldade grande para o time que liderou em campo. Jogo mais intenso normalmente praticado por equipes do sul do país, assim como as argentinas e uruguaias.

Mais racional é tentar buscar semelhanças entre as propostas de jogo. E analisando a trajetória vencedora que começa em 1978, com a conquista do título estadual – quando eles ainda valiam muito em um calendário sem Copa do Brasil – no gol inesquecível do zagueiro Rondinelli sobre o Vasco, um Flamengo anterior ao que Paulo César Carpegiani herdou de Dino Sani lembra mais a equipe atual. Ou uma versão desta dentro das variações táticas do treinador português.

O time campeão brasileiro de 1980, comandado por Cláudio Coutinho. Gaúcho com formação militar, preparador físico da seleção do tri em 1970 que conheceu o professor americano Kenneth Cooper e passou a adotar o então moderno método de avaliação física. Foi parar no Olympique de Marseille e de lá para a seleção olímpica, primeiro como preparador, depois supervisor e, por fim, treinador em uma emergência por conta da demissão de Zizinho.

Mesmo sem medalha, terminando em quarto lugar, acabou indicado para suceder Carlos Froner no Flamengo e assumiu em setembro de 1976. Trazendo a visão pós-Copa de 1974, impactada pela revolução do futebol holandês simbolizada por Rinus Michels. O coletivo acima do individual, organização para atacar e defender quase em ato contínuo e versatilidade dos jogadores, utilizando o termo “polivalência”, além de outros que acabaram virando folclore, como “overlapping” (ultrapassagem do lateral pelo ponta) e “ponto futuro” – local onde a bola chegaria em uma jogada ensaiada.

O Fla de Coutinho amadureceu primeiro com o revés estadual para o Vasco em 1977, depois as conquistas estaduais que levaram o técnico a comandar a seleção brasileiro na Copa do Mundo de 1978 e na Copa América no ano seguinte. 1979 dos dois títulos cariocas em calendário confuso, mas também do sofrimento pela eliminação para o Palmeiras de Telê Santana no Brasileiro de 1979 com uma goleada por 4 a 1. Com o domínio local, o Brasileiro virou obsessão.

Chegou em 1980 com início oscilante até Nunes chegar para ser o camisa nove que daria o “click” na formação titular que engrenou até a decisão contra o Atlético Mineiro. Passando pela “vingança” contra o Palmeiras com implacável 6 a 2 no Maracanã. A grande atuação coletiva que consolidou o modelo de jogo.

Time que já tinha clara preocupação com conceitos atuais como amplitude, profundidade e superioridade numérica, ainda que esses termos nunca tenham saído da boca de Coutinho. O “overlapping” pela direita se dava com Tita por dentro atraindo o lateral adversário e deixando o corredor para Toninho Baiano. Forte, rápido e incansável em busca da linha de fundo.

Do lado oposto, Júlio César era o ponteiro aberto e driblador, típico da época. Júnior fazia o papel de lateral “construtor”, apoiando por dentro e se juntando aos meio-campistas Andrade, Paulo César Carpegiani, Zico e ainda Tita que tinha liberdade de circulação. Cinco homens contra três, no máximo quatro do oponente no trabalho entre as intermediárias.

O Flamengo de Coutinho campeão brasileiro de 1980, com Toninho e Júlio César abrindo o campo e Junior e Tita atacando por dentro, criando superioridade numérica no meio-campo ao se juntar a Andrade, Carpegiani e Zico, que infiltrava no espaço deixado por Nunes, o centroavante móvel (Tactical Pad).

Na frente, Nunes se movimentava pelos flancos e abria espaços para a infiltração de Zico, craque, ídolo e artilheiro da equipe e daquela edição do torneio nacional com 21 gols. Sem a bola, compactação dos setores, momentos de pressão sobre o adversário com a bola e linhas adiantadas. Na fase ofensiva, toque de bola refinado e algum controle pela posse, porém com definição mais rápida dos ataques.

Que versão do Flamengo atual é parecida? Aquela em que Bruno Henrique ocupa mais o setor esquerdo, bem aberto, embora também entrando em diagonal para finalizar. Fazendo Gabriel Barbosa procurar naturalmente o lado direito e abrindo espaços por dentro para De Arrascaeta. Everton Ribeiro, assim como Tita, sai da direita para articular por dentro, colaborando com Willian Arão e Gerson. Mais Filipe Luís, o lateral que pensa mais o jogo. Na direita, Rafinha ataca mais o corredor aberto e busca o fundo.

Uma das variações de Jorge Jesus no Fla atual tem Bruno Henrique aberto pela esquerda e Gabriel Barbosa procurando mais à direita e abrindo espaços para De Arrascaeta infiltrar pelo meio. Everton Ribeiro sai da ponta para dentro armar o time com Gerson, protegido por Willian Arão. No corredor, Rafinha apoia mais aberto buscando o fundo. Do lado oposto, Filipe Luís é um lateral mais construtor (Tactical Pad).

A conexão entre Coutinho e Jesus, claro, é a escola holandesa. O brasileiro no contato com o Ajax e a “Laranja Mecânica”, o português no estágio em 1993 com Johan Cruyff, a grande referência do atual treinador rubro-negro.

Paulo César Carpegiani também tinha seus pontos de contato com a Holanda: primeiro esteve em campo na derrota da seleção brasileira por 2 a 0 para a equipe de Rinus Michels em 1974, depois jogou em 1976 com Marinho Peres, que trabalhara com Michels e Cruyff no Barcelona e agregou conceitos ao Internacional de Rubens Minelli e Falcão na conquista do bicampeonato brasileiro naquele mesmo ano.

Carpegiani, claro, entendia a necessidade de rotação, porém gostava mais da bola e com toques mais curtos, embora tivesse precisão também nos lançamentos. O estilo do jogador falou alto na rápida transição para o comando técnico – aposentadoria por lesão no joelho aos 31 anos, curto período como auxiliar de Dino Sani e logo estava treinando os ex-companheiros.

Tanto que sacou o ponteiro Baroninho para encaixar o meia Lico. A ideia era soltar todas as peças à frente do volante Andrade. Aproveitando a mobilidade de Adílio, que herdou a posição de Carpegiani, porém sem o mesmo perfil organizador.

A estreia da equipe mais móvel foi espetacular nos históricos 6 a 0 sobre o Botafogo. O rival foi para o intervalo levando quatro gols e sem entender o que acontecera. Os laterais Leandro e Júnior atacando abertos ou por dentro, Andrade e Zico mais centralizados e o trio Tita-Adílio-Lico girando por todo campo, assim como Nunes mantendo a movimentação pelas pontas. Algo muito fora dos padrões da época.

Proposta que se consagrou nos 3 a 0 sobre o Liverpool em Tóquio, embora em organização mais conservadora: um 4-2-3-1 com Adílio mais próximo de Andrade, até para auxiliar Júnior que jogou sentindo o joelho direito. Tita e Lico guardando mais as posições pelos flancos e Zico buscando os espaços às costas dos meio-campistas britânicos para acionar Nunes em diagonal.

Foi no Brasileiro de 1982, disputado no primeiro semestre, antes da Copa do Mundo na Espanha, que o novo modelo de jogo foi consolidado. Com a mesma mobilidade, mas adquirindo alguns padrões. Como Nunes bem aberto, quase como um ponteiro,  e Tita, que havia abandonado a seleção brasileira por não aceitar ser ponta e Telê avisar que no meio não havia vaga, jogando por dentro.

Era a solução encontrada por Carpegiani para aproveitar um jogador de temperamento complicado, mas também de boa técnica e poder de finalização interessante. Ele e Zico articulavam pelo meio e alternavam na chegada à área adversária com Lico e Adílio, que circulava por todo campo com vitalidade impressionante. Às vezes alternando com Zico, que recuava para organizar. Ideias à frente do tempo e vencedoras.

Na vitória sobre o São Paulo por 4 a 3 no Morumbi pelo Brasileiro de 1982, um flagrante do Flamengo móvel de Carpegiani: Júnior atacando por dentro dando suporte a Adílio, com Zico dando opção mais à direita e Lico e Tita, em tese os ponteiros, centralizados. E o centroavante Nunes? Dando opção bem aberto e mais recuado pela esquerda (Reprodução TV Globo).

Mas que guardavam poucas semelhanças com o time atual. Porque era mais intuitivo e concentrava mais jogadores no trabalho entre as intermediárias. Às vezes afunilando demais os ataques e se expondo por atacar com os dois laterais simultaneamente.

A equipe de Cláudio Coutinho, um ano antes, era mais coordenada. Faltou paciência ao treinador para ver o auge da equipe que formou. Irritado com a diretoria, partiu no início de 1981 para uma aventura nos Estados Unidos, comandando o Los Angeles Aztecs. Voltou em novembro daquele ano e foi receber os campeões da Libertadores no aeroporto no dia 24. Três dias depois, convidou Junior para comer  peixe depois de um mergulho para pesca submarina nas Ilhas Cagarras, arquipélago próximo da praia de Ipanema. Não voltou. Faleceu, por afogamento, aos 42 anos.

Deixou, no entanto, um legado no Flamengo mais vencedor da história. Que o time de Jorge Jesus tentou igualar ou até superar quase quatro décadas depois. Cinco troféus em nove meses, antes da pandemia. Como será na volta? A maior torcida do país sonha com um final ainda mais feliz.

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Desafio de Jorge Jesus é unir os pontos do que o Flamengo já fez de bom http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/27/desafio-de-jorge-jesus-e-unir-os-pontos-do-que-o-flamengo-ja-fez-de-bom/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/27/desafio-de-jorge-jesus-e-unir-os-pontos-do-que-o-flamengo-ja-fez-de-bom/#respond Thu, 27 Jun 2019 09:41:29 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6763

Foto: Alexandre Vidal/Site do Flamengo

Quando Jorge Jesus foi especulado e depois anunciado como novo treinador do Flamengo, sucedendo Abel Braga, este blog foi cauteloso na análise da contratação por dois motivos básicos: os trabalhos anteriores do profissional experiente servem como referência para avaliar o que o novo comandante pode fazer, mas o contexto do futebol brasileiro é muito particular. Ele provavelmente já sabe que terá que simplificar alguns processos e queimar etapas.

Ao mesmo tempo, pelo padrão de suas equipes, especialmente Benfica e Sporting, a possibilidade de contratação de jogadores com características específicas, particularmente um centroavante de maior força física para atuar na referência do ataque, é bem grande. Apesar de não ser um técnico adepto do jogo direto, com muitos lançamentos, é uma função importante em seu modelo de jogo.

Sem Cuéllar e De Arrascaeta, ainda envolvidos com a Copa América, é difícil vislumbrar um time base, mesmo considerando que este elenco deve rodar bastante para dar conta de Brasileiro e mais Libertadores e Copa do Brasil em afunilamento. Este que escreve também pensa que um meio-campista de área a área deveria ser tratado como prioridade por técnico e diretoria. Só Arão e Ronaldo podem não ser o suficiente para os duros confrontos que estão por vir.

Então no momento o que cabe é uma reflexão sobre o que esse “novo” Flamengo deve ter como meta na volta da temporada 2019 no Brasil. Desde o segundo semestre de 2015, com a chegada da dupla Paolo Guerrero/Emerson Sheik, o patamar de contratações mudou e, consequentemente, de expectativas também. Só que o tempo passou e nenhuma conquista relevante afirmou no futebol essa reabilitação do clube em termos de gestão.

Porque sempre faltou algo ao time. Quando havia peso e experiência no comando técnico, com mentalidade vencedora ao menos no discurso, faltou o conteúdo no campo – Muricy Ramalho, Paulo César Carpegiani, Abel Braga e pontualmente de Reinaldo Rueda. Com Zé Ricardo e Mauricio Barbieri, conceitos mais atuais, porém inexperiência natural de jovens treinadores na condução de um vestiário complexo e muita pressão externa, contrastando com um certo paternalismo na direção do futebol.

A solidez defensiva que faltou tantas vezes veio de onde menos se esperava: o interino Marcelo Salles optou por uma formação com Arão mais próximo de Cuéllar (ou Piris da Motta) e entregou a equipe sem sofrer gols. Fundamental na vitória sobre o Corinthians por 1 a 0 que garantiu a classificação para as quartas de final da Copa do Brasil. Mais sete pontos no Brasileiro.

O trabalho mais completo, sem dúvida alguma, foi o de Dorival Júnior no final do ano passado. Mas dentro de um cenário muito particular: fim da gestão Bandeira de Mello, possibilidade de permanência apenas em caso de título brasileiro e só 12 jogos para duelar com o forte Palmeiras de Felipão. O Flamengo foi organizado, competitivo e teve posse de bola agressiva, sem “arame liso”. Venceu sete, empatou três e perdeu duas. 66% de aproveitamento.

A gestão de vestiário foi forte, peitando e colocando na reserva lideranças como os Diegos, Ribas e Alves. Mas a oscilação no aspecto mental pesou na derrota para o Botafogo, a despedida foi péssima com a fraca atuação diante do Athletico no Maracanã e ainda teve o chute na lua de Lucas Paquetá no confronto direto com os alviverdes. A dúvida que fica é se dentro de um contrato com prazo mais longo Dorival arriscaria tanto.

É evidente que não se exige de Jorge Jesus uma equipe perfeita. Ou melhor, os críticos da demissão de Abel e aqueles que torcem o nariz para estrangeiros treinando as principais equipes do país vão, sim, cobrar tudo do português. Mas o fato é que sempre houve um “gargalo” que impediu o time rubro-negro de alcançar o tão almejado título – cariocas à parte. Na técnica, na tática, no ânimo ou mesmo na gestão do futebol, permitindo, por exemplo, que o Fla chegasse a uma final de Copa do Brasil sem um goleiro confiável.

Cabe ao novo treinador juntar os pontos do que o Flamengo fez de bom nos últimos anos. É um desafio pela atmosfera muito particular do clube. A torcida quer tudo para ontem,  mas a base e o investimento são suficientes para tornar o time mais competitivo até o final de 2019. Vencedor ao menos em um dos campeonatos a disputar.

Com Rafinha, já integrado ao elenco e com a missão de cobrir uma carência de anos na lateral direita, além contribuir com sua experiência internacional. Provavelmente mais um zagueiro para jogar pela esquerda e um centroavante. Também Reinier, o jovem talento da base que pode ganhar oportunidades no meio-campo.

Conteúdo, qualidade, liderança, cobrança de profissionalismo, discurso forte e ambicioso. O Flamengo nunca pareceu tão pronto. Vejamos se passa da teoria à prática desta vez.

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Péssimos no returno, Vasco e Botafogo voltam a flertar com o perigo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/09/10/pessimos-no-returno-vasco-e-botafogo-voltam-a-flertar-com-o-perigo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/09/10/pessimos-no-returno-vasco-e-botafogo-voltam-a-flertar-com-o-perigo/#respond Mon, 10 Sep 2018 09:05:52 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5191

Foto: André Durão/Globoesporte.com

Parece um passado distante, mas o Vasco disputou a Libertadores em 2018. Eliminado em um grupo complicado com Cruzeiro e Racing, mas conseguindo passar pelas fases preliminares. O Botafogo marcou presença no ano passado, também começando a trajetória no início do ano, e foi mais longe. Talvez o adversário mais complicado do campeão Grêmio, caindo nas quartas de final.

Era possível vislumbrar um período com alguma estabilidade depois da sequência de rebaixamentos de 2013 a 2015. As oscilações, porém, voltaram com força e os times cariocas flertam de novo com o perigo.

No returno, o Vasco soma quatro pontos em cinco partidas, mais a derrota por 1 a 0 para o Atlético-PR em jogo adiado. Estreia de Alberto Valentim, que foi campeão estadual pelo Botafogo vencendo o Vasco de Zé Ricardo e voltou de uma breve experiência no Pyramidis do Egito. Ainda tem uma partida a cumprir para chegar aos 24 jogos, fora de casa contra o Santos de Cuca e Gabigol. São quatro reveses consecutivos. Nenhum ponto com o novo treinador.

Já o Botafogo de Zé Ricardo, que comandou o time cruzmaltino no torneio continental, tem o mesmo desempenho: quatro pontos em cinco jogos. Aproveitamento de 27%. Ambos se igualam a Sport e Corinthians e só superam Paraná (dois pontos em cinco jogos) e Chapecoense (um ponto em quatro partidas), equipes que parecem fadadas ao rebaixamento, embora a recuperação ainda seja perfeitamente possível na matemática para ambas.

Clubes com problemas financeiros no primeiro ano dos mandatos dos presidentes Alexandre Campello e Nelson Mufarrej e quatro mudanças no comando técnico em nove meses de temporada. O Vasco teve Zé Ricardo, Jorginho, um breve hiato com o interino Valdir Bigode e agora Valentim. O Botafogo começou o ano com Felipe Conceição, depois Alberto Valentim saiu por proposta irrecusável – a única mudança sem a iniciativa do clube – para a chegada de Marcos Paquetá, que durou cinco jogos, e agora Zé Ricardo. Elencos também muito mexidos. Baixa qualidade e pouco entrosamento, sem um modelo de jogo assimilado. Uma fórmula que não costuma terminar bem.

Para complicar, Rodrigo Lindoso perdeu o pênalti do empate no clássico contra o Fluminense – uma bela defesa do goleiro tricolor Rodolfo – e Yago Pikachu foi expulso no Barradão na derrota para o Vitória e está suspenso para o clássico contra o Flamengo. Agora sob o comando de Paulo César Carpegiani, o time baiano subiu para a 12ª colocação, com dez pontos em 15 possíveis no returno. Com Tiago Nunes, o Atlético-PR também se afastou da “confusão” com bom futebol. Tem 27 pontos no 14º lugar e ainda dois jogos a cumprir.

Ceará também reage: são oito em seis partidas. Com os mesmos 24 pontos de Sport e Vasco, este o primeiro fora do G-4. Dois pontos abaixo do Bota, o 15º na tabela. Todos com aproveitamento total abaixo dos 40%. O Vasco já sofreu 35 gols. Só não levou mais que Vitória (40) e Sport (36).  O Botafogo sofreu 33, mas só marcou 21. Quinto ataque menos efetivo. Quarto pior saldo de gols.

A má notícia é o viés de queda em contraste com o Ceará de Lisca pontuando com mais frequência. É claro que nesta zona da tabela as variações são naturais e devem seguir até o final. Mas Vasco e Botafogo vivem situações preocupantes. A tensão de torcidas traumatizadas com descidas ao inferno da Série B torna tudo ainda mais explosivo.

O Botafogo tem uma competição em paralelo: disputa as oitavas de final da Copa Sul-Americana contra o Bahia. Uma possibilidade a mais de arrecadação e de vitórias para reagir animicamente no Brasileiro, mas também semanas “cheias” a menos que os concorrentes para recuperar e treinar.

É claro que o torcedor otimista pode ver esperança na classificação “achatada”: são seis pontos de distância do Vasco em relação ao décimo colocado, o Corinthians. Uma sequência de vitórias e a primeira página da tabela vira uma realidade.

Se tudo der errado e as campanhas forem novamente de rebaixado, a esperança da dupla carioca é que, ainda assim, quatro clubes caiam por eles. Já pareceu mais possível.  Os times se enfrentam dia 6 de outubro, pela 28ª rodada.

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Flamengo volta a se aproximar do topo, mas ainda faz força demais pra jogar http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/08/23/flamengo-volta-a-se-aproximar-do-topo-mas-ainda-faz-forca-demais-pra-jogar/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/08/23/flamengo-volta-a-se-aproximar-do-topo-mas-ainda-faz-forca-demais-pra-jogar/#respond Fri, 24 Aug 2018 00:50:31 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5110 Era jogo para goleada. Um Vitória sem confiança, agora sob o comando de Paulo César Carpegiani, no Maracanã com ótimo público mais uma vez. Time completo, Vitinho mais à vontade. Muito volume de jogo na maior parte do tempo.

Posse de bola de 68%, 25 desarmes corretos, quatro interceptações certas. Total de 15 finalizações, sete corretas. Mas apenas 1 a 0 no placar, gol de Diego no final do primeiro tempo. Meia que sempre rende mais atuando adiantado, entrando na área adversária. Mas no 4-1-4-1 montado por Mauricio Barbieri, o jogador de 33 anos participa da articulação, recua, pressiona a saída de bola do oponente. Ocupa um espaço grande de campo e se desgasta muito. Ainda mais quando prende a bola, conduz, gira. Ou seja, faz muita força para jogar.

Assim como todo a equipe. Em várias partidas precisa de um domínio muito amplo para vencer. A relação gol/finalização nem é tão ruim, só fica atrás de São Paulo, Atlético Mineiro e Palmeiras no Brasileiro. São oito conclusões para ir às redes. Mas para concluir tem que rodar muito a bola. Não por acaso é o segundo em posse, com média de 55%, atrás apenas do Grêmio.

Em jogos mais parelhos, especialmente fora de casa, nem sempre será possível impor esse domínio absoluto. Aconteceu no segundo tempo contra o Grêmio em Porto Alegre na Copa do Brasil. E mesmo lá, não fosse a finalização precisa de Lincoln no último ataque o Fla teria saído com derrota. Ou seja, falta contundência.

Mais uma vez o ataque não foi eficiente para abrir uma vantagem de dois ou três gols e depois administrar, dosando as energias. Henrique Dourado e Lucas Paquetá perderam chances cristalinas, uma em cada tempo. O Vitória finalizou quatro vezes, uma na direção da meta de Diego Alves. A de Lucas Fernandes, infiltrando no setor de Renê, normalmente o mais frágil defensivamente. Chute cruzado que o goleiro salvou. Podia ter sido o empate.

Final tenso, desgaste emocional e físico que se acumula na temporada. Quase nunca o jogo é tranquilo. Mesmo com Everton Ribeiro jogando muito bem, saindo da direita para pensar e articular, tocando fácil. Falta a fluência com começo, meio e fim das ações ofensivas com a bola terminando nas redes.

Uma solução seria adiantar Diego. Ideia deixada de lado logo no início do Brasileiro para que Paquetá tivesse mais liberdade e Cuéllar atuasse mais fixo à frente da defesa. Mas na falta de um exímio finalizador, ter um meia que conclui bem mais perto do centroavante pode ser um detalhe que muda um jogo ou mesmo um campeonato.

O Flamengo só não pode seguir correndo riscos desnecessários em jogos controlados. Nem ser presa fácil quando o adversário não permite um domínio tão grande. A conta vem sendo alta na volta da parada para a Copa do Mundo. Ainda que os três pontos façam a equipe voltar a se aproximar do líder São Paulo.

(Estatísticas: Footstats)

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Gestão Bandeira de Mello confunde continuidade com continuísmo no Flamengo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/04/28/gestao-bandeira-de-mello-confunde-continuidade-com-continuismo-no-flamengo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/04/28/gestao-bandeira-de-mello-confunde-continuidade-com-continuismo-no-flamengo/#respond Sat, 28 Apr 2018 10:02:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4505

A pífia atuação do Flamengo no empate sem gols contra o Independiente Santa Fé em Bogotá pela Libertadores, com a equipe exagerando na cautela e satisfeita com o resultado que pouco acrescentou na campanha da fase de grupos, subiu ainda mais o tom de indignação dos torcedores contra jogadores e dirigentes, especialmente o presidente Eduardo Bandeira de Mello e o meia Diego Ribas.

Junte a isto a polêmica na reunião do Conselho Deliberativo para aprovar as contas de 2017, suspensa depois da discussão sobre a premiação de mais de dez milhões de reais – 7,7 para jogadores, 2,5 para comissão técnica e 800 mil para o ex- diretor executivo Rodrigo Caetano – em um ano de título estadual, vices da Copa do Brasil e Sul-Americana e sexta colocação no Brasileiro e temos um barril de pólvora.

É óbvio que o ano de eleição torna o ambiente político quase insuportável na Gávea e se o pagamento estava previsto dentro de um plano de metas ele tem mesmo que ser cumprido e o clube valorizar a possibilidade de honrar seus compromissos, algo inviável há menos de dez anos.

Mas todo esta crise é consequência do grande equívoco da gestão Bandeira de Mello na condução do futebol do time de maior torcida do país: confundir continuidade com continuísmo.

Quando há ideias dentro e fora de campo com planejamento e que geram desempenho vale a insistência até que comecem a resultar em troféus. Como no próprio Flamengo há quatro décadas, perdendo títulos seguidos para Fluminense e Vasco de 1975 a 1977, mas ganhando maturidade para em seguida alcançar as maiores conquistas da história da agremiação.

Agora há um time que é criticado por sua apatia e pouca entrega, mas que na maioria dos reveses se ressentiu mesmo da falta de rendimento. Porque as características dos jogadores não combinam com a proposta de jogar no ataque e se impor. Zagueiros lentos, laterais que oferecem poucas soluções além dos cruzamentos a esmo, meio-campistas sem o passe decisivo e um ataque que precisa de muitas oportunidades para ir às redes.

Não há plano de jogo que funcione. Com Zé Ricardo, Rueda, Carpegiani ou o novato Maurício Barbieri.  Sem triangulações, ultrapassagens, fluência. Só bolas levantadas na área e lampejos dos mais talentosos. Simplesmente não funciona.

E não há mudanças profundas, porque na visão do presidente basta insistir para dar certo. O “vamos levando” que se transformou na grande marca de sua administração que é histórica pelo saneamento das finanças, algo que não é mérito apenas de Bandeira de Mello, mas vai chegando ao fim do segundo mandato com o rótulo do insucesso no carro-chefe do clube.

A manutenção de Barbieri é a prova de que o crédito de um elenco caro e que entrega pouco em campo parece infinito. Os jogadores querem, os dirigentes atendem. O ápice dessa estranha relação foi o pedido de Bandeira para que os atletas o ajudassem depois da eliminação do Carioca. Sem cobranças, apenas afagos e súplicas.

A direção do futebol age como o pai que começa a ganhar dinheiro e cobre os filhos de mimos, deixando de ensinar o valor do esforço. Só que a maioria dos que lá estão não viveram os tempos difíceis para ganhar tantas recompensas.

O que é mais preocupante em toda essa crise é um pensamento crescente de que o futebol só funciona em meio ao caos financeiro e com jogadores “bandidos”. Este que escreve prefere não ficar recorrendo ao passado para comparar com a situação atual, mas neste caso é preciso: Zico era “bandido”? Em 1981 o salário atrasava? Definitivamente todo este cenário complexo não pode ser resumido à “falta de raça”.

É claro que, na prática, tudo seria diferente, por exemplo, com a conquista da Copa do Brasil. No país do futebol de resultados não se avalia qualidade de trabalho. E obviamente este blogueiro não defende que profissionais não tenham as melhores condições para exercer seus ofícios apenas porque não venceram. Muito menos que sejam agredidos, como quase aconteceu no embarque da delegação para Fortaleza.

Mas o momento exige ruptura que vai além das demissões após a eliminação no Carioca. Direção do futebol com independência e treinador com autonomia para mudar peças e o modelo de jogo. Ou seja, sair da inércia. Com a gestão Bandeira de Mello parece uma missão quase impossível. Porque há apego ao fracasso.

 

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Flamengo é administrado pelas redes sociais e não pode ser levado a sério http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/03/30/flamengo-e-administrado-pelas-redes-sociais-e-nao-pode-ser-levado-a-serio/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/03/30/flamengo-e-administrado-pelas-redes-sociais-e-nao-pode-ser-levado-a-serio/#respond Fri, 30 Mar 2018 13:18:25 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4371 O “se” não existe no futebol nem na vida. Mas vale a reflexão: se a cabeçada de Henrique Dourado no segundo tempo que bateu na trave direita de Jefferson tivesse entrado e o Flamengo se classificado para a decisão do Carioca com o empate haveria essa “limpa” do departamento de futebol do clube?

O cenário seria previsível. Muitos torcedores reclamando de mais uma péssima atuação coletiva, mas a maioria ironizando a provocação de Luiz Fernando no gol do Botafogo e replicando os memes tradicionais depois de um jogo importante no futebol brasileiro.

E Rodrigo Caetano, Paulo César Carpegiani, Mozer, Jayme de Almeida, Rodrigo Carpegiani e Marcelo Martorelli seguiriam tranquilamente o seu trabalho pensando na final. Ou seja, uma derrota que tirou o time do torneio menos relevante da temporada foi o que, na prática, deflagrou um processo de reformulação mais profunda no carro-chefe do time mais popular do país.

Algo que já deveria ter ocorrido há algum tempo, mas como foi campeão carioca e chegou a duas finais ficou a impressão de que estava tudo indo bem e era questão de ajustes para a temporada 2018 ser consagrada pelos títulos importantes que prometeram à torcida depois que as finanças estivessem equilibradas.

É óbvio que há um componente político em ano de eleição e a gestão atual, acusada justamente por seu imobilismo, precisa do futebol competitivo para Bandeira de Mello fazer seu sucessor. Mas agora ficou ainda mais claro algo que já chamava a atenção de quem acompanha o cotidiano do clube.

O futebol do Flamengo é administrado pelas redes sociais. Um termômetro importante, mas que não pode ser tão considerado nos processos decisórios. No entanto, definiu contratações como Diego Alves e Reinaldo Rueda. Goleiro e treinador que vieram na carona das críticas contra Muralha e Zé Ricardo e empurraram os indecisos cartolas para uma solução.

Há uma distorção no Brasil quando o assunto é torcedor. Criou-se o mito de que ele é que manda no clube porque o sustenta com sua paixão. Indo ao estádio, comprando camisas e pagando pay-per-view. Inegável a importância. Mas o fanatismo não pode ser a cabeça em lugar nenhum. Ainda mais na nossa cultura guiada apenas por resultado e, a partir dele, se avalia desempenho.

Quer um exemplo? Em junho do ano passado este blog abordou a falácia de que Diego era o meia criativo do Flamengo. O “homão da porra” para a torcida à época. Poupado das críticas pela eliminação da Libertadores por ter ficado de fora, lesionado. O blogueiro foi massacrado nos comentários e nas redes sociais.

Só com o pênalti perdido na final da Copa do Brasil contra o Cruzeiro e outras atuações ruins em partidas decisivas sem levar a equipe aos títulos esperados é que os apaixonados acordaram para a realidade. Alguns ainda negam, valorizando o esforço de quem é muito bem remunerado para pensar o jogo e desequilibrar. Mas só com derrotas parte da massa despertou para o óbvio. Mesmo que o rendimento do meia desde a volta de lesão no ano passado tenha sido, na média, bem abaixo do que se esperava para um camisa dez com tanta grife e salários tão altos.

Por isso quem está de fora não pode definir quem fica e quem sai. Nem torcida, nem jornalistas. Se alguma decisão foi tomada apenas pela influência de uma crítica ou elogio de um analista também está errado. O futebol precisa ser guiado por quem entende todos os processos e conta com as ferramentas para avaliar dia a dia e jogo a jogo o desempenho, dentro e fora de campo.

E agora? Vão definir os substitutos dos demitidos em enquetes na internet? Este que escreve não duvida mais de nada.

O Flamengo se vangloria de ser o clube com mais interações nas redes. Para manter a massa participativa dá mais ouvidos do que deveria e, sem um mínimo de racionalidade, parece um barco à deriva. No futebol e na vida, quem precisa de alguém de fora para gerir a sua casa não pode ser levado a sério.

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Botafogo acerta um ataque e está na final. Flamengo não tem repertório http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/03/29/botafogo-acerta-um-ataque-e-esta-na-final-fla-nao-tem-repertorio/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/03/29/botafogo-acerta-um-ataque-e-esta-na-final-fla-nao-tem-repertorio/#respond Thu, 29 Mar 2018 03:41:34 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4364 Trinta e oito minutos do primeiro tempo. Rodrigo Lindoso, substituto de João Paulo como articulador no 4-2-3-1 do Botafogo de Alberto Valentim, acerta passe nas costas de Paquetá para Marcinho. O lateral chegou ao fundo e rolou para trás. Luiz Fernando apareceu às costas de Everton e antecipando a Rhodolfo para tirar de Diego Alves. Na comemoração, o atacante provocou o rival ironizando o “cheirinho”.

Objetivamente, foi a única jogada bem engendrada pelas equipes em mais de noventa minutos. O gol da classificação do Botafogo. Dentro de uma atuação com mais intensidade na marcação, especialmente na primeira etapa. Foram 12 desarmes corretos contra dez do Flamengo, mas nove dos alvinegros contra apenas um rubro-negro nos primeiros 45 minutos.

A derrota no estadual não deveria ser trágica para um time disputando a Libertadores. O que é preocupante e muito no Flamengo é o desempenho. A atuação foi pluripatética. Infelicidade desde a escolha de Jonas e Willian Arão como os volantes para a mudança do sistema para o 4-2-3-1, deixando Cuéllar no banco. Um absurdo.

Passando pelo impasse entre Paulo César Carpegiani e Vinícius Júnior. O treinador queria o jovem atacante pela direita, mas o menino se sente mais à vontade do lado oposto. O resultado é que muitas vezes Paquetá e Vinícius, que deviam ocupar os flancos, ficavam no mesmo lado abandonando Pará à própria sorte pela direita.

Nas redes sociais houve muitos protestos de flamenguistas contra o post deste blog sobre a classificação do Fluminense na semifinal da Taça Rio. O texto afirmava que o time de Abel Braga tem mais repertório que o rival, ainda que este tenha finalizado muito mais vezes e permanecido no campo de ataque por mais tempo depois do gol de Gum que abriu o placar no Estádio Nílton Santos.

O que é difícil de fazer entender é que um time que fique com a bola, mesmo que rode, rode, rode até levantar na área, inevitavelmente vai conseguir finalizar. No abafa, na vitória do atacante na impulsão, no corte para dentro e chute. Mas não significa que há jogada. Repertório. Não existe.

O Flamengo é um deserto de ideias. O time que vivia do pivô de Paolo Guerrero para dar sequência às jogadas e sofria porque não tinha o centroavante na área para finalizar agora tem Henrique Dourado sem a mínima qualificação técnica para fazer a parede e mesmo finalizar. Mesmo cabeceando na trave na segunda etapa.

Um dos 45 cruzamentos do time na semifinal. Treze de Diego. Três corretos, sempre na bola parada. Impressiona como Tite pode pensar no camisa dez como um meio-campista organizador. Desde o ano passado saltava aos olhos a total falta de criatividade do meia. Repetindo pela enésima vez: domina, gira, dá mais um toque e, com a marcação do adversário montada, o passe para o lado ou para trás. Quando arrisca algo mais objetivo vem o erro.

O ensaio do início da temporada com mobilidade dos meias no 4-1-4-1 foi abandonado pela falta de sequência com qualidade. O time continua vivendo de cruzamentos e lampejos. O mesmo da segunda metade do trabalho de Zé Ricardo e no período sob o comando de Reinaldo Rueda.

Uma carga muito pesada para os ombros de Paquetá e Vinícius Júnior. Jovens precisam de um trabalho coletivo para potencializar o talento. Tudo que o Flamengo não tem. Realidade dura para quem investe tanto. Mas é preciso aceitar. E mudar o quanto antes.

O Botafogo nada tem a ver com isso. Lutou, buscou pressionar mais o adversário com a bola, bloqueou de forma organizada com duas linhas de quatro e contou com Jefferson, substituto de Gatito Fernández a serviço da seleção paraguaia, para suportar a pressão aleatória do rival. Faltou coordenar mais contragolpes para tirar o oponente um pouco da própria área. Não conseguiu, mesmo com a entrada de Rodrigo Pimpão na vaga de Leo Valencia.

Finalizou 12 vezes, três no alvo. A única bola na rede no clássico. A solitária jogada bem pensada e executada. O melhor estava por vir depois da fratura de João Paulo: a final do Carioca que parecia improvável.

(Estatísticas: Footstats)

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Fluminense está na final porque, acredite, tem mais repertório que o Fla http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/03/22/fluminense-esta-na-final-porque-acredite-tem-mais-repertorio-que-o-fla/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/03/22/fluminense-esta-na-final-porque-acredite-tem-mais-repertorio-que-o-fla/#respond Fri, 23 Mar 2018 01:46:19 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4339 Quem olha os números da semifinal da Taça Rio imagina um amplo domínio do Flamengo sobre o Fluminense no Estádio Nílton Santos: 58% de posse de bola, 21 finalizações rubro-negras contra 12. Se comparar os orçamentos no futebol a diferença aumenta ainda mais. Considerando que um disputa Libertadores e outro foi eliminado da Copa do Brasil pelo Avaí…

Mas nem tudo é como parece. Se no jogo da fase de grupos do returno do Carioca os reservas do Fla relativizam os 4 a 0 aplicados pelo tricolor, a verdade do campo desta vez mostrou uma dura realidade para Paulo César Carpegiani: o 3-5-2 simples, à moda antiga, montado por Abel Braga oferece um repertório ofensivo maior que o da equipe com elenco, em tese, mais qualificado.

O jogo tricolor flui, especialmente pelos flancos. Pela direita, Gilberto se aproxima de Jadson e Marcos Júnior para as triangulações. No lado oposto, o mesmo com Ayrton, grande revelação do campeonato, mais Richard e Sornoza. Repare no camisa dez equatoriano do Flu. A bola chega e sai com facilidade. Passe para a frente, objetivo, encontra o companheiro pronto para acelerar.

Já no Fla, Diego e Everton Ribeiro não conseguem construir o volume de jogo desejado. Erram passes, são burocráticos e pouco inventivos. Para complicar, Lucas Paquetá, um dos poucos que procuravam passar de primeira, agora sempre precisa dar um toque a mais na bola. Ainda assim, consegue ser o jogador capaz de tentar algo diferente na execução do 4-1-4-1 armado por Carpegiani.

O Flu ainda tem outra vantagem: os zagueiros Renato Chaves e Ibañez são opções de saída de bola com rapidez para fazer a bola chegar rapidamente nos alas. No lado rubro-negro, Rever, Juan e Jonas são mais lentos e os meias precisam recuar para ajudar. Sem contar as sérias limitações técnicas e de discernimento na tomada de decisão dos laterais Rodinei e Renê. E ainda tem Henrique Dourado acrescentando muito pouco. Não dá sequência aos ataques como pivô e no toque final não é contundente.

Em resume, o jogo do Flu acontece naturalmente e o do Fla sai a forceps, no abafa. Mais uma vez o “primo rico” do futebol carioca precisou apelar para os cruzamentos. 14 no primeiro tempo, 23 no segundo. Total de 37. O empate veio no abafa e na sequência de chutes de Rodinei e o definitivo de Everton, que produziu muito mais como lateral que meia pela esquerda.

O Flu cruzou 21 e contou com a ajuda de uma atuação constrangedora de Diego Alves na saída da meta. Muita hesitação que Gum aproveitou para abrir o placar no primeiro tempo e podia ter ampliado no segundo com o mesmo camisa três tricolor em outra falha do goleiro, mas na sequência é difícil avaliar se Gum está atrás da linha da bola ou se Diego Alves dava condição.

Não precisou. Foi sofrido. Vinícius Júnior, que entrou na vaga de Renê, teve a bola da classificação no pé direito em um contragolpe. O Flu perdeu chances de matar o clássico em contra-ataques bem engendrados. Mas o empate por 1 a 1 classificou para a final contra o Botafogo a melhor equipe do returno. Nada especial em um estadual de baixo nível técnico, públicos ridículos e um Rio de Janeiro em crise profunda.

De qualquer forma, é um alento para o Flu. Assim como o Botafogo, o outro finalista, não tem outra competição para disputar neste momento. O título da Taça Rio servirá para melhorar a autoestima no clube vencedor.

Para o Flamengo, duas más notícias: fim da chance de ganhar duas semanas para treinamentos e apenas uma partida para definir o Carioca. A pior é que objetivamente o time não evoluiu em relação à temporada passada. Na necessidade, ainda vive de cruzamentos e lampejos, especialmente de Paquetá e Vinicius Júnior. É muito pouco para quem investe tanto.

O Flu faz mais com menos e há muito mérito nisto.

(Estatísticas: Footstats)

 

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Parecia uma noite de Flamengo na Libertadores. Mas entrou Vinicius Jr… http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/03/15/parecia-uma-noite-de-flamengo-na-libertadores-mas-entrou-vinicius-jr/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/03/15/parecia-uma-noite-de-flamengo-na-libertadores-mas-entrou-vinicius-jr/#respond Thu, 15 Mar 2018 03:01:42 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4288 O Flamengo deu a impressão de que repetiria em Guayaquil a sina de 2017 na Libertadores: boa atuação fora de casa, mas sofrendo pelos erros de finalização, especialmente de Henrique Dourado. Também o individualismo de Lucas Paquetá, preferindo dribles e finalizações quando o passe era mais indicado.

Para complicar, o pênalti claro não marcado no toque de mão de Guagua em disputa com Everton Ribeiro e uma rara falha de Juan, que deixou as costas para Angulo infiltrar e fazer o gol do Emelec. Duro golpe para um desempenho correto na execução do 4-1-4-1, com entrega, liderança de Diego e mais personalidade do time que costumava ser frágil mentalmente.  Seria mais uma noite da sina recente no torneio continental de “jogou como nunca, perdeu como sempre”?

Seria, se Vinícius Júnior não tivesse entrado na vaga de Everton Ribeiro. Para jogar aberto pela direita, setor em que nem rende tanto quanto no lado oposto. Mas quando o time rubro-negro mais precisou o talento que fez o Real Madrid abrir os cofres atrás de um garoto de 17 anos apareceu como ainda não havia acontecido desde que subiu para os profissionais.

Faltava à equipe de Carpegiani a jogada diferente, o drible que desmonta a defesa adversária. Vinicius ofereceu seu repertório e dois gols numa virada que parecia improvável. O primeiro uma pintura em jogada pessoal, o segundo tabelando com Diego. Três finalizações, duas no alvo. Total de 21 conclusões do Fla, sete na direção da meta de Esteban Dreer, contra apenas nove dos donos da casa. 25 desarmes corretos dos brasileiros contra sete.

Um outro espírito, mas a diferença foi o talento. Não veio de Paquetá, mas no time das contratações milionárias outra joia da base resolveu. A mais reluzente e valiosa. Para encerrar uma invencibilidade de 16 jogos do Emelec e reescrever a história na vitória do Flamengo como visitante na Libertadores que não acontecia desde 2014.

(Estatísticas: Footstats)

 

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Que relação complicada entre Flamengo e Libertadores nos últimos tempos! http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/03/01/que-relacao-complicada-entre-flamengo-e-libertadores-nos-ultimos-tempos/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/03/01/que-relacao-complicada-entre-flamengo-e-libertadores-nos-ultimos-tempos/#respond Thu, 01 Mar 2018 03:13:18 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4201 Cuéllar é expulso na premiação da decisão da Sul-Americana. Clube é punido pela selvageria de parte da torcida no Maracanã e tem que estrear na Libertadores no Nílton Santos com portões fechados. Arbitragem complicada, com pênalti claro não marcado a favor no primeiro tempo e sofrendo gol logo depois de abrir o placar com o adversário claramente impedido.

Para piorar, o treinador Paulo César Carpegiani foi infeliz na última substituição, trocando Everton por Willian Arão. O time perdeu velocidade nos contragolpes e não ganhou solidez na proteção da defesa. E Vinícius Júnior estava no banco…

Que relação complicada entre Flamengo e Libertadores nos últimos tempos! Desde a noite de Cabañas e Joel Santana em 2008, a eliminação para o Emelec em 2012 com os jogadores à beira do campo esperando o apito final. No ano passado a combinação da derrota no final para o San Lorenzo e a vitória do Atlético-PR sobre a Universidad Católica e agora um grupo complicadíssimo com River, Santa Fé e Emelec. Tudo parece conspirar contra.

Ainda que a atuação coletiva tenha ficado bem longe do satisfatório. A equipe estava nitidamente insegura na estreia em uma competição tratada como prioridade contra um adversário tradicional. Pouca pressão no oponente com a bola e muita lentidão na circulação da bola na saída para o ataque. Desde a defesa com Rever, Juan e Jonas, o substituto de Cuéllar.

Carpegiani optou por Pará na lateral direita, muito provavelmente pela preocupação com De La Cruz, o meia aberto pela esquerda no 4-1-4-1 armado por Marcelo Gallardo, mesmo sistema do time brasileiro. Com isso a equipe rubro-negra só conseguia dar profundidade às ações ofensivas com Everton e Paquetá pela esquerda. À direita faltava a ultrapassagem do lateral no espaço deixado pelas trocas entre Everton Ribeiro e Diego.

No centro do ataque, Dourado tentava descomplicar tocando simples e de primeira, mas sem acrescentar muito. Do lado argentino, Lucas Pratto, mesmo demonstrando desentrosamento, fazia um trabalho de pivô mais eficiente e inteligente.

Mesmo em má fase, o River mostrava mais personalidade e um plano de jogo claro. Faltava a fluência nas jogadas. Por isso um primeiro tempo fraco, com muitas faltas – 22, 14 cometidas pelo River e 8 pelo Fla. Só quatro finalizações do mandante e duas do time argentino – dois a um no alvo. Mas não teve a chance clara. Só o pênalti no toque no braço de Zuculini na disputa com Rever que o fraquíssimo árbitro peruano Michael Espinoza ignorou.

Gols na segunda etapa. No pênalti de Ponzio em Diego, Henrique Dourado manteve sua incrível precisão na cobrança. Na saída de bola, falta pela esquerda para o River e Mora aproveitou, impedido, para empatar. Na inversão de lado dos meias, Paquetá pela direita achou Everton e o meia novamente compensou com gol uma atuação com muitos erros nas tomadas de decisão.

Jonas saiu lesionado e entrou Rômulo, que, ao contrário do Fla-Flu, não comprometeu. Mas o Fla exagerou no recuo para administrar a vantagem e a troca de Everton por Arão foi trágica. O volante estava mal posicionado e Camilo Mayada chutou forte, mas de longe. Diego Alves aceitou. Décima segunda finalização do River contra dez do mandante, que teve 58% de posse e nem cruzou tanto desta vez, apenas 18.

Empate que soa cruel para o Fla pelos erros de arbitragem. Mas o time não se ajuda. Agora, para não repetir 2017 terá que pontuar fora do Rio de Janeiro. Incrível como tudo parece mais difícil no principal torneio da América do Sul.

(Estatísticas: Footstats)

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