Seleção de Tite é o Brasil que dá certo
André Rocha
23/03/2017 22h06
Era o que se dizia nos sombrios anos 1980 sobre Nelson Piquet, depois Ayrton Senna no automobilismo. Mais recentemente, Carlos Alberto Parreira já não foi tão feliz ao se referir à CBF.
Mas na crise em todas as instâncias que vive o Brasil, ver a seleção de Tite com a segurança de quem sabe o que precisa fazer, unindo serenidade, conhecimento e confiança, é inspirador.
Compensando os erros de um Marcelo em noite nada produtiva. Falha grotesca no recuo para Alisson que Cavani entrou na frente para sofrer e converter o pênalti que abriu o placar. Pela primeira vez o Brasil de Tite saía atrás. No Centenário. Com nove minutos de jogo.
Mas a organização transmite segurança. As linhas próximas no 4-1-4-1 dão opções de passe para sair da marcação pressão do rival. Conceitos bem assimilados não permitem que a equipe se desmanche mentalmente.
Arrancada de Neymar, Paulinho recebe entre as linhas e empata com um golaço. Uma das três finalizações em 45 minutos, duas no alvo. Com 76% de posse. Ainda com dificuldades para conter o jogo físico uruguaio que proporcionou seis finalizações, mas apenas uma na direção da meta do Alisson.
O segundo tempo foi um primor. Roberto Firmino, nitidamente desconfortável na primeira etapa, enfim acertou o pivô, girou e finalizou. No rebote, o segundo de Paulinho. O contestado meio-campista que completou o triplete no último lance da partida e consolidou sua condição de melhor em campo. Atuando mais à frente com o recuo de Renato Augusto para ajudar Marcelo no combate e na saída de bola.
Entre eles, a pintura de Neymar ganhando de Coates e tocando por cima de Martín Silva em um contragolpe mortal. Para coroar uma atuação essencialmente sólida. Finalizou menos, mas de onze acertou sete e colocou quatro nas redes. Precisou de só cinco desarmes certos contra 16 uruguaios. Porque o posicionamento é preciso.
Classificação garantida para o Mundial da Rússia. No continente está claro que não há concorrentes. É hora de encarar as principais seleções do mundo para o polimento e as observações que faltam.
Por ora, os resultados sustentados pelo desempenho são um alento. Em tempos tão cinzentos, o Brasil de Tite é um facho de luz que iluminou a noite em Montevidéu.
(Estatísticas: Footstats)
Sobre o Autor
André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com
Sobre o Blog
O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.