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Defesa sólida do Real Madrid? Só nos números

André Rocha

04/11/2015 09h01

Quatro gols sofridos em dez partidas pelo Espanhol, nenhum na Liga dos Campeões contra Malmo, Shakhtar Donetsk e Paris Saint-Germain, este em dois confrontos. O grande rival do Grupo A, com Di Maria, Ibrahimovic e Cavani no ataque.

A eficiência ofensiva de 31 gols em 14 partidas não surpreende. Muito menos os 13 de Cristiano Ronaldo neste universo. Já os quatro sofridos na liga espanhola e a meta invicta de Keylor Navas no torneio europeu saltam aos olhos.

Também passam a impressão de um sistema defensivo sólido nesta equipe repaginada pelo técnico Rafa Benítez. Mas é preciso relativizar e analisar o desempenho além dos números.

Com todas as peças disponíveis, Benítez desfez o 4-3-3 que variava para as duas linhas de quatro com Carlo Ancelotti e armou um 4-2-3-1 com James Rodríguez à direita, Gareth Bale centralizado, Cristiano Ronaldo pela esquerda e Benzema no comando de ataque. Muita movimentação na frente e controle de bola com os meio-campistas Toni Kroos e Luka Modric para não ser tão incomodado atrás.

Sem a pelota, marcação adiantada e por pressão, com linhas próximas. Como manda o futebol atual. Mas havia um problema: Cristiano Ronaldo participava pouco desse trabalho e abria um buraco pela esquerda, sobrecarregando Marcelo e exigindo apoio de um dos meio-campistas centrais e a cobertura de Sergio Ramos.

Com todas as peças disponíveis, o Real de Benítez no início da temporada, com James à direita, Bale centralizado e Cristiano Ronaldo pela esquerda, deixando Marcelo com ajuda apenas de Kroos e Sergio Ramos (Tactical Pad).

Benítez nem teve tempo de tentar corrigir. Perdeu James, Bale e Benzema. Mesmo com o elenco mais recheado, o baque foi grande. A solução recente é mudar o desenho tático para um 4-3-3/4-1-4-1, com Casemiro à frente da retaguarda e atrás de Kroos e Modric. Isco e Jesé nas pontas e Cristiano Ronaldo como referência, no centro do ataque.

Uma formação que, em tese, transfere mais consistência ao meio-campo. Também conta com disciplina dos ponteiros para auxiliar os ofensivos laterais brasileiros Danilo e Marcelo, apoiando abertos e por dentro alimentando o volume de jogo.

A questão é que a proposta segue a mesma, adiantando as linhas para roubar a bola no campo adversário. E se esta marcação é ultrapassada, muitas vezes os zagueiros acabam ficando no um contra um. Em alguns momentos até com inferioridade numérica. Há  nítidos problemas de compactação.

Aí aparece Keylor Navas. Descartado e liberado para o Manchester United em troca do goleiro De Gea que não aconteceu por mero atraso no processo burocrático. Agora peça fundamental, com cinco defesas para salvar a equipe nos 3 a 1 sobre o surpreendente Celta de Vigo no Espanhol.

Boa atuação também na vitória por 1 a 0 sobre o PSG no Santiago Bernabéu que assegurou a classificação para as oitavas-de-final da UCL. Mesmo em Madri, o time francês teve 59% de posse de bola, finalizou 16 vezes contra 13. Duas bolas na trave.

Mas gol só de Nacho Fernández, zagueiro que substituiu Marcelo ainda no primeiro tempo e foi às redes, aproveitando falha do goleiro Trapp na saída. Porém não garantiu uma defesa mais sólida. O PSG se impôs mesmo fora de casa, com Di Maria e Cavani infiltrando em diagonal e abrindo os corredores para Aurier e Maxwell.

Flagrante do Real lento na volta de um escanteio, permitindo ao trio ofensivo do PSG o contragolpe que quase terminou em gol de Cavani (reprodução Esporte Interativo).

No Bernabéu, o 4-3-3/4-1-4-1 do time merengue deixou espaços entre os setores e permitiu o domínio do visitante PSG, que teve a bola, finalizou mais e acertou a trave duas vezes (Tactical Pad).

No Real, nem Cristiano Ronaldo criou maiores problemas para Thiago Silva e David Luiz, dupla de atuação correta. O time merengue novamente teve mais sorte que juízo. Ou vem sendo mais eficiente e eficaz.

Mas até quando Navas, a incompetência ou mesmo o temor dos oponentes vão garantir o time branco de Madrid e também a ilusão de uma defesa segura?

(Estatísticas: UEFA)

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Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.