rivaldo – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Palmeiras-1996 e Santos-2010, os “meteoros” de 100 gols e futebol mágico http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/03/palmeiras-1996-e-santos-2010-os-meteoros-de-100-gols-e-futebol-magico/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/03/palmeiras-1996-e-santos-2010-os-meteoros-de-100-gols-e-futebol-magico/#respond Wed, 03 Jun 2020 14:39:20 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8584

Foto: Ricardo Saibun / Santos

Em 2014, Djalminha foi o convidado do “Bola da Vez” na ESPN Brasil e respondeu a este blogueiro sobre a montagem do Palmeiras de 1996. Segundo o próprio meia, o melhor time pelo qual atuou se encaixou muito rápido: “Foi mágica. No primeiro treino a gente já se olhava rindo, sem acreditar. Começamos goleando times amadores em jogos-treinos, mas quando começou o Paulista continuamos passando por cima de todo mundo”.

O entrevistado esqueceu de mencionar os 6 a 1 em Fortaleza sobre o Borussia Dortmund, campeão alemão de 1994/95 e que venceria a Liga dos Campeões de 1996/1997. Era janeiro e o Palmeiras já conquistava a Copa Euro-América.

Um “click”. Por mais que se cobre, com toda razão, que clubes e seleções respeitem processos e valorizem trabalhos a longo prazo, às vezes acontece de um time se encaixar muito rapidamente e jogar futebol encantador. A história mostra que o “efeito colateral” é durar pouco também.

Chega e vai logo embora. Um “meteoro”. Assim foi o Palmeiras comandado por Vanderlei Luxemburgo. O time de Cafu e Júnior voando pelas laterais, Djalminha organizando, Rivaldo infiltrando no espaço deixado pelo “pivô” Muller e Luizão na área para finalizar. Volúpia ofensiva compensada por Amaral e Flávio Conceição, os protetores dos zagueiros Sandro e Cléber. Velloso na meta.

Palmeiras de Luxemburgo no 4-2-2-2 típico dos anos 1990, mas com volúpia ofensiva incomum (Tactical Pad).

Combinação perfeita de características que fez tudo fluir no Paulista e até a decisão da Copa do Brasil. Foram 102 gols em 30 partidas no Paulista, mais 24 na Copa do Brasil. 27 vitórias, dois empates e apenas uma derrota no estadual. 83 pontos em 90 possíveis, 28 a mais que o vice São Paulo. Goleadas marcantes como os 7 a 1 sobre o Novorizontino, 8 a 0 no Botafogo, 6 a 0 no Santos. Apenas 19 gols sofridos. Estética e eficiência. Um time que fez o blogueiro faltar algumas aulas e também deixar de ver o time de coração.

No mata-mata nacional, 8 a 0 no Sergipe, 8 a 1 no agregado sobre o Atlético Mineiro nas oitavas, 5 a 1 no Paraná nas quartas. 100% de aproveitamento até cruzar com o Grêmio de Luiz Felipe Scolari, campeão da Libertadores no ano anterior e que venceria o Brasileiro naquele mesmo 1996. Vitória por 3 a 1 em São Paulo e revés por 2 a 1 em Porto Alegre. Na decisão contra o Cruzeiro, empate em Minas por 1 a 1 que fez do Palmeiras o favorito absoluto para a volta no Parque Antárctica.

A ausência de Muller, porém, diminuiu consideravelmente a fluência ofensiva. O “garçom” do ataque preferiu voltar ao São Paulo e foi desfalque sentido. Mesmo assim, o ataque palmeirense fez de Dida o melhor da final vencida pelo time mineiro comandado por Levir Culpi. De virada por 2 a 1. Foi o que faltou ao Palmeiras para tornar mais marcante aquele primeiro semestre espetacular.

O Santos teve melhor sorte, 14 anos depois. Mais um “raio” que caiu na Vila Belmiro. Novamente o clube sem capacidade para investir em grandes contratações resolveu investir nos jovens formados no clube. Paulo Henrique Ganso, com 20 anos, mas desde os 18 atuando no profissional, e Neymar, com dezoito completos em fevereiro, eram as esperanças da equipe comandada por Dorival Júnior, contratado no final de 2009.

De novo o “click”, o engate quase imediato. Em entrevista ao Uol Esporte, o treinador revelou uma conversa com o elenco antes do primeiro treinamento: “Reuni os jogadores embaixo de uma mangueira que temos lá no centro de treinamento do Santos e falei: ‘Quero falar uma coisa para vocês aqui, hoje, no nosso primeiro dia de trabalho. Esse time pode marcar a história do Santos Futebol Clube’.”

Com Robinho, emprestado pelo Manchester City, fazendo um papel parecido com o de Muller no Palmeiras em 1996. Um facilitador para os companheiros. Alternando com Neymar pelas pontas, se aproximando de Ganso para tabelas e contribuindo para um volume de jogo sufocante. André se mexia também, embora ficasse mais na área adversária para finalizar.

Pará e Alex Sandro nas laterais, Arouca um pouco mais fixo na proteção a Edu Dracena e Durval e Wesley se juntando ao quarteto ofensivo. Mas até o camisa cinco aparecia na frente. Dorival tentava fazer o time reagir rápido sem bola pressionando para recuperar logo a posse e voltar a atacar. Quando encaixava era arrebatador. E bonito de ver.

O Santos voltado para o ataque comandado por Dorival Júnior. No 4-2-3-1 que tinha Ganso na articulação e Robinho como um facilitador, alternando nos flancos com Neymar (Tactical Pad).

No Paulista, 15 vitórias, dois empates e duas derrotas na primeira fase. 61 gols marcados, média superior a três por jogo. Dez pontos na frente do Santo André, que seria o vice-campeão em uma final mais equilibrada que o previsto, até pelo “sapeca” santista sobre o São Paulo na semifinal: 6 a 2 no agregado. Na decisão, uma vitória por 3 a 2 para cada lado, título santista pela melhor campanha geral. No total, foram 72 gols marcados e 31 sofridos.

Na Copa do Brasil, os 10 a 0 sobre o Naviraiense foram o destaque logo na primeira fase, mas o time passou por Remo (4 a 0 sem necessidade de volta), Guarani – com destaque para os 8 a 1 na ida – e Atlético Mineiro antes da final contra o Vitória. Assim como na semifinal contra o Grêmio, derrota como visitante e vitória em casa, se impondo no saldo de gols. Um time instável, mas bem sucedido naquele período.

Também superando os 100 gols. Foram 105 nas duas competições. E, mais importante, levando as taças para a Baixada Santista. Ciclo encerrado com a demissão de Dorival depois de briga pública com Neymar. Mas consolidado como time histórico com Muricy Ramalho, ganhando pragmatismo e solidez defensiva que equilibrou o talento na frente. Já sem Robinho, mas com um Neymar mais maduro para decidir a Libertadores de 2011. O Palmeiras seguiu caminho parecido a partir de 1997 com Luiz Felipe Scolari, mas só alcançou a consagração no continente em 1999.

O encantamento, porém, ficou com os “meteoros”. Times que atraíam os olhares até de torcedores de outros clubes. Pelo arrojo, por atacar como se não houvesse amanhã. Sem administrar resultado, com ímpeto incomum. Por isso tão difícil de esquecer.

 

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As dez maiores duplas de ataque da história http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/15/as-dez-maiores-duplas-de-ataque-da-historia/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/15/as-dez-maiores-duplas-de-ataque-da-historia/#respond Wed, 15 Apr 2020 11:10:28 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8305

Dupla de ataque é diferente de dupla de atacantes. Aqui entram jogadores que eram os mais avançados de suas equipes ou, dentro de um 4-3-3 ou 4-2-4, os que mais se procuravam para tabelas – o centroavante e o ponta-de-lança. Então duplas como Garrincha-Pelé, Ronaldo-Zidane ou Neymar-Messi, por exemplo, não fazem parte da lista. Questão de critério.

Então vamos ao “Top 10”, desta vez indo da décima à primeira colocação para os preguiçosos e/ou ansiosos ao menos passarem os olhos até o final.

[E, sim, este que escreve reconhece há um pouco de “pachequismo” envolvido, neste caso.]

10º – Bergkamp & Henry – Dos “Invincibles” de Arsène Wenger em 2003/04. Talento, velocidade, explosão, elegância e muita eficiência diante dos goleiros. Responsáveis por 34 gols e 17 assistências naquela campanha mágica.

9º Maradona & Careca – Um gênio e um grande centroavante fazendo história no Napoli mais vencedor, com título italiano e da Copa da UEFA, que hoje corresponde à Liga Europa. Foram a maior dor de cabeça de Arrigo Sacchi nos grandes duelos com o Milan no final dos anos 1980.

8º Ronaldo & Romário – Efêmera, porém espetacular, com os dois maiores atacantes do futebol brasileiro depois da Era Pelé, protagonistas nos dois últimos títulos mundias da seleção. Um bom entendimento em campo, especialmente no ano mágico de 1997.

7º Messi & Suárez – Desde 2014, viveram o melhor momento no Barcelona formando o tridente com Neymar que venceu a tríplice coroa e o Mundial de Clubes, mas ainda sintonizados e vencedores nas temporadas seguintes, com quatro ligas e quatro Copas na Espanha.

6º Cristiano Ronaldo & Benzema – Nada menos que quatro títulos de Liga dos Campeões em cinco temporadas. Demoraram a engrenar, já que chegaram juntos ao Real Madrid para a temporada 2009/10. Afinaram a sintonia com Ancelotti e arrebentaram com Zidane.

5º Ronaldo & Rivaldo – Nem tanto por 1998, já que Bebeto é que formava a dupla com o Fenômeno. Mas em 2002 eram os mais avançados e acionados por Ronaldinho Gaúcho. Marcaram 13 dos 18 gols da seleção de Luiz Felipe Scolari e resolveram na decisão com a Alemanha.

4º Gullit & Van Basten – Ganharam tudo no Milan e ainda a Eurocopa de 1988 com a Holanda de Rinus Michels. Entendimento no olhar, movimentação inteligente, inteligência nas tabelas e força no jogo aéreo. Não fossem os muitos problemas físicos e teriam sido ainda mais espetaculares.

3º Di Stéfano & Puskas – Dois dos maiores jogadores da história vencendo juntos duas Copas dos Campeões da Europa e quatro títulos espanhois pelo Real Madrid. Sintonia perfeita em campo, com um abrindo espaços para o outro e ainda forte amizade na vida pessoal. Monstros.

2º Bebeto & Romário – Carregaram nas costas a responsabilidade de acabar com um longo jejum de títulos da seleção brasileira. Primeiro em 1989, na Copa América em casa; cinco anos depois o Mundial nos Estados Unidos. De quebra uma prata olímpica em 1988. Se entendiam no olhar e sem o suporte de grandes meio-campistas.

1º- Pelé & Coutinho – Sem eles essa lista talvez nem existisse. Criaram no imaginário popular do Brasil e do mundo o simbolismo da dupla de ataque, com tabelas espetaculares, gols em profusão e muitos títulos pelo Santos. Faltou o protagonismo de Coutinho também na seleção, mas ainda assim viraram lendas.

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Cinco momentos em que o acaso protegeu o Brasil-2002 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/13/cinco-momentos-em-que-o-acaso-protegeu-o-brasil-2002/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/13/cinco-momentos-em-que-o-acaso-protegeu-o-brasil-2002/#respond Mon, 13 Apr 2020 05:45:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8296

Foto: Divulgação / FIFA

Se em 1982 não era para ser, vinte anos depois tudo conspirou a favor da seleção brasileira. Mesmo com quatro treinadores no ciclo – Vanderlei Luxemburgo, Candinho, Emerson Leão e Luiz Felipe Scolari – e muita desorganização, sem grupo nem time definido até dois meses antes da viagem para a Ásia.

É óbvio que houve muitos méritos em campo e fora dele na conquista do título mundial, o quinto e último da seleção mais vencedora do planeta, mas o acaso protegeu a “Família Scolari” em momentos cruciais até a grande final, relembrada pela TV Globo no domingo. Por isso o blog lista cinco acontecimentos que ajudaram a construir a história do campeão mundial no Japão e na Coréia do Sul.

1 – O descarte de Romário

Felipão nunca explicou com clareza a razão de ter descartado Romário bem antes da lista final para o Mundial, apesar do clamor popular, especialmente no Rio de Janeiro, sede da CBF. A cada entrevista uma versão diferente, inclusive admitindo que quase cedeu ao último apelo emocionado do craque veterano. Mas sempre sinalizou que tinha a ver com gestão de vestiário, falta de confiança no jogador.

A decisão, porém, beneficiou mais o treinador no campo. Sem o heroi do tetra, Felipão pôde encaixar o trio de R’s – Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo Fenômeno –  que o encantou nos 4 a 2 sobre a Argentina num amistoso em Porto Alegre, ainda sob o comando de Luxemburgo em 1999. Com o Baixinho, o técnico poderia ser pressionado e antecipar em quatro anos um “quarteto mágico” só no papel que dificilmente funcionaria na prática. Até pela pouca mobilidade de Romário com 36 anos.  Com o título, Felipão saiu como heroi visionário que assumiu os riscos e tinha razão.

2 – A “descoberta” de Gilberto Silva e Kléberson

Felipão virou 2002 com um time na cabeça, usando a base da equipe que venceu a Venezuela por 3 a 0 em São Luís e esperando pela incógnita Ronaldo, em recuperação de seríssima lesão no joelho direito. Mas faltavam opções para fechar os 23 convocados. O caminho até então tinha sido tortuoso, com eliminação na Copa América para Honduras e sofrimento para se classificar para o Mundial, com vaga confirmada só em novembro.

Nos primeiros amistosos do ano, Felipão resolveu fazer experiências convocando jogadores que vinham se destacando no cenário nacional. Nas goleadas sobre Bolívia por 6 a 0 no Serra Dourada e 6 a 1 na Islância em Cuiabá, além do 1 a 0 sobre a Arábia Saudita, em Riad, acabou “descobrindo” Gilberto Silva e Kléberson. A dupla dos Atléticos – Mineiro e Paranaense, este campeão brasileiro – marcou cinco gols e foi convocada para a reserva de Emerson e Juninho Paulista. Terminaram a campanha como titulares e fundamentais. Mérito do treinador, mas também muita sorte em uma escolha forçada pelas circunstâncias.

3 – As eliminações das favoritas Argentina e França

O Brasil estreou no Mundial diante da Turquia com tantas incertezas que pensar em título era utópico. Principalmente porque havia duas seleções como favoritas destacadas: a Argentina intensa de Marcelo Bielsa, líder das Eliminatórias e inspiração para o 3-4-3 de Felipão, e a França campeã mundial de 1998, da Eurocopa em 2000 e da Copa das Confederações em 2001. Disparada a melhor seleção do planeta.

Mas a Albiceleste sucumbiu em um duro grupo com Inglaterra, Nigéria e Suécia e voltou para casa. Assim como a França de jogadores desgastados e Zinedine Zidane destruído pela temporada europeia com título da Liga dos Campeões e golaço na final. Eliminada sem ir às redes uma única vez contra Uruguai, Senegal e Dinamarca. Vexames que pavimentaram o caminho para a seleção brasileira.

4 – O gol anulado da Bélgica nas oitavas

O primeiro tempo da disputa das oitavas de final foi de tensão pura para a equipe de Felipão. Totalmente desorganizada, com um buraco entre os três zagueiros, os alas Cafu e Roberto Carlos, mais Gilberto Silva à frente da defesa, e os três talentos na frente que Juninho Paulista não conseguia cobrir.

A Bélgica jogava com personalidade e muitos espaços, por dentro e nas laterais. Aos 35 minutos, uma jogada trabalhada com toda liberdade desde a ligação direta do goleiro De Vliegers foi parar no setor direito e de lá o cruzamento na cabeça de Marc Wilmots. Disputa absolutamente normal com Roque Junior, bola na rede e gol anulado. Um absurdo que tranquilizou a seleção que, na volta do intervalo, mesmo sem jogar bem, achou dois gols no talento de Rivaldo e Ronaldo e também o time da reta final com Kléberson na vaga de Juninho.

5 – A ausência de Ballack na final

A decisão em Yokohama foi tensa e equilibrada. A rigor, definida pela noite feliz de Marcos, um dos herois da conquista com grandes defesas, e a falha grotesca de Oliver Kahn, eleito o melhor da Copa antes da final, no primeiro gol de Ronaldo. Artilheiro letal ao aproveitar os erros adversários e também os lampejos de Rivaldo, que não foi bem na primeira etapa.

Clássico mundial que poderia ser ainda mais duro se o craque da Alemanha entre os dez da linha estivesse em campo. Michael Ballack foi suspenso pelo segundo amarelo na semifinal contra a Coreia do Sul. O autor do gol que colocou a desacreditada equipe de Rudi Voller na final. Liderança técnica e anímica, uma ausência que isolou Miroslav Klose no ataque e tirou volume de jogo dos alemães. O golpe derradeiro da ventura que empurrou o Brasil para o título.

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Atacante brasileiro mais subestimado não é Careca, Rivaldo nem Bebeto http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/27/atacante-brasileiro-mais-subestimado-nao-e-careca-rivaldo-nem-bebeto/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/27/atacante-brasileiro-mais-subestimado-nao-e-careca-rivaldo-nem-bebeto/#respond Fri, 27 Mar 2020 12:16:14 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8213

Foto: Arquivo / CBF

O tema surgiu novamente, até pela pausa no futebol em todo mundo, e vale uma contextualização sem paixões, nem memórias afetivas.

É dever reconhecer que Rivaldo, de fato, é menos reverenciado do que deveria. Importante em duas Copas do Mundo, decisivo em 2002. Craque da Copa América de 1999 também. Talvez não tenha sabido mesmo vender a própria imagem e foi eclipsado por Romário, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho.

Mas quem ganhou Bola de Ouro, justa premiação pelo ano mágico de 1999, não pode ser chamado de “esquecido” ou subestimado. O período foi prolífico de talentos no ataque e Rivaldo tinha uma característica bastante peculiar: era de lampejos e oscilava bastante dentro das próprias partidas. Capaz de sumir do jogo, às vezes prender demais a bola…mas de repente aparecer no estalo do craque.

Em alguns momentos, porém, o lampejo não apareceu e o desempenho caiu vertiginosamente. Como em 1996, nas Olimpíadas de Atlanta. Convocado como um dos acimas de 23 anos ao lado de Aldair e Bebeto, teve atuação trágica na eliminação para a Nigéria. Nada que não tenha sido compensado posteriormente, em clubes e seleção.

O mais subestimado também não é Careca. Longe disso. Idolatrado por são-paulinos e torcedores do Napoli, teve momentos brilhantes, de fato. Campeão brasileiro “precoce” com 19 anos em 1978, craque e artilheiro da principal competição nacional em 1986. Grande parceiro de Maradona em Nápoles. Autor do gol contra o Chile no Maracanã que classificou o Brasil para o Mundial de 1990.

Mas, objetivamente, falhou na seleção quando teve a chance de ser protagonista em Copas do Mundo. Seja fugindo das cobranças de pênalti nas quartas de final contra a França em 1986, sendo o artilheiro brasileiro com cinco gols. Ou quando se esperou demais dele, em 1990, porém foi eliminado nas oitavas pela Argentina – pior classificação brasileira desde 1966 – e perdendo um gol feito no início da partida.

Careca foi camisa nove e referência da seleção de 1986 a 1992. O único título conquistado no período foi a Copa América de 1989, disputada no Brasil. Careca ficou de fora, lesionado. O título veio com gol de Romário na final contra o Uruguai no Maracanã.

Muito bem assessorado por Bebeto, outro que poderia ser mais reconhecido. Craque do torneio continental há 31 anos, fundamental em 1994. O melhor companheiro de ataque de Romário, parceria que nasceu com a prata olímpica em Seul-1988.

Chave do sucesso das duas equipes, por ser um atacante com visão de jogo de armador. Compensava com criatividade os meias que jogavam muito mais como “secretários” dos laterais: Silas e Valdo em 1989, Mazinho e Zinho em 1994. Bebeto recuava e procurava Romário. Ainda marcava gols importantes, como contra os Estados Unidos na Copa do Mundo, e antológicos, como o de voleio sobre a Argentina no Maracanã.

Talvez tenha faltando um pouco mais de personalidade. Difícil imaginar Romário aceitando um tapa do treinador Carlos Alberto Silva em 1987. Bebeto também pagou por uma decisão equivocada no retorno ao Brasil: a volta ao Flamengo em 1996 não conquistou rubro-negros, ainda magoados pela saída para o Vasco em 1989, e ainda revoltou cruzmaltinos, que o alçaram à condição de ídolo e nunca imaginaram que ele pudesse escolher o grande rival. Outro impacto em sua imagem.

O atacante brasileiro mais subestimado da história chama-se Edvaldo. Edvaldo Izídio Neto. Ou Vavá. Ou “Peito de Aço”. Ou “Leão da Copa”. Pernambucano como Rivaldo, centroavante como Careca, discreto como Bebeto.

Bicampeão mundial em 1958/1962, as duas únicas Copas que disputou. Marcando nove gols, como Jairzinho e Ademir Menezes, só superados por Pelé e Ronaldo Fenômeno. Único da história a marcar em duas finais consecutivas, contra Suécia e Tchecoslováquia.

Cinco gols em 1958. Dois contra a União Soviética que impediram a eliminação na fase de grupos. O que abriu o placar na semifinal contra a França e os dois que decretaram a virada para 2 a 1 que terminaria em 5 a 2 na final. Mais quatro em 1962, sendo um dos seis artilheiros do Mundial no Chile. O mesmo número de bolas nas redes de Garrincha, o craque daquela edição.

Ainda seria campeão por Vasco, Palmeiras e América do México. Teve também sucesso na Europa, critério que os mais jovens utilizam para medir jogadores do passado. No Atlético de Madri, conquistou a Copa do Rei em 1960 e 1961 vencendo o Real Madrid nas duas finais. Ainda foi o artilheiro da então Copa dos Campeões da Europa em 1958/59. Só voltou ao Brasil em 1961 para jogar no Palmeiras para facilitar a convocação para a Copa no ano seguinte.

Morreu em 2002, aos 67 anos, sem o devido reconhecimento. Também frustrado por não ter sido treinador do Vasco, paixão desde menino.

Para a “geração internet” é um desconhecido. Na foto que ilustra o post, certamente será o menos reconhecido ao lado de Garrinha, Didi, Pelé e Zagallo. É claro que havia outros protagonistas na seleção bicampeã, mas Vavá foi fundamental. Não só com gols, mas também com movimentação que abria espaços para Pelé, depois Amarildo. Com o ponta “formiguinha” mais recuado, o centroavante caía pela esquerda e deixava o corredor central para o os companheiros infiltrarem. Também por isso colocou Mazzola e Coutinho no banco em duas Copas.

Não era um primor técnico, mas compensava com vigor, inteligência, fibra, boa colocação na área e precisão nas finalizações. Imagine em tempos midiáticos um jogador com seus feitos. Por isso vale a lembrança para fazer justiça a quem de fato merece.

 

 

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O que tem faltado à seleção brasileira desde 2002? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/22/o-que-tem-faltado-a-selecao-brasileira-desde-2002/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/22/o-que-tem-faltado-a-selecao-brasileira-desde-2002/#respond Sun, 22 Mar 2020 13:12:56 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8186

Foto: Arquivo / CBF

“O Brasil não pode estar tantos sem ser campeão mundial”. Palavras de Jorge Jesus em entrevista ao canal Fox Sports.

Em 2022 serão vinte anos. Menos que os 28 entre 1930 e 1958 e os 24 que separaram as Copas no México e nos Estados Unidos. Mas, de fato, muito tempo para quem costuma ser competitivo até quando não vive seus melhores momentos.

Pode ser algo natural, como a Alemanha que ficou de 1990 a 2014 sem a conquista, mesmo chegando à decisão em 2002 e sendo semifinalista nas duas Copas seguintes, uma delas em casa. Ou a sinalização de que a Europa está levando para o universo de seleções a superioridade que ostenta entre os clubes. Em técnica, tática e gestão, não bastando mais aos sul-americanos contar com os craques.

Desde 2012, um sul-americano não conquista o Mundial de Clubes. Desde 2002, os europeus vencem os Mundiais. Dois na Europa (Alemanha e Rússia), mas um na África (do Sul) e outro no Brasil. Único país sul-americano vencedor no Velho Continente em 1958 e que sediou o primeiro Mundial na América conquistado por um europeu.

Observando caso a caso, porém, é possível notar que tem faltado “timing” à seleção brasileira. Em 2005, 2009, 2013 e 2017, anos anteriores às Copas, viveu momentos melhores que na “hora da verdade”. Objetivamente, a campeã mundial não costuma ser a melhor do ciclo de quatro anos, mas a que sobrevive nas circunstâncias daquele mês de disputa.

O problema é que não há como mensurar isso, muito menos planejar. Pior ainda no Brasil, em que se cobra resultados da seleção até em amistosos. A ponto de Dunga tratar os primeiros jogos de 2014, ainda com o trauma dos 7 a 1, como verdadeiras finais. Muitas vezes deixando as substituições naturais de uma partida que não vale pontos para o final, ganhando tempo e administrando a vitória.

Ou Tite tratando o primeiro confronto contra os alemães depois do “Mineirazo”, a menos de três meses do Mundial, como uma final de Copa e também fazendo substituições no final para garantir a vitória por 1 a 0, gol de Gabriel Jesus. Superestimando uma Alemanha já sinalizando uma queda que se concretizaria na Rússia, com eliminação na primeira fase.

O país pentacampeão precisa ganhar sempre. E as eliminatórias sul-americanas acabam sendo tratadas como uma Copa de pontos corridos. Melhores campanhas para as Copas de 2006, 2010 e 2018. O que significaram? Grupos praticamente fechados, um trabalho torto de “manutenção” que tirou os desafios e acomodou os titulares absolutos. Sem contar a chance que dá para os adversários estudarem os padrões para anulá-los.

Em 2018, algo suis generis. Uma mudança na proposta de jogo dentro das necessidades de dois fatos não planejados: a queda de rendimento de Renato Augusto, seguido de problemas físicos, e a dificuldade para furar a linha de cinco na defesa da Inglaterra praticamente reserva no empate sem gols em Wembley.

Era novembro de 2017 e Tite resolveu criar uma nova maneira de atacar, mais posicional. Abriu Willian na ponta direita, colocou Daniel Alves para articular por dentro, centralizou Coutinho e ficou sem um organizador no meio, que era Renato Augusto, além de quebrar a mobilidade que existia com Coutinho vindo da direita para dentro na execução do 4-1-4-1 das eliminatórias.

Não foi isso que decretou a eliminação para a Bélgica, mas as atuações apenas razoáveis na primeira fase e nas oitavas contra o México abalaram a confiança que desmoronou no primeiro tempo do duelo com o gol contra de Fernandinho, substituto do pilar Casemiro, e o segundo de Kevin De Bruyne. A reação na segunda etapa com bombardeio contra a meta de um inspirado Courtois não foi suficiente para a virada.

De 2005 a 2013, outro fator que aumentou a impressão de que estava tudo certo e bastava esperar 12 meses, sem evolução, apenas para confirmar o hexa: a Copa das Confederações. Ou das ilusões.

Em 2005, uma Argentina desfalcada e exausta. Em 2009, a favorita Espanha tropeçando contra os Estados Unidos na semifinal e, quatro anos depois, a mesma Roja caminhando para um fim de ciclo e sem levar o torneio muito a sério tomando um 3 a 0 no Maracanã que criou o delírio coletivo de “O campeão voltou!”

O exemplo de 2002 também não é o melhor. Troca de comando técnico um ano antes, crise na eliminação para Honduras na Copa América e classificação sofrida na última rodada das eliminatórias. O acaso acabou protegendo bastante o Brasil na trajetória até o título na Ásia.

Primeiro a gratidão de Luiz Felipe Scolari acima da convicção. Aliviado por não ser o primeiro treinador a deixar o time canarinho fora de um Mundial, o técnico, ainda no vestiário do Castelão depois dos 3 a 0 sobre a Venezuela, prometeu que os onze que entraram em campo estariam na lista final.  Oito entrariam em campo na estreia contra a Turquia.

Três mudanças: Cafu, que entrou na vaga de Beletti, e dois do trio ofensivo – Ronaldinho Gaúcho, que até entrou no decorrer do jogo em São Luis, e Ronaldo Fenômeno, que se recuperava de gravíssimas lesões no joelho direito. O trio de “R’s”, com Rivaldo, era uma ideia de Felipão antes mesmo de assumir o comando técnico da CBF.

Em Porto Alegre, o treinador vira, sob o comando de Vanderlei Luxemburgo, o trio destruir a Argentina em 1999 num amistoso que terminou 4 a 2. Bastou posicionar Ronaldinho mais perto dos meio-campistas e Rivaldo próximo de Ronaldo para dar liga de vez.

Encaixe que se deu a partir das quartas contra a Inglaterra. Antes, sofrimento com uma equipe desequilibrada, que perdera o capitão Emerson lesionado na véspera da estreia e posicionou Gilberto Silva mais próximo do trio de zagueiros para dar liberdade aos alas Cafu e Roberto Carlos, o meia Juninho Paulista e o trio de ataque com posicionamento mais fixo: Ronaldinho e Rivaldo nas pontas, Ronaldo de centroavante. A ideia era emular o 3-3-1-3 de Marcelo Bielsa na Argentina.

Com Kleberson mudando o complicado duelo contra a Bélgica nas oitavas, Felipão rearrumou a equipe em um 3-5-2 que mantinha a variação com Edmilson adiantando como volante quando o adversário atuava com apenas um atacante. Mas dando liberdade de vez ao trio que acabou desequilibrando na reta final.

Uma Copa um tanto suis generis, com as favoritas França e Argentina saindo na primeira fase – muito pelo desgaste da temporada europeia que não sacrificou Ronaldo e Rivaldo, vindo de lesões – e arbitragens para lá de suspeitas. A mais escandalosa nas quartas favorecendo a anfitriã Coreia do Sul contra a Espanha. Mas também beneficiando o Brasil, como no pênalti mais que “mandrake” sobre Luizão nos 2 a 1 sobre a Turquia na fase de grupos e o gol anulado de Marc Wilmots para a Bélgica, ainda com zero a zero no placar.

Mas não tira os méritos da conquista. O Brasil foi a melhor seleção naquele mês de junho. Como precisa ser no final de 2022, se houver Mundial no Catar em um cenário de pandemia e eventos esportivos empurrados para frente no mundo todo.

A questão é como construir uma trajetória de evolução constante até a Copa. Como fizeram, por exemplo, Espanha e Alemanha. A Roja em um ciclo que duraria até a Euro de 2012, os alemães persistindo com o trabalho de Joachim Low mesmo sem conquistas durante todo o período.

Tite terá tempo para refletir. Não se sabe como será o futebol depois da pandemia. A pausa, inclusive, não foi tão boa para a estrela maior, Neymar, de novo em alta com a classificação do PSG para as quartas da Liga dos Campeões.

A missão será inglória em qualquer cenário. Para encerrar o jejum que não é tão inaceitável como Jorge Jesus enxerga. Mas é claro que incomoda.

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Neymar é o melhor jogador brasileiro pós-Pelé, mas não o maior http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/13/neymar-e-o-melhor-jogador-brasileiro-pos-pele-mas-nao-o-maior/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/13/neymar-e-o-melhor-jogador-brasileiro-pos-pele-mas-nao-o-maior/#respond Wed, 13 Feb 2019 13:31:00 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5915

Imagem: Reprodução Placar

A edição especial de fevereiro da revista Placar rende homenagem aos 10 anos de carreira de Neymar no futebol profissional celebrando o craque do PSG como “o maior jogador brasileiro pós-Pelé”. Será?

Quem lê este blog sabe que aqui não há perseguição ao camisa dez da seleção brasileira e do Paris Saint-Germain. Pelo contrário, os textos procuram situar bem no contexto do futebol nacional e mundial a estrela solitária do país cinco vezes campeão do mundo.

Aliás, este é um fator a ser considerado na análise. Todos os nossos protagonistas sempre tiveram alguém para dividir responsabilidades e holofotes: o jovem Pelé teve Didi e Garrincha, em 1970 o veterano camisa dez dividiu com Gerson, Tostão, Rivelino e Jairzinho os méritos pelo tricampeonato mundial. Depois Rivelino viu Zico surgindo, mais tarde o Galinho seria a estrela junto com Sócrates e Falcão na equipe de Telê Santana.

No México, Careca surgiu como protagonista e logo ganhou a companhia de Romário e Bebeto, destaques do tetra em 1994. Depois Ronaldo Nazário com Rivaldo e em seguida Ronaldinho Gaúcho, que teria Kaká como parceiro.

Neymar segura a bronca desde 2010. No “vácuo” de Ronaldinho, Kaká, Robinho e Adriano que caíram de produção no mais alto nível, cada um por seus motivos, e não lideraram uma renovação na seleção brasileira. De lá para cá, desde Paulo Henrique Ganso a Philippe Coutinho e Gabriel Jesus, ninguém conseguiu de fato e por um bom período tirar este peso misturado com privilégio do nosso craque maior.

Mas respondendo objetivamente a pergunta do final do primeiro parágrafo, este blogueiro diria que Neymar é, sim, o melhor desde Pelé. Não o maior.

A análise sobre quem é melhor é absolutamente pessoal e subjetiva, envolve preferências pessoais, estilo, estética. Obviamente considerando jogadores dentro de uma mesma “prateleira” ou ao menos próxima. Neste contexto, Neymar pode ser colocado acima de Zico, Careca, Romário, Rivaldo, os Ronaldos e Kaká.

Porque é arco e flecha, arma e finaliza. Tem tudo para se tornar o segundo maior artilheiro da seleção, só atrás de Pelé. Provavelmente com média inferior a Ronaldo, Zico e Romário, mas um feito considerável dentro de um cenário muito mais parelho. Sem, por exemplo, as goleadas sobre seleções semiamadoras de outros tempos.

Neymar tem um repertório de jogadas superior aos “concorrentes”. E jogando com muito menos tempo e espaço para pensar e executar. 60 gols e 36 assistências em 96 partidas com a camisa verde e amarela. Em clubes(Santos, Barcelona e PSG), 291 bolas nas redes e 148 passes para gols em 469 jogos. Muita regularidade e interferência nos jogos e no desempenho de suas equipes.

Contestado? Obviamente, como todos os outros, fora Pelé, antes de vencer a primeira Copa do Mundo. Talvez a memória afetiva de muitos não permita recordar, mas Romário, Rivaldo e os Ronaldos, para ficar apenas nos destaques dos últimos dois títulos, tiveram sua capacidade colocada em xeque.

O Baixinho depois da expulsão tola contra o Chile em 1989 e a irresponsabilidade de jogar peladas com gesso na perna que prejudicaram a recuperação de uma fratura a tempo de disputar a Copa de 1990 em bom nível. Rivaldo foi execrado na Olimpíada de 1996 e, mesmo jogando bem no Mundial de 1998, conviveu com críticas por não render na seleção o mesmo que nos clubes até brilhar em 2002.

O Fenômeno aturou vaias em 1996, ganhou fama de “amarelão” em 1998 e só se redimiu com a conquista na Ásia. Ronaldinho também era cobrado para mostrar o mesmo rendimento do Barcelona e, depois de ser demonizado pela derrota em 2006 nunca mais recuperou prestígio na seleção.

Mas, ainda assim, são maiores que Neymar. Porque venceram a Copa do Mundo. Um feito que separa meninos de homens. E aumentam a distância porque o craque de hoje insiste em não amadurecer, principalmente fora de campo. Comportamento, posturas e palavras que impedem que se torne um ídolo nacional. E neste aspecto fica atrás de outros que também não levantaram taças, como Sócrates e Zico.

O posicionamento como figura pública também engrandece e Neymar vive numa espécie de bolha, no próprio mundinho. Eterno adolescente, mais produto que homem. Uma escolha que traz seus prazeres, mas também prejuízos. Ele parece não se importar, só quer se divertir jogando e com os “parças”. A vida, porém, não é só isso.

Neymar é o único com títulos de Libertadores, Liga dos Campeões e Mundial de Clubes. Não conquistou a Bola de Ouro porque compete com Messi e Cristiano Ronaldo, que provavelmente roubariam prêmios individuais dos brasileiros contemplados no passado. É craque com momentos geniais. O mais talentoso a surgir em nossos campos desde que Pelé parou de jogar, gostem os saudosistas ou não desta opinião.

Mas para ser o maior é preciso crescer. Eis o ponto que Neymar não parece entender. Ou não quer enxergar. Será que dá tempo depois dos 27 anos?

 

 

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Quando vamos aceitar de vez que o futebol mudou e nos tirou do topo? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/05/quando-vamos-aceitar-de-vez-que-o-futebol-mudou-e-nos-tirou-do-topo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/05/quando-vamos-aceitar-de-vez-que-o-futebol-mudou-e-nos-tirou-do-topo/#respond Tue, 05 Feb 2019 11:02:46 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5850

Seleção brasileira sub-20 perde para o Uruguai por 3 a 2, não tem mais chances de título do Sul-Americano e, com apenas um ponto em três rodadas do hexagonal, complica até a vaga para o Mundial da categoria. Campanha lamentável até aqui que provoca as “reflexões” de sempre sobre o futebol cinco vezes campeão do mundo. Incluindo um “editorial” de Galvão Bueno no programa “Bem, Amigos!” do SporTV.

“Geração mimada”, “chuteiras coloridas, cabelos  exóticos”, “jogadores de empresários”, “falta ginga”, “CBF corrupta e incompetente” são algumas das explicações para os insucessos. Talvez com alguma razão em todos os pontos, mas sem focar na questão central: o futebol mudou e nos tirou do topo.

Galvão citou como último grande momento da seleção brasileira a conquista da Copa das Confederações em 2005. Sim, o torneio da ilusão que inebriou o país naquele ano e também nas duas edições seguintes, em 2009 e 2013.

Pois nas vitórias sobre Alemanha e Argentina há quase 14 anos, um dos destaques foi Robinho. Um ano antes chamado de mimado, marrento e irresponsável ao baixar o calção do amigo Diego Ribas e se transformar no culpado pela eliminação no Pré-Olímpico, tirando a chance de uma geração promissora disputar os Jogos de Atenas.

É evidente que tem faltado um trabalho nas divisões de base com respaldo e apoio da gestão da CBF. Edu Gaspar virou coordenador por ser o homem de confiança de Tite, em uma bizarra inversão de valores. A base caiu no seu colo e as decisões foram tomadas sem grande conhecimento. Agora chega Branco com a típica “boleiragem” que ataca o periférico, com churrascos e críticas veladas à qualidade da geração, e mais uma vez esquece do principal: o campo.

A última vez que o Brasil contou com um trabalho de real integração entre seleção principal e a base foi com Mano Menezes e Ney Franco. Interação, estudo e antenas ligadas ao que estava acontecendo no futebol pelo planeta. Não por acaso foram as últimas conquistas do torneio continental e também do Mundial no Sub-20, em 2011.

O jogo mudou e nos empurrou para fora do protagonismo. Nos títulos coletivos e, consequentemente, nos individuais. Guardiola, Mourinho, Klopp, Ancelotti, Simeone e outros tiraram os trunfos dos nossos craques no cenário mundial: tempo, espaço e marcação individual.

Com linhas compactas, pressão sobre o homem da bola e o bloqueio por zona o jogador precisa pensar e agir rápido, tomar as decisões certas. Nossa cultura ainda é de jogo intuitivo e condução da bola. O “pra cima deles!” de Galvão ainda é o nosso mote. Mas como, se no domínio já tem alguém pressionando e na hora de partir para o drible e “gingar” há um muro de oito ou nove jogadores em, no máximo, 30 metros?

O Brasil conta com ótima geração de dribladores: Neymar, Douglas Costa, Vinicius Júnior, David Neres, Willian…Só que a questão agora é saber a hora de tentar a vitória pessoal, com um trabalho coletivo para potencializar o talento. Os treinadores nos clubes europeus conseguem, já os daqui…

Impossível dizer se Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Kaká, os brasileiros que ganharam os prêmios de melhor do mundo, conseguiriam se impor hoje. Mas é fato que Messi e Cristiano Ronaldo se adaptaram melhor ao contexto e sobraram por dez anos. Neymar tentou furar a bolha e se aproximar, mas sem sucesso. Luka Modric, que ganhou tudo em 2018, é o típico meio-campista que deixamos de formar. Arthur é a exceção à regra. Brotou meio ao acaso e deve gratidão eterna a Renato Gaúcho no Grêmio.

Tite conseguiu alguns espasmos de reação, com o título mundial do Corinthians em 2012 e tornando o Brasil competitivo, sobrando nas eliminatórias e equilibrando a disputa com as principais seleções do planeta. Mas ainda não é suficiente para recuperar protagonismo.

Já passou da hora de sermos humildes e aceitarmos que se o futebol brasileiro não tem vencido é porque outros estão trabalhando melhor. Não é saudável nem inteligente se agarrar a teses simplistas ou ao saudosismo. Porque aí seremos nós os mimados, não os jovens com potencial que viram alvos das críticas a cada revés.

A bola não é mais nossa e a saída é trabalhar, não choramingar sem tirar os olhos do próprio umbigo.

 

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O abismo de centímetros entre Romário e Neymar http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/10/o-abismo-de-centimetros-entre-romario-de-neymar/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/07/10/o-abismo-de-centimetros-entre-romario-de-neymar/#respond Tue, 10 Jul 2018 10:10:21 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4882

17 de julho de 1994. Rose Bowl, Pasadena, Estados Unidos. Brasil e Itália decidem a Copa do Mundo. Disputam o tetracampeonato, repetindo a final de 1970. Um tira-teima depois da vitória da Azzurra sobre a seleção de Telê Santana em 1982. Disputa direta entre Romário e Roberto Baggio pelo prêmio de melhor jogador da Copa e, consequentemente, do mundo naquele ano.

Arrigo Sacchi voltava a contar com Franco Baresi na defesa depois de uma milagrosa recuperação de uma lesão séria no joelho. Um extraordinário defensor, mas não deixava de ser incógnita quanto à sua condição física e ao ritmo de jogo para uma final de Copa. Ainda mais no calor sufocante de verão americano naquela tarde de domingo.

Era a chance de Romário brilhar, já que Roberto Baggio também sofria com desgaste físico, inclusive atuando com uma proteção na perna direita. Mas o Baixinho não repetiu o bom desempenho de toda a campanha brasileira. Cinco gols e uma assistência para Bebeto marcar o gol salvador contra os Estados Unidos em 4 de julho.

Baresi controlou bem as arrancadas de Romário ao longo dos 90 minutos. Na prorrogação, com Viola e mais fôlego, os espaços apareceram. Surgiu a chance de se consagrar completando passe de Cafu. Mas o camisa onze perdeu na pequena área. Uma chance que não costumava desperdiçar. Decisão por pênaltis, a primeira da história das Copas. Com personalidade, pediu ao treinador Carlos Alberto Parreira para cobrar. Não bateu bem, mas deu sorte de Pagliuca saltar para o outro canto e a bola tocar na trave direita e cair dentro do gol. A última cobrança, de Baggio, entrou para a história e o Brasil comemorou o tetracampeonato.

Foi a consagração de Romário. Prometeu classificar o Brasil e fez dois gols no Uruguai na última partida das Eliminatórias. Garantiu a conquista do tetra e não decepcionou. Todos os méritos para ele.

Mas imaginemos que aquele chute, por um detalhe do futebol e da vida, tocasse na trave e fosse para fora. Pênalti perdido pelo melhor do time. Poderia abalar a seleção pressionada por críticas e 24 anos sem títulos. A Itália poderia ter se aproveitado e virado a história do avesso.

Centímetros que salvaram um Romário sempre polêmico. Criticado em 1990 por não ter cuidado bem de uma fratura na perna jogando pelo PSV. Disputou pelada com gesso, tratou com a sua rezadeira Dona Nazaré da Vila da Penha. Foi para o Mundial na Itália, mas não rendeu o esperado. Disputou apenas o jogo contra a Escócia. Já tinha perdido a vaga de titular no ano anterior para Careca por ter sido expulso contra o Chile em Santiago pela Eliminatória,  complicando a equipe de Sebastião Lazaroni que precisou vencer no Maracanã na famosa partida da farsa do goleiro Rojas e da “fogueteira”.

Romário que teve seus privilégios nos Estados Unidos. Não só a liberação de treinos físicos e outras atividades que entendiavam o Baixinho. Jornais da época publicaram fotos de uma “namorada” que o atacante teria levado para a concentração da seleção, mesmo em dias que não eram de folga. Segundo as fontes, Parreira e Zagallo sabiam, o capitão Dunga também. Tudo foi abafado para não perturbar a estrela máxima da seleção.

Não é difícil prever o que aconteceria caso o Brasil não fosse campeão do mundo. Na caça às bruxas de sempre, o maior alvo seria o centro das atenções. Alguma dúvida de que tudo que hoje é tratado como “folclórico” seria motivo para demonização, mesmo sendo decisivo nas partidas anteriores?

É bom lembrar que a capacidade e a personalidade de Ronaldo Fenômeno também foi questionada pela convulsão e atuação apática na final da Copa de 1998 até escrever uma das maiores histórias de redenção do esporte com o título e a artilharia em 2002. Até de “amarelão” foi chamado, em colunas e mesas redondas. Sem contar as vaias em 1997 e 1998 quando não rendia.

Ronaldinho virou vilão em 2006. Rivaldo foi perseguido em 1996 pelo desempenho pífio na seleção olímpica. Kaká já foi alvo de pipocas no São Paulo e também criticado pelo desempenho com a camisa verde e amarela em 2006. Todos Bolas de Ouro, como Romário. Até Pelé, que teria um busto em cada esquina em qualquer país do mundo que ama futebol, é criticado e ironizado no Brasil.

Todos tinham um outro craque para dividir um pouco os holofotes. Pelé teve Garrincha, Romário teve Bebeto, depois Ronaldo. Fenômeno que teve Rivaldo, mais tarde Ronaldinho Gaúcho que chegou a dividir o bastão com Kaká.

E chegamos a Neymar. Estrela única do futebol brasileiro atual. A referência na bola e na mídia. Com idiossincrasias e privilégios, como quase todo destaque. Como Messi na Argentina e no Barcelona, Cristiano Ronaldo em Portugal e no Real Madrid. Como Romário por onde passou.

Criticado no inicio da Copa por individualismo, simulações, irritação. A partir do jogo contra a Sérvia, até por estar pendurado com um cartão amarelo, focou no futebol e foi importante para a classificação brasileira. Diante do México, a melhor atuação com gol e o chute que Ochoa deu rebote e Firmino completou. Pisado por Layun, pode ter exagerado na reclamação, mas não a ponto de transformar o agressor em vítima como Juan Carlos Osorio tentou fazer parecer.

Com o camisa dez brasileiro mais concentrado e rendendo, as críticas ficaram mais discretas. Ou veladas. Afinal, a cobrança era para que ele jogasse futebol e esquecesse as polêmicas, os enroscos. Foi o que fez. Mas quem persegue fica à espreita esperando o momento do bote. Ele veio.

Contra a Bélgica, atuação irregular como todo time. Mal no primeiro tempo pela desvantagem de 2 a 0. Mesmo com 26 anos, não tem o perfil de liderança de pegar a bola e conduzir a equipe. Nem Romário tinha. Em 1994, esta era a função de Dunga.

Melhorou na etapa final como toda a equipe. No ataque derradeiro, o belo chute que parou na defesa ainda mais espetacular do goleiro Courtois. Tocou na bola o suficiente para desviá-la e impedir o empate. Centímetros. De braço. De história.

Imaginemos Neymar empatando o jogo no final. Deixando o Brasil com vantagem física e emocional para a prorrogação. Com chances de marcar pelo menos mais um que garantisse a vaga nas semifinais. Alguém imagina como seria o discurso? No mínimo, exaltando a personalidade no momento decisivo.

Certamente lembrariam do desempenho fantástico nas disputas de mata-mata do título do Barcelona na Liga dos Campeões 2014/15. Superior a Messi, inclusive. Artilheiro junto com os dois gênios da geração. Gol em final. Ou a conquista da Libertadores de 2011 também marcando na decisão contra o Peñarol. Ou quando assumiu a responsabilidade e conduziu o Barcelona aos 6 a 1 sobre o PSG em 2017, arbitragem à parte. Feitos que Romário, por exemplo, não ostenta em seu currículo. Na única final europeia, derrota do seu Barcelona por 4 a 0 para o Milan.

De certa forma, Neymar também ajudou a colocar o Brasil na Copa. Ausente de boa parte dos jogos da Era Dunga nas Eliminatórias, assumiu a responsabilidade no início do trabalho de Tite. Quando os resultados eram fundamentais para tirar da incômoda sexta posição, fez um gol de pênalti, deu assistência no terceiro e participou da jogada do segundo, ambos de Gabriel Jesus nos 3 a 0 sobre o Equador em Quito. Nos 2 a 1 sobre a Colômbia, cobrou escanteio na cabeça de Miranda e marcou o gol da vitória. Terminou com seis gols, um a menos que Gabriel Jesus. Hoje parece quase nada, mas teve seu peso naquele momento de dificuldade.

Não aconteceu para Neymar na Rússia. E veio a onda de dedos apontados. Piadas e memes. De todo o planeta. Reduzindo Neymar a um pseudocraque que rola pelos gramados. Um mero produto da mídia mimado e que engana os incautos e pachecos. Marrento e antipático. Como se outros talentos não fossem. Como Romário.

Centímetros. Que salvaram Romário em 1994 na sua última Copa do Mundo. Em 1998, pelo temperamento complicado e por tudo que aprontou nos Estados Unidos e depois, não contou com a paciência de Zagallo para aguardar a recuperação de uma lesão na panturrilha. Em 2000, por conta de uma desavença com Vanderlei Luxemburgo no Flamengo em 1995, ficou de fora da Olimpíada. Dois anos depois, descartado por Luiz Felipe Scolari, viu o penta pela TV. Tudo porque era “difícil”. Também simulava faltas e pênaltis. Dobrava os joelhos e jogava o corpo para a frente. Mas aí entrava na cota da “malandragem”…

Como foi tetra virou mito. Com a fama de “jogar e decidir”, ainda que ostente poucos títulos para os 22 anos de carreira profissional. Merece o reconhecimento. Mas sabemos que um detalhe poderia ter jogado um dos maiores atacantes de todos os tempos no limbo da história.

Neymar corre este risco. Mesmo superando Romário na artilharia da seleção, agora com 57 gols – e homenageou o artilheiro aposentado na comemoração. Todos que não aceitam sua personalidade contraditória aproveitam o momento de baixa para a vingança. Ou apenas aproveitam para colocar em prática a crueldade de afirmar teses em cima da imagem dos outros.

Por centímetros do braço de Courtois. Com final diferente do efeito dos centímetros que levaram a bola da trave para dentro na cobrança de pênalti de Romário em 1994. Um chute não tão bom que entrou, outro perfeito interceptado na trajetória que parecia inevitável. Medida que cria um abismo entre dois dos maiores da história do futebol cinco vezes campeão do mundo.

No Brasil do pensamento binário, no qual quem não odeia é passador de pano, é bom deixar claro: este post não é uma crítica a Romário. Este que escreve viu ainda garoto, em 1984, marcando gols pelos então “juniores” (sub-20) do Vasco nas preliminares do Maracanã. E tantas vezes testemunhou no estádio o talento do gênio da grande área do século 20. Um ídolo.

Muito menos a intenção é blindar Neymar. Quem acompanha o blog sabe que este que escreve evita mencionar o nome do personagem que mais atrai cliques na internet. Oportunismo aqui passa longe. E para massacrar já há gente até demais. Mas não discordo de quem considera Neymar mal orientado e assessorado. Na bolha em que vive há quase uma década ele precisa de uma voz que o conecte à realidade para evitar certos desgastes desnecessários. Já passou da hora de amadurecer.

O texto e o “se” que o norteia propõem apenas uma reflexão sobre a nossa capacidade de idolatrar ou ridicularizar por um resultado. Definido por detalhe, pelo imponderável. Tão pouco. Centímetros.

 

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Qual é o seu Brasil x Argentina inesquecível? O meu, um amistoso histórico http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2015/11/12/qual-e-o-seu-brasil-x-argentina-inesquecivel-o-meu-um-amistoso-historico/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2015/11/12/qual-e-o-seu-brasil-x-argentina-inesquecivel-o-meu-um-amistoso-historico/#respond Thu, 12 Nov 2015 10:14:08 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=169 Será o 101º confronto entre os maiores rivais da América do Sul – 39 vitórias brasileiras, 36 argentinas e 25 empates. Nas partidas oficiais – Copa América, Copa das Confederações e Copa do Mundo – a vantagem é da albiceleste: em 37 partidas, 16 vitórias contra 12 brasileiras e nove empates.

Qual o seu jogo inesquecível? Para este que escreve, que começou a acompanhar futebol com algum discernimento a partir de 1981, há algumas vitórias marcantes: os 3 a 1 na Copa do Mundo da Espanha em 1982 e 2 a 0 na Copa América de 1989 no Maracanã.

A mais emblemática, porém, foi em um amistoso. Setembro de 1999. Dois confrontos – não era o “Clássico das Américas”. No primeiro, 2 a 0 para a Argentina no Monumental de Nuñez no dia 4, um sábado. Gols de Verón, em falha do goleiro Dida, e Crespo. Um passeio da equipe de Marcelo Bielsa.

Na volta em Porto Alegre, o primeiro registro na memória: apesar de toda pressão, Vanderlei Luxemburgo não mexeu na escalação. Apenas fez ajustes e trabalhou o aspecto motivacional para a disputa no Beira-Rio no feriado da Independência.

Deu certo. Um massacre brasileiro: 4 a 2. Três de Rivaldo, um do Ronaldinho – o Ronaldo Fenômeno, ainda chamado no diminutivo, dando ao jovem parceiro a alcunha de “Gaúcho”. Mudança de “atitude” e também tática: desmanche do habitual 4-3-1-2 de Luxemburgo à época, recuo do Gaúcho junto a Rivaldo e Ronaldinho mais à frente.

A Argentina de Bielsa se confundiu. “El Loco” já trabalhava com a montagem da retaguarda de acordo com o ataque rival. Então sofreu com Vivas, Ayala e Samuel ora contra apenas um centroavante, ora enfrentando o trio ofensivo, sem sobras. Às costas de Zanetti, que batia com Zé Roberto, e Sorín, duelando com Vampeta, já que González substituiu Cláudio López para ficar aberto à esquerda e voltar com Cafu.

Emerson pegava Verón e Roberto Carlos esperava Ortega, mais pela direita. Tempos de perseguições individuais que quase sempre geravam um “efeito dominó”. Como Redondo era o típico “cinco” à frente da defesa, não acompanhava a movimentação de Rivaldo, que seria o melhor do mundo naquele ano. O camisa dez deitou e rolou. Marcou cinco gols legais para três serem validados pelo árbitro Oscar Ruiz.

Em tempos de perseguições individuais, cada um pegou o seu no clássico sul-americano. Menos Redondo, que não acompanhou Rivaldo, que deitou e rolou e seria eleito o melhor do mundo em 1999 (Tactical Pad).

Em tempos de perseguições individuais, cada um pegou o seu no clássico sul-americano. Menos Redondo, que não acompanhou Rivaldo, que deitou e rolou e seria eleito o melhor do mundo em 1999 (Tactical Pad).

Por que é histórico? Luiz Felipe Scolari, então treinador do Palmeiras, foi a Porto Alegre e viu o espetáculo do trio Rivaldo-Ronaldinho-Gaúcho. Em 2002, os protagonistas do quinto título mundial brasileiro na Ásia sob o comando de Felipão.

Anos depois, já com a rivalidade com Luxemburgo arrefecida, o técnico gaúcho admitiu que ali nasceu a ideia de juntar os três “Rs” no ataque canarinho. O blogueiro também não esqueceu. Confira no vídeo abaixo o jogo na íntegra:

E você, tem um clássico memorável entre estas seleções? Conte na caixa de comentários.

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