Virada da Inglaterra! A força do jogo mental na disputa tática
André Rocha
16/06/2016 14h02
Confirmando a previsão, a Eurocopa na França vem se caracterizando pelos jogos equilibrados por conta da intensa disputa por espaços. Compactação.
Uma seleção propõe o jogo por estilo, peso da camisa ou necessidade. Ocupa o campo de ataque, troca passes, se movimenta para criar brechas. A outra se posiciona para reagir. Jogadores muito próximos, guardando a própria meta, pressionando o homem da bola para evitar os passes entre linhas.
No clássico do Reino Unido pelo Grupo B, o papel de protagonista era da Inglaterra e o reativo de País de Gales. De Bale. De um 5-4-1 que dava os lados para o rival, deixando os alas Gunter e Taylor na proteção e liberando Ramsey e Bale para os contragolpes.
Sem tantos danos porque Walker e Rose, os laterais ingleses, desciam, porém não conseguiam com Lallana e Sterling criar as jogadas de profundidade. Até chegavam, mas o cruzamento saía previsível. O trio de zagueiros galeses rebatia e encaixotava Harry Kane. Chance cristalina apenas com Sterling.
Gales no 5-4-1, mas com Ramsey e Bale mais liberados; na Inglaterra, Rooney recuava para articular liberando Dele Alli, porém pelos flancos faltava a jogada mais aguda, facilitando o trabalho do trio de zagueiros galeses contra Harry Kane (Tactical Pad).
Bola na rede, de Bale. Cobrança de falta que Hart deixou passar por pular atrasado. O time reativo saía na frente no primeiro tempo. Em tese, jogo à feição com mais espaços para as transições rápidas às costas da defesa adiantada. Certo?
Seria, se Roy Hodgson não tivesse mudado a dinâmica ofensiva com Sturridge e Vardy nas vagas de Sterling e Kane. Rooney seguiu voltando para articular e liberando Dele Alli. Mais mobilidade e aproveitamento dos corredores. Mas foi no abafa que Vardy, esse incrível personagem do futebol inglês em 2015/16, conseguiu o empate.
Só depois do gol sofrido o técnico Chris Coleman notou que precisava recuar Ramsey e Bale e formar uma linha de quatro à frente dos cinco defensores e evitar o dois contra um pelos flancos.
A má notícia para os galeses é que a partida já havia entrado no jogo mental. Aquele momento em que as substituições e o cansaço, ainda mais num final de temporada, deixam as disputas tática e estratégica em segundo plano. Ou prejudicadas. Entregues à aleatoriedade que tanto amamos e os treinadores tentam evitar.
Hodgson colou o jovem Rashford, que ajudou a incendiar ainda mais. Coleman trocou o lesionado Ledley por Edwards, depois Robson-Kanu por Williams. Buscou manter a compactação, mas mentalmente sentiu o peso, acuou. Também foi empurrado.
No final não havia mais tática ou estratégia, só a necessidade da Inglaterra com formação ultraofensiva empurrando o rival até virar o placar (Tactical Pad).
Até a jogada de Alli, Vardy e Sturridge marcando nos acréscimos. Calando o torcedor de Gales que fez linda festa e sonhou ao menos com o empate que encaminharia a vaga.
A obrigação, inclusive matemática por conta do empate com a Rússia na estreia, arrancou do English Team uma última tentativa de transformar em três pontos os 64% de posse de bola e as 21 finalizações contra sete.
Virou. No placar e na mente.
Sobre o Autor
André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com
Sobre o Blog
O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.