Romário – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 No aniversário de Zidane, os dez jogadores mais classudos da história http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/23/no-aniversario-de-zidane-os-dez-jogadores-mais-classudos-da-historia/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/23/no-aniversario-de-zidane-os-dez-jogadores-mais-classudos-da-historia/#respond Tue, 23 Jun 2020 12:24:28 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8681

Foto: Real Madrid

Sim, os rankings já saíram de “moda” nesta paralisação do futebol por conta da pandemia. Mas o aniversário de 48 anos de Zinedine Zidane lembrou este colunista de uma lista que estava na fila lá em meados de março e merece ser registrada.

Então seguem os dez jogadores mais classudos da história. Ou, atualizando, os de mais elegantes gestos técnicos.

10º ENZO FRANCESCOLI – O ídolo de Zidane, inspiração para o nome do primogênito do craque. O craque da seleção uruguaia e do River Plate precisa estar nesta lista.

9º ROMÁRIO – Pouco se fala nessa característica do “gênio da grande área”, mas tanto nas finalizações quanto em passes e domínios o Baixinho esbanjava elegância. Inclusive é o que diferencia o herói do tetra na eterna comparação com Ronaldo Fenômeno.

8º FERNANDO REDONDO – Uma pena as seguidas lesões atrapalharem uma carreira que poderia ter sido bem mais brilhante. Ainda assim, era bonito ver o volante argentino em campo, protegendo a defesa e qualificando a saída de bola.

7º ANDREA PIRLO – Mais um que jogava “de terno”. E bastou recuar o posicionamento depois de ser um típico camisa dez para ganhar espaços e mostrar a destreza em passes curtos ou lançamentos atuando como um “regista”.

6º MATT LE TISSIER – O craque “cult” do Southampton nos anos 1990. Gols de cobertura, cobranças perfeitas de pênalti. Se ainda não conhece as preciosidades desse gênio um tanto desleixado abra agora uma aba no Google ou no Youtube.

5º PAULO ROBERTO FALCÃO – O “Rei de Roma”. O desempenho mais regular entre os brasileiros na Copa de 1982, tri brasileiro pelo Internacional. Sabia jogar como volante ou meia mais adiantado, mas sempre parecia flutuar em campo.

4º ADEMIR DA GUIA – Os vídeos do maior ídolo do Palmeiras são impressionantes. Esguio, “falso lento”, genial na arte de fazer o simples parecer tão belo. Vencedor na união de eficiência e plástica.

3º FRANZ BECKENBAUER – O rei das trivelas objetivas. Com o pragmatismo misturado com senso estético que só um alemão saberia dosar com tamanha perfeição. Como volante vice-campeão mundial em 1966 ou líbero ganhando a Copa do Mundo em casa e no Bayern mais vencedor da história.

2º DIDI – O craque da Copa do Mundo de 1958, aquela que apresentou Pelé e Garrincha para o mundo. Só isso já faria dele um gênio atemporal, mas ainda desfilava em campo com repertório de dribles, passes, lançamentos e chutes de incrível originalidade para a época. Um espetáculo.

1º ZINEDINE ZIDANE – Ele. O rei dos vídeos de skills na internet. Com estilo até para soltar um tiro de pé esquerdo para decidir a Liga dos Campeões 2001/02. No dicionário a palavra “classe” deveria vir com a foto de “Zizou”. Feliz aniversário, gênio!

MENÇÕES HONROSAS (ou os que completariam um top 15): Bobby Moore, Geovani (Vasco), Alex, Riquelme e Michel Platini.

 

 

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Yaya Touré no Vasco lembra as manchetes do velho “Jornal dos Sports” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/22/yaya-toure-no-vasco-lembra-as-manchetes-do-velho-jornal-dos-sports/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/22/yaya-toure-no-vasco-lembra-as-manchetes-do-velho-jornal-dos-sports/#respond Fri, 22 May 2020 12:44:16 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8528

Imagem: Reprodução

“Maradona no Flamengo”, “Schuster no Fluminense”, “Romerito no Vasco”. Essas eram as manchetes frequentes no início dos anos 1980, quando este que escreve se apaixonou para sempre pelo futebol.

Principalmente de um jornal que fez história no Rio de Janeiro. O lendário Jornal dos Sports, de páginas rosas inspiradas na publicação francesa L’Auto, depois L’Equipe, embora o imaginário popular até hoje aponte para o periódico italiano La Gazzetta dello Sport.

Não que as informações fossem inventadas sempre. Sempre houve jornalistas menos cuidadosos com a notícia. Até hoje há alguns “especialistas” em criar negociações, interesses e sondagens. Mas muitas vezes havia “fumaça” mesmo, embora pouco confiável. Normalmente partindo de dirigentes querendo desviar o foco das derrotas de algum dos grandes cariocas. Ou para iludir o torcedor com um “pacotão de reforços” na virada da temporada, mesmo com os cofres vazios.

Avançando um pouco no tempo, o ano de 1999 foi prolífico nessas manchetes de fim de temporada. Romário havia deixado o Flamengo e não queria sair do Rio de Janeiro. Surgiu, então, o interesse do Vasco, mas também do Botafogo. Carlos Augusto Montenegro anunciara um possível acordo: o artilheiro disputaria o Mundial de Clubes pelo time cruzmaltino e depois partiria para o Alvinegro, com o patrocínio de uma empresa alimentícia.

Nunca se concretizou. Assim como o interesse do Fluminense em Viola, que seguiu no Vasco. E, como sempre, o Flamengo era o grande alvo dessas especulações. Ainda mais com o dinheiro da ISL, empresa que fechou parceria com o clube, então presidido por Edmundo dos Santos Silva. Na capa, Giovane Élber era o nome para substituir Romário. Continuou no Bayern de Munique até 2003 e na Europa até 2005.

Edmundo também prometeu Batistuta. Ficou com 50%, ou apenas o centroavante Tuta, de passagem esquecível em meio às tantas contratações de fato daquele ano: Edilson, Denilson, Alex, Petkovic e Gamarra. Todos acertos do Jornal dos Sports, estampados em suas capas.

Imagem: Reprodução

Outra fonte muito comum era o candidato à presidência que prometia um reforço de impacto caso fosse eleito, para atrair atenção e votos dos sócios do clube. Na época usava um recurso muito comum para explicar de onde viria o dinheiro: bilheterias de amistosos entre os clubes envolvidos. Um no Maracanã, outro na casa do “vendedor”. Eram tempos sem receitas de TV e, muitas vezes, de patrocinadores.

Voltemos a 2020. O Vasco deve salários e ficou até abril quitando débitos de 2019. A paralisação por conta da pandemia aprofundou a crise financeira. Tanto que após a saída de Abel Braga o clube resolveu apostar na efetivação do auxiliar Ramon Menezes.

Mas o candidato à presidência Leven Siano resolveu anunciar em uma transmissão ao vivo no Instagram que, caso eleito, contratará Yaya Touré. Inclusive com depoimento do próprio jogador marfinense, de 37 anos e sem clube, depois de passagem pelo Qingdao Huanghai, time da segunda divisão da China. Mas tudo, obviamente, depende do resultado das eleições no final do ano.

Como vai pagar? Isso fica para depois. Importante agora é ganhar o noticiário em um período sem futebol no país. Em tempos virtuais, é como colocar na capa do jornal. Se não tivesse deixado de circular no formato impresso em 2010, certamente o Jornal dos Sports teria hoje Yaya Touré chamando os leitores vascaínos para o devaneio. Assim como o próprio Montenegro, que sonhou com Romário há pouco mais de 20 anos, ainda pretende levar o jogador para o Botafogo.

Tempos saudosos, lúdicos. Às vezes era gostoso ser enganado com falsas promessas. A realidade hoje é bem mais dura, mas ainda há quem acredite.

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Por que Edmundo não deu certo no Flamengo em 1995? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/19/por-que-edmundo-nao-deu-certo-no-flamengo-em-1995/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/19/por-que-edmundo-nao-deu-certo-no-flamengo-em-1995/#respond Tue, 19 May 2020 14:25:09 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8517

Foto: Acervo / Flamengo

Há 25 anos, Edmundo chegava ao Flamengo como a principal contratação do início da gestão Kléber Leite, depois da vinda de Romário. Recebido com festa e desfile em carro do Corpo de Bombeiros. Como não podia mais ser inscrito no Carioca e na Copa do Brasil, o atacante só poderia jogar o Brasileiro e a Supercopa Libertadores.

Nenhum problema para o presidente, nem para o treinador Vanderlei Luxemburgo. Embora a ambição no centenário do clube fosse conquistar todos os títulos, a conquista do Brasileiro era o principal objetivo, até para voltar a disputar a Libertadores. Por isso a contratação do técnico e do grande destaque individual do Palmeiras, bicampeão em 1993/94.

Só que a perda do estadual para o Fluminense, no lendário gol de barriga de Renato Gaúcho, fez explodir a crise de relacionamento entre Luxemburgo e Romário. E Kléber Leite deixou a corda estourar do lado do treinador, que não suportou a pressão de resultados ruins e a clara cisão no grupo. O melhor jogador do planeta em 1994, com a moral de campeão do mundo pela seleção, foi colocado naquele momento acima do clube e venceu a queda de braço.

Luxemburgo pediu demissão e o time foi ladeira abaixo. Não só porque Edinho não era o treinador para o momento que vivia o clube e o radialista Washington Rodrigues foi uma solução populista para acalmar a torcida, mas porque a autoridade de Romário transformou a gestão do futebol em uma bagunça generalizada.

Além disso, a sanha por contratações de Kléber Leite gerou uma reformulação no elenco que praticamente descartou a base que fizera a melhor campanha geral no Carioca – o Fluminense venceu o octagonal decisivo, mas o time rubro-negro conquistou a Taça Guanabara  – e foi semifinalista da Copa do Brasil, caindo para o forte Grêmio de Felipão que seria campeão da Libertadores.

O zagueiro Jorge Luiz, por exemplo, que havia feito um bom Carioca com gols e atuações destacadas foi um dos responsabilizados pelo fracasso no estadual  e partiu para o Atlético Mineiro. Para retornar no ano seguinte e ser um dos pilares do time campeão invicto do Rio de Janeiro.

Tudo ruiu sem Luxemburgo. Inclusive o encaixe de Edmundo no time. O treinador planejou e testou a equipe com três atacantes, colocando Mazinho, ex-Bragantino, como uma espécie de “dublê” da nova estrela. No jogo final contra o Fluminense errou ao trazer William de volta ao meio-campo. No segundo tempo, com Mazinho em campo, o Fla reagiu.

No plano de Luxa, Sávio seria adaptado como uma espécie de “enganche” em um 4-3-1-2 que teria Djair como a peça que faltou ao Fla no primeiro semestre e foi uma das chaves da reação do Fluminense de Joel Santana e Renato Gaúcho: o meio-campista organizador que faz o time jogar. O técnico rubro-negro tentou encaixar Válber e até Branco na função, porém sem sucesso.

Edmundo jogaria solto, se movimentando em torno de Romário, que ficaria mais fixo como centroavante. Não deu tempo e Luxemburgo e Edmundo sequer fizeram um jogo oficial juntos pelo Flamengo. “Interrompeu um projeto que poderia ter sido bem sucedido, todos saíram perdendo”, lembrou Luxemburgo em entrevista anos depois.

Já Edmundo, que se transformaria em desafeto do treinador, culpa a desorganização do clube: “o marketing ficou maior que o futebol e nossas viagens eram uma farra, não era sério”, afirmou em entrevista a Teo José para o Fox Sports, canal que tem o ex-jogador como comentarista.

Edinho montou um time engessado com Edmundo e Sávio nas pontas e Romário no centro e Washington Rodrigues “ganhou” uma suspensão de dois jogos do “Animal” pela famosa confusão com Zandoná em um jogo contra o Vélez Sarsfield, e ainda uma lesão: fratura do osso do pé esquerdo do camisa sete em disputa com o zagueiro Gamarra em Porto Alegre contra o Internacional, ficando de fora do resto da temporada.

Assim o “Apolinho”, amparado pelo auxiliar e treinador Arthur Bernardes, pôde montar um time mais equilibrado e competitivo, com meio-campo preenchido, e ao menos chegar à decisão da Supercopa contra o Independiente. O título esperado, porém, não veio e a campanha no Brasileiro foi pífia.

A saída de Luxemburgo foi decisiva para o fracasso do Flamengo no ano do centenário.  O projeto de “melhor ataque do mundo” virou piada e Edmundo, que ainda se envolveu em um acidente grave que matou três pessoas e feriu outras três, partiria para o Corinthians. Mesmo com Joel Santana, então o treinador em 1996, pedindo sua permanência. Simplesmente não havia mais clima. O “casamento” tinha terminado.

Edmundo faria sua história no Vasco como grande algoz do Flamengo. Foi o que ficou para a eternidade e ganhou força ao longo dos anos com o agora comentarista sempre demonstrando seu amor pela Cruz de Malta. Mas não foi o coração cruzmaltino que atrapalhou o atacante no rival. Ele apenas foi o craque certo na hora errada. Por culpa da bagunça rubro-negra em ano histórico. Um desperdício.

 

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A história que une Roberto Dinamite a Evair: criador e criatura http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/13/a-historia-que-une-roberto-dinamite-a-evair-criador-e-criatura/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/13/a-historia-que-une-roberto-dinamite-a-evair-criador-e-criatura/#respond Wed, 13 May 2020 14:03:26 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8479

Foto: NetVasco

“Foi difícil pensar só no jogo me vendo no Maracanã enfrentando o Vasco com ele em campo”. Palavras do jovem Evair à Rádio Globo do Rio de Janeiro, depois do Guarani fazer 3 a 0 sobre o time cruzmaltino no Maracanã, pelo jogo de ida das oitavas de final do Brasileiro de 1986.

O campeonato que revelaria o jovem artilheiro, então com 20 anos, que marcaria 24 gols e ficaria a um de Careca na artilharia. Vice também na competição com o time de Campinas, sendo derrotado nos pênaltis pelo São Paulo em eletrizante decisão no Brinco de Ouro.

Evair se referia a Roberto Dinamite, o grande ídolo da história do Vasco e maior artilheiro dos campeonatos brasileiros –  192 gols, entre outros feitos na carreira brilhante. Referência para tantos centroavantes que surgiram no Brasil naquele período. O camisa nove mineiro, nascido em Ouro Fino e que tinha o Santos como time na infância, marcaria dois gols naquele confronto que foi selado com outra vitória do Guarani, por 2 a 0 em Campinas.

Ambos tinham a mesma altura: 1,86 m. E Evair, de fato, em 1987 lembrava o Dinamite no início da carreira: porte físico, presença de área, precisão nas finalizações e alguma desenvoltura ao sair da referência no ataque para tabelar com seus companheiros.

Roberto já servia colegas de ataque no Vasco como Ramon, Amauri, Arthurzinho e Cláudio Adão. Mas foi com o jovem Romário, promovido aos 19 anos por Antonio Lopes em 1985, que Dinamite, aos 31 anos, construiu uma parceria que mudaria de vez as suas características em campo.

Em um 4-3-3, o então centroavante recuava para trabalhar como uma espécie de “enganche”, acionando o atacante que partia da esquerda infiltrando em diagonal para finalizar. Mas sem deixar de aparecer na área para concluir. Tanto que foi o artilheiro do Carioca de 1985, com um gol a mais que Romário, mesmo com o Vasco sequer chegando ao triangular decisivo daquela edição.

No ano seguinte, o inverso com Romário marcando 20 e Roberto, 19. O mesmo em 1987, com o Baixinho indo às redes 16 vezes e o Dinamite, 15. Parceria que se encerraria em 1988, com uma lesão de Roberto e depois Romário partindo para a Holanda jogar no PSV Eindhoven.

Até encerrar a carreira em 1993, Roberto atuou como esse centroavante que ficava mais adiantado quando o time não tinha a bola e recuava para articular, abrindo espaços para os companheiros no momento em que sua equipe atacava. Na prática, a movimentação de  um “falso nove”. Mais um no futebol brasileiro, assim como Neto no Corinthians campeão brasileiro de 1990.

“Nunca tinha pensado nisso, mas, de fato, ele cumpria essa função”, reconheceu Lopes em entrevista a este que escreve em 2012. Para aproveitar uma joia da base que viria a ser o melhor do mundo em 1994, o treinador descobriu um novo posicionamento para o centroavante vascaíno na reta final de sua carreira.

O Vasco de Antonio Lopes em 1986 que fez Roberto Dinamite recuar para que Romário infiltrasse em diagonal a partir da esquerda, formando uma das grandes duplas da história do futebol carioca (Tactical Pad).

Evair seguiu a vida no Guarani, sendo artilheiro do Paulista de 1988 e partindo para sua primeira experiência no futebol internacional, jogando pela Atalanta. Voltaria ao futebol brasileiro em 1991, para atuar no Palmeiras. Início difícil em um clube que sofria com 16 anos sem títulos. Chegou a ser afastado por “deficiência técnica” por Nelsinho Baptista.

Tudo mudou com a chegada de Vanderlei Luxemburgo em 1993. Treinador que havia sido estagiário de Antonio Lopes no início dos anos 1980, no próprio Vasco e também no América e no Olaria. Mas em 1986/87, trabalhando como técnico do sub-20 do Fluminense, testemunhou no Rio de Janeiro a grande fase da dupla Roberto-Romário, comandado pelo “mentor” Lopes.

Ao encontrar Evair no Palmeiras, junto com Edmundo e Edilson, se recordou da dinâmica do ataque cruzmaltino, que tinha Mauricinho pela direita completando o trio na frente. Em depoimento ao programa “Supertécnico” em 1999, Luxemburgo admitiu que se inspirou naquele Vasco para armar a dinâmica ofensiva de sua nova equipe.

Evair, mais experiente e com nítida evolução na leitura de espaços depois de passar pelo futebol italiano, recuava para trabalhar com os meio-campistas e permitia as entradas em diagonal de Edmundo e Edilson, depois Rivaldo no time que seria campeão paulista e brasileiro também em 1994. Mas sem deixar de se apresentar para as conclusões. Evair seria artilheiro do estadual daquele ano, com 23 gols. Virou ídolo eterno no Alviverde.

O Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo em 1993 tinha Evair fazendo o papel de “falso nove” para Edmundo e Edilson entrarem na área adversária (Tactical Pad).

Fechando uma espécie de “ciclo mágico”, Evair, aos 32 anos, encontraria Lopes no Vasco em 1997 para executar função semelhante, mais recuado para acionar o imparável Edmundo, craque e artilheiro recordista com 29 gols na campanha do terceiro título brasileiro do clube. Já aposentado, Roberto Dinamite viu o seu fã também virar ídolo no time da Cruz de Malta, ainda que em uma passagem efêmera de menos de seis meses.

De centroavante goleador a “falso nove” não menos letal na área adversária. Eis a pouco conhecida relação entre Roberto e Evair, na conexão entre Lopes e Luxemburgo. Criador e criatura.

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Vasco 1997/2000: “Era de Ouro” teve feito inédito no futebol brasileiro http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/29/vasco-1997-2000-era-de-ouro-teve-feito-inedito-no-futebol-brasileiro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/29/vasco-1997-2000-era-de-ouro-teve-feito-inedito-no-futebol-brasileiro/#respond Wed, 29 Apr 2020 12:06:18 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8397

O  Vasco mais lendário é o “Expresso da Vitória” nos anos 1940, pelo ineditismo do título sul-americano em 1948, segurando no Chile “La Maquina” do River Plate. A primeira conquista brasileira fora do território nacional, incluindo a seleção, que teria a base cruzmaltina, incluindo o treinador Flávio Costa, na Copa do Mundo de 1950.

O melhor que vi em campo foi o campeão da Taça Guanabara de 1987. Time comandado por Joel Santana que tinha Acácio; Paulo Roberto, Donato, Fernando e Mazinho; Dunga, Geovani e Tita; Mauricinho, Roberto Dinamite e Romário.

Sim, aquele que por um jogo me fez mudar de lado nas arquibancadas do Maracanã no “Clássico dos Milhões” que valeu a conquista do primeiro turno do Carioca. Com duas mudanças – Henrique no lugar de Dunga e Luis Carlos no lugar de Mauricinho – venceria o estadual sob o comando de Sebastião Lazaroni. Mas reconheço que isso é memória afetiva pura, apesar da qualidade técnica desses jogadores.

A “Era de Ouro” vascaína se deu mesmo entre 1997 e 2000 e teve seu auge com a conquista da Libertadores em 1998, ano do centenário do clube. Feito inédito entre os brasileiros até hoje. Fruto do amadurecimento de um trabalho que vinha desde 1996.

Com Antonio Lopes, hoje coordenador de futebol do Vasco aos 78 anos. Treinador que assumiu o time em sua quarta passagem com a missão de organizar a equipe em torno do talento de Edmundo, aproveitando a joia de 21 anos contratada ao Sport, Juninho Pernambucano e utilizando os jovens revelados nas divisões de base.

Depois do insucesso no Carioca de 1997, vencido pelo Botafogo no famoso gol de Dimba e com a lendária resposta dos alvinegros à reboladinha de Edmundo na frente de Gonçalves no primeiro jogo da decisão, Antonio Lopes, com a ajuda do então vice de futebol Eurico Miranda, arregaçou as mangas para formar uma equipe competitiva no Brasileiro.

Sem muito dinheiro em caixa, mas sempre contando com o auxílio financeiro dos beneméritos do clube, geralmente portugueses ou descendentes abastados do Rio de Janeiro, o clube buscou mesclar experiência, juventude e a “fome” de jogadores vindos de times pequenos.

“Fui buscar o Odvan no Americano e o Nasa no Madureira. O Mauro Galvão que estava sem jogar no Grêmio. O mesmo com Evair no Atlético Mineiro e juntei com a base que estava no clube e formei o time campeão”, revelou Lopes em entrevista ao “Triangulação”, podcast que este que escreve participa com os colegas e amigos Eugenio Leal e Rodrigo Coutinho.

Ainda traria Valber do São Paulo para ser uma espécie de “coringa”. Equipe que foi ganhando variações ao longo da campanha do título nacional. Revezando Valber, Maricá e Filipe Alvim na lateral direita, recuando Nasa para cobrir Felipe, jovem talento que foi ganhando cada vez mais liberdade com o tempo.

Na frente, Evair recuou para fazer dupla com Ramon ou Pedrinho para municiar a estrela iluminada daquele segundo semestre no futebol brasileiro: Edmundo, que seria artilheiro da competição, marcando 29 gols e quebrando o recorde de Reinaldo, do Atlético Mineiro. Os três últimos na goleada histórica por 4 a 1 sobre o Flamengo no quadrangular semifinal daquela edição.

O Vasco de 1997 tinha Nasa cobrindo Felipe pela esquerda e Evair recuando para dar ainda mais liberdade ao iluminado Edmundo no ataque (Tactical Pad).

Em alguns jogos era possível ver o time cruzmaltino numa espécie de “Árvore de Natal”: um 4-3-2-1 com Valber, Odvan, Mauro Galvão e Nasa na defesa; Luisinho como o volante mais plantado, Juninho e Felipe como espécies de “carrileros” a dar suporte a Evair e Ramon que encostavam no Edmundo que acabou virando o atacante de referência, muitas vezes sustentando sozinho o ataque e puxando contragolpes para decidir partidas.

No ano seguinte, Edmundo partiu para a Fiorentina, Evair se sentiu desvalorizado por Lopes e preferiu seguir para a Portuguesa. Ambos perderam a chance de fazer parte de algo histórico. Com Donizete e Luizão, Lopes montou uma equipe menos brilhante no ataque, porém muito mais competitiva.

Porque a dupla de ataque participava mais sem a bola e era muito objetiva nos contragolpes. O time mais combativo permitiu que Mauro Galvão ganhasse liberdade para organizar as jogadas e chegar ao ataque e Felipe muitas vezes atuasse solto em campo, até saindo do lado esquerdo. Principalmente quando Pedrinho era o meia pela esquerda e abria como ponta, permitindo que o lateral criasse mais por dentro. Pela direita, o meia Vagner foi o improvisado da vez na lateral.

A campanha do título continental teve a final contra o Barcelona de Guayaquil, mas triunfos sobre os campeões das três edições anteriores: Grêmio, Cruzeiro e o River Plate na semifinal que consagrou o gol “monumental” de Juninho em Buenos Aires que colocou o Vasco na decisão.

O pernambucano que passou por todo esse período áureo como um pilar e o jogador com características que fizeram a equipe dar liga. Um meia que preenchia um espaço enorme em campo. Marcando, articulando e finalizando. Um meio-campista raro, jogando de área a área naquele período do futebol brasileiro em que o setor era dividido entre volantes marcadores e meias atacantes no típico 4-2-2-2.

Na Libertadores, um time mais competitivo, com Donizete e Luizão participando da marcação, mas Mauro Galvão saindo para articular as jogadas e Felipe ganhando ainda mais liberdade pela esquerda, com o meia Vagner improvisado do lado oposto (Tactical Pad).

Equipe campeã estadual e derrotada no Mundial em Tóquio por um Real Madrid estelar em jogo equilibrado que teve gol de Juninho e Felipe sendo o pesadelo do lateral Panucci. O Vasco merecia melhor sorte no segundo tempo, mas os 2 a 1 com gol contra de Nasa no primeiro tempo e uma pintura de Raúl González, driblando Vitor e Odvan, não podem ser considerados injustos.

A recuperação veio com a conquista do Rio-São Paulo em 1999, mas a derrota para o Flamengo no Carioca e a eliminação nas oitavas da Libertadores para o Palmeiras, que seria o campeão daquela edição, comprometeram a temporada. Mas o convite para participar do primeiro Mundial organizado pela FIFA em janeiro como o campeão da Libertadores de 1998 se transformou na esperança de um ano histórico.

Ainda mais com o retorno de Romário, após saída litigiosa do Flamengo. Jorginho, campeão mundial em 1994, veio para ocupar a lateral direita, Gilberto foi contratado para ocupar a lateral esquerda e Felipe virar meio-campista de vez, ao lado de Juninho e Ramon. Com a proteção do inesgotável Amaral. Na zaga, Júnior Baiano para atuar com Mauro Galvão. Na meta, caiu no colo do jovem Helton a vaga de Carlos Germano, que não renovara o contrato com o clube e foi para o Santos.

Uma seleção que atropelou o Manchester United no Maracanã, com gol antológico de Edmundo, e só foi parada por outra: o Corinthians bicampeão brasileiro que venceu o torneio na histórica decisão por pênaltis no Maracanã, com Marcelinho Carioca e Edmundo desperdiçando as últimas cobranças.

O revés no Rio-São Paulo para o Palmeiras custou o emprego de Antonio Lopes. Chegou Abel Braga que, mesmo com estilo “paizão” não conseguiu apaziguar os conflitos entre Edmundo e Romário. Mas conquistou a Taça Guanabara e partiu para treinar o Olympique de Marseille. Alcir Portela foi efetivado e a equipe, totalmente desestruturada e com alguns jogadores sem se falar, viram um Flamengo bem inferior tecnicamente vencer a Taça Rio e o Carioca.

Era a senha para mudanças, com o suporte do patrocínio do Nations Bank. Chegaram o treinador Osvaldo de Oliveira, mais Clebson, Jorginho Paulista, Euler e Juninho Paulista. E Jorginho readaptado ao meio-campo, como atuou na Europa e no Japão. Para formar a equipe que faria campanha sólida no Brasileiro e na Copa Mercosul, com direito a goleada fora de casa sobre o River Plate por 4 a 1.

Mas a oscilação da equipe na reta final, até pela natural queda física de um elenco que disputou 88 jogos em 2000, e um desentendimento entre Oswaldo e Eurico Miranda depois dos 2 a 2 contra o Cruzeiro pela ida da semifinal da Copa João Havelange fizeram o Vasco ter um novo treinador em dezembro: Joel Santana.

O “papai” que resgatou Nasa para a terceira decisão contra o Palmeiras depois de vitória por 2 a 0 em São Januário e derrota por 1 a 0 em São Paulo. 3 a 0 para o time alviverde no primeiro tempo e parecia que o clube acumularia mais um vice-campeonato, para o deleite dos rivais cariocas.

Mas, com Viola em campo, Juninho voando e Romário iluminado nas finalizações, o time construiu a mais épica das viradas: 4 a 3, no campo do adversário e com um homem a menos após a expulsão de Junior Baiano.

Com a confiança no topo, o time partiu para o título brasileiro com inapeláveis 3 a 1 sobre o Cruzeiro de Luiz Felipe Scolari no Mineirão lotado na volta da semifinal e a confirmação da conquista sobre o surpreendente São Caetano. Em janeiro de 2001, por conta do acidente em São Januário na partida de volta da decisão. No Maracanã, 3 a 1 com o gol decisivo de Romário, o 66º do artilheiro daquela temporada.

Com Nasa novamente fazendo a função de volante-zagueiro, o Vasco venceu Mercosul e Copa João Havelange com laterais ofensivos, Juninho Pernambucano articulando e Juninho Paulista formando um trio infernal com Euler e Romário (Tactical Pad).

De uma equipe que marcou 176 gols, média de dois por partida, e foi campeã ou vice em tudo que disputou naquela temporada. Um grande feito, mas o início de uma queda vertiginosa por conta de más gestões, incluindo de Eurico Miranda, que virou presidente e mandou e desmandou de 2002 a 2008, e do grande ídolo Roberto Dinamite. O buraco de dívidas que atormentam o clube se avolumaram neste período.

Poderia e deveria ter sido diferente. As conquistas geraram receitas que poderiam ter dado estabilidade e estrutura ao clube. Mas na época a prática comum era formar times vencedores mesmo sem poder sustentá-los. Ou pagando, porém sem planejamento a médio/longo prazo.

O Vasco ao menos conseguiu vencer. E construiu uma história belíssima, com o apogeu em 1998. A festa do centenário com Libertadores ninguém mais pode ostentar no país. Só o time da Cruz de Malta.

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Seleção de 1994 tinha bola para vencer dando espetáculo. O que atrapalhou? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/26/selecao-de-1994-tinha-bola-para-vencer-dando-espetaculo-o-que-atrapalhou/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/26/selecao-de-1994-tinha-bola-para-vencer-dando-espetaculo-o-que-atrapalhou/#respond Sun, 26 Apr 2020 06:16:28 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8377

Foto: Acervo / CBF

A vitória por 2 a 0 sobre o Uruguai no Maracanã pelas eliminatórias em 1993 ficou na história como “o jogo de Romário”. Justo, por toda via-crucis que trouxe o então melhor atacante do mundo, brilhando no Barcelona, de volta à seleção. Depois de uma “geladeira” de quase um ano por reclamar da reserva em um amistoso contra a Alemanha em Porto Alegre. Prometeu voltar garantindo o Brasil na Copa nos Estados Unidos e cumpriu. Com louvor e uma das maiores atuações individuais da história do mítico estádio.

Mas foi também uma fantástica exibição coletiva da equipe de Carlos Alberto Parreira. Trazendo tudo que fizera de bom até aquele momento, em especial nos 6 a 0 sobre a Bolívia em Recife, e adicionando o toque genial e diferente do mais genial e genioso jogador daquela geração. O bom desempenho coletivo potencializou o grande talento, como costuma acontecer.

O 4-4-2 que antes tinha Muller no ataque deixava Bebeto mais centralizado para finalizar. Raí precisava compor mais o lado direito para fechar a segunda linha e fazer dupla com Jorginho. No Maracanã, Bebeto ganhou mais liberdade para circular e procurar o setor no qual tinha entrosamento dos tempos de Flamengo com o lateral direito.

Assim Raí apareceu por dentro em vários momentos, quase como um “enganche”. Até porque Mauro Silva e Dunga eram fantásticos marcadores e, auxiliados por Zinho pela esquerda, davam conta de fechar o meio. E à direita ainda estava o zagueiro Ricardo Rocha, vivendo fase espetacular e muito rápido na cobertura, permitindo que, se necessário, Jorginho saísse para pressionar o adversário sem deixar um buraco às costas.

É o craque do São Paulo quem tabela com Romário no chute do camisa 11 no travessão, logo no início da partida. O camisa dez também chega na área, pouco atrás do Baixinho, quando Bebeto escapa pela direita e faz o cruzamento para o primeiro gol. Raí, bicampeão da Libertadores e ainda em boa forma no início da temporada 1993/1994 pelo Paris Saint-Germain.

O triunfo transformou o Brasil automaticamente em um dos favoritos ao título mundial. Até porque não havia uma seleção se destacando na Europa – na Euro 1992, a campeã foi a convidada Dinamarca.

Mais tranquilo com a classificação, Parreira poderia aperfeiçoar a base e melhorar o entrosamento da estrela redimida com os companheiros. A maioria calejada pelo fracasso em 1990 e pronta para a missão de encerrar uma seca de 24 anos.

O processo teve apenas uma mudança: Leonardo na vaga de Branco, com problemas físicos. Dando leveza e aproveitando a boa sintonia entre o lateral e Zinho, que jogaram juntos por três anos no Flamengo. Perderia o chute forte e a experiência de dois Mundiais do ex-titular, mas ganhava fluidez e rapidez nas ultrapassagens pela esquerda.Mesmo com Leonardo já atuando no meio-campo pelo São Paulo.

Do lado oposto, Jorginho e o revezamento entre Bebeto e Raí. Quem não aparecesse no flanco se juntaria a Romário por dentro na frente. A construção das jogadas ficava a cargo de Dunga e Mauro Silva se dedicava à proteção da defesa, especialmente o lado esquerdo, com Ricardo Gomes mais técnico, porém menos rápido que o xará Rocha e já sofrendo com dores atrozes nos joelhos.

Uma seleção segura, trocando passes, valorizando a posse e atacando com volume e um toque de fantasia. Competindo e, sempre que possível, dando espetáculo. A referência de Parreira, com Zagallo ao lado como coordenador técnico, continuava sendo a seleção de 1970. A síntese do futebol que aliava beleza e eficiência.

Parreira planejava uma seleção brasileira ofensiva: fluida e rápida pelos flancos, com Zinho e Leonardo pela esquerda e Jorginho com o apoio revezado de Bebeto e Raí e a rápida cobertura de Ricardo Rocha. Dunga seria o organizador no meio com Mauro Silva na proteção dos zagueiros Na frente, Romário para decidir (Tactical Pad).

Não foi possível pela queda brusca de produção de Raí com a má fase no time francês, inclusive perdendo ritmo ao ficar no banco. Ainda mais prejudicial pela compleição física que tornava o meia pesada se não estivesse em plena forma. Impossível cumprir as funções com e sem bola.

Parreira insistiu até o limite, deu moral mantendo a braçadeira de capitão, mas depois da fraca atuação contra a Suécia no empate por 1 a 1, Mazinho acabou ganhando a vaga. Mais fixo pela direita, liberou Bebeto para se juntar de vez a Romário. Na função que, na prática, era de meia-atacante. A mesma que o camisa sete já exercera em 1989, na seleção campeã da Copa América com Sebastião Lazaroni no comando técnico. Com Taffarel, Mazinho, Aldair, Ricardo Gomes, Branco, Dunga, Bebeto e Romário, pode ser considerada a gênese da equipe do tetracampeonato mundial.

O treinador também precisou se preocupar mais com a proteção da defesa, que perdeu a dupla de zaga por lesão. Entraram Aldair e Márcio Santos, que ganharam confiança justamente porque a seleção ficou mais engessada nas duas linhas de quatro. Com Dunga e Mauro Silva concentrados no combate, embora o camisa oito seguisse como o centro de distribuição das jogadas, com passes curtos e longos para inverter o lado da ação ofensiva.. Leonardo também precisou ser mais cuidadoso no apoio e guardar mais o próprio setor.

Até ser expulso e suspenso pela cotovelada que mandou Tab Ramos para o hospital, Branco retornou, mesmo longe das melhores condições atléticas. Menos mal que Aldair e Márcio Santos já haviam ganhado confiança para manter a defesa bem coordenada na proteção da meta de Taffarel.

A formação campeã mundial, sem a zaga titular, Leonardo e Raí. Por isso mais pragmática e engessada num 4-4-2 com meias protegendo laterais e Bebeto livre para articular com o meio-campo e se aproximar de Romário (Tactical Pad).

Assim como no Maracanã contra os uruguaios, a seleção viveu durante a campanha na Copa um grande  paradoxo: Romário criava as chances com genialidade, posicionamento correto e movimentação inteligente, mas desperdiçava muitas oportunidades cristalinas.

Não é absurdo pensar que o Brasil poderia ter marcado pelo menos mais dois gols contra os russos nos 2 a 0 da estreia, também vencido os Estados Unidos em 4 de julho por 2 a 0 – Romário perdeu uma chance depois de driblar o goleiro. Na semifinal contra a Suécia, pelo menos 3 a 0, já que Zinho e o próprio camisa onze perderam gols feitos. Na final, Bebeto e Romário falharam em finalizações simples com total liberdade.

Terminar a campanha com seis vitórias e um empate, marcando 17 gols e sofrendo apenas três gols era uma realidade palpável e compatível com o rendimento. Com esses resultados mais robustos e vencendo os italianos sem necessidade de disputa de pênaltis na decisão do Rose Bowl que a TV Globo reprisa neste domingo, talvez fosse menos criticada. Ou devidamente reconhecida.

Parreira queria vencer e planejou sua equipe para isso. Mas o contexto atrapalhou e não permitiu que houvesse mais beleza. Fez falta para consagrar ainda mais a melhor seleção daquela Copa do Mundo.

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As dez maiores atuações individuais em Copas do Mundo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/23/as-dez-maiores-atuacoes-individuais-em-copas-do-mundo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/23/as-dez-maiores-atuacoes-individuais-em-copas-do-mundo/#respond Thu, 23 Apr 2020 08:26:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8349

Foto: Acervo / FIFA

10º – Alcides Ghiggia (Uruguai – 1950)

É claro que eu não assisti a nenhum jogo completo da campanha uruguaia em 1950. Mas, ora bolas, o ponta direita da Celeste fez gols nas quatro partidas da campeã mundial. Mesmo descontando a bizarra primeira fase com apenas um adversário – a Bolívia, que levou de 8 a 0 no Independência, em Belo Horizonte. No jogo decisivo do quadrangular final, encarou um Maracanã abarrotado e deitou e rolou em cima do lateral Bigode. Assistência para Schiaffino e  gol da virada e do título, o do “Maracanazo”. Virou lenda e merece constar nesta lista, mesmo que na base da “licença poética”.

9º – Lotthar Matthaus (Alemanha – 1990)

A Copa na Itália não é das mais memoráveis, mas Matthaus compensou. Depois de ser o volante disciplinado que dificultou a vida de Maradona na final em 1986, foi o craque, capitão e camisa dez que liderou a Alemanha na vingança, quatro anos depois. Compensava o meio-campo esvaziado no 5-3-2 armado por Franz Beckenbauer com dinamismo e versatilidade. Quatro gols, liderança e protagonismo que lhe valeram a Bola de Ouro da “France Football” e, na carona, o primeiro prêmio de melhor da FIFA em 1991. Recordista de partidas em Copas, com 25 em cinco edições. Craque.

8º – Zinedine Zidane (França – 2006)

O primeiro não campeão da lista. Vencedor em 1998, com dois gols na final contra o Brasil, mas nem sombra do que fez o craque já veterano a partir das oitavas da Copa na Alemanha, oito anos depois: gols contra Espanha, Portugal e na final contra a Itália. Atuação majestosa, flutuando em campo nas quartas contra a então campeã, além da assistência para o gol da vitória, de Henry. Na prorrogação da decisão, uma cabeçada parou nas mãos de Buffon, outra no peito de Materazzi. Encerrando uma carreira brilhante que merecia uma última taça. Pena.

7º – Romário (Brasil – 1994)

Foram cinco gols, um pênalti sofrido contra a Rússia, um chute que Bebeto aproveitou no rebote contra Camarões, a assistência para Bebeto derrubar os Estados Unidos em casa num quatro de julho. Mais o “fingir de morto” no gol de Bebeto e o contorcionismo para deixar a bomba de Branco passar pelo seu corpo contra a Holanda nas quartas. Na final contra a Itália, o peso dos 24 anos sem título e a atuação quase perfeita de Baresi na marcação. Perdeu gol feito na prorrogação, mas assumiu a responsabilidade e converteu o pênalti na decisão. Definitivamente, foi a Copa do Baixinho.

6º – Johan Cruyff (Holanda – 1974)

O arquiteto do futebol moderno é o segundo e último sem taça da lista. Azar da Copa, embora tenha ficado bem entregue para os anfitriões Beckenbauer, Muller, Maier e Breitner. A arrancada no primeiro minuto da final desde a defesa – era o holandês mais recuado quando recebeu a bola – é a síntese do grande líder do “Carrossel” que influencia o jogo até hoje. A Holanda jogava no 4-3-Cruyff-2. Liderança, leitura de espaços, capacidade de ditar o ritmo e o tempo do jogo. Tudo isso sendo marrento, usando uniforme diferente e sendo um fumante compulsivo. Surreal.

5º – Pelé (Brasil – 1958)

Dezessete anos. Seis gols decisivos nas três partidas eliminatórias. Dois antológicos, contra País de Gales nas quartas e Suécia na final. Imagine o que isso renderia de visibilidade e milhões de euros para esses feitos hoje. A camisa verde e amarela, e a dez em particular, ganhou outro significado graças a um menino, que nem foi o melhor da seleção e da Copa. Mas brilhou intensamente na equipe de Feola que ganhou encaixe desde os primeiros segundos da estreia de Pelé, e também de Garrincha, contra a União Soviética. Começava a trajetória épica do maior de todos.

4º – Didi (Brasil – 1958)

Apenas o cidadão que tirou de Pelé, Garrincha e do francês Just Fontaine – até hoje o maior artilheiro de uma edição de Copa, com 13 gols – o prêmio de melhor jogador do Mundial na Suécia. O líder que calmamente pegou a bola no fundo das redes em uma final contra os anfitriões depois de sofrer o primeiro gol, acalmou os companheiros enquanto caminhava até o centro do campo e, logo após a saída, acertou um lançamento de quarenta metros para Garrincha acertar a trave. Meio-campista completo, de passes curtos e longos, dribles e elegância única. Um monstro de jogador!

3º – Pelé (Brasil – 1970)

Quatro gols e sete assistências. Mais três quase-gols históricos: a cabeçada para a defesa lendária de Banks, o chute do meio do campo por cobertura na estreia contra a Tchecoslováquia e a finta em Mazurkiewski sem tocar na bola e o chute para fora na semifinal diante dos uruguaios. A última Copa de Pelé foi a do atleta do século XX no esplendor da leitura de jogo e da liderança técnica. A grande referência da maior seleção de todos os tempos. Servindo Jairzinho contra a Inglaterra e Carlos Alberto no gol que consolidou o tri. Os mais simbólicos da campanha. A0s 29 anos, a consagração no México.

2º Mané Garrincha (Brasil – 1962)

Um gênio improvável decidindo o bi brasileiro no Chile que pareceu impossível com a lesão de Pelé vivendo o auge da carreira na segunda partida da Copa. Nas fases finais, um Mané impossível contra Inglaterra e na semifinal diante do anfitrião. Percebendo a necessidade da seleção envelhecida e ampliando o repertório além do famoso drible na direita em busca da linha de fundo. Marcou de cabeça e de pé esquerdo. Fez o inimaginável para alguém com problemas cognitivos e longe de levar uma vida de atleta, mesmo para os padrões dos anos 1960. Simplesmente genial.

1º Diego Maradona (Argentina – 1986)

Não foi só pelo gol mais belo, emblemático e tocante da história das Copas, representando cada cidadão argentino contra os ingleses pela derrota na Guerra das Ilhas Malvinas. Nem pela atuação magnífica na semifinal contra a Bélgica ou por causa da assistência para Burruchaga decidir a Copa contra os alemães no Estádio Azteca. Diego Armando Maradona foi o melhor da Copa de 1986 desde que tocou na bola pela primeira vez, na estreia contra os violentos sul-coreanos. Apanhou, compensou as limitações dos companheiros e desequilibrou. Ninguém jogou mais que ele em uma edição de Mundial. Ponto.

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As dez maiores duplas de ataque da história http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/15/as-dez-maiores-duplas-de-ataque-da-historia/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/15/as-dez-maiores-duplas-de-ataque-da-historia/#respond Wed, 15 Apr 2020 11:10:28 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8305

Dupla de ataque é diferente de dupla de atacantes. Aqui entram jogadores que eram os mais avançados de suas equipes ou, dentro de um 4-3-3 ou 4-2-4, os que mais se procuravam para tabelas – o centroavante e o ponta-de-lança. Então duplas como Garrincha-Pelé, Ronaldo-Zidane ou Neymar-Messi, por exemplo, não fazem parte da lista. Questão de critério.

Então vamos ao “Top 10”, desta vez indo da décima à primeira colocação para os preguiçosos e/ou ansiosos ao menos passarem os olhos até o final.

[E, sim, este que escreve reconhece há um pouco de “pachequismo” envolvido, neste caso.]

10º – Bergkamp & Henry – Dos “Invincibles” de Arsène Wenger em 2003/04. Talento, velocidade, explosão, elegância e muita eficiência diante dos goleiros. Responsáveis por 34 gols e 17 assistências naquela campanha mágica.

9º Maradona & Careca – Um gênio e um grande centroavante fazendo história no Napoli mais vencedor, com título italiano e da Copa da UEFA, que hoje corresponde à Liga Europa. Foram a maior dor de cabeça de Arrigo Sacchi nos grandes duelos com o Milan no final dos anos 1980.

8º Ronaldo & Romário – Efêmera, porém espetacular, com os dois maiores atacantes do futebol brasileiro depois da Era Pelé, protagonistas nos dois últimos títulos mundias da seleção. Um bom entendimento em campo, especialmente no ano mágico de 1997.

7º Messi & Suárez – Desde 2014, viveram o melhor momento no Barcelona formando o tridente com Neymar que venceu a tríplice coroa e o Mundial de Clubes, mas ainda sintonizados e vencedores nas temporadas seguintes, com quatro ligas e quatro Copas na Espanha.

6º Cristiano Ronaldo & Benzema – Nada menos que quatro títulos de Liga dos Campeões em cinco temporadas. Demoraram a engrenar, já que chegaram juntos ao Real Madrid para a temporada 2009/10. Afinaram a sintonia com Ancelotti e arrebentaram com Zidane.

5º Ronaldo & Rivaldo – Nem tanto por 1998, já que Bebeto é que formava a dupla com o Fenômeno. Mas em 2002 eram os mais avançados e acionados por Ronaldinho Gaúcho. Marcaram 13 dos 18 gols da seleção de Luiz Felipe Scolari e resolveram na decisão com a Alemanha.

4º Gullit & Van Basten – Ganharam tudo no Milan e ainda a Eurocopa de 1988 com a Holanda de Rinus Michels. Entendimento no olhar, movimentação inteligente, inteligência nas tabelas e força no jogo aéreo. Não fossem os muitos problemas físicos e teriam sido ainda mais espetaculares.

3º Di Stéfano & Puskas – Dois dos maiores jogadores da história vencendo juntos duas Copas dos Campeões da Europa e quatro títulos espanhois pelo Real Madrid. Sintonia perfeita em campo, com um abrindo espaços para o outro e ainda forte amizade na vida pessoal. Monstros.

2º Bebeto & Romário – Carregaram nas costas a responsabilidade de acabar com um longo jejum de títulos da seleção brasileira. Primeiro em 1989, na Copa América em casa; cinco anos depois o Mundial nos Estados Unidos. De quebra uma prata olímpica em 1988. Se entendiam no olhar e sem o suporte de grandes meio-campistas.

1º- Pelé & Coutinho – Sem eles essa lista talvez nem existisse. Criaram no imaginário popular do Brasil e do mundo o simbolismo da dupla de ataque, com tabelas espetaculares, gols em profusão e muitos títulos pelo Santos. Faltou o protagonismo de Coutinho também na seleção, mas ainda assim viraram lendas.

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Cinco momentos em que o acaso protegeu o Brasil-2002 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/13/cinco-momentos-em-que-o-acaso-protegeu-o-brasil-2002/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/13/cinco-momentos-em-que-o-acaso-protegeu-o-brasil-2002/#respond Mon, 13 Apr 2020 05:45:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8296

Foto: Divulgação / FIFA

Se em 1982 não era para ser, vinte anos depois tudo conspirou a favor da seleção brasileira. Mesmo com quatro treinadores no ciclo – Vanderlei Luxemburgo, Candinho, Emerson Leão e Luiz Felipe Scolari – e muita desorganização, sem grupo nem time definido até dois meses antes da viagem para a Ásia.

É óbvio que houve muitos méritos em campo e fora dele na conquista do título mundial, o quinto e último da seleção mais vencedora do planeta, mas o acaso protegeu a “Família Scolari” em momentos cruciais até a grande final, relembrada pela TV Globo no domingo. Por isso o blog lista cinco acontecimentos que ajudaram a construir a história do campeão mundial no Japão e na Coréia do Sul.

1 – O descarte de Romário

Felipão nunca explicou com clareza a razão de ter descartado Romário bem antes da lista final para o Mundial, apesar do clamor popular, especialmente no Rio de Janeiro, sede da CBF. A cada entrevista uma versão diferente, inclusive admitindo que quase cedeu ao último apelo emocionado do craque veterano. Mas sempre sinalizou que tinha a ver com gestão de vestiário, falta de confiança no jogador.

A decisão, porém, beneficiou mais o treinador no campo. Sem o heroi do tetra, Felipão pôde encaixar o trio de R’s – Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo Fenômeno –  que o encantou nos 4 a 2 sobre a Argentina num amistoso em Porto Alegre, ainda sob o comando de Luxemburgo em 1999. Com o Baixinho, o técnico poderia ser pressionado e antecipar em quatro anos um “quarteto mágico” só no papel que dificilmente funcionaria na prática. Até pela pouca mobilidade de Romário com 36 anos.  Com o título, Felipão saiu como heroi visionário que assumiu os riscos e tinha razão.

2 – A “descoberta” de Gilberto Silva e Kléberson

Felipão virou 2002 com um time na cabeça, usando a base da equipe que venceu a Venezuela por 3 a 0 em São Luís e esperando pela incógnita Ronaldo, em recuperação de seríssima lesão no joelho direito. Mas faltavam opções para fechar os 23 convocados. O caminho até então tinha sido tortuoso, com eliminação na Copa América para Honduras e sofrimento para se classificar para o Mundial, com vaga confirmada só em novembro.

Nos primeiros amistosos do ano, Felipão resolveu fazer experiências convocando jogadores que vinham se destacando no cenário nacional. Nas goleadas sobre Bolívia por 6 a 0 no Serra Dourada e 6 a 1 na Islância em Cuiabá, além do 1 a 0 sobre a Arábia Saudita, em Riad, acabou “descobrindo” Gilberto Silva e Kléberson. A dupla dos Atléticos – Mineiro e Paranaense, este campeão brasileiro – marcou cinco gols e foi convocada para a reserva de Emerson e Juninho Paulista. Terminaram a campanha como titulares e fundamentais. Mérito do treinador, mas também muita sorte em uma escolha forçada pelas circunstâncias.

3 – As eliminações das favoritas Argentina e França

O Brasil estreou no Mundial diante da Turquia com tantas incertezas que pensar em título era utópico. Principalmente porque havia duas seleções como favoritas destacadas: a Argentina intensa de Marcelo Bielsa, líder das Eliminatórias e inspiração para o 3-4-3 de Felipão, e a França campeã mundial de 1998, da Eurocopa em 2000 e da Copa das Confederações em 2001. Disparada a melhor seleção do planeta.

Mas a Albiceleste sucumbiu em um duro grupo com Inglaterra, Nigéria e Suécia e voltou para casa. Assim como a França de jogadores desgastados e Zinedine Zidane destruído pela temporada europeia com título da Liga dos Campeões e golaço na final. Eliminada sem ir às redes uma única vez contra Uruguai, Senegal e Dinamarca. Vexames que pavimentaram o caminho para a seleção brasileira.

4 – O gol anulado da Bélgica nas oitavas

O primeiro tempo da disputa das oitavas de final foi de tensão pura para a equipe de Felipão. Totalmente desorganizada, com um buraco entre os três zagueiros, os alas Cafu e Roberto Carlos, mais Gilberto Silva à frente da defesa, e os três talentos na frente que Juninho Paulista não conseguia cobrir.

A Bélgica jogava com personalidade e muitos espaços, por dentro e nas laterais. Aos 35 minutos, uma jogada trabalhada com toda liberdade desde a ligação direta do goleiro De Vliegers foi parar no setor direito e de lá o cruzamento na cabeça de Marc Wilmots. Disputa absolutamente normal com Roque Junior, bola na rede e gol anulado. Um absurdo que tranquilizou a seleção que, na volta do intervalo, mesmo sem jogar bem, achou dois gols no talento de Rivaldo e Ronaldo e também o time da reta final com Kléberson na vaga de Juninho.

5 – A ausência de Ballack na final

A decisão em Yokohama foi tensa e equilibrada. A rigor, definida pela noite feliz de Marcos, um dos herois da conquista com grandes defesas, e a falha grotesca de Oliver Kahn, eleito o melhor da Copa antes da final, no primeiro gol de Ronaldo. Artilheiro letal ao aproveitar os erros adversários e também os lampejos de Rivaldo, que não foi bem na primeira etapa.

Clássico mundial que poderia ser ainda mais duro se o craque da Alemanha entre os dez da linha estivesse em campo. Michael Ballack foi suspenso pelo segundo amarelo na semifinal contra a Coreia do Sul. O autor do gol que colocou a desacreditada equipe de Rudi Voller na final. Liderança técnica e anímica, uma ausência que isolou Miroslav Klose no ataque e tirou volume de jogo dos alemães. O golpe derradeiro da ventura que empurrou o Brasil para o título.

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Luizão foi um bom camisa nove, mas errou feio ao falar sobre centroavantes http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/06/luizao-foi-um-bom-camisa-nove-mas-errou-feio-ao-falar-sobre-centroavantes/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/06/luizao-foi-um-bom-camisa-nove-mas-errou-feio-ao-falar-sobre-centroavantes/#respond Mon, 06 Apr 2020 11:35:35 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8257

Foto: Pedro Ivo Almeida / UOL

“O Brasil não tem centroavante hoje. Não temos e sentimos muita falta disso. O Brasil foi pentacampeão mundial sempre com um 9, uma referência. […] Gabriel Jesus e Firmino não começaram a carreira como centroavantes. Eles são adaptados ali”.

Palavras do ex-jogador Luizão no programa “Última Palavra” no canal Fox Sports. Campeão mundial em 2002 e um bom centroavante, artilheiro e vencedor por Palmeiras, Vasco, Corinthians, São Paulo e Flamengo.

Mas errou feio ao falar sobre a sua posição. Em relação ao passado e aos tempos atuais. E não venham com o velho, surrado e furado papo de “ele jogou, você nunca chutou uma bola e não pode criticar”. Posso, sim. Primeiro pela liberdade de expressão, segundo porque ele já parou de jogar e está ali analisando o cenário futebolístico. E precisa ter conhecimento para não dizer bobagem.

E ele disse. “O Brasil foi pentacampeão mundial sempre com um 9, uma referência”. Quem era a referência em 1970, justamente a seleção considerada a melhor não só brasileira, mas de todas as Copas?

A resposta: ninguém. Tostão era um meia-atacante, um “ponta-de-lança”. Na equipe montada por Zagallo tinha a função de se movimentar, abrir espaços. Procurar o lado esquerdo, ajudando Rivellino, já que o lateral Everaldo praticamente não atacava. Deixava o corredor central para Pelé e as infiltrações em diagonal de Jairzinho.

Fez apenas dois gols no Mundial, na vitória por 4 a 2 sobre o Peru nas quartas de final da Copa no México. Foi muito mais importante, porém, facilitando o trabalho dos companheiros. Muito longe de ser o tal “homem-gol”.

A rigor, o único centroavante típico campeão mundial pelo Brasil foi Vavá, em 1958 e 1962. E mesmo ele também se movimentava. Com Zagallo mais recuado, ele dava dois passos para o lado esquerdo para que o jovem Pelé entrasse para concluir. Quatro anos depois, também ajudou com mobilidade para que Garrincha brilhasse.

Ronaldo e Romário foram craques geniais, atacantes completos – ou quase, já que o Fenômeno, por conta de um trauma por bolada, passou a ter medo de cabecear. Não atuavam exatamente na referência. Em 1994 o ataque era uma dupla, com Bebeto. Ambos criavam e finalizavam. No último título mundial brasileiro, o 3-4-3 da primeira fase precisou ser desmontado e Rivaldo ganhou mais liberdade para sair da esquerda e também formar uma dupla com Ronaldo.

Em algumas Copas, ter uma referência mais atrapalhou que colaborou. No Mundial de 1982, na Espanha, o grande time de Telê Santana contava com Serginho Chulapa. Artilheiro do Brasileiro daquele ano pelo São Paulo ao lado de Zico, mas com menos jogos. Um típico homem-gol, jogador do último toque para as redes. Alto, forte, sempre rondando a área adversária.

E perdeu gols de forma constrangedora. O mais grave justamente na derrota para a Itália, no primeiro tempo, tomando à frente de Zico. Livre, na cara do goleiro Zoff. Fora as muitas chances desperdiçadas nos demais jogos, especialmente na estreia contra a União Soviética. Apenas dois gols, contra a semiamadora Nova Zelândia e diante da Argentina, completando com total liberdade um cruzamento perfeito de Falcão.

Para muitos analistas, se a seleção tivesse um típico ponta pela direita em alto nível, o ataque e o time ficariam mais equilibrados com Sócrates e Zico se alternando como “falso nove”. Ou jogando com um atacante mais móvel, como Careca ou Nunes, que se deslocasse para a direita, no espaço deixado pelo “quadrado mágico” no meio. A referência não colaborou em nada.

O mesmo em 2014. Fred chegou ao Mundial longe do bom momento de 2012, quando foi campeão e artilheiro do Brasileiro com o Fluminense, e 2013, também vencedor e goleador da Copa das Confederações pela seleção. Na Copa, apenas um gol, nos 4 a 1 sobre Camarões. E uma falta de mobilidade que facilitou a marcação, sobrecarregou Neymar e desequilibrou a equipe de Felipão até a tragédia dos 7 a 1.

A crítica a Gabriel Jesus na última Copa do Mundo é válida. De fato, terminar o Mundial sem gols não é para se orgulhar. Os citados acima, em má fase ou não jogando como centroavante, ao menos foram às redes. A juventude do atacante de 21 anos atenua, mas não justifica a falta de contundência.

Mas fazer gols não era a única função de Jesus. Assim como Tostão em 1970, sem comparações, a tarefa era facilitar com mobilidade o trabalho de Neymar e Philippe Coutinho, as duas grandes estrelas. Algo muito comum no futebol mundial, como Suárez trabalhando para Messi no Barcelona e Benzema para Cristiano Ronaldo no Real Madrid tri da Liga dos Campeões.

E Giroud na França campeã mundial. O camisa nove alto e forte não marcou gols no torneio disputado na Rússia, assim como Gabriel Jesus. No entanto, o posicionamento no centro do ataque empurrou as defesas adversárias para trás e criou os espaços que Mbappé, Griezmann e Pogba precisavam para desequilibrar.

Roberto Firmino, também criticado por Luizão, é o nove do Liverpool, atual campeão da Champions e virtual da Premier League, se houver um final para esta edição do Inglês. Faz gols, mas a função principal é recuar, articular e deixar brechas para as infiltrações em diagonal de Salah e Mané.

Jogar exclusivamente para um goleador no centro do ataque é coisa do passado. As equipes hoje são muito mais móveis e dinâmicas, até pela falta de espaços. O ideal é tirar a referência justamente para dificultar a retaguarda do oponente. Lewandowski, Cavani, Diego Costa, Icardi, Aguero…Todos marcam gols, mas também se mexem bastante.

Assim como Luizão, que nos anos 1990 já procurava os flancos e deixava Rivaldo, Muller e Djalminha brilharem no lendário Palmeiras de 1996. O mesmo no Vasco campeão da Libertadores de 1998 com Donizete e Ramon ou Pedrinho e no Corinthians campeão brasileiro e mundial em 1999/2000 com Marcelinho Carioca, Edilson e Ricardinho. E aparecendo na área para ser decisivo e colocar o Brasil no Mundial de Japão/Coreia do Sul com dois gols sobre a Venezuela na última rodada das eliminatórias, em 2001.

Jogava bem, mas mandou mal na análise sobre a sua posição. Mais uma prova de que jogar e comentar são tarefas distintas. Uma não é, nem pode ser, consequência natural da outra. Só o feeling não basta, é preciso saber.

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