Flamengo é o Brasil sempre à espera do messias. Diego é a bola da vez
André Rocha
19/07/2016 20h41
O anúncio oficial da contratação de Diego Ribas no site do Flamengo foi o suficiente para criar um clima de euforia no termômetro das redes sociais. Este blogueiro, por morar no Rio de Janeiro, também pôde perceber algo semelhante nas ruas.
Não é novidade no time mais popular do país. Foi assim com Paolo Guerrero no ano passado e em tantos outros anúncios. Até o ídolo maior Zico, como diretor de futebol em 2010. Passando por Romário em 1995 e o próprio Galinho na sua volta em 1985, para citar os mais impactantes.
Sempre a esperança de que um indivíduo pode mudar tudo num passe de mágica, sem depender do entorno, do contexto. Principalmente do coletivo.
Diego pode dar certo (leia mais AQUI) e, o mais importante, não é loucura financeira da diretoria rubro-negra empurrando a dívida para a gestão seguinte. O otimismo sempre é positivo, o clube fica ainda mais midiático e o elenco comandado por Zé Ricardo precisa mesmo de um "upgrade" no nível técnico.
O problema é que a cobrança vem proporcional à expectativa criada com a imagem de salvador da pátria. O meia chega depois de férias, em ritmo de pré-temporada. São 12 anos longe do futebol brasileiro, a necessidade de readaptação é natural, assim como o desentrosamento com seus novos companheiros. Portanto, a exigência de resposta imediata em desempenho é perigosa e injusta. Mas pode até vir, porque não falta talento.
Só não resolve sozinho. Porque não há messias. E os heróis surgem naturalmente. Como o Zico criado na Gávea com uma geração que fez história. Mais recentemente, o Hernane Brocador artilheiro do país e campeão da Copa do Brasil em 2013. Anunciado e recebido sem pompa ou "oba oba". Explodiu num time limitado, porém organizado, com fibra e empurrado pela torcida.
Mas no Brasil adoramos mitificar os personagens. Não por acaso nós todos – dirigentes, torcida e jornalistas -transformamos as contratações de jogadores e trocas de treinadores em grandes notícias. A estrutura, o planejamento, a sequência do trabalho e o investimento nas divisões de base não vendem nem geram cliques. Ou só quando terminam em taças.
A torcida espera por um milagre que às vezes até acontece. Mesmo efêmero, como Adriano Imperador campeão brasileiro em 2009. Mas nunca sozinho. Sempre haverá um Petkovic para servir e uma imensa torcida para abraçar.
Diego é a bola da vez e pode ser feliz no Fla. Com Muralha, Juan, Jorge, William Arão, Zé Ricardo, Rodrigo Caetano, Bandeira de Mello, o sócio-torcedor, o anônimo que compra os produtos oficiais do clube…
Porque no futebol vencer é um verbo que sempre se conjuga no plural.
Sobre o Autor
André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com
Sobre o Blog
O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.