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Há um "atalho" para Jair Ventura vencer respeitando o DNA do Santos

André Rocha

04/01/2018 01h34

Imagem: Divulgação Santos

Joel Santana adora citar em entrevistas, programas de TV e rádio e eventos dos quais participa o Vasco que comandou em 1987, num período curto mas marcante, como exemplo de time ofensivo que armou para contestar a fama de "retranqueiro".

De fato era uma equipe com vocação para o ataque. Apesar de ter durado apenas uma Taça Guanabara, a escalação ficou na memória deste blogueiro que viu este time ao vivo, algumas vezes no estádio: Acácio; Paulo Roberto, Donato, Fernando e Mazinho; Dunga, Geovani e Tita; Mauricinho, Roberto Dinamite e Romário.

Mas havia um segredo típico do treinador, já malandro e "matreiro" aos 39 anos em sua primeira chance como treinador no Brasil. Mesmo contra times pequenos em São Januário, a equipe cruzmaltina recuava as linhas cinicamente, Dinamite voltava atraindo a atração dos zagueiros e Geovani ou o próprio centroavante lançava os ponteiros Mauricinho e Romário em velocidade com a chegada rápida de Tita. Assim marcou 24 gols em 13 partidas.

Joel tem razão ao dizer que seu Vasco campeão do primeiro turno e que depois, treinado por Sebastião Lazaroni, conquistaria o estadual tinha, na prática, quatro atacantes. Mas a maneira de jogar era baseada em organização defensiva e contragolpes. Quando precisou sair para o jogo contra o Fluminense ainda com a base tri carioca e campeã brasileira, levou um contundente 3 a 0 em contra-ataques.

A mesma dificuldade que fez penar o Botafogo de Jair Ventura desde que o jovem treinador de 38 anos sucedeu Ricardo Gomes em 2016, na primeira oportunidade no comando de um time profissional. Quase sempre que adiantou suas linhas, tentou trocar mais passes e não definir a jogada mais rapidamente, o desempenho teve uma queda significativa.

O melhor cenário no Estádio Nilton Santos, especialmente na Libertadores, era quando o "abafa" inicial com marcação no campo adversário fazia o alvinegro abrir o placar e depois ficar confortável atraindo o oponente e aproveitando as transições ofensivas em velocidade.

Mesmo sem títulos e a vaga no torneio continental para 2018, o bom trabalho em uma avaliação geral deu visibilidade a Jair. Também despertou o interesse do Santos, agora presidido por José Carlos Peres. Novo mandatário que afirmou várias vezes que o perfil do novo treinador deveria ser de respeito ao DNA ofensivo do clube e trabalho com os jovens oriundos das divisões de base.

A segunda exigência de Peres não é problema para Jair, que, até pelas limitações orçamentárias do Botafogo, deu chances à garotada e obteve boas respostas. No Santos é empreitada que costuma dar certo com quem tem sensibilidade para mandar a campo no momento certo. Mas quanto ao DNA…

O trabalho de Jair não o credencia a armar um Santos que crie espaços nas defesas rivais através de troca de passes com paciência e mobilidade. O treinador sempre afirmou que não mudava sua proposta no Botafogo porque as características dos jogadores não casavam com o estilo. Argumento legítimo, mas quando tentou mudar faltou repertório. Não só do time, mas também do comandante.

O que não significa que não possa se reinventar. Ou entregar um time competitivo, bem coordenado atrás para não fazer o goleiro Vanderlei trabalhar tanto. Mas também é possível ser forte no ataque. Ou no contragolpe. Acionando Bruno Henrique pelos flancos. Mesmo sem os passes de Lucas Lima e a presença de área de Ricardo Oliveira.

No Paulista pode aproveitar o status de "zebra" – já estão chamando de "quarta força", o que pode ser um bom presságio – por conta da menor capacidade de investimento em comparação com os rivais. Mas na falta de recursos é preciso ter criatividade para repor ausências importantes. Inclusive de Zeca, que interessa ao Flamengo.

Se alcançar vitórias, alguma conquista relevante e muitos gols, mesmo nos contra-ataques, quem vai se importar na Vila Belmiro com uma mera questão filosófica? Nem o novo presidente…

Jair Ventura não conta neste início de trabalho com o talento que sobrava no Vasco de Joel Santana há mais de três décadas, mas pode usar o mesmo "atalho", com uma dose de pragmatismo, para se adequar respeitando a tradição santista de marcar muitos gols. Com ou sem estrelas.

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Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.