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Uma vitória que simboliza a reconstrução com dignidade da Chapecoense

André Rocha

04/04/2017 21h47

Mais que todas as homenagens, lágrimas, palavras de esperança e gestos de solidariedade e gratidão antes, durante e depois da bola rolar, o que fica de lição deste Chapecoense x Atlético Nacional é a vaia da torcida para o desentendimento entre Macnelly Torres e Moisés no segundo tempo. Algo que normalmente é exaltado nos campos brasileiros como "futebol de verdade". Que sirva de exemplo.

Em campo, a sexta vitória consecutiva na temporada da equipe montada do zero sob o comando de Vagner Mancini significa bem mais que a vantagem do empate na partida de volta pela Recopa Sul-Americana.

Simboliza uma reconstrução com a dignidade que virou marca do clube catarinense. Planejamento dentro da realidade, sem projetos megalomaníacos. Sabendo exatamente onde pode pisar. Também sem exigir caridade.

Sim, é preciso olhar pelas famílias dos que se foram na tragédia do ano passado, mas o tamanho da perda e a necessidade de reagir rápido para estar minimamente pronto em 2017 justificam o estabelecimento de prioridades. Não há parâmetros para medir a dor e o desatino.

Em campo, a  nova Chape parte de uma proposta pragmática para ser competitiva de forma mais rápida. Nos jogos grandes se baseia em concentração defensiva, velocidade nos contragolpes e muito foco nas jogadas aéreas com bola parada.

No 4-1-4-1 com Andrei Girotto atento à cobertura de Apodi, mesmo com este trabalhando mais como lateral e não como o ala de outros tempos. João Pedro, ex-Palmeiras, virou meia com Luiz Antonio no centro e Rossi e Arthur Caike nas pontas, deixando Tulio de Melo à frente.

A Chape deixava os zagueiros do Atlético Nacional saírem jogando e começava o bloqueio a partir de zagueiros e laterais para ter superioridade numérica onde estava a bola quando o adversário entrasse no seu campo. Mesmo assim teve dificuldades.

Porque o campeão da Libertadores, apesar das muitas mudanças na base vencedora de Reinaldo Rueda, continua muito forte. Trabalha a bola, tem mobilidade e variação tática – do 4-2-3-1 para o 4-4-2 quando o atacante Dayro Moreno se junta ao centroavante Luis Carlos Ruiz e Bernal ocupava o lado direito no meio.

Jogo igual, definido na bola parada pelo time menos ajustado. Pênalti bem cobrado por Reinaldo e o golpe de cabeça de Luiz Otávio, substituto do lesionado Douglas Grolli. O empate do Atlético na jogada trabalhada finalizada por Macnelly Torres.

Ao contrário do que diz o clássico de Jackson do Pandeiro, este jogo bem que podia terminar 1 a 1. Com todos vencedores, o que não deixou de acontecer na alma de cada um. Mas se no jogo da gratidão o Atlético não entregou o resultado como fez com a Copa Sul-Americana, a Chapecoense precisava mais do triunfo.

Para consolidar um novo tempo. De entrega de todos que fazem um novo time para o clube emergente. De vontade de seguir vencendo independentemente da compaixão inevitável quando os olhos miram a Arena Condá.

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Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.