Berrío pode até marcar gol de título. Ainda assim será um erro do Flamengo
André Rocha
03/04/2017 06h21
Trinta e quatro minutos do segundo tempo de um Fla-Flu em Cariacica que não valia muita coisa para a sequência da Taça Rio de um esvaziado Campeonato Carioca. Poucos segundos depois da expulsão de Pará que deixou o rubro-negro com dez homens.
Orlando Berrío, considerado o mais veloz do mundo depois de Gareth Bale, arranca desde a intermediária, deixa todos para trás com facilidade. Mas na hora de definir o lance à frente de Diego Cavalieri adianta de forma grotesca e praticamente atrasa para o goleiro tricolor. O jogo estava 0 a 0. No apito final, 1 a 1 com o Fla buscando o empate no minuto derradeiro com Willian Arão.
O Flamengo terminou 2016 com o consenso de que precisava buscar um atacante diferente dos pontas velocistas que dispunha no elenco. Já que o técnico Zé Ricardo tem a ideia de propor o jogo, ocupar o campo de ataque e ficar com a bola para criar espaços, a necessidade era de um ponteiro driblador e criativo. Também bom finalizador, para ajudar uma equipe que precisa de muitas chances para ir às redes.
O nome era Marinho, que até deu preferência ao Fla no caso de ficar no Brasil. Parou na China. Veio Berrío, credenciado pelo título da Libertadores conquistado pelo Atlético Nacional. Em 12 jogos no torneio continental, marcou quatro gols e serviu três assistências. Na Copa Sul-Americana, em oito jogos com classificação para a final com a Chapecoense que não aconteceu foi às redes apenas uma vez e entregou também um passe para gol.
Mas neste caso os números não eram tão relevantes. Berrío é forte e muito veloz. Se for preciso faz todo o corredor pela direita, indo e voltando. Mas nas características principais não difere muito dos jogadores que o clube já utilizava – Gabriel, Everton e Marcelo Cirino, que acabou não saindo para o Internacional.
A personalidade e a entrega em campo até cativaram o torcedor. O gol na estreia contra os reservas do Grêmio na Primeira Liga ajudou, embora a tola expulsão na única derrota da temporada para a Universidad de Chile pela Libertadores tenha esfriado a empolgação da massa.
Mas efetivamente Berrío contribui bem pouco no que o Flamengo mais precisa: criatividade para abrir a defesa. O time que se propõe a atacar o tempo todo só tem pelos lados atletas que precisam de espaço para acelerar. Não têm a técnica e a habilidade como principais virtudes.
Ou seja, Berrío chegou para ser mais um. Este que escreve confessa que percebeu a incoerência da contratação desde o início, mas concedeu o benefício da dúvida e esperou para ver se por um desses acasos do futebol o encaixe funcionaria ou aconteceria um "milagre", ainda que com prazo de validade – como Paulinho, ponteiro que brilhou na Copa do Brasil 2013 para depois sumir aos poucos até deixar o clube.
Até aqui as perspectivas não são as melhores. Berrío luta, tem fibra. Mas na técnica entrega bem pouco, mesmo em um contragolpe com muito espaço para correr. Como no Fla-Flu em Cariacica.
A torcida anda impaciente com Rafael Vaz e Márcio Araújo. Mas estes foram peças importantes na boa campanha no Brasileiro de 2016 e a manutenção no elenco para este ano tinha sua lógica, ainda que com a titularidade questionável.
Já Berrío pode até fazer gol de título. Mesmo assim continuará sendo um erro de avaliação da comissão técnica e da diretoria. O ponta que o Flamengo continua precisando não é o colombiano.
Sobre o Autor
André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com
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