A incompetência que trava o Flamengo bom pagador
André Rocha
03/10/2017 13h30
A estratégia dos preparadores de goleiros com Muralha definindo um mesmo canto em todas as cobranças de pênalti na decisão da Copa do Brasil, sem nenhuma inversão para surpreender os cobradores e, pior, com a informação chegando aos jogadores do Cruzeiro no Mineirão foi apenas mais um equívoco do departamento de futebol do Flamengo.
Um novo obstáculo para o clube no seu grande objetivo desde 2013: transformar as dívidas equacionadas e o aumento das receita em time forte, competitivo. Vencedor. Transformar investimento em desempenho e, consequentemente, resultado.
Mas ainda um erro pequeno diante de outros absurdos, como disputar um Brasileiro rodando o país sem considerar o enorme desgaste de viagens seguidas e jogando sem a vantagem real do mando de campo. Ou contratações mais que questionáveis, como Conca pela questões físicas, ainda que praticamente sem custos, e Berrío, que não era exatamente o ponteiro driblador e finalizador que Zé Ricardo havia pedido. Dois cartuchos queimados sem mudar o patamar da equipe.
Se a Copa do Brasil era uma meta de conquista em 2017, por que reforçar o elenco apenas quando as inscrições já estavam encerradas? No Brasileiro, o primeiro turno do Corinthians mostra que começar bem o campeonato pode ser uma vantagem a ser administrada no returno. Como, se o grupo de atletas só fica completo em agosto?
Exatamente quando a temporada afunila e não há tempo para treinar. O resultado é que o Flamengo, com estas práticas, acaba formando o time para vencer o Carioca. Aí, sim, os reforços ficam nivelados fisicamente e o tempo, ainda que não o ideal, para treinamentos melhora o entrosamento. Mas só mesmo para a disputa regional, porque o elenco disponível de fevereiro a maio não foi capaz de superar a fase de grupos da Libertadores. Mais um vexame continental.
Os muitos pecados podem ajudar a construir o seguinte cenário no final de 2017: sem títulos relevantes, talvez até sem o consolo da Sul-Americana, que agora é prioridade. E por colocar mais um torneio acima do Brasileiro, acabar sem uma vaga no G-6.
Em campo, como você já leu AQUI, o time segue "arame liso", "pecho frio" e com elos fracos. Não mudou tanto assim com Reinaldo Rueda. Porque, como você também já viu neste blog, não há como esperar resultados diferentes com escolhas semelhantes.
O "gargalo" está na gestão. No presidente Bandeira de Mello que acumula a vice-presidência de futebol e já se mostrou mais político que executivo, no CEO Fred Luz que não tem experiência no esporte, no diretor de futebol Rodrigo Caetano sem poder de decisão e aparentemente acomodado e no gerente Mozer que parece sem função na prática.
Não há outro termo, por maior que seja o respeito aos profissionais e à uma administração que viabilizou financeiramente um clube que parecia ladeira abaixo rumo à insolvência: é a incompetência que trava o Flamengo em seus planos ambiciosos. É urgente mudar nomes e métodos antes que cheguem à tola conclusão de que o Fla campeão é o do caos e das dívidas, não o bom pagador.
Nem voltar ao inferno, nem seguir no limbo. Caminhar é preciso.
Sobre o Autor
André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com
Sobre o Blog
O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.