No novo PSG, Mbappé será Neymar e Neymar será Messi
André Rocha
01/09/2017 04h00
Kylian Mbappé é uma contratação que sinaliza o futuro no Paris Saint-Germain. Inclusive o pagamento de cerca de 180 milhões de euros no meio do ano que vem para driblar o Fair Play financeiro da Fifa, por isso o empréstimo agora.
É óbvio que o atacante francês de 18 anos não vale isso. Ninguém poderia custar tanto, mas o mercado enlouqueceu de vez. Aditivado pelo dinheiro do Qatar, sempre de origem que gera dúvidas. Ainda mais de um país acusado de corrupção na "compra" da Copa do Mundo de 2022. A negociação é mais uma demonstração de força do clube.
Com isso, o PSG vai reunir em seu ataque Cavani, o grande artilheiro com personalidade para tomar à frente de Neymar nas cobranças de pênaltis até aqui. Mais o brasileiro, maior contratação da história, e agora a grande revelação do Monaco.
Campeão francês na última temporada com 15 gols e oito assistências, mais seis na Liga dos Campeões. Atraiu os olhos do mundo por combinar velocidade, recursos técnicos, habilidade e poder de decisão. Formando dupla com o colombiano Radamel Falcao no ataque dos 107 gols em 38 rodadas.
Num 4-4-2 na maior parte do tempo, Mbappé tinha liberdade para circular pelos dois flancos e buscar as infiltrações em diagonal. Principalmente partindo da esquerda, cortando para dentro e finalizando.
Só que no PSG, Neymar é o dono do setor, ainda que com liberdade de movimentação. Driblando, concluindo ou servindo os companheiros. Com Cavani absoluto no centro do ataque é possível imaginar o novo membro do ataque atuando pelo lado direito no 4-3-3 habitualmente montado pelo técnico Unai Emery.
Neste caso, as funções também tendem a mudar. Mbappé pode ser para Neymar o que o brasileiro foi para Messi no Barcelona. Ou seja, o ponteiro que ajuda mais no trabalho sem bola e aceita o papel de coadjuvante. Mas ao mesmo tempo é abastecido por passes da estrela com mais visão de jogo. Quantos gols de Neymar não saíram de assistências ou inversões de jogo de Messi a partir do lado direito!
Neymar não tem exatamente o DNA de "enganche" ou "dez" do argentino, muitas vezes peca pelo individualismo – como na vitória brasileira sobre o Equador em Porto Alegre, mas sabe armar jogadas. Basta lembrar as atuações pelo centro na Olimpíada do Rio ou no próprio Barça na ausência de Messi. Agora tem tudo para servir seu novo companheiro. Ser o ponta armador, deixando para Mbappé a função de infiltrar em diagonal com mais frequência para finalizar.
No provável 4-3-3 do PSG, Mbappé deve atuar pela direita, infiltrando em diagonal e voltando mais para ajudar na recomposição, dando liberdade à estrela Neymar, que pode abastecer como ponta articulador o novo companheiro de ataque (Tactical Pad).
Questão de adaptação do jovem atacante, autor do último gol da goleada da França por 4 a 0 sobre a Holanda. Iniciando e finalizando contragolpe letal. Explosão física e potencial de melhor do mundo.
Com o tempo, Mbappé deve ser deslocado naturalmente para o centro do ataque no novo clube, mas uma função de maior sacrifício agora pode torná-lo mais completo. Um aprendizado que será bom para todos. Incluindo o PSG, para fazer valer mais um investimento surreal que varreu o mercado no último dia da janela de transferências na Europa.
Sobre o Autor
André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com
Sobre o Blog
O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.